sábado, 28 de março de 2015

Bibbidi Bobbidi Boo

Vou começar dizendo que sou meio contra a expressão Guilty Pleasure. Se é prazer, não deve ser culpado, punto e basta. Não tenho a menor vergonha de gostar de nada do que eu gosto, e isso vai desde pipoca com leite condensado a ouvir um sertanejo de quando em quando. Se eu tiver que dançar Valesca Popozuda numa festa no meio de um monte de eruditos, assim eu farei.

No entanto, acho que a tal da denominação do prazer culpado serve bem pra gente gostar bastante daquilo que é meio torto por definição. Não estou falando de algo que te deixaria com vergonha, e sim algo meio errado mesmo. Por exemplo: meu homem favorito de Friends é o Ross, podem tacar quantas pedras quiserem. Eu sei que é errado. Eu sei que ele é mimado, maníaco, chato, machista, ciumento e ignorou a carta de 18 páginas frente e verso da mulher da vida dele. Mesmo assim eu amo e torço do começo ao fim para que toda vez que eu assista a série de novo eles terminem juntos – vai que dá alguma merda no meio do caminho? Melhor torcer para previnir.

Pois então, esclarecimentos feitos, chegamos à parte que eu digo para vocês que a minha princesa favorita da Disney sempre foi e sempre será a Cinderella. Conheço todos os defeitos sim. A Bela ama ler, se sacrifica ficando em um castelo perigoso no lugar do pai e se apaixonada por um mocinho nada convencional. A Mulan luta para defender seu país. A Ariel é meio cabecinha oca, mas foge completamente da sua zona de conforto para reencontrar o homem amado. A Branca de Neve passa o dia cantando e sonhando com o amor de sua vida e a verdade dolorida e plena é que a Cinderella do desenho é uma alpinista social.

Sofreu, coitada, claro que sofreu. Mas enquanto sofria, passava as noites em claro em seu sótão olhando pela janela e sonhando com o Castelo. Quando consegue ir ao baile e dança com um homem que nem sabe quem é, seus olhos brilham e mesmo assim o que é que ela faz quando dá a meia noite? Diz pro moço que precisa embora porque seu tempo acabou e deixa bem claro para ele que ficou chateada por não ter conhecido o príncipe. Dane-se o amor, dane-se a dança e os olhinhos brilhando: tudo que não fosse o príncipe era pouco para Cinderella.

É triste e errado? Completamente. Amo mesmo assim? Com toda a certeza. Meu sonho de criança era ser a Cinderella. Tenho bonequinhas da Cinderella. Meu vestido de formatura é azul e brilhante. Quando eu entrei no Magic Kindown, aos 15 anos, paralisei na frente daquele castelo. E é por isso que eu acabei de sair de uma sala de cinema completamente atropelada e encantada por um filme que, segundo c e r t a s p a s s a r i n h a s pode ser facilmente considerado um “sessão da tarde mid-90’s”.

cinderellagif

Para não parecer que só falarei das flores, vou começar com um defeito que me deixou meio órfã: as músicas. Não mantiveram nenhuma. Nem Bibbidi Bobbidi a direção teve a consideração de manter. Não é como se Helena Boham Carter precisasse de fundo musical, mas gente, Bibbidi Bobbidi sabe. Desculpem-me frisar nessa música que virou título e que eu citei 2 vezes no mesmo parágrafo, mas é que meu coração já estava doendo quando não tocaram A dream is a wish e nem aquela música dos ratinhos costurando. Inclusive, melhor avisar desde já que os ratinhos não costuram nada, tá? Eles estão lá e são fofinhos, mas só cumprem tabela.

{A partir daqui vai ter spoiler às pencas, tá bom? Sei que todo mundo tá cansado de saber como é a história, mas se quiserem guardar o filme em suspense é melhor voltarem quando tiverem assistido e não digam que eu não avisei.}

Passado o drama das músicas e dos ratos, pra mim o filme não tem mais nenhuma falhazinha sequer. Ok, talvez as sobrancelhas da Cinderella (me mostrem uma loira de nascença com uma sobrancelha escura como aquela e eu penso em levar a proposta a sério) mas de resto, nada. Casaria com os roteiristas só por eles terem realizado mais que o meu sonho com esse filme: eles redimiram a menina.

No filme ela não é alpinista! Não sonha com o castelo! No filme ela aprendeu com a mãe que tudo o que você deve fazer na vida é ser gentil, ter coragem e acreditar em magia.  Com essas três coisas nada tem como dar errado. No filme ela se apaixona pelo príncipe quando se encontram no meio da floresta e ele não diz quem é. No filme ela só quer ir ao baile para encontrar com esse moço que ela acredita ser um funcionário da côrte. No filme ela dá um soco na cara de todo mundo quando diz que não é porque algo é sempre feito de determinada maneira que o certo seja fazer dessa maneira.

A Cinderella do filme pediu para a fada madrinha que não lhe desse um vestido novo – ela queria usar o da mãe para que sentisse a presença dela no castelo. Pode parecer, depois de tudo o que eu disse, que ela é uma chata piegas, mas juro que não. Ela é uma pessoa de coração bom e que tenta fazer o melhor possível com a sua vida, mesmo deixando de acreditar quando a barra pesa demais.

Como se já não bastasse terem feito tudo o possível para que eu estivesse quase de joelhos na cadeira do cinema de tão apaixonada, ainda me presentearam com o ensinamento incrível de que a magia pode sim nos auxiliar, mas para terminar de resolver a vida temos que ser nós mesmos, e que talvez esse seja o maior desafio para um ser humano: se mostrar sendo quem realmente é.

Cinderella encontra o príncipe sem sapato nenhum na mão, sem vestido, com cabelo despenteado e o rosto sujo de cinzas – e pergunta se ele a ama e se casaria com ela mesmo assim e, prestem atenção, mesmo se o sapato por algum motivo tivesse deixado de caber.

Sei que a cena dele calçando o sapato nela é totalmente emblemática e que não é fácil para um roteirista ou diretor cortar uma imagem dessas mas, assim, já tinham cortado as músicas e os bichinhos ajudantes, sabe? Não, eles não cortaram a cena. Mas teria sido a escolha perfeita para fechar um filme com escolhas tão acertadas. Quando ela perguntou se o príncipe a amaria mesmo se o sapato não coubesse, ele sorriu e disse que sim – mas ajoelhou e calçou o sapato. Fosse eu a roteirista e o  príncipe teria colocado o sapato na mesinha de centro e dado um beijo na menina de uma vez. Para que comprovar se cabia se isso já não era mais importante?

Bom, depois disso vocês sabem o que acontece. Eles se casaram e estão vivendo felizes para sempre enquanto eu saía flutuando da cadeira do cinema, feliz da vida por terem transformado Cinderella numa pessoa tão maravilhosa. Amarei a do desenho para sempre, mas agora eu tenho uma para amar sem nenhuma culpa. Ela tem sobrancelhas esquisitíssimas, mas um sorriso lindíssimo. Me permitem um último spoiler, já que vocês chegaram até aqui mesmo? Desafio qualquer um a assistir o filme e não se apaixonar pelo olhar do príncipe. Acreditem em mim, I’ve been there na sala de cinema com uma tela gigante e digo pra vocês que não tem como não se abalar com aquele olhar.

cinderellapNo matter how your heart is bleeding
If you keep on believing
A dream that you’ll wish will come true

quinta-feira, 26 de março de 2015

Amor é amor e um lance é um lance

Sabe aquela ideia de post que um dia vem meio pronta na sua cabeça e você começa a usá-la como um lugar seguro? É mais ou menos assim: vou deixar ela quietinha aqui e o dia que eu estiver sem inspiração, uso. Foi mais ou menos o que aconteceu com esse post de hoje.

Não é nem que estou totalmente sem inspiração não, mas é que estou para escrever ele há tanto mas tanto tempo que antes de finalmente fazê-lo joguei o título no buscador do blog pra ter certeza de que já não tinha escrito e estava pirando. Não, não vou analisar o amor, nem contar um causo romântico. Eu vou falar de comida mesmo. Se ajeitem aí na cadeira para receber com carinho o meu subtítulo.
A comida japonesa & eu

Não me lembro direito em que ano foi. Sei que a tal da comida japonesa de repente virou moda e todo mundo começou a viciar em peixe cru. Todas as pessoas eram descoladas e rycas e ao invés de sair na sexta-feira a noite pra comer pizza, saíam pra comer sashimi. Eu, como boa garota de vanguarda (Q) fechava a cara e não ia. Como assim peixe cru, gente, vocês estão todos malucos, não era pra gente gostar disso, não era pra isso ter virado moda. “Vai passar”, eu pensava. Nunca passou.

Uns anos depois eu me mudei pra Curitiba e estava na casa dos meus tios quando eles, meus pais e meus primos resolveram pedir comida japonesa em casa. Se tem uma coisa que primos sabem fazer bem é atazanar a nossa vida, de forma que se tem algo que eu não queira comer, a razão da existência de todos à mesa passa a ser, automaticamente, me fazer comer. Meu primo me tesou tanto a paciência que eu peguei um diacho de um sashimi de salmão pra comer e... deixei ele cair dentro do potinho de shoyo. Comi mesmo assim. O resultado foi catastrófico. Achei a experiência terrível, mas todo mundo disse que era só porque tinha shoyo além da conta no danado do peixe. Passou.

Um tempo depois eu estava de boa na minha casa comento pastel (magra sqn) quando minha mãe, minha irmã e minha prima resolveram que se entupir de japonês na janta seria uma excelente ideia. Pediram. E eu não sei por que, naquele dia me deu vontade de provar. Minha irmã ficou furiosa quando eu peguei um sashimi: “VOCÊ DISSE QUE NÃO QUERIA AGORA VOCÊ VAI COMER A NOSSA COMIDA E VAI SOBRAR MENOS PRA GENTE Ezzzzzzzzzz”. Tudo o que é proibido é mais gostoso. Eu não podia ficar comendo a comida delas, porque elas pediram pra 3 e não pra 4. E talvez tenha sido justamente por isso que aquele sashimi filho único de mãe solteira que eu havia surrupiado tenha me parecido tão maravilhoso.

Minha prima ficou tão empolgada com a novidade que me deu mais um e eu só pensava que queria comer aquilo pra sempre. Me ofereceram também um hot Filadélfia todo cheio de melado e eu só conseguia pensar onde eu tinha passado os outros anos e porque diabos não tinha comido aquilo antes.

Pouco tempo se passou e minha mãe, minha prima e minha irmã decidiram pedir comida japonesa novamente – dessa vez eu fui a primeira a pular no sofá e dizer: EU QUERO EU QUERO. Foi meu oásis no deserto. Depois da última vez onde eu só pude comer uns 3, dessa vez eu estava junto no pedido e pude deitar e rolar. Gente que maravilha o tal do peixe cru.

Menos de duas semanas depois, estava sozinha com minha irmã em casa numa sexta a noite e resolvemos pedir pra nós duas. Mais uma noite maravilhosa. Comi japonês até não aguentar mais, instagrei e tudo. Minhas amigas comentavam que eu comendo sashimi era uma quebra incrível de paradigma e eu estava realizada – agora era cool também.

Até que, da terceira vez que pedi, fui afoita até o meu preferidinho sashimi de salmão e...

EXPECTATIVAS

EIKE DELÍCIA SASHIMI VEM NI MIM

REALIDADE

Q MERDA É ESSA

Engoli em seco. Todo mundo na mesa conversava e eu já estava sem graça com a possibilidade de perceberem que eu não estava comendo. Peguei mais um e enjoei na hora que aquilo bateu no meu estômago. Disse que não estava legal e resolvi migrar para o sofá. O que estava acontecendo afinal? Guardei a pulga atrás da orelha. Vai ver eu não estava bem no dia.

E então chegamos ao próximo momento onde resolveram pedir comida japonesa de novo e eu confessei pra minha prima: “Olha Bia, da última vez que eu comi não desceu de jeito nenhum, mas vai ver era o dia, né? Vou tentar de novo, tava gostando tanto!”. E assim foi. Quando a comida chegou minha prima me encarou com os olhos cheios de expectativa (drama). Eu peguei os palitinhos. Encarei a comida, pesquei o peixe, botei na boca e foi o fim.

Existem relações e relações. As duradouras e as relâmpago. As que são construídas com o tempo e as que são praticamente carnais, com aquela paixão que cresce do nada e às vezes vai embora do mesmo jeito que apareceu. Amor é amor e um lance é um lance, já dizia o ~poeta~ e o título desse post.

Eu e a pizza: amor eterno, casamento sólido, muitos filhos e chance total de bodas de ouro.
Eu e a comida japonesa: não é você, sou eu. Um dia espero que nunk a gente se esbarra.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Sobre aprender a saltar

“A gente não tem como saber se vai dar certo – mas a vida não tem sentido se não for pra dar o salto”. Quem disse isso foi Antônio Prata e eu devia copiar na cabeceira da minha cama pra ver se, olhando pra frase todo dia, eu tomo vergonha na minha cara. Vou explicar melhor o que vocês já devem ter cansado de perceber: eu não sou uma pessoa que salta.

Uma vez, em uma aula de expressão corporal no teatro, a professora, uma gênia com pós graduação em psicologia corporal (sim, eu convivo com esse tipo de gente!) me analisou em 5 segundos de caminhada e disse que eu pisava firme demais, como quem não quer perder o chão de forma nenhuma. Não que eu não sonhe, sonho muito. Mas como minha terapeuta já entendeu em pouquíssimas sessões, se eu fizesse 1/3 do que eu penso ou sonho eu seria uma pessoa incrível.

Eu tenho medo de sair do chão. Chão é firme, dá uma falsa segurança, pra que vou correr o risco de sair dele? Aí é que está: aparentemente a vida não tem nenhum sentido se não for pra dar o salto.  

E o que é dar o salto? É ter coragem. Como disse a minha amiga ontem, “Impossível” é o sobrenome do medo. Tudo parece difícil demais e maluco demais quando a gente se esconde atrás da gente mesmo. “Não deixe seus medos decidirem por você”, diz o meu calendário. “Vá com medo”, digo eu mesma para mim mesma há muito tempo. E a prática, cadê?

Uma vez, uma outra amiga minha disse (eu tenho amigas ótimas) que todo mundo precisa, de vez em quando, de 5 minutos de coragem insana. Talvez sejam esses minutos que tomem conta do nosso futuro. “As pessoas frequentemente se esquecem que é nossa própria escolha como passaremos o resto da vida”, fica ainda registrada mais essa outra quote enviada pela amiga do parágrafo acima.

Conversas sobre como dar esse salto, vocês perceberam, andam rolando bastante. Descobri que não sou só eu. Claro que não sou. Tenho um monte de amiga que já passou dos 20 e continua engolindo em seco e deixando as vontades passarem ao invés de fazer uma travessura ou outra. Medir consequências demais em ações complicadas de menos nunca levou ninguém a lugar nenhum. O fantasma não costuma ser maior do que a gente imagina – geralmente, inclusive, ele é menor.

Vocês estão lendo esse texto, mas escrevi para que eu mesma lesse. Incansavelmente. Se seu currículo vai ser ignorado? Se o menino vai fingir que nem leu seu e-mail? Se a piscina estará gelada demais quando você cair? Se a agulha da tatuagem vai doer muito? Olha, realmente, não tem como saber se a gente não tentar. Se der errado, tudo bem também. Existem outros empregos, outros meninos, outros e-mails, outras piscinas, outras dores mais doídas e até um gelinho pra gente passar no machucado depois. Só não existe, ainda, outra vida totalmente nossa para a gente dar um jeito de consertar nossos “e se eu tivesse mandado/e se eu tivesse pulado/e se eu tivesse encarado/e se eu tivesse tido coragem?”. E se eu tivesse arriscado?

“Já passamos dos 20 anos. Está na hora de aprender a correr uns riscos.” Vamos?

segunda-feira, 16 de março de 2015

Inferno Astral

Minha relação com astrologia pode ser basicamente resumida naquela frase clichê que todo mundo usa para falar de tudo o que é ~espiritualista e metafísico~: não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.

Há quem diga que não dê a mínima para signos – e é realmente complicado acreditar em previsões, por exemplo - mas eu nunca conheci alguém que fosse tão ariano com ascendente em capricórnio e lua em virgem quanto eu e poucas vezes achei definições que me explicassem tanto. Eu faço aniversário dia 14 de abril, de modo que, segundo as bruxas-que-não-existem-mas-existem, sábado entrei no meu Inferno Astral. Talvez o mais complicado de todos pelos quais já passei.

Eu vou fazer 23 anos. Qual a mágica desse número? Nenhuma, a não ser o fato de que 23 era a idade chave da minha vida desde que eu tinha, sei lá, uns 6 e respondia àquelas brincadeirinhas que definiam “a sua vida inteira” com base na idade em que você acreditava que iria casar.

23. 23 era sempre o número que estava  no centro dos meus joguinhos. E é impressionante o quanto a gente carrega do que a gente sonhava quando era criança, por mais imaturo que possa parecer.

“Ninguém tem a vida resolvida aos 20 e poucos”, disse David Nicholls em Um Dia e confirmou a minha terapeuta sexta-feira passada quando eu desabei um monte de enrosco sem filtro nenhum na cabeça dela. “Ninguém tem a vida resolvida aos 20 e poucos”, repito eu, como um mantra, fingindo que consigo acreditar que tudo bem, então, já que é assim.

23. 23 foi a idade que ficou marcada no meu subconsciente consciente. Essa idade representava o momento onde tudo estaria dando certo. Era o símbolo da adultice. 20 é quase 18. Com 21 ou 22 dá pra estar engatinhando, vai. Mas com 23 tudo tinha que estar brilhando; tinindo.

“Não existe adulto no mundo, nenhunzinho sequer”, disse Neil Gaiman. “Ter 20 ou 20 e poucos é ter 12 anos fingindo que tem algo a mais”, disse a Irena Freitas. Os escritores, blogueiros e terapeutas estão aí para bater nessa tecla e tentar enfiar na minha cabeça que não, as coisas não deviam estar dando tão certo assim nessa altura do campeonato – e talvez nunca estejam, porque vida totalmente segura e /dando certo/ pode ser uma reles ilusão.

Mesmo com toda essa consciência racional, esse meu 24° inferno astral que já apareceu aqui há pouco mais do que 2 dias veio com uma angústia do tamanho de um bonde chamado desejo. Desejo de que tudo estivesse caminhando conforme eu imaginava lá, aos 6. Que eu seria madura, bem resolvida, trabalharia no emprego dos sonhos, andaria maquiada e com as unhas sempre feitas, teria um marido e um filho bem próximo de chegar. Parece piada e poderia ser, mas não é. E dói.

Não pela falta de esperança de que um dias as coisas se ajeitem e tudo isso se torne possível. Citando a mim mesma, vou dizer de novo que tenho braços, pernas, coração, cérebro e muita vontade de fazer a vida dar certo. Dá tempo. Ainda dá tempo. Claro que dá tempo. 23 são só o começo. Mas é que a cada sonho nosso que morre a gente morre um pouco também.

ross

De qualquer forma, não tenho dúvidas de que esses 23 não deixarão de ser um marco. Depois deles completados, deixarão de ser uma previsão de futuro estável e serão, vejam só, apenas o que deveriam ser: 23 anos. 23 anos que não me prometiam nada, mesmo eu tendo feito tanta questão de fingir que prometiam.

Dia 14 de abril de 2015 eu soprarei minhas velas e comemorarei o fim de um inferno astral de 23 anos inteirinhos. Quem sabe a vida a partir deles, sem tanta pressão datada, não possa realmente decolar de uma outra forma? Até lá a gente segue, né? Vivendo, rindo, engolindo uma angústia ali e outra aqui, renovando a esperança e, porque não, chorando um pouco. Ok, chorando talvez um muito. Tem nada não. Como diz Alice Ruiz, a cada mil lágrimas sai um milagre.

aniversario

segunda-feira, 9 de março de 2015

Dia da mulher

Esse post faz parte da postagem coletiva de março do RotaRoots

Vou começar dizendo que não, não estou um dia atrasada com esse post. Hoje, 9 de março, é dia da mulher. Amanhã, 10 de março, também será. 19 de abril, 30 de agosto, 11 de dezembro, todos os dias são dia da mulher e hoje eu resolvi aparecer para dizer que rosas são um gesto muito bonito. Posso ganhá-las no meu aniversário ou em um pedido de namoro, por exemplo, mas não por ser mulher. Por ser mulher eu só gostaria de ganhar direitos iguais mesmo.

Por ser mulher eu prefiro que parem de me passar cantadas nas ruas. Que parem de regular o tamanho de minha saia ou a quantidade de maquiagem que eu uso. Que parem de recriminar os palavrões que eu profiro quando estou afim e ao invés disso se preocupem em me dar crédito pelo conteúdo sobre o qual eu também sei falar.

Você já assistiu a esse discurso da Chimamanda Ngozi Adichie? Deveria.

Nele, entre outras coisas, ela conta que certa vez, ao sair de um restaurante com um amigo, abriu sua bolsa para dar a um flanelinha o seu próprio dinheiro, fruto de seu próprio trabalho. Ao receber o dinheiro de suas mãos, o flanelinha olhou para o amigo e disse: “– Obrigado, senhor.” Por que? Porque a sociedade está culturalmente incentivada a concluir que todo o dinheiro deve vir do homem. Porque é o homem que trabalha; o homem que é o líder. Nos dias de hoje parece piada. Infelizmente não é.

“De um modo literal, os homens comandam o mundo, e isso fez sentodo, há milhares de anos atrás. Porque então os seres humanos viviam em um mundo em que a força física era o atributo mais importante para a sobrevivência. A pessoa mais fisicamente forte era mais apta para a liderança, e os homens, em geral, são fisicamente mais fortes. [...] Mas hoje nós vivemos em um mundo completamente diferente. A pessoa mais apta para liderar não é a pessoa fisicamente mais forte. É a pessoa mais criativa, a pessoa mais inteligente, a pessoa mais inovadora, e não há hormônios para esses atributos. Um homem é tão apto quanto uma mulher para ser inteligente, para ser criativo, para ser inovador. Nós evoluímos, mas me parece que nossas ideias de gênero não evoluíram.”

Ainda em seu brilhante discurso ela diz que a sociedade acha trivial seguir esses padrões porque foi tudo culturalmente estabelecido. Mas cultura a gente muda. Seu exemplo é o de suas duas sobrinhas gêmeas que hoje têm uma vida linda que não seria possível há algumas décadas atrás onde gêmeos eram sacrificados ao nascer porque isso não tinha como ser algo aceitável e natural (?). A mesma coisa penso eu ao tentar conceber a polêmica que era, há não muitos anos, o fato de um casal ser formado por um negro e um branco. Cultura, concordo plenamente com Chimamanda, a gente muda sim. Principalmente para evoluir e aumentar os direitos de quem os merece.

O título de sua palestra diz que todos deveríamos ser feministas. Feminista. Ta aí um título polêmico e complicado. “São todas loucas, lésbicas, de sovaco cabeludo que querem andar nuas por aí”. Pode até ser que algumas de nós sejam assim, e daí? Nenhum problema, cada um é como quiser. A generalização sim é que, em qualquer âmbito, é extremamente problemática. Não sou louca (ao menos acho), não sou lésbica, não tenho sovaco cabeludo e não quero andar nua por aí, e vejam só, dizia que não era feminista.

nash

Dizia que não era feminista mas sempre achei um absurdo o fato dos homens não lavarem a louça ou não trocarem as fraldas. Dizia que não era feminista mas sempre achei que o lugar das mulheres é onde elas quiserem. Dizia que não era feminista mas dei uma bronca na minha prima quando seu pai reclamou do comprimento de seu vestido e ela disse que quem tinha que se importar com isso era seu marido. Não é seu marido que tem que se importar com tamanho de vestido nenhum, Cínthia – eu disse – só quem pode se importar com isso é você.

hermione

Eu dizia que não era feminista, mas eu sou, porque, veja bem, eu acredito em direitos iguais entre os gêneros. Eu acredito que merecemos as mesmas chances, os mesmos salários, o mesmo respeito. Não quero e nem nunca quis ser maior do que ninguém (ou do que um homem) e nem mais importante. Só quero ser respeitada por ser igual.

Se não existe diferença nenhuma entre os gêneros? Claro que existe. Citando Chimamanda novamente digo que homens e mulheres são biologicamente diferentes, têm hormônios diferentes, orgãos diferentes e os homens geralmente são fisicamente mais fortes. As diferenças acabam aí , enquanto o mundo proclama que as mulheres se dão melhor ao preparar comida porque tem o gene da culinária (e não porque são arremessadas no fogão com maior frequência que os homens). Bem, sobre isso só faço questão de acrescentar que aqui em casa sou eu que abro a garrafinha de suco concentrado todos os dias porque meu primo não consegue. Depois que eu termino de abrir, ele vai lá e dosa a quantidade de açúcar porque eu sempre erro. Após essa singela amostra, te pergunto: quem é o forte e quem é o cozinheiro aqui, cara pálida?

Não faço tudo o que os homens fazem, mas tudo o que eu quiser fazer eu farei e ainda por cima de salto alto. Até xixi em pé, se eu realmente me esforçar. Não deve ser impossível. Ah, eles também, é claro, podem fazer tudo o que fazemos. Inclusive de salto alto, se preferirem. Não deixe os absurdos publicitários te enganarem: o poder de limpeza profunda está no amaciante, e não na mulher.

Sobre a mulher que eu sou e quero me tornar? Bom, eu sonho desde pequena em casar de vestido branco com o amor da minha vida e ter pelo menos meia dúzia dois filhos. Isso não me faz mulherzinha frente a causa de feminismo nenhuma e tampouco mulher de verdade frente à sociedade hipócrita: só me faz EU.

Uma sociedade ideal é aquela que dá a todos o pleno e indiscutível direito de escolha. Eu uso o meu para escolher quem sou e quero me tornar, sem barreiras e sem limites. Todos devem poder fazer o mesmo. Isso é feminismo.

“For most of history, anonymous was a woman”
Virgínia Woolf

Estamos todos cansados de mulheres anônimas.
Isso é feminismo.

domingo, 8 de março de 2015

Parem as máquinas

Mais uma vez eu falei tanto no vídeo que a introdução não se faz tão necessária por escrito. Só vou dizer que copiei descaradamente o título dos posts que o Morri de Sunga Branca usa para falar de novela (inclusive, sdds) pelo motivo do assunto do vídeo ser justamente esse! Isso mesmo, habemus Tag Noveleira. Quem vai tagarelar comigo?

quarta-feira, 4 de março de 2015

Leave my lunch alone

Oi. Meu nome é Ana Luísa, eu tenho quase 23 anos nas costas e eu como mal. Eu sei que eu como mal. Sei que quando tem pizza na janta eu como 3 pedaços e que me entupo de picanha quando vou numa churrascaria, mas no dia-a-dia, almoçando nos self-services da vida com a galera do trabalho, meu prato nunca passa dos R$7,00, chutando alto.

Eu coloco uma colher e meia de arroz, um punhadinho de milho, salada maionese se tiver, um pedaço de peixe ou carne e batata frita. Só. Todos os dias. E não, eu não me orgulho. Vivo, inclusive, procurando inspiração e esperando o dia em que farei a menina Paloma, que declarou que não comia salada nenhuma até o dia que resolveu que comeria, passou a comer e hoje não se imagina sem. Mas enquanto eu não tomei essa vergonha na cara, continuo comendo mal. Por que esse post? Ele é pura influência desses tweets da Anna, com os quais me deparei essa semana:


Entendam que eu me senti total e completamente compreendida e abraçada por esses tweets. Porque esse é o segundo ano que eu almoço diariamente com o pessoal do trabalho e os papos costumam ser sempre muito legais depois que todos conseguem sair da pauta inicial que invariavelmente é o meu prato de comida. 

Juro. Não sei como um prato com uma colher e meia de arroz, um pedaço de peixe e 10 grãos de milho conseguem fazer tanto sucesso elucubrativo porque é fato que nenhum almoço consegue começar em paz sem que falem do que estou comendo/reclamem da falta de salada/perguntem como eu consigo passar o dia com tão pouca comida. Sim, eu sei que eu como mal. Sim, eu sei que falta salada. Não, eu não acho bonito o meu prato, mas ele é meu. 

Teve um dia que alguém chegou a dizer que sonhava com o dia em que eu colocaria alface e brócolis no meu prato (?), comentário ao qual meu chefe replicou com “acho que ela sonha com o dia em que deixarão ela comer em paz sem falarem sobre o prato dela”  eu praticamente levantei da mesa e o abracei. 

Não me entendam mal. Sei que a intenção não é ruim. É sempre uma boa piada, todo mundo ri e ainda por cima sei que eles esperam que um dia eu internalize tudo ou canse da encheção de saco e melhore a minha vida servindo salada. Acontece que não. Não é isso que vai me fazer comer direito, isso só vai me fazer bufar e perguntar mais uma vez se ninguém tem um assunto melhor para o horário. Comentar sobre a pouca qualidade nutricional do meu prato não vai melhorar a saúde de ninguém, assim como chamar alguém de gorda não te faz mais magra, como já tentou ensinar nossa pensadora contemporânea Cady Heron. Fica a dica.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Rio 450 (graus)

A primeira vez que eu fui ao Rio de Janeiro eu tinha 6 ou 7 anos. Apesar da minha memória ser excelente, não me recordo de nada além da lembrança nítida que tenho de ter perguntado aos meus pais o que diabos tinha de tão especial na lanchonete “Pão de Açúcar” para eles estarem falando disso desde que começaram os planos da viagem. Pode parecer ridículo, mas é sério. Imaginem na cabeça de uma criança escutar os pais falando o tempo todo sobre “o dia que iremos ao Pão de Açúcar”. Eu imaginava uma mesa farta, cheia de pães, sonhos e croissants. Era uma pedra; um ponto turístico. Fim do mistério.

Anos depois (acho que já era 2010 ou 2011) voltei. Novamente com meus pais e minha irmã. Ficamos no apartamento de uns amigos deles, na Tijuca, e lembro que era quente. MUITO quente. O apartamento era lotado de tapetes e era janeirão carioca. Fomos novamente ao Pão de Açúcar e tomei um sorvete delicioso lá em cima. Passamos uns dias em Búzios, sem internet, sem companhias interessantes e com tédio sobrando.

Meu terceiro contato com o Rio é o que eu considero o primeiro, de verdade. Fui para o Rock in Rio e vivi um final de semana infinito. Tem tudo relatado em uma série de posts que começa aqui, com detalhes, mas só adianto que foi ali o início da minha paixão.

Vamos falar agora da quarta vez, em maio de 2014. Também foram rápidos 4 dias – mais 4 dias infinitos. Foi dessa vez que eu realmente me apaixonei. Gente simpática e bronzeada, praia por todos os lados, sol a pino no outono. Algo completamente diferente dessa Curitiba com moletom no verão.
Na quinta vez, em dezembro do mesmo ano, já pisei em terras cariocas me sentindo em casa. O Rio de Janeiro é assim: quando você sai do avião e pisa naquelas terras você sente um bafo quente no rosto e sabe que chegou no lugar certo. Dali é só ladeira abaixo. Quando você conversa com a primeira pessoa que te cumprimenta com 2 beijinhos e puxa o S no fim da palavra, aí sim você sabe que não tem mais volta.

Depois dessas cinco vezes eu comecei a dizer que minha alma era carioca. Não tinha como não ser. “Que país é o Rio de Janeiro, senhoras e senhores” muita gente me ouviu dizer. Porque eu, como toda apaixonada iludida, tinha certeza absoluta de que aquele era o melhor lugar do mundo. O mais bonito. O mais feliz. O Rio certamente era um país próprio.

Foi na sexta vez que nossa relação ficou estremecida. Recentemente, passei uma semana no Rio de Janeiro. Dessa vez não foi exatamente a passeio – o que nos tira do prumo e nos lembra do fato de que “uma coisa é gostar de montanha-russa e outra bem diferente é morar no parque de diversões”. Pra começo de conversa, vou negar o que disse no parágrafo acima: o Rio de Janeiro não é um país não. Muito pelo contrário. Ele é tão mas tão brasileiro que o famoso “jeitinho brasileiro” foi concebido, nasceu e foi registrado em terras cariocas. A sensação que eu tive tendo que me virar ali era de que tudo era devagar. Tudo era cheio de pontas soltas. A cidade gira em torno de quem está atrasado, não de quem chega a tempo. E isso é só um começo.

Relembrando com minha amiga, também apaixonada pelo Rio, sobre momentos que passamos na cidade que já não é tão dos sonhos assim, conseguimos elencar uma série de intempéries que só poderiam ser carioca: taxistas que não sabem o caminho e colocam a culpa no turista; bicicletas do Itaú que são lindas na novela mas dão o maior trabalho para serem locadas; colação de grau sem cadeiras.

Paixão é isso, né gente? É ficar em alfa. Flutuando há metros do chão, fazendo de tudo para ignorar qualquer possibilidade de defeito. Amor não. Amor começa a ser construído quando a paixão ameniza, os defeitos começam a aparecer e você escolhe gostar apesar deles. Ou melhor, apesar não. Por causa deles.

Morei 10 anos da minha vida em São Paulo e cresci rodeada de paulistinhas que criticavam o Rio e os cariocas por tudo. Quando pisei lá, descobri que era pura inveja: eles tem cidade grande com praia a disposição. Conjunto perfeito com o qual os paulistas, coitados, não podem nem sonhar.

Hoje eu entendo que além da inveja tem uma questão cultural muito grande circundando the hole thing: paulistano é um bicho apressado. Tudo em São Paulo é rápido. Isso, obviamente, tem seu lado bom e seu lado ruim. Só fui na Bahia uma vez e não me lembro de quase nada, mas se procede a história de que lá tudo é devagar, o Rio de Janeiro só pode ser a sucursal do Nordeste. Mesmo assim, vejam só, temos que lidar com a verdade universal de que apesar de tudo isso e por causa de tudo isso, principalmente, ele continua sempre e indiscutivelmente lindo.


Rio, feliz 450. Já não estou cegamente apaixonada, mas tenho muita vontade de te amar para sempre. Vamos construir isso juntos?