sábado, 31 de agosto de 2013

Nem Jesus foi unanimidade

Uma vez eu li uma frase que ficou na minha cabeça. Primeiro pensei que ela era de algum texto famoso e que se eu jogasse o fim dela no google eu ia encontrar ela inteira. Não encontrei, então, creio que se eu não tiver sonhado com a frase, ela é de alguma amiga minha. Enfim, ela diz algo do tipo: “você pode pensar ou fazer o que quiser comigo, só não me odeie porque eu não sei lidar com quem não gosta de mim”.

Acho que inventei a metade inicial da frase. Mas sei que desde que li o final ele nunca mais parou de martelar na minha cabeça. Outro dia voltou bem à tona, porque meu amigo comentou que uma professora nossa tinha dito pra ele que ele devia fazer alguém odiá-lo, só para aprender a lidar com isso, e eu pensei que obviamente não vou fazer alguém me odiar, mas seria um plano incrível para aprendizado de vida.

O fato é: Eu realmente não sei lidar com quem não gosta de mim. Mesmo que eu não goste da pessoa, ou não ligue a mínima pra ela. Se eu descubro ou sinto que ela não gosta de mim, eu vou surtar e tentar fazer com que ela veja que, no fim das contas, eu sou legal. E eu sinceramente ando pensando que não existe uma real necessidade disso.

Em Procurando Nemo, a Coral diz para o Marlin: São mais de 700 ovas, alguém tem que gostar de você. E eu reflito agora: São 7 bilhões de pessoas no mundo, alguém vai não-gostar de você. E é isso. Tem santo que não bate. Tua risada fora de hora vai fazer alguém torcer o nariz pra você. Teu tom de voz, sua cor favorita, o jeito como você coça a sua garganta ou range seus dentes, aquelas mesmas pequenas coisas que fazem algumas pessoas te amarem, certamente farão outras pensarem que o mundo seria um lugar melhor sem a sua presença. E por mais dolorido que pareça, essa é uma verdade absoluta da vida. Não tem como fazer todo mundo te amar.

E eu ando tentando me acostumar com essa ideia ultimamente. Porque as pessoas são meio malucas. Elas tem ideias do nada, elas mudam de gosto como mudam de roupa, e de repente uma de suas grandes amigas resolve cansar da sua existência sem que você faça uma grande burrada que realmente dê motivos para que ela se afaste. E é nessa hora que você olha o mundo em volta, ergue a cabeça, e é obrigado a pensar que é nadar, nadar e morrer na praia essa ideia suicida de tentar fazer todo mundo achar que você é super bacana. Ninguém é totalmente bacana. Se nem Jesus foi unanimidade, não somos nós, meros mortais, que precisamos tentar ser.

gifsapo

Update: Finalmente descobri a autora da frase! A querida da Larie se identificou nos comentários! E a frase correta é: “você pode vir falar comigo, só não vire meu inimigo, porque não sei lidar com quem não gosta de mim.” Amiga, obrigada pela pérola!

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Quando adoro pagar a língua

Eu não paciência com haters, sabe? Aqueles seres humanos que vieram ao mundo para odiar, e ponto final? Que criticam tudo o tempo todo, principalmente o que todo mundo gosta? Então. Morro de preguiça desse povo, e acho que uma das frases mais sabiamente inventadas da atualidade é a tal do Haters gonna hate. Porque aí você respira fundo, lembra que tem gente que, por obra do destino, recebeu a triste missão de odiar a tudo o tempo todo, e continua feliz a sua vida enquanto a pessoa fala mal de tudo o que você gosta.

Obviamente que o fato de ter agonia de gente que odeia tudo não me livra do fato de cometer alguns deslizes de também sair odiando algumas coisas por aí que na verdade nem parei pra conhecer. E concluí que tem coisas que eu resolvo odiar por preguiça de amar, e, vejam só: Isso não faz o menor sentido, então preciso parar de ter preguiça.

Lembro de quando Adele começou a estourar por aí. Imagina que eu ia gastar conhecendo Adele um tempo que eu poderia muito bem aproveitar ouvindo cantores que eu já conhecia e amava, certo? Certo. E fui isso que fiz. Não clicava em nenhum vídeo que postavam, não dava trela pra nenhuma música. Ela começou a aparecer em blogs que eu conhecia, e eu rosnava pra tela do computador quando via mais uma amiga cair nas graças da tal da Adele. Até o dia em que me peguei cantarolando uma música que nem sabia de quem era e… Bingo. Pouco tempo depois eu tinha várias no IPod e estava torcendo pra ela resolver aparecer no Rock In Rio.

Lembrei também agora da época em que minha irmã começou a ouvir Taylor Swift. Minha irmã é quase 4 anos mais nova que eu, e obviamente hoje eu já aprendi a dar trela pro que ela descobre antes de mim. Mas quando eu tinha lá meus 17 e achava que ela era só uma pirralha insuportável com os míseros 14 anos que eu tinha tido há apenas 3, era só ela começar a amar primeiro pra eu pegar birra. E ela insistia em ouvir a tal da Taylor Swift no carro e eu virava o olho. Que bobice essa adolescente loira de cabelo cacheado que se faz de country e fica cantando a historinha de amor de Romeu e Julieta e… chega. Já caiu cuspe o suficiente na minha testa, porque, não é segredo pra ninguém, hoje a Taylor domina completamente o meu IPod, já me fez passar horas com repeat ligado, já me acompanhou em lágrimas e gargalhadas com suas letras, e, enfim. Taylor. <3

E só lembrei que já tinha odiado Adele e Taylor depois que tive a ideia de escrever o post, porque na verdade, ele veio de quando prestei atenção no meu diálogo com minhas colegas na faculdade essa semana, onde eu defendia Clarice Falcão das birras delas e dizia que as músicas da menina eram encantadoras e viciantes. Ninguém precisa saber, afinal de contas, que há menos de 3 meses eu torcia o nariz pra fama repentina dessa garota-sem-sal-nem-açúcar-que-só-tem-música-de-um-ritmo-só. Continuo achando que elas tem um ritmo só, e acho ainda mais mágico por terem esse detalhe tão particular. Tô quase sabendo cantar todas e cada dia tenho uma preferida diferente. Adoro pagar minha língua.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A tragédia da vida privada

Foi nessa madrugada. Era quase 1h da manhã, acredita essa que vos fala, que tinha acabado de apagar a luminária e se aninhar faceira no edredom, com o celular na mão para gastar a falta de sono com umas partidinhas de Candy Crush. E assim estava o final da minha noite quando comecei a ouvir uns barulhos sinistros vindo de cima.

Meus primos moram no andar de cima, mas costumam ser silenciosos. Meu afilhado de 4 meses está no pacote e logo após o barulhão me preparei pra escutar o choro assustado de um neném acordando em meio ao caos. Me concentrei pra ver o que saía disso, e o que ouvi foi uma mulher gritando algo do tipo: "Para, seu idiota!"

Congelei. Sentei na cama e apurei os ouvidos pra ver se conseguia prestar mais atenção. E lembrei da minha mãe (e dos meus primos, no andar de cima!) comentando sobre um casal no quinto andar que vive às turras. Como a gritaria e os barulhos não paravam, concluí que o cara estava derrubando o apartamento em cima da menina e como a adulta madura que sou, fui correndo ao quarto dos meus pais pedir que eles tomassem uma atitude. He.

Os dois acordaram no susto e começaram a escutar vagamente o barulho. Correram pro meu quarto pra escutar direito e estava tenebroso. Minha mãe, então, resolveu ligar pra polícia enquanto tremia, e meu pai subiu correndo até o quinto andar, num ato de extremo heroísmo, vestido de roupão e pantufas. Enquanto eu subia correndo atrás pra escoltar papai (opa!), passamos pelo quarto andar e demos de cara com meus primos no corredor, também apavorados. E ficamos ali. No limbo entre o céu e o inferno, o limbo sendo a escada, o céu sendo o 4º andar com o Riquinho dormindo, e o inferno sendo personificado nos berros do quinto andar.

Dali dava pra escutar melhor, e enquanto a polícia vinha, ao menos respiramos fundo concluindo que na verdade não estava rolando pancada. Ela gritava para o namorado destrancar a porta e tirar ela de lá. Ok, o pau estava comendo, mas eles estavam separados por uma porta, e o barulho das “pancadas” no caso era ela tentando derrubar a tal da porta. E nós ficávamos ali, zambetando. Meu pai parado de roupão e pantufas na porta deles, meu primo no meio da escada, Bianca vigiando o sono do Rico, minha irmã trancada em casa apavorada, e minha mãe esperando a polícia.

Quando a polícia chegou, achamos que ia pegar fogo de vez. Bateram na porta e o cara abriu, dando de cara com 2 policiais e, claro, meu progenitor. Já mencionei que ele estava de roupão e pantufas? Então, ele estava. Meu primo subiu também e eu fiquei quieta na escada pra escutar o babado de perto. O diálogo que se seguiu foi empolgante:

Homem Barraqueiro:
Não se preocupem não, vizinhos e polícia, é só briga de casal. É que nós namoramos há 8 anos e eu descobri que ela me trai.
Polícia:
 Humn.
Homem Barraqueiro, gritando para a namorada dentro de casa:
Vem aqui, filha da p**a, vem contar pros seus vizinhos e pra polícia que você me traía.

Dito isso, a namorada apareceu se se juntou ao “elenco” da cena. Ela tremia feito vara verde, e contradizendo todos os 60 minutos anteriores que passou berrando, não dizia uma palavra. O cara estava doido pra ir embora, e a polícia apenas finalizou: Que vocês discutam relação durante o dia, porque o sono dos vizinhos é sagrado. Fim.


Olha, se tem mais “treta” envolvida no causo,  eu não posso afirmar, apenas sei que existem enormes desconfianças. Sei também que embate físico não foi, Thanks God: a menina não tinha um arranhão. Mas o fato é que meu início de madrugada foi deveras agitado, e que no meio da zona toda, a melhor parte certamente foi o comentário do meu primo, também conhecido como Chandler Bing que nunca perde uma oportunidade, mesmo no meio do caos: “Mas hein, aposto que o vizinho ia se borrar de medo se resolvesse observar pelo olho mágico e desse de cara com seu pai de roupão e pantufas."

Choramos de rir e tornamos todos a tomar o rumo de nossas camas, enquanto eu pensava que isso me renderia um texto inusitadíssimo. Blogueiros, escritores e jornalistas realmente não têm limites.

sábado, 10 de agosto de 2013

Bolo vivo

Tinha tempo que eu não ia em uma festa de 15 anos. A última foi em 2010, e foi ótima, por sinal. Participei do bolo vivo, dancei valsa ao som de UP e comemorei a madrugada toda com meus amigos. Há 3 anos atrás eu ainda era deveras adolescente.

Na verdade a gente nunca cresce. Na nossa cabeça, nunca somos adultos de verdade, penso eu. Mas vivemos recebendo indícios de que o tempo passa. E foi uma experiência antropológica engraçada analisar o terreno de uma festa de 15 anos quando você faz parte dos “adultos convidados”, e não do grupinho de BFFs da aniversariante.

A menina estava linda pra receber os convidados, de vestido sereia todo cheio de pedras, e um sorriso tímido no rosto. Daqueles de quem está até meio nervosa de ser o centro das atenções. Mais tarde, dançou valsa com um vestido lindo e engrenou numa coreografia de Street Dance, coisa que ela ama.

E ao redor, lá estavam todos eles, os adolescentes. As meninas desfilavam de salto alto pra lá e pra cá, achando o máximo se sentir tão glamorosas. Os meninos de terno e gravata, parecendo empresarinhos. Davam risada alto, passeavam todos pelo salão, tiravam fotos e descobriram a fonte da felicidade quando encontraram copinhos de chocolate com licor de amarula dentro.

Me diverti na pista de dança, mas fiquei meio perdida ao mesmo tempo. Saudades da época em que eu sabia as coreografias das músicas do momento. Me fartei em Macarena e naquelas outras coreografias antigas que continuam rolando, tipo “olha a onda, olha a onda”, mas quase enlouqueci tentando acompanhar o tal do “prepara” que Anitta inventou.

Não que eu seja muito adulta ou muito crescida, mas 3 anos fizeram uma mudança radical no grupo onde eu me insiro nas festas de 15 anos. Jantei. Não tirei os sapatos. Não fugi pro banheiro pra fofocar com uma amiga sobre algum babado do grupo. Mas fiquei observando curiosa a tudo isso acontecer. Ah, a linha do tempo da nossa vida.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Meu mundo caiu

Eu leio e escrevo muito, desde pequena. Não que isso seja algo extremamente relevante, mas no mínimo, serviu para fornecer um vasto repertório do uso da língua portuguesa. Sim, sou a maníaca da gramática. Não consigo conversar duas vezes por chat com quem escreve atrocidades. Me orgulho de mim mesma sempre que me pego, sem querer, falando uma palavra que acho bonita e não tão utilizável. E fico pra morrer com alguns erros que cismam em assolar a minha vida.

Eu tinha uma sinistra mania, que graças a Deus já perdi há uns bons 4 anos, de que ansiedade era com C. Sim. Eu pareço legal mas achava que ansiedade era com C. A patologia era tão grave que eu simplesmente não conseguia escrever ansiedade com S. Achava que não ornava, vejam bem. E sempre errava e me confundia, por escrever com S e achar que não, não poderia ser assim. Passei dessa fase e me encrenquei com os edredons. Cismei que o singular de edredom era com N no final. E nunca escrevia certo. Hoje em dia já estou me acostumando a usar o M.

São erros meus que eu conhecia, e que cuidava, relendo 10 vezes um texto antes de publicar, para pesca-los antes de passar vexame publicamente. Mas os casos mais graves são quando a gente simplesmente não faz ideia de que está errando, e segue usando a palavra por aí, no contexto completamente contrário, por mais de ano, e achando lindo.

E foi assim que ontem, no meio de uma tarde trivial, eu quis cavar um buraco e me enfiar dentro. O motivo? Meu chefe entrou na minha sala e disse que eu havia sido prolixa demais no meu texto. O que eu fiz? Aumentei-o. Pois é. Eu podia JURAR que prolixidade era conseguir ser concisa ao extremo. E até já tinha dito em um vídeo que a prolixidade não era uma de minhas qualidades, afinal de contas, falo por horas a fio sobre qualquer bobagem que me venha à cabeça. Quando aumentei o texto e ele veio perguntar o que eu queria com aquilo, eu quis morrer. E então ele me explicou o que era prolixidade e eu quis sumir. Porque eu jurava que sabia o que era. E agora meu chefe deve ter certeza de que meus livros não servem nem pra me ensinar a ter vocabulário. E eu tenho certeza de que ainda vou ter pesadelos com essa palavra ecoando na minha cabeça. Anos depois de começar a usar o termo, eu aprendi, no susto, que a tal da prolixidade é exatamente o contrário do que eu julgava ser. Realmente não tá fácil pra ninguém. Professor Pasquale ainda vai acabar me levando presa.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A mágica da hereditariedade

Todos os bebês do mundo são iguais e nascem com carinha de joelho. Menos os que circundam minha vida, é claro. Já dizia tão sabiamente o Pequeno Príncipe que antes de sermos cativados por uma pessoa, ela é apenas iguais às cem mil outras existentes. Aquelas outras, que ficam nos berçários com carinhas amassadas, e que são o mundo de outras pessoas, mas não o meu.

Meu afilhado poderia ser igual a esses outros cem mil bebezinhos amassados e com cara de joelho, mas não. Dei a maior sorte do mundo e ele era o neném mais lindo do berçário, é lógico. Tanto neném que tinha nascido e o “meu” era o mais incrível de todos. Porque ele tinha a bochechinha mais linda, o narizinho mais desenhado, e era, certamente, o que tinha mais graça poética pra piscar ou bocejar.

Quase 5 meses depois, pouca coisa mudou. Ele continua sendo o mais maravilhoso. E é mágico observar, nesse mundo de características maravilhosas e inteiramente deles, o que foi que ele saiu herdando de cada ser humano com quem é geneticamente relacionado. Não que alguém duvide que ele é a cópia exata do pai, é claro. Se tivesse, o Rico, sido concebido em laboratório, acusaria o Doutor de ter feito um clone do Guilherme, ao invés de uma fertilização in vitro. Não que tenha sido algo ruim, de forma alguma. Ricardo é perfeito, é claro. Ele tem o sorriso mais lindo, o olhar mais encantador, os pezinhos mais “bisnaguentos”, e a manchinha de nascença, uma das únicas coisas que puxou do nosso lado da família, foi dar de cair bem na canela, onde fica a minha. Aposto que ele fez de propósito, só pra deixar a madrinha ainda mais apaixonada por esse elo.

Enquanto ficamos parados admirando as características físicas que fazem nosso pequeno Rico ser uma criatura única no mundo, mas com tantas referências familiares, ele começou a crescer e mostrar a que veio, e faz questão de nos deixar ainda mais fascinados por essa coisa curiosa que é a tal da genética. Ontem encontrei o pequeno passeando com a mãe, no carrinho, na calçada do meu prédio. Chamei, beijei, cheirei a cabecinha, fiz umas micagens, ensaiei cantar a Galinha Pintadinha no meio da rua e nada. O menino nem tchum pra mim. Bianca ainda falou: “Filho, olha a dinda, filho!”, e ele nada. Resolvi seguir seus olhinhos e tentar descobrir o que diabos era tão mais interessante nessa vida que sua retardada madrinha, que fazia de tudo pra ganhar um olhar, e descobri: Os carros que estavam parados no sinal.

Isso seria algo trivial e nada digno de estudo ou observação, se excluíssemos o fato de que o pai da criança é completamente fissurado por automóveis! O tio da criança, quando tinha 1 ano e 8 meses, sabia dizer o nome e a marca do carro de todos os integrantes da família. Quando nasceu, Rico ganhou do avô um Mini Cooper, com marcha, volante e tudo, onde ele sentará quando ficar maiorzinho e algum adulto poderá controlar por controle remoto. Enfiei minha cabeça na frente da dele, e ele desviou para continuar olhando os carros. Resolvi recolher-me então à minha humilde insignificância e desistir do assunto. A mancha de nascença dele é toda minha, mas já entendi que não dá pra competir com os interesses geneticamente arraigados. Da Galinha Pintadinha, quem sabe um dia eu consiga ganhar. Dos carros já seria pedir demais.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Antes que o público se cansasse

Era fim de domingo e eu resolvi vencer a preguiça que costumeiramente me assola nesse momento da semana e sair de casa para ir ao teatro. Já tinha combinado há alguns dias com a minha amiga, e era o último dia que a peça ficaria em cartaz. Fomos.

A peça era bacana. Tinha “Poe” no título, advindo de Edgar Allan Poe, e eu, que nada li sobre o moço, já estava com medo de me assustar. Sim, sou dessas que anda na montanha russa mas não entra de jeito nenhum no trem fantasma. Entrei e lá estavam cérebros, pessoas sujas de sangue e ataques de zumbi.

Repito que a peça foi legal, mas não posso negar que a melhor parte do espetáculo foi o fim, que estava fora do script. Quando o público menos esperava, mas ainda antes de se cansar, o namorado de uma das atrizes levantou, se encaminhou até ela, ajoelhou e tirou uma caixinha do bolso. E é essa cena que vai ficar marcada em mim sobre esse domingo.

O povo adora falar por aí sobre fim de mundo, apocalipses zumbis, essas coisas. E essa cena linda que aconteceu ali só me confirmou o que eu já sabia: Realmente o amor é o que fica. Já sobrevivemos a tantos fins de mundo e nada. Enquanto isso, o amor continua ali. Quando aquele moço levantou e pediu a namorada em casamento, daquela forma, na frente do público, eu sorri de orelha a orelha. Analisei a cena e me emocionei de notar que a menina tremia tanto que nem lembrava em que dedo se usava a aliança. Ele ainda falou algo do tipo: Esse é o presente que eu tenho pra te dar após esse 5 cinco anos onde você foi o presente da minha vida.

Eu estava ali. Eu vi essa cena. Eu fui ver a peça no exato dia que deveria ter ido. Fui no dia que aconteceu o fim dos zumbis e prevaleceu o amor. Saí de casa esperando morrer de medo de Poe e saí apaixonada pela vida. Porque às vezes a vida faz muito sentido. Saí de casa pra assistir uma peça e o que acabei assistindo foi um filme de romance. E o mocinho beijou a menina na hora certa, muito antes do público se cansar.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Meus pais fizeram tudo errado

“Tudo é culpa da mãe”, costumam dizer por aí. Parece interessante e confortável, portanto, jogar nas costas dos progenitores tudo o que não funciona da forma que eu gostaria que funcionasse, em se tratando da minha existência. Cito como um exemplo trivial o fato de eu ter 21 anos e estar lutando bravamente para parar de roer as unhas. Tudo seria mais fácil se minha mãe tivesse colocado pimenta nos meus dedos quando eu tinha 4 anos e comecei a roê-las, mas não. Roídas elas vivem até hoje e é óbvio que isso não é culpa da minha falta de tomar tenência na vida, mas sim, da minha mãe, que não agiu enquanto era tempo.

Era mais ou menos em torno disso que meus pensamentos rondavam enquanto eu apanhava horrores em minha primeira aula de jazz, no fim do dia de ontem. Vejam bem: eu nunca tive os genes da dança. Culpa de quem? Dos meus pais, é claro, que não souberam unir as melhores características possíveis na hora de produzir a minha pessoa. Vamos concordar então que genética não é tudo na vida de uma pessoa, e perdoá-los por esse fato, já que ao menos eles fizeram o favor de me mandar com os olhos azuis que eu tanto amo. Encerramos o assunto da genética então, decidindo que os genes não são tudo. Sendo assim, porque os meus digníssimos pais não facilitaram a minha vida quando viram que eu era uma desritimada, tendo o insight de me obrigar a fazer ballet desde o útero? Não é possível que anos de ballet clássico não teriam me feito tomar jeito. Minha professora de expressão corporal no teatro, que agora ministra as tais aulas de jazz, me disse que meu andeor é maravilhoso, e que eu perdi anos importantes da minha vida sem estar numa aula de ballet. Eu fiquei assistindo a galera arrasando na aula enquanto eu apanhava pra acertar os passos básicos e lamentava a falta de atitude dos meus pais. Custava me matricular quando eu tinha 3 anos? Eu teria pagado menos mico na aula de hoje.

Afora o desespero na aula de jazz, vivo pensando que minha mãe com a minha idade devia muito bem saber cozinhar, e insiste em dizer que com menos tempo de vida do que eu tenho hoje,  ela fazia muito mais coisas de útil que eu. Pois sim, se ela tivesse me colocado aos 15 anos na frente do fogão e me obrigado a aprender a fazer arroz em troca de não passar fome, hoje eu poderia ser uma mestre cuca. Se eu morrer solteira só porque não sei fritar um mero ovo, a culpa certamente é dela. Além disso, minha alimentação não é digna de respeito. Adoro carboidratos e fujo do feijão sempre que posso. Brócolis? Viro a cara só de pensar num prato disso. Culpa de quem? Da minha mãe, que não conseguiu cumprir a tarefa de fazer a filha aprender a comer verduras. E essa falta de vergonha na cara de culpar os pais por tudo o que não faço de certo? Culpa dos próprios, é lógico, que não conseguiram nem me ensinar a assumir meus defeitos!

Do mesmo modo que é confortável culpar os pais pelas minhas incapacidades e péssimas escolhas, é extremamente fácil pensar que eu faria tudo diferente. Em questão de segundos olho pra galera que sabe dançar lindamente e penso que minha filha vai ser matriculada no ballet tão logo completar seu primeiro ano de idade. Pode não saber falar, mas vai saber dançar, ah se vai. Além disso, deixarei de castigo se roer as unhas. E vai aprender a amar brócolis nem que seja na marra. Nas horas vagas, vai jogar um vôlei, porque se eu não sou atleta olímpica hoje, a culpa, claro, também é dos meus pais. Meus filhos serão estrelas. Comerão de tudo. Cozinharão. Falarão 10 línguas. Conseguirão dançar todos os ritmos já inventados, e talvez recebam prêmios pela invenção de algum ritmo novo. Aliás, cada um de meus filhos receberá um prêmio Nobel de uma categoria diferente. Quero criar um time de crianças exímias em qualquer atividade. E aí, com certeza, eles culparão a mãe pela falta de liberdade na vida. E eu culparei a minha, novamente, por não ter conseguindo me ensinar a criar um filho direito. Errar é coisa de filho. E colocar a culpa nos pais é absolutamente conveniente.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Auniversário

Dez anos. Ao completar essa idade uma criança já está na quarta série, achando o máximo falar gírias e usar maquiagem. Quase beijando a adolescência, tem cada vez mais certeza de que é a dona de seu próprio nariz e de que sabe muito bem o que quer fazer de sua vida.

Nesse tempo que se leva para completar a idade das duas mãos completas, uma criança aprende a sentar, andar, falar, ler, escrever e a responder aos pais com o nariz mais empinado do que deveria. Aprende matemática, história, geografia, e decide, por exemplo, que detesta brócolis. Sobretudo, em dez anos uma criança aprende muita coisa. Muda bastante, e passa a não caber mais no seu colo. Ou pior: A não querer mais esse colo.

Kimmy nunca quis meu colo, na verdade. Ela só gosta da minha mãe. Mas acho incrível o fato dela ter continuado para sempre pequenina, porque isso faz com que eu possa agarrá-la o quanto eu quiser sem precisar me importar muito com sua opinião. Me conforta também pensar que ela não sabe responder, nem ficar horas sem olhar na minha cara porque eu fiz algo contra a sua vontade. Gosto de pensar que Kimmy, mesmo completando dez anos, continua parecendo um filhote peludo e manhoso, que chora quando quer um pedaço do meu pão de queijo.

Ela não aprendeu a falar, mas faz a gente entender exatamente o que ela quer. Não aprendeu matemática, mas fica bem mau-humorada se ganha um ossinho ao invés de dois. Nunca pediu pra usar maquiagem, mas se comporta feito uma lady quando minha mãe diz que vai pentear seu cabelo. Não pede pra comprar sapatos, mas já devorou algumas havaianas nossas.

Em dez anos ela me ensinou que não faço mais que minha obrigação em fazer carinho na sua barriga cor-de-rosa. Ensinou que é super legal escorregar no tapete. Ensinou que se eu deixar revistas em cima do sofá ela vai mastigá-las. Ensinou que ela é a dona do único facho de sol que bate nessa casa, e ensinou, acima de tudo, que a vida é muito melhor quando tem um bichinho pronto pra abanar o rabo no momento em que você entrar em casa.

Feliz aniversário, Kimmy!
Obrigada por esses dez anos não terem te feito mudar.

domingo, 4 de agosto de 2013

Do nepotismo no amor

E daí que finalmente eu resolvi tomar vergonha na cara e ler “O diário de Anne Frank”. Perdida na madrugada passada com o livro, a lapiseira e as flags coloridas para marcar páginas impactantes, me peguei de repente com aquela sensação de olhos arregalados e vontade de engolir o livro, tamanha a identificação.

Não. Eu não passei o período da segunda guerra mundial escondida dentro de um anexo secreto aturando um monte de gente intrometida. Mas é que Anne resolveu filosofar em seu diário, dizendo que só amava sua mãe e sua irmã por elas serem sua mãe e sua irmã, e não por elas serem quem elas são como pessoas. Eu grifei a frase, circulei, fiz com que ela piscasse em neon. Que fique claro: Não porque não amo minha mãe e minha irmã como pessoas, mas porque achei brilhante o fato de alguém ter parado para deixar marcado em um diário algo que sempre ronda a minha cabeça.

A identificação foi até aí porque, no livro, ela critica esse modo de amor, e dessa crítica eu discordo. Eu acho que existem muitas formas diferentes de amor, e o amor advindo do nepotismo não deixa de ser uma delas. Há pessoas que a gente primeiro conhece para depois amar. E há pessoas que a gente primeiro ama para depois conhecer. Ponto. Sem certo nem errado, apenas a ordem natural das coisas.

Convenhamos que são diferenciados e fora do comum os casos onde você tem a chance de conhecer seus pais para depois amá-los. A regra geral é que você já nasce sabendo amá-los, instantânea e incondicionalmente, bem como a seus outros familiares. Ou aquele priminho novo que você pega no colo ainda na maternidade. Amamos essas pessoas. Não por conhecermos quem são, mas por serem o que são. Amamos por nepotismo. Pelo simples fato de terem nascido quem nasceram, na família em que nasceram, no momento em que nasceram. Amamos pelo cargo que ocupam na ordem de nossos relacionamentos.

Como amamos antes de conhecer, não está intrínseco o fato de pararmos a fundo para pensar nas pessoas que são e filosofar se realmente as amamos  pelas suas características individuais. Repito: Não acho errado. Acho apenas que, como em tudo na vida, o amor tem suas variadas facetas. Acredito até mesmo que isso seja questão de sobrevivência: Imagine você se as mães esperassem conhecer a pessoa dos filhos para depois amá-los? Um incontável número de bebezinhos morreria de fome.