sábado, 30 de junho de 2012

Pequenininha.

Sempre existiram aquelas brincadeiras “de família” em ensino fundamental e médio. Sabe assim? Aquela história de ser irmã de uma amiga, tia de outra, esposa daquele outro, e no final das contas vira tudo uma bagunça e você descobre que é tia do marido da sua filha? Então. Essas coisas sempre existiram, e eu sempre acabava no meio do furacão. Mas no final das contas alguém sempre roubava meus filhos e eu acabava mãe-de-ninguém.

Até que no meio de uma não-brincadeira dessas, eu achei uma filha. Miudinha, do cabelinho preto, uma Amélie Poulain em miniatura. Um pouco mais rebelde, mas não por isso menos sonhadora. Tudo bem que ela achou que eu era mais nova que ela, mas eu perdoo. Sei que ganhei uma amiga no ato, mas pra eu me tocar de que tinha era ganhado uma filha demorou um pouco.

É que ela é bebezinha. Miudinha. Fez 18 anos ontem, mas pra mim vai ter 16 pra sempre. Mayra. A pequenininha. A pequenininha que fala mais alto que eu, e eu adoro me sentir a mãe chata mandando ela falar baixo. Porque geralmente as pessoas é que me mandam falar baixo.

Mayra é fofa. Tinha que ser minha filha. Tem um coração maior que o mundo, e muita, muita falta de paciência. Se estressa, grita, chora, pede colo, mas sorri, abraça forte e dá muito colo também. Mayra senta na primeira fila pra me assistir quando eu estreio, e não vai embora sem invadir o palco pra me dar um abraço no final. Mayra parece um bichinho de pelúcia, e eu vivo apertando as bochechas dela. Mayra sabe tanto de tanta coisa. Parece um gêniozinho falando sobre filosofia, sociologia e antropologia. Em coisa de 4 anos terei uma filha Cientista Social, gente. Uma filha que vive dizendo que jamais aguentaria ficar casada muito tempo com o mesmo homem, mas que se desmente sem querer quando deixa o brilho do “crer no amor” tomar conta de seus olhinhos. Mayra diz que vai ter no mínimo 5 filhos. Mayra já usou batom azul, e hoje tem o cabelo roxo. Mayra é sincera e espontânea como poucas pessoas conseguem ser sem me tirarem do sério. Mayra é forte, apesar de parecer de louça, mas eu me lembro com muita força da cena, no nosso camarim da peça da improvisação, quando ela prendeu o dedo no cabo do guarda-chuva e chorou feito um neném. E o elenco inteiro deu beijinho pra sarar.

Mayra é minha filha, gente. Que eu morro de vontade de proteger e deixar debaixo da asa, mas escrevo e-mails maduros dando conselhos altivos que nem eu mesma sei seguir. Ela segue, e me deixa morrendo de orgulho depois.

Mayra fez 18 anos ontem. E a única coisa que me magoa em toda essa existência dela é não gostar de Friends. Mamãe deixa de castigo, filha. Você devia saber. Mas por hora, eu me finjo de boazinha.

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FELIZ ANIVERSÁRIO, FLORZINHA!

terça-feira, 26 de junho de 2012

Sobre o simples.

Eu sou apaixonada por metáforas. Adoro. Fico em um estado de encantamento com textos apaixonantes e lotados de metáforas. Me encanto quando me explicam as metáforas que eu não entendo, e adoro explicar para os que não entendem. Adoro uma oportunidade de utilizar metáforas no meu cotidiano. Porque acho que metáforas são um jeito extremamente mágico de dar aquela escapadela da realidade nua e crua. Adoro.

Adoro metáforas, mas também amo ficar encantada por coisas simples. Coisas puramente simples, como frases curtas e comuns no meio de um texto cheio de significados. Sempre me perco em pensamentos ao analisar as frases curtas e simples, porque acredito que se elas estão ali no meio do resto, é porque merecem toda a importância do mundo.

Desde que me apaixonei irrevogavelmente pela letra de “Vento no Litoral”, do Legião, que eu escuto a música repetidamente e cada vez me encanto mais. Vamos lá, a música é cheia de frases INCRÍVEIS, que sim, retratam uma dor muito forte. Mas apesar de achar que cada trecho daquela música renderia um texto, eu não vim falar de “Vai ser difícil sem você porque você está comigo o tempo todo”, e nem de “Do nossos planos é que tenho mais saudade, quando olhávamos juntos na mesma direção”. Eu vim falar de cavalos marinhos.

Sim. Porque numa música extremamente bela, dolorida, e cheia de cuidados em cada nuance, eu SEMPRE me arrepio quando, após dizer que tudo o que pode fazer é ser feliz, ao menos, já que o plano era eles ficarem bem, ele simplesmente diz que achou cavalos marinhos. Assim. Simples Assim.

Eu amo. Eu amo. Eu amo aquele “Ei, ei, ei, ei, ei! Olha só o que eu achei! Cavalos Marinhos!”. E por isso eu resolvi falar de simplicidade. Porque ninguém é triste sempre, nem feliz o tempo todo. E se eu estou feliz da minha vida e vejo um cachorrinho passando fome, eu vou minguar. É simples. Mas também é puramente belo o quanto é simples também estar sofrendo uma dor que parece irremediável, enquanto se luta para ser feliz, e de repente, cavalos marinhos! Você olha para cavalos marinhos e se encanta! E sorri ao contar que achou!

Pra mim essa frase é a mais bonita da música. Porque cada milímetro dela é puro e simples. A forma de chamar a atenção, com os “ei, ei, ei”, e depois o “olha só!”, jeito tão infantil e doce de mostrar algo a alguém.. e então o “o que eu achei!”, jeito ainda mais infantil e doce de mostrar o que VOCÊ, e mais ninguém achou. Como se ele descobrisse um tesouro. E então, de repente, “Cavalos Marinhos”, porque eles são fofos, coloridos e extremamente mágicos. Pra mim eles parecem bichinhos de outro mundo, de tão diferentes do convencional. Então, imagine! No meio de uma tristeza, você acha cavalos marinhos! Não é pra acalmar, ficar feliz e compartilhar?

Sim. Esse post vai pra categoria ainda não oficialmente fundada de posts FILOSOFIA DE BOTECO. Porque eu sei que pode não ter pé nem cabeça pra quem ler, mas pra mim tem. Porque, no fim das contas, é simples demais! E ao meu ver, tem uma grande metáfora escondida. E os cavalos marinhos? Ah, eles são pontinhos de pura cor, luz e magia. E acreditem: Estão por todos os lugares.

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“Ei, ei, ei, ei, ei! Olha só o que eu achei! Cavalos-Marinhos!”

sábado, 23 de junho de 2012

Estado inusitado.

Era uma vez uma menina tímida e bem nervosa que resolveu brincar de fazer teatro. Ela achou que ia morrer na primeira peça. Quis cancelar a segunda um dia antes da estreia, de tanta certeza de que daria tudo errado. Quase pirou na terceira. Se apaixonou tanto pela quarta que andou em círculos durante meses, e passou madrugada em claro esperando pela sonhada estreia. Na quinta, que foi feita tão de última hora, e onde ela ia SOLAR pela primeira vez em cima de um palco, tomou chá de camomila, coisa que odeia, e teve uns 5 pesadelos na mesma noite, além de ter acordado morrendo de cólica de nervoso e de ter achado que ia desmaiar enquanto montava cenário.

Era uma vez uma menina tímida e bem nervosa que em 20 horas estará subindo no palco (gente, que saudade do palco! tá chegando!) para sua 6ª peça (que mágico, me sinto a veterana!) e… não está nervosa.

Não me perguntem o que aconteceu. Não, eu não estou completamente segura da peça. Não, nós não acertamos tudo no ensaio geral. Não, o figurino não está todo entregue. Não, eu ainda não arranjei um jeito de não estourar meu joelho na cena do espancamento. E não, eu ainda não fiquei com medo.

E foi hoje que eu percebi. Depois de pelo menos 15 dias completamente ligada na peça, fazendo cenário, ensaiando, entrando em desespero achando que não ia funcionar nunca, fazendo galharufa entrar em estado de alerta, hoje eu estou calma. E percebi quando escrevi na lousa, antes do ensaio: “ESTADO” e meu colega falou na hora pra acrescentar um: “DE DESESPERO” ao lado. E a galera está chamando a peça de ESTADO DE PÂNICO e coisas do gênero. E eu estou calma como se amanhã eu fosse passar o dia caçando borboletas. Aliás, a hipótese de caçar borboletas me deixou mais estressada que a estreia do Estado, porque eu odeio insetos, principalmente os que voam.

Sei que estou super afim de apresentar a peça, contando as horas pra chegar a estreia, pensando nos detalhes que não posso esquecer e conferindo algumas intenções de fala pra dar aquele retoque final. Mas não estou querendo roer as unhas, não estou sentindo que não vou dormir de noite, não estou com dor de barriga e nem com vontade de fugir para as montanhas. E isso é, por si só, um fato inusitadíssimo!

Confesso: Nervosa de carteirinha, estou sentindo bastante falta do desespero. Minha mãe está achando fantástico, mas eu, que, juro, não sou sado-masoquista, acho que a adrenalina e o ápice do surto fazem é parte! É como estar na subida da montanha-russa e morrer de medo da descida, e enquanto a descida acontece, não tem mais o que fazer, é só levantar os braços e gritar, sabe assim? É mais ou menos isso pisar no palco. É estar dentro da coxia com tanto medo e nervoso que se acha incapaz de sair de lá. Mas sai. E depois do primeiro passo, tudo vira luz e energia! Por isso essa calma está me irritando. Mas amanhã, provavelmente, tudo voltará ao normal nesse coração de estreia, e nem que seja nos últimos 5 minutos antes da porta do teatro abrir, eu sei que vou estar tremendo tanto que vou ter certeza que não vou conseguir e que não nasci pra isso. Mas vou conseguir. E vai ser tão mágico quanto sempre. MERDA MERDA pra nós, ESTADO! Nasça cheio de vida!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Minha ode às meias.

Porque a Anna Vitória já fez isso antes, e muito bem, logicamente. Mas eu sempre senti que eu ia precisar fazer também. Porque eu também sinto que preciso homenagear as meias (e o ser brilhante que as inventou) e porque estou morrendo de medo das minhas ficarem ressentidas e resolverem migrar para o armário da Anna.

Eu nasci em Vitória e lá faz calor. Aí depois eu mudei pra São Paulo mas continuei inserida por anos no “andar descalço way of life”. Porque eu nunca gostei de andar de meias. Parecia que elas ficavam sujas. E ficavam, logicamente. Mas eu me sentia menos suja com o pézinho preto do que com as meias pretas. De chinelo eu não andava mesmo, mas arrancava as meias também.

Lembro que eu ia no Parque da Mônica, e ninguém brincava calçado. E eu via um trilhão de criancinhas correndo de meias pelos brinquedos e morria de nojo. Descalça era infinitamente melhor. Aí eu cresci.

Cresci, mudei pra Curitiba e selei um caso de amor eterno com as minhas meias. Não sei em que exato momento se deu a transformação, mas sei que não foi gradual. Foi de repente. De repente eu acordei e descobri que não podia viver sem meias. (Insira nessa última frase aquele toque especial de novela mexicana)

Aqui faz muito frio e eu continuo não andando de chinelo. Então.. meias! Meias, gente. Meias são a coisa mais amor da face da terra, porque meus pés são gelados, e elas estão ali para esquentar. Meias são fofinhas. Meias são quentinhas. Meias podem ser peludinhas, podem ter dedinhos, podem ser 3/4, podem ser meias-calças, podem ser coloridas, podem ter desenhinhos, lacinhos, rendinhas e coisas do gênero.

Na primeira, no outono e no inverno (curitibanos) eu fico de meia all day long. Só tiro pra tomar banho e corro colocar uma limpinha e cheirosinha de novo ainda antes de sair do banheiro. Hoje, por exemplo, minha irmã teve a pachorra de ir pra escola de SAPATILHAS. Eu fico indignada. Como assim a pessoa consegue sair sem meias, gente? Muito melhor estava eu. Com botas de cano longo e uma excelentíssima meia (nova!) de joaninhas.

Sim. Joaninhas. Porque como a Anna Vitória sabiamente ressaltou no texto dela, as meias são um pedacinho infinito de infância que podemos carregar conosco! Porque podemos estar lindas, divas, maduras e adultas por fora (quem sabe até de batom vermelho!) e colocar dentro da bota uma meia cor-de-rosa cheia de lacinhos e hello kittys e ninguém vai saber! Alegria egoísta total! Odeio meias brancas. Todas as minhas têm desenhos. São listradinhas. São xadrezinhas. Têm lacinhos. Têm brilhos. Têm rendinhas. Mas sempre têm alguma coisa.

E é por isso que eu não guardo minhas meias em gavetas. Guardo numa espécie de balde, roxo, logo na frente da porta do armário. Meu balde roxo transborda meias para todos os lados, e eu acho pouco. Quero um milhão de meias. Porque meias nunca, nunca são demais.

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domingo, 17 de junho de 2012

Pra não dizerem que eu só falo das flores.

Porque, céus, como já falei das flores! Basta um ensaio incrível, um aquecimento transformador, um caso cômico ou uma estreia transcendental para eu aparecer aqui com os dedos ávidos no teclado e os olhos escorrendo amor para falar sobre o teatro. E aí eu corro a mão pelo teclado e desando a tagarelar, por linhas a fio, sobre a maravilha de viver “em cima de um palco”. Sobre as flores eu vivo falando. E sendo as minhas flores preferidas do mundo as margaridas ou não, o teatro, como grande parte das coisas dessa vida, é um grandessíssimo buquê de rosas vermelhas.

Sim. Rosas vermelhas são lindas. Majestosas. Imponentes. Glamorosas. Chegue em algum lugar com um buquê de rosas vermelhas nos braços. Todo mundo vai parar para olhar e vai ter algum comentário pra fazer. Nossa, como são incríveis as rosas vermelhas. Mas não se esqueça de tomar cuidado ao pegar no cabo. Estará lotado de espinhos.

Os espinhos não são insuportáveis. São coisas com as quais aprendemos a lidar. É só tomar cuidado na hora de encaixar os dedos, e assim você pode impor sua rosa vermelha na cara da sociedade. Só que sua mão invariavelmente vai ter escorregado em algum momento. E enquanto as pessoas veem a rosa vermelha, você está radiante por mostrá-la, mas só você sabe o quanto os espinhos te arranharam!

O palco é sim radiante. É brilho. É glamour. Estar ali em cima dá um sopro de vida, uma força pra alma. Eu nunca saio de um palco da mesma forma que entrei. É transformador. E é ainda mais transformador pensar que estamos transformando também a vida de quem foi assistir. É uma sensação incrível estar em cima de um palco apresentando uma peça. Só que não é só isso. Não é só entrar no figurino, deslizar pelo cenário, dar o texto na hora certa com a intensão certa e coisas do gênero.

É exaustivo. Tem muita coisa por trás. Tem avalanches de esforços. Tem passar tardes fazendo cenário, e só lembrar às 18h30 que você não almoçou. Tem reformular toda uma rotina pra poder passar horas e horas a fio ensaiando. Tem repetir a mesma cena 230 vezes, não aguentar mais falar a mesma coisa, e ainda assim, dar toda a força que você tem pra parecer que é a primeira vez. Afinal de contas, se você já está careca de saber que o personagem está aflito à toa, o público não tem nada com isso e quer sentir a aflição.

Fazer teatro não é subir num palco com textinho decorado. Fazer teatro é carregar tijolos, é passar o dia agachada no chão pintando madeira e colando florezinhas de cola quente, é provar figurino, fazer listas mentais, pensar no personagem durante dias, ter pânico de o personagem simplesmente não querer surgir dentro de você…

Às vezes a coisa flui. Às vezes você se pega sentado na cama às 4h da manhã cheia de ideias, com mais de 2 meses faltando pra peça, sentindo cada fala na sua pele e tendo outros milhões de insights. Às vezes o personagem, aquele fanfarrão, só resolve aparecer no dia do ensaio geral. Invariavelmente, a hora que ele de repente aparece, dá pra perceber aquele calor no peito, o sorriso abre sozinho. Como é bom se encontrar. Não, isso não quer dizer que ele não vá sair passear nunca mais. Porque ele vai. E como é frustrante quando isso acontece. Como é horrível apresentar uma peça sem sentir o personagem no coração. Tudo fica vazio. O olhar é o primeiro a desaparecer. E aí é o dobro de concentração e força pra segurar na técnica aquilo que na hora não funcionou na paixão…

Gente, teatro não é glamour. É batalha. Mas é uma batalha que a gente entra pra ganhar, sem outra opção. Porque alimenta o espírito de uma forma que é impossível explicar. É uma batalha que sempre me faz ficar maluca por volta de 15 dias antes da estreia, onde a peça está cada vez mais próxima de acontecer e as coisas parecem ficar cada vez mais distante de estarem prontas. É o bloquinho de contas. É a olheira. É o cansaço. É começar a tratar das pendências da peça às 9h da manhã e terminar às 22h30. É colocar a mão na testa e se perguntar onde diabos estava com a cabeça quando resolveu ser atriz. É surtar e sair falando pelos cantos esse desespero. É saber que a TPM muitas vezes tem o nome da peça e o sobrenome do personagem. É se jogar num travesseiro e não querer levantar nunca mais. Sim, tudo isso é teatro. Mas sim, vai ser teatro também a hora que você subir no palco para estrear e a coisa acontecer. E sim, isso faz tudo valer a pena. Tudo.

A minha TPM da vez se chama ESTADO, e estreia dia 23. Sim, já temos um cenário. O figurino está se encaminhando. Eu apanho em cena (e me divirto!) e sempre saio roxa dos ensaios. Não, ainda não encontrei a Vitória que existe dentro de mim. Sim, estou com o psicológico morrendo de medo. Sim, manchei minha calça jeans de tinta a óleo. Não sai. Sim, parafusei horrores. Sim, tentei martelar e quase martelei o dedo. Sim, hoje, domingo 17, começa oficialmente a maratona da semana-intensiva-que-antecede-a-estreia. Sim, amanhã tem churrasco na casa do meu tio e eu não vou porque tenho que ensaiar. Em pleno domingo. Sim, fiquei chateada porque a minha mãe joga na minha cara que a Anna Beatriz nem pergunta mais por mim quando eu não apareço. Sim, eu gostaria de passar a tarde rolando com ela no chão, mas eu preciso ensaiar! A lágrima às vezes vem quente, mas a gente sabe que vale. Por hora, a única coisa que sei é que dia 23, às 21h, estarei subindo no palco de novo. E mesmo que tudo dê errado (bate na madeira 3, 6, 12 vezes) estaremos ali em cima. Respirando essa energia que é o melhor alimento do mundo. E lá fui eu, que tentei e tentei falar dos espinhos, mas já acabei nas pétalas mais lindas das Rosas. É que o jardim é tão vasto, que não, absolutamente não tem como não falar de novo das flores!

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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Amor? O que a gente faz com isso?

O ser humano é engraçado, né. Deveras cômico, na realidade. A gente vive reclamando que o amor dói, que paixão só da trabalho, que o coração anda calejado e cansado de não ser correspondido. A gente se olha no espelho com os olhos embargados de lágrimas e jura que nunca mais vai amar. E no próximo momento já temos certeza absoluta de que o mundo não existiria sem amor, e que tudo o que a gente quer é dançar conforme a música dos apaixonados. Afinal de contas, ah, o amor!

Hoje a tarde, numa breve pausa no espaço-tempo loucura que andam esses dias com a estreia próxima de “Estado”, renovamos a energia numa sala de aula diferente, com professora antiga, e texto aleatório. Se não me engano, o texto se chamava O apocalipse segundo João Domingues. Aposto que estou bem enganada, mas sei que pelo menos o começo está certo. Era o apocalipse segundo alguém. Mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é que eles falavam coisas tão inusitadas e interessantes, que acabamos dando risada, discutindo, e anotando no bloco de notas do celular. O texto falava, nesses trechos mais analisados, que Deus fez a vida certinha, com tudo encaminhado, direto, e reto, e aí veio o homem estragar tudo quando resolveu inventar o amor. Porque o amor bagunça e tira tudo dos trilhos.

Ele dizia que as pessoas morriam, e a causa mortis era só uma: Infecção Amorosa. Porque o amor é um vírus muito perigoso. E ele ainda disse que sobre a paixão, só de pode afirmar duas coisas: “Que é eterna enquanto dura, e que não dura!”. Depois disse que devia-se matar o amor, e que isso não seria um crime, pois não é crime acabar com uma ilusão. Além disso, ele diz que pra complicar tudo, todo “amante” ainda contrai uma doença básica chamada ciúme. Junta uma dose de amor, um tanto de ciúme, e pronto! Eis o Caos!

Será? Será mesmo o amor algo tão caótico? Eu ainda acho que dói, que machuca, mas que completa e nos motiva a viver! Damos risada, xingamos, reclamamos, mas precisamos. Então continuo com a baboseira de viver proclamando “Mais Amor no Mundo”, sendo o amor uma ilusão ou não, uma invenção do homem ou não. E como indicam a lateral da Revista Tpm de junho, e o meu mais novo filho livro…

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Só o amor salva e Preciso dizer que te amo

Com uma inspiração dessas dentro do quarto, não tem como dizer que o amor podia não existir pra bagunçar menos. Digamos que ele seja a bagunça que dá sentido a tudo. E fiquemos felizes assim!

terça-feira, 12 de junho de 2012

Querido namorado que eu não tenho.

Porque uma amiga minha disse que em mais um dia 12 de junho estando solteira, só resta escrever sobre drama. Ou sobre nada. Eu acho que quando eu tendo a escrever alguma coisa dramática sempre fica meio sem sentido. Ou seja: Um nada. Então isso aqui vai acabar sendo uma compilação perfeita para um dia dos namorados sem um namorado: Drama. E nada.

Observem que a situação e o horário já não são aconselháveis. Madrugada gelada de um 12 de junho curitibano. Músicas românticas e poéticas tocando no ambiente, porque eu sou chegada a um sado-masoquismo. Nesse momento eu já lembrei de Camões a Vinícius, de Caio a Florbela, e até de “A dona da história” eu lembrei. Sim, porque uma Débora Falabella proclama docemente no filme que é muito mágico o amor de sua vida aparecer exatamente na sua vida. E eu vivo com medo do meu ter caído de gaiato na vida de outra.

Caio diz que “preciso de você, que eu amo tanto e nunca encontrei”, e isso é tão latente e orgânico dentro do meu coração que nem sei. Porque amar eu amo. Eu só não encontrei o dono desse amor todo, sabe assim? É. Porque Camões disse lá que “amor é fogo que arde sem se ver”, e realmente, queima. E Vinícius disse que “não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”, e apesar de morrer de medo de não durar, eu sei que mesmo assim é eterno. E ainda teve um africano que disse que “amar é verbo sem passado”, e eu não sei se acredito ou não. Airen disse, sobre isso, que “uma vez tendo amado, nunca mais se deixa de amar”. Eu sou extremamente tendenciosa a acreditar. E enquanto isso os autores citados andaram otimistas, mas aí aparece a Florbela pra me jogar na cara que:

“Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!”

e Deus me livre né. Muito desaconselhável pra data e pro horário a moça vir colocar na minha cabeça que talvez alguém nunca me encontre. Afinal de contas, Lucão disse uma vez que “Viver sem te conhecer seria morrer de saudade desconhecida”, e eu assino embaixo. Então, Florbela, entenda que não dá. Não enfie essas ideias erradas na minha cabeça a essa altura do campeonato! Até porque, Lucão também disse que “Seja o que for, se já não tiver sido, o que tiver que ser vai ser, até se não tiver sentido”, e pra fechar as citações do moço, querido namorado que eu não tenho, devo avisar que: “Sei que a gente ainda não se conhece, mas saiba que eu já te amei desde o primeiro dia que soube que um dia eu ia encontrar alguém como você”.

Partindo do princípio técnico e calmante de que você de fato existe, vamos às constatações: Tudo bem, você ainda não chegou. Eu te perdoo, juro! Te perdoo pela demora, você deve chegar com um bom motivo. Ou com um colo tão bom e um sorriso tão brilhante que nem vai precisar das desculpas. Quando você vier, venha doce. Venha amando. Venha com um pequeno buquê de margaridas. São as minhas preferidas, sabia? Venha com olhos que olhem pra mim na certeza de que foi por mim que eles sempre procuraram. Porque é assim que eu vou olhar pra você quando você chegar. Afinal de contas, como costuma dizer a Clara, se eu “nunca namorei, só vou namorar quem eu ame”. E veja só, eu amo você! Meio caminho andando? Só basta me amar de volta! Seria assim tão impossível? Airen fez tudo parecer doce e simples quando disse que enquanto ficamos aqui pensando no assunto, “a lua continua despencando lá fora! E nós aqui dentro, esperando que a recíproca se torne verdadeira!”.

Por hora é isso. No dia 12 de junho do ano que vem, espero que a gente já tenha se esbarrado. E então, nesse capítulo do livro, você já tem certeza absoluta que minhas flores preferidas são margaridas, e que a única fruta que eu como é morango. Isso porque eu já terei te perdoado por fazeres essas mil perguntas que em vidas que andam juntas ninguém faz. Finalmente nossas vidas terão começado a andar juntas. E aí ao invés de ficar escrevendo cartinhas solitárias e fazendo compilações de autores pela madrugada a fora, nós vamos deitar juntos numa toalha de piquenique, com uma cesta de margaridas e palitinhos de morango com chocolate! Só nós dois, no embalo da rede. Matando a sede na saliva. Enquanto todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa, que nem feijão com arroz.

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quinta-feira, 7 de junho de 2012

Antes não doesse…

Os sentimentos. Eles mesmos, sabem. Aqueles que fazem um milhão de reviravoltas na nossa simples rotina diária. Aquele nervoso que faz gelar o estômago. A felicidade que faz encher o peito. A emoção que faz arderem (de forma bela) os olhos. E aqueles que fazem cortar o peito, como ciúmes, saudade e amor.

É isso mesmo. Depois de bancar a cara-de-pau e vir contrariar Sartre publicamente em pleno novembro, hoje, essa que vos fala, resolveu contrariar Camões. Porque, gente. Necessário. E não. Eu não estou sofrendo por amor. Porque se eu estivesse, ah, se eu estivesse, esse post sairia muito mais dolorido e rabugento.

A questão é que Camões foi lá e escreveu aquele poema maravilhosamente clichê, que todo mundo conhece, e que eu sempre suspiro só de lembrar dos versos. Porque amor é fogo que arde sem se ver. É contentamento descontente. É um não querer mais que bem querer, e sim, é querer estar preso por vontade. Agora. Não é dor que desatina sem doer. O amor definitivamente não é dor que desatina sem doer.

Dói, Camões. Dói. Dói de uma forma que não dá pra explicar. Dói de um jeito que te faz pensar e respirar fundo pelo menos umas 3 vezes antes de levantar da cama para mais um dia. Dói enquanto a gente rola no travesseiro madrugada a fora, momento onde se torna ainda mais insuportável e a gente jura por qualquer coisa que preferia uma enxaqueca. Pois no caso da enxaqueca, alguns comprimidos iriam resolver.

O amor dói sim. Quando é correspondido, dói a saudade da madrugada interminavelmente distante. Quando não correspondido, dói o desespero da falta do abraço verdadeiro. Tá bom, que o correspondido dói quilos a menos, e junto com a dor tem aquele calor aquecendo e acalmando. Mas quanto ao não correspondido, ah, gente. Dói e pronto! Parece que parte o peito ao meio, que nem mil sopros ou mil band-aids resolveriam. Sabemos que o remédio é o tempo, mas ao mesmo tempo parece que o tempo nunca passa e que nós acabamos náufragos dessa ilha de minutos doloridos que parecem infinitos.

A boa notícia? Um belo dia passa. Sem que percebamos. A gente acorda, e, de repente, vê que não está doendo. Sim, pode ser apenas uma oscilação momentânea. Pode voltar a doer em 1 dia ou 2. Mas entre idas e vindas, uma hora, não dói. Mas nem dá pra se animar: Esse tempinho de refresco são somente férias. Se você der sorte, de verão. Se não, de julho mesmo, das bem curtinhas. Mas nunca passam de férias. Porque assim que você se cura de uma, lá aparece o amor de novo, pra fazer tudo doer de volta. E aí, como diz uma amiga minha, só nos resta pedir pra ser recíproco, pelo amor de Deus!

E isso tudo foi só pra dizer que, mesmo com todos os meus suspiros e saltitos ao lembrar de cada centímetro do famoso poema de Camões, eu sempre vou franzir a testa ao lembrar do tal do trecho citado: “É dor que desatina sem doer?” Francamente, Camões! Sem doer? Sei que você quis dizer que a dor é metafórica, coisa de nossa cabeça, e que, fisicamente, não está ali. E racionalmente, até dá pra pensar que ela não está ali. Mas não tem como se pensar racionalmente falando de amor. Então, sendo assim, eu friso: Dói, Camões. O amor é dor que desatina e dói.

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DÓI.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Batom vermelho, o tabu.

Oi, meu nome é Ana Luísa e minha boca é grande. Desde pequena que minhas tias olhavam pra mim recitando a piada do pobre compadre jacaré, que não poderia ir à festa do céu porque tinha a boca grande demais. Eu vejo minhas fotos de neném e morro de rir: Certamente, a boca já era do tamanho atual. A criança cresceu em volta.

Então eu tenho a boca grande, é isso. Sendo assim, eu aprendi a vida toda que eu tinha que disfarçar a coitadinha. Festa de casamento, balada, baile de formatura? Maquiador, realça os olhos e dá um jeito de sumir com essa boca! E lá ia eu, saltitante, com delineador, sombra, 2 quilos de rímel, e um batonzinho bem do básico. Os olhos aumentavam, a boca ficava menorzinha, e eu ficava contente.

Mas a gente sempre guarda umas vontades da infância dentro da gente. E quando eu era mais novinha e não entendia nada sobre tamanhos de boca, meu sonho era passar batom vermelho. É óbvio que minha mãe não deixava. E quando eu cheguei na idade onde eu poderia decidir sozinha a cor do meu batom, eu já tinha encafifado que a pobre da minha boca grande jamais poderia ser pintada de vermelho, e assim era a vida.

Até que uma vez eu brinquei de Marilyn Monroe na aula de maquiagem e o professor tacou um vermelhão naquela boca. Meu racional ficava gritando: Tire isso daí que está ridículo! Mas no fundo eu tinha gostado de olhar no espelho. Uma outra vez, para se vestir de rockeira em um LipDub, minhas amigas tacaram um vermelho na minha boca e eu fiquei com a mesma sensação: “Preciso tirar essa coisa logo mas até que está bonitinho”. Em uma outra tarde comum, minhas amigas de teatro decidiram fazer um motim do batom vermelho. Eu fingi que passei. Enquanto elas abusaram do vermelhão eu passei de leve, e deixei só vermelhinho. Mas a pulguinha da vontade já estava enorme atrás da orelha.

Aí, numa inocente quarta-feira, uma colega que vende AVON veio empurrar a revistinha pra cima de mim, e eu comecei a folhear com a maior falta de espírito do mundo. Até que achei. Um batom vermelho chamado maçã-do-amor. E custando 6 reais. Sim, porque gente. Eu não ia me arriscar de cara num Make B. da Boticário e gastar meu rico dinheirinho num batom vermelho pra deixar encostado no armário. Comprei o batom.

Na sexta-feira, dia de balada marcada para comemorar o aniversário da amiga, peguei o batom. Abri, olhei a cor, e ri na minha própria cara: “Ana Luísa, você é uma fraude! Comprou esse batom só pra fazer graça. Nunca vai ter coragem de usar”.

E eu vim pra casa com 3 amigas e o batom na mão. É claro que a primeira parte das festas sempre começa aqui no meu quarto, onde todas nós nos arrumamos juntas, jogando 1928193 roupas no chão, testando 102813 pares de sapato, trocando perfumes, decidindo brincos e ouvindo música na maior altura mesmo depois das 22h. E então, já vestida, pronta pra cair no sertanejo, com vestido de renda, bota, unhas douradas e rímel, segurei na mão o meu rosinha brilhante de sempre e o tal do batom vermelho. Já estava prestes a amarelar, mas a Letícia falou logo: “Então me empresta isso aí que se você não tem coragem uso eu”. Ah, agora tinha virado questão de honra. Eu comprei o batom vermelho e eu ia usar. Passei. Bem de leve. Ficou um vermelho escondido, eu achei bonitinho, e passei o batom pra Letícia. Que passou bem forte. E pra Rafaela, que fez a mesma coisa. E então eu olhei pra cara das duas, mais novas que eu, e decidi que se elas podiam eu também podia e não ia ser uma boca grande que ia me impedir. Passei a mão no tal do maçã-do-amor e tasquei na minha boca. Não olhei muito no espelho pra não me arrepender. Já no carro, peguei o celular na mão e resolvi tirar uma foto inocente, usando o retrovisor do carro pra guiar a câmera. Afinal de contas, eu ainda não passei dos 15 e desde que escutei “Velha e Louca” da Mallu Magalhães que estou morrendo de vontade de postar uma foto com a legenda: “Que hoje eu passei batom vermelho”. E assim eu fiz. Tirei a foto, postei, e caí no sertanejo.

Quando voltei pra casa, às quase 6h da manhã, depois de ter dançando horrores e voltado pra casa sem batom nenhum porque eu também sou filha de Deus, passei o removedor nos olhos, escovei os dentes, me atirei na cama e fui dar aquela facebookeada básica antes de apagar os olhos. 34 pessoas tinham curtido a tal da foto. Tive que me render. Acho que o tal do batom vermelho, no fim das contas, funciona. Até na minha boca grande.

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Se a Angelina pode, eu também posso.