domingo, 4 de agosto de 2013

Do nepotismo no amor

E daí que finalmente eu resolvi tomar vergonha na cara e ler “O diário de Anne Frank”. Perdida na madrugada passada com o livro, a lapiseira e as flags coloridas para marcar páginas impactantes, me peguei de repente com aquela sensação de olhos arregalados e vontade de engolir o livro, tamanha a identificação.

Não. Eu não passei o período da segunda guerra mundial escondida dentro de um anexo secreto aturando um monte de gente intrometida. Mas é que Anne resolveu filosofar em seu diário, dizendo que só amava sua mãe e sua irmã por elas serem sua mãe e sua irmã, e não por elas serem quem elas são como pessoas. Eu grifei a frase, circulei, fiz com que ela piscasse em neon. Que fique claro: Não porque não amo minha mãe e minha irmã como pessoas, mas porque achei brilhante o fato de alguém ter parado para deixar marcado em um diário algo que sempre ronda a minha cabeça.

A identificação foi até aí porque, no livro, ela critica esse modo de amor, e dessa crítica eu discordo. Eu acho que existem muitas formas diferentes de amor, e o amor advindo do nepotismo não deixa de ser uma delas. Há pessoas que a gente primeiro conhece para depois amar. E há pessoas que a gente primeiro ama para depois conhecer. Ponto. Sem certo nem errado, apenas a ordem natural das coisas.

Convenhamos que são diferenciados e fora do comum os casos onde você tem a chance de conhecer seus pais para depois amá-los. A regra geral é que você já nasce sabendo amá-los, instantânea e incondicionalmente, bem como a seus outros familiares. Ou aquele priminho novo que você pega no colo ainda na maternidade. Amamos essas pessoas. Não por conhecermos quem são, mas por serem o que são. Amamos por nepotismo. Pelo simples fato de terem nascido quem nasceram, na família em que nasceram, no momento em que nasceram. Amamos pelo cargo que ocupam na ordem de nossos relacionamentos.

Como amamos antes de conhecer, não está intrínseco o fato de pararmos a fundo para pensar nas pessoas que são e filosofar se realmente as amamos  pelas suas características individuais. Repito: Não acho errado. Acho apenas que, como em tudo na vida, o amor tem suas variadas facetas. Acredito até mesmo que isso seja questão de sobrevivência: Imagine você se as mães esperassem conhecer a pessoa dos filhos para depois amá-los? Um incontável número de bebezinhos morreria de fome.

9 comentários:

  1. Gente, eu assisti o filme do "precisamos falar sobre o kevin" hoje e a frase que mais me chama atenção, tanto no livro quanto no filme é aquela coisa de "a gente ama por costume" que a Eva fala pro Kevin uma vez, pra eles cabe muito bem a frase, sabe? Não é sempre que a gente ama a família só por ser família, as vezes a gente aprende a amá-la só porque precisamos dela pra viver! É um pensamento bizarro de ser pensado por gente como eu e vc que são super ligadas com a família e tal, mas parece ter o mesmo significado que a frase da Anne! Eu sempre quis ler o livro dela, inclusive e agora que vi todos os seus grifos nele fiquei com mais vontade ainda!
    E eu não tenho certeza se vou brincar sobre as crônicas porque não sei se eu sei escrever crônicas, mas eu vou tentar e me esforçar porque achei muito legal :D
    Te amo e desculpa por estar relapsa nos meus mimos aqui, mas agora que estou de férias manter-me-ei à postos!

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  2. Realmente existem vários tipos de amor, e as vezes as pessoas não passam por todos os tipos existentes durante a vida. Mas esse tipo, o tipo incondicional por cargo, todo mundo já passou, afinal todo mundo já foi pelo menos filho. Claro que não estou considerando aqui os psicopatas que talvez não amem seus pais por simplesmente serem seus pais, esse tipo de pessoa talvez ame suas realizações ou as coisas que possuí. Pensando bem... quem disse que o tipo de amor por nepotismo não exista dentro de nós com as coisas que possuímos pelo significado que elas nos remetem e não realmente pelo que elas são?! Acho inclusive que esse é o tipo de amor mais presente no mundo!
    Enfim, você tem o dom que eu, do fundo do meu coração, amaria ter: o dom de escrever. Continue aproveitando bem o seu dom, me fazendo rir e pensar profundamente nas coisas. Eu te amo!

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  3. Eu tenho muita dificuldade em acreditar no amor à primeira vista que não seja o tal do amor nepotista. Mas concordo muito contigo que ele pode tomar conta sem que a gente conheça individualmente aquela pessoa da nossa família. Tipo a gente amando nossos filhos antes mesmo deles nascerem! A Anne tinha muitos problemas com a mãe dela, lembro muito disso. Ela era difícil mesmo. Só que eu acho que era mais rebeldia e santo que não bate do que falta de amor... Beijos!

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  4. Já me peguei pensando nisso com uma certa preocupação. É no mínimo curioso, difícil de entender. É estranho também quando temos um amigo de muito tempo com quem já não temos mais nada em comum, mas continuamos amando. Tem horas que nem é mais por quem eles são, mas por tudo que vivemos juntos. O amor é todo uma coisa incompreensível. Qual é o sentido disso? Mas fico com você, isso não é necessariamente ruim. É só a vida, né? Incompreensível.
    Beijo! <3

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  5. Eu sempre quis muito ler esse livro, mas ainda não o fiz por motivos de não sei. Sabe, eu não sei muito o que dizer. Eu acredito sim que algumas pessoas a gente ama por costume e tudo mais, mas eu me sinto tão abençoada pela família que eu tenho (e família eu digo aquela que mora comigo, pai, mãe e irmãos), eu me sinto tão sortuda e eu os amo por quem eles são. Ainda mais. Acho que a ideia que cada um tem de amor é aquela que aprende logo no primeiro contato de vida, aquele que a família ensina. Minha família me ensinou o amor mais bonito, aquele amor de verdade, desprovido de dúvidas ou de tentativas contínuas de provar esse tal amor. Acho que o amor de família, vai além do costume, pelo menos no meu caso. É uma coisa tão real e concreta, tão cravado na minha alma, que já é parte de mim. Já é quem eu sou. Adorei o texto, amiga. Me fez refletir sobre muitas outras coisas além disso. E aumentou minha vontade de ler esse livro. Te amo!

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  6. Não sei...esse assunto me deixa confusa. Tirando meus pais e meus irmãos, eu nunca amei antes de conhecer. Nem o resto da família. Mas essa é uma questão delicada para mim, porque como família eu só conto os que moram comigo, então...

    Mas mesmo que eu não ame antes de conhecer, assim que conheço [na maioria das vezes, assim que eu "mal" conheço], me apaixono fácil, amo fácil, amo rápido. Sou dessas, mas acho bonito. Acho bonita e válida todas as formas de amor: aqueles que a gente ama antes de conhecer, aqueles que a gente ama só depois de muitos anos de convivência, ou aqueles que a gente mal bate os olhos e troca meia dúzia de palavras e já ama. Tudo é amor. E se é amor, vale a pena.

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  7. Acho que essa teoria do amor nepotista faz muito sentido. Eu poderia listar várias pessoas que eu amo por serem da família, mas não sei se amaria caso não fossem. É meio estranho pensar assim, me deixa até meio mal, mas é verdade. Aliás, acho que a crise que muitas pessoas passam com os pais vem disso: em um momento na vida a gente descobre que além de nossos pais eles são pessoas, falíveis e cheias de defeito, e às vezes a gente dá um azar de eles não serem pessoas tão legais assim e rola aquele conflito.

    Bom mesmo é quando a gente se apaixona e ama duplamente essas pessoas que já tem um lugar no nosso coração por nepotismo e acabam conquistando um por mérito e awesomeness. Tipo, antes eu só te amava porque queria entrar na Máfia, mas agora eu te amo porque você é você, deu pra entender? HAHAHA
    <3

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  8. Aff, màs a sua crônica foi tão maravilhosa e profunda q fiquei até com vergonha da minha! Rs...mas agora falando sério, quando li essa frase lembro de ter pensado, "uau, que coisa forte!". VC deu uma visão tão real e linda e maravilhosa...que aí aí, dá vontade de grifar esse texto todinho...

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  9. Adorei essa frase: "E há pessoas que a gente primeiro ama para depois conhecer." E concordo totalmente com você em todas as partes. O fato de que eu provavelmente não amaria a pessoa se não fosse o laço de sangue não diminui o amor que eu sinto. Além disso, a família dá uma ótima oportunidade de conhecer e se aproximar de gente com quem você não se relacionaria em seu meio ambiente natural. Vide meu irmão, que é tão meu amigo, mas tão diferente de mim.

    Beijos.

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