quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

6. Meu malvado favorito

Livremente inspirado nesse blog genial aqui

Se eu fosse contar a história da minha vida, seria através dos amores que eu tive”. Quem disse isso foi Mônica Martelli, em “Os Homens são de Marte e é pra lá que eu vou. Como não tive todos esses amores, vou me permitir parafrasear esse trecho, que tanto amo: Se eu fosse contar a história da minha vida, seria através dos professores que eu tive.

Pensei que tinha que dar essa explicação porque esse é apenas o sexto post que escrevo pra a série 1001 pessoas que conheci antes do fim do mundo e já é o segundo professor que eu cito.

Quando eu era criança eu achava que era muito tranquilo fazer amizade com qualquer tipo de pessoa. Foi assim que eu cresci achando totalmente natural gostar de bater-papo com meus professores, o que sempre foi facilitado já que passei 80% da minha vida de estudante sendo nerd e sentando na carteira que ficava colada na mesa do professor. Acho que professor, aquele que realmente nasce pra isso, é um ser fascinante. Aí eu me lembrei dele.

Eu acho que fui ginasta em outra vida. Só isso deve explicar uma criança de 4 anos que sonhava em fazer ginástica olímpica. Acho que se eu perguntar pra minha prima de 5 o que é ginástica olímpica ela não vai saber. Mas eu sabia muito bem, e queria ser uma delas. Minha primeira experiência, em Vitória, foi traumática. A mulher, que me recuso a chamar de professora, sentou nas minhas costas na primeira semana de aula para forçar uma abertura de espacato. Não, né, gente?

Aí me mudei pra São Paulo e logo no início das aulas passaram uma folhinha enumerando todos os curso extra-curriculares que a escola oferecia. Ginástica Olímpica estava lá e brilhou em neon bem no meio da minha cara. Acho que fui a primeira a me matricular, e talvez a primeira da história da escola.

Quando chegamos na quadra para o primeiro dia, devíamos ser um grupo de 6 ou 7, sentamos no chão, na frente de um colchonete muito do esquisito, e ouvimos o professor falar que era a primeira vez que tinha ginástica olímpica na escola. Que ele iria tentar emplacar.

Olhando de fora, pode parecer piada. Um professor, uns colchonetes e um grupo de meninas do ensino fundamental querendo emplacar alguma coisa. Não sei direito o que aconteceu no meio desse caminho, só sei que aconteceu, porque 4 anos depois, quando fui obrigada pelo meu médico a sair, já éramos muitos e tínhamos muitos, muitos colchões apropriados e cama elástica.

Mas isso não é sobre a ginástica olímpica. É sobre o Carlos. O cara que conseguiu tudo isso. O cara que ensinou a gente que “cambalhota” na verdade se chamava “rolamento frontal”, e que um dia a gente poderia fazer aquilo no ar, se quisesse.

Ele era muito rígido. Leia-se no popular infantil: bravo. Muito bravo. “Professor, tô com dor na perna” alguém dizia. E logo vinha a resposta: “Sinal de que você tem perna, continue”. Pode parecer o mesmo abuso que a mulher de Vitória fazia, mas eu juro que não. Porque o Carlos tinha o dom. E o dom é toda a diferença. Ele sempre sabia de tudo. Ele sabia quando doía de verdade. Sabia quando a gente precisava parar. Sabia quando a gente estava de corpo mole ou quando realmente não conseguia fazer. Ele não respeitava preguiça, mas respeitava medo: ficou quase 1 ano segurando as minhas costas para eu fazer reversão para trás. Ele sabia que eu sabia, mas entendia totalmente o meu medo de errar e cair de cabeça no chão. Aprendi a fazer reversão para trás com o Carlos como quem aprende com o pai a andar de bicicleta: achei que ele estava com a mão ali, e quando terminei, vi que ele estava sorrindo, com as mãos para o alto. “Eu fiz sozinha, professor? Sem cair?” “Você já sabe fazer tem tempo, Aninha, tem tempo!”.

O malvado favorito da minha história dava muita, mas muita bronca na gente. Brincava dizendo que queria que fôssemos perfeitas, mas o que ele queria mesmo dizer era que devíamos dar tudo de nós. Foi assim que ele conseguiu emplacar a ginástica olímpica na escola; conseguiu que fôssemos levadas a sério.

Esse professor, tão ogro que era, sentava no fim da aula para nos propor desenhos de collaints para nossas apresentações. Dizia para a direção da escola que merecíamos uma cama elástica nova. Nos ensinou o que era democracia e justiça quando sentou para conversar conosco e avisou que éramos em 22 e só 20 poderiam ir ao festival de ginástica da outra escola: “Todas vocês vão ensaiar uma série de movimentos. Daqui a duas aulas todas apresentarão essa mesma série e em seguida, vocês darão notas umas para as outras. As duas que tiverem as menores notas finais não poderão ir”. Pode parecer até piada, mas nunca antes na história da minha existência eu tinha me preocupado tanto em não dar notas baseadas em amizade, e todas pensaram da mesma forma. O professor tinha nos dado esse poder porque confiava na gente e grandes poderes exigem grandes responsabilidades. Estava nas nossas mãos, e teríamos que ser realmente justas. Reafirmo essa lembrança quando me recordo que a Bruna não foi para o festival – e ela era cheia de amigas.

O Carlos estava ali para nos ensinar ginástica olímpica, mas ensinou muito mais que isso. Ensinou que determinação, dedicação, ética e responsabilidade fazem de qualquer pessoa um grande ser humano e às vezes, quem sabe, um grande ginasta também. Não o vejo há 11 anos. Fico pensando no tanto de pessoas que ele já construiu desde então. Construir pessoas. Muito mais que apenas instruir. Construir pessoas é o tipo de coisa que só um professor de verdade é capaz de fazer.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

The lights are so bright …

… but they never blind me!

Somos aquilo que amamos. Foi essa a frase que começou a martelar na minha cabeça quando comecei a pensar no post para inaugurar o layout novo, já que a tradição pede assim. O título  eu já tinha desde que achei as luzinhas que escolhi para o topo. Sim, Taylor Swift. Sim, de novo.

Somos aquilo que amamos. Por esse layout já passaram Elizabeth e Mr. Darcy. Já passaram passarinhos. Já passou um desenho lindo que minha amiga fez de mim e já passou também um trecho de uma música da Mallu Magalhães que praticamente regia a minha vida (só o trecho, tá, não a Mallu). Não foi surpresa pra mim, portanto, que todos os caminhos de referências nas quais pensei para (a musa Tary fazer) o meu novo cantinho chegassem a 1989, aquele CD do qual eu não gostei quando ouvi pela primeira vez.

Tem luzinhas, tem rosa, azul e amarelo, tem polaroid e todos os títulos dos gadgets são pedaços de letra da Tay, minha melhor amiga famosa. Talvez eu quisesse transformar a minha vida na discografia da Taylor Swift. Mas só talvez.

Um segredo que eu ia deixar passar é que, pela primeira vez, pensei em trocar o nome do blog junto com o layout. O nome, esse sim, não teria nada a ver com Tay e sim comigo e minha nova fase. Digo isso porque cada novo layout abre uma nova fase na minha vida (#mística). Não mudei o nome porque me peguei estranhamente apegada a esse, que nem gosto, e porque demorei 6 anos para fixá-lo no mercado na cabeça dos leitores e também porque não ia trocar o nome sem mudar o link (#toc) e enfim. Muitos poréns. Mas eu conto pra vocês o que ia ser.

Attraversiamo. Seria esse o nome. Essa é a minha palavra favorita no italiano, a segunda favorita na vida. Que eu já tatuei na alma (e quero tatuar no corpo, em breve). Que significa, segundo Julia Roberts Elizabeth Gilbert em Comer, rezar, amar, que devemos sempre atravessar a vida. E o verbo vem conjugado no plural porque seria muito triste atravessar sozinho.

Eu não atravesso nem uma ponte sozinha nessa vida. E não é porque não posso, e sim porque não quero. A vida é muito melhor acompanhada.
Attraversiamo?

sábado, 24 de janeiro de 2015

Tamo rezando, vó.

Avós tem conexão direta com o divino, certeza. Não sei se é por tempo de vida, se é por merecimento ou se é o santo que é forte mesmo, mas o fato é que elas tem. Aprendi desde pequena que se houvesse alguma coisa que eu quisesse muito na vida era só pedir: vó, reza?

“Rezo, filhinha, e se for pro seu bem, vai acontecer”, responde ela. Então reza logo, vó, porque vai ser pro meu bem sim e vai acontecer, mas Deus te escuta melhor do que a mim. Quero passar no vestibular vó, reza? Quero tirar carteira vó, reza? Quero arrumar um namorado vó, reza pro Santo Expedito, protetor das causas impossíveis? Vó, pelo amor de Deus reza porque fiz exame de sangue e tô morrendo de medo do resultado. Esse tipo de coisa.

Não dá, é claro, pra ficar pedindo pra vó rezar pra gente ganhar na mega sena. Tudo tem limites.  Vó só pode rezar pra coisa séria, senão queima o cartucho. Minha avó tem muito filho e muito neto, e ela reza, tá? Todo santo dia. Entra no quarto depois do banho, com os cabelos molhadinhos, toda perfumada, com um livrinho de orações e o terço na mão. Vó, reza? “Rezo, filhinha, todos os dias, por todos vocês”.

Antes de ontem minha avó teve um piripaque. Estou usando essa palavra porque acho que ela dá um tom de leveza para o assunto – que eu ando me recusando a levar a sério. Tem alguma coisa a ver com coração, ela está internada e vai ter que operar, mas graças a Deus está tudo aparentemente sob controle. Não que ela acredite nisso: a algumas horas de sua segunda noite no CTI, a bichinha não sossegou até que a enfermeira deixasse minha tia levar um terço pra ela lá dentro. Parece que consigo ler seus pensamentos: eu estou ótima, ruim vão ficar os outros lá fora se eu não puder rezar por eles. Tá certa, vó. Você tem créditos e mais créditos com Deus, vai ficar boa rapidinho. A gente é que vai estar em maus lençóis sem a senhora pra pedir por nós.

Mas olha só, fica quietinha aí e acalma seu coraçãozinho pra ele ficar bom logo. Vai ficar tudo bem com você, porque tá na nossa vez de rezar, e nós tamo rezando, vó. Não temos o seu crédito, mas somos muitos. Vai ficar tudo bem com a senhora. E está tudo muito bem conosco, porque temos você.

Livremente inspirado nesse texto aqui, que não parou de martelar
minha cabeça desde que soube que vovó estava internada.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

The best is yet to come

Já devo ter me deparado com essa frase algumas vezes nessas internets da vida. Só que às vezes a gente precisa mesmo ver a mesma coisa milhões de vezes para que ela nos marque, e foi assim que aconteceu. Logo no início do ano, vi um amigo meu postar uma foto no instagram dizendo, na legenda, que queria tatuar essa frase em algum lugar do corpo para lembrar, sempre, que o melhor ainda estava por vir.

Essa frase e consequentemente a teoria que ela carrega estão martelando na minha cabeça desde então, de forma que achei que era melhor fazer um post sobre o assunto logo. Gosto da frase. Gosto muito, embora ela possa passar, para alguns, a ideia errada de que estamos focando demais no futuro ao invés de viver o passado, e, ainda por cima, desvalorizando o passado. A minha interpretação não é assim.

Já falei algumas vezes por aqui que o ser humano não consegue viver sem ter algo pelo que esperar. Sem a espera de algo bom porvir, a gente só sobrevive. E sobreviver, apenas, não tem graça e nem sentido.  

Acreditar, sempre, que The best is yet to come não é desvalorizar o passado e ignorar tudo o que já vivemos de maravilhoso – e sim focar na fé de que, caraca, vivemos MUITA coisa boa já, mas olha que curioso: o melhor, ele ainda está por vir.

Carregar consigo a esperança de que ainda não vivemos o melhor não é deixar de estar satisfeito ou deixar de ser grato por tudo o que já foi vivido. É levantar da cama todos os dias sabendo que tem muita coisa linda para acontecer. Por mais que já tenhamos vivido momentos infinitos na vida, acreditar que o melhor, o melhor MESMO, ainda não chegou, nos faz ter mais vontade de pagar para ver. (E o que é, afinal, a vida, senão estar sempre pagando para ver?).

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Aquele com o dedinho

Se tem uma coisa com a qual nós, mulheres desse século XXI e mais precisamente de 2008 pra cima, nos preocupamos, essa coisa é: calo no pé por culpa da sapatilha.

Tudo isso porque um dia desses, em algum momento desses últimos 7 anos, o cosmos decidiu acordar afim de emplacar (aparentemente para sempre) a moda das sapatilhas. Eu acho é ótimo: sapatilha é super meiguinha e orna com quase qualquer look. O único problema é o que os olhos veem não combina muito bem com o que o nosso pezinho sente. Pelo menos 80% desses sapatinhos angelicais são, na verdade, demoninhos: comem os nossos calcanhares, ou a lateral dos pés, ou os dedinhos lá na frente, ou tudo isso junto, incluindo a nossa alma, que no meio do passeio já está exaurida de sentir dor e passa o resto do tempo se lamuriando por não ter uma caixa de bandaids na bolsa.

Euzinha, que muitos apertos já passei nessa vida, decidi que em 2015 seria uma pessoa prevenida: comprei uma nécessaire que anda comigo dentro da bolsa. Posso esquecer de pentear o cabelo ao sair de casa, mas não esqueço a nécessaire. Segundo a minha prima, minha pequena bolsinha com desenhos de monstros é nada mais nada menos que a bolsa da Hermione. Tudo isso porque um dia ela me pediu absorventes e eu tinha. E remédio pra dor de cabeça, e eu tinha. E se você precisar de bandaid, remédio de nariz, creme para cutículas, elástico de cabelo, pasta de dente, um desodorantinho, enfim, tudo isso vai ter. Só não vai ter mais o sabonete de rosto, porque ele não coube.

Mas esse texto não é sobre sapatilhas. Nem sobre nécessaire. Eu só enrolei vocês até aqui com essa trela toda porque eu adoro fazer isso, hehe. Prossiguemos.

O cosmos que manda na moda, esse mesmo que um dia inventou o salto alto que acaba com a gente nas festas e moda das sapatilhas que comem a nossa alma, resolveu que seria um pouco parceiro. Pensou, pensou, pensou e pluft: lançou a moda das alpagartas.

Que maravilha na Terra são as alpagartas. Extremamente confortáveis e descoladinhas, com milhares de estampas disponíveis, as alpagartas ainda carregam a dose certa de grau hipster que todo ser humano anda querendo ter, ultimamente. Alpargatas: calce uma e você nunca vai querer calçar mais nada. Não estou recebendo pra fazer esse post, mas se algum alpargateiro quiser me patrocinar, estamos aí.

Infelizmente não tão coringas quanto as sapatilhas, elas não combinam com qualquer look. Algum defeito elas tinham que ter, mas nunca se esqueça da vantagem de serem totalmente confortáveis. A regra geral é que uma alpargata NUNCA SOB HIPÓTESE NENHUMA vai te machucar. Você calça ela de manhã e assina um compromisso com você mesmo de que, mesmo que percalços aconteçam no seu dia, você permanecerá pisando em nuvens.

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Qual foi a minha surpresa, portanto, quando ontem, indo almoçar com o pessoal do trabalho, comecei a sentir o meu dedinho arder muito. Segui andando e pensando o que diabos estavam acontecendo ali e tentando ignorar o fato. Enquanto isso, o pobre do dedinho fisgava pedindo atenção. Entrei no restaurante e pensei que podia almoçar e depois pensava no assunto. Almocei. Mas cada vez que eu ousava mexer o pé embaixo da mesa, o tal do dedinho berrava. Imaginei que tivesse estragado ele com alguma sapatilha anterior e não tinha percebido ainda. Enquanto isso a dor aumentava.

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Mal terminamos de almoçar e já decidimos ir embora, de forma que preferi não ir ao banheiro. Repeti mentalmente, então, a mensagem: “calma, dedinho. Assim que chegarmos na empresa eu ponho um bandaid em você. Isso já vai passar”. Cheguei na minha sala com o coitadinho pegando fogo de tanto que doía. Calmamente peguei a nécessaire, separei o bandaid e tirei a alpargata do pé.

Eu juro pra vocês que visualizei o medo dedinho com muitos tipos de estrago. Um corte? Uma bolha estourada? Um calo gigantesco? Minha criatividade é fértil e milhões de atrocidades se passaram pela minha cabeça. Acontece que eu me deparei foi com isso aqui:

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É. Meu dedinho estava meio que grampeado. E eu só topei postar essa foto horrorosa porque minha amiga me jurou que tudo isso daria um post incrível pro blog. E eu digo meio que grampeado porque o grampo estava posicionado ali, e furado nos dois cantinhos, mas não tinha se prendido completamente, amém, né? Enfim.

Agora, imaginem vocês sentirem dor, abrirem o sapato e darem de cara com seu dedo grampeado? Eu não sabia se ria ou se morria de susto. Como um grampo foi parar dentro da alpargata ainda é um mistério. E como ele se auto-grampeou em mim é um mistério ainda maior. A gente morre e não vê de tudo.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Uma tatuagem e muita história

- É que eu tenho muito medo de agulha.
- Você já viu uma máquina de costura?
- Claro.
- Saiu correndo?
- Claro que não.
- Entraria numa fábrica de costura?
- Sim?
- Lá é o lugar que mais tem agulha no mundo.
- Humnnn…
-
Você não tem medo de agulha, tem medo de seringa.

Podia ser ficção, ou um papo com a psicóloga, mas foi o diálogo que rolou hoje, por volta das 14h30 da tarde, entre eu e o tatuador, enquanto eu dava gritinhos e ele marcava a minha perna.

Eu sempre tive pavor de agulhas, mas eu resolvi que queria fazer uma tatuagem. Aí eu resolvi que eu não queria só querer, eu queria fazer. E quando a gente para de querer e faz, vocês sabem, a gente faz tudo o que quer. E foi assim que, depois de passar semanas ouvindo todo mundo achar que eu ia amarelar, eu levantei, tatuada, da cadeira do estúdio, às 14h43 da tarde, desse 5 de janeiro de 2015. Mais um dia em que eu superei a mim mesma.

Já disse pra vocês que 2015 é o ano de ter medos – e superá-los um a um. A melhor parte disso é que além de dizer isso pra vocês eu consegui dizer pra mim também.

tatoo

Latitude e longitude. Acho que a única vez que ouvi essas duas palavras e levei a sério foi no ensino fundamental, quando a gente estuda essas coisas. Lá, a gente aprende que a latitude é a posição de determinado local de acordo com a distância dele em relação à linha do Equador, e que a longitude, por sua vez, é distância em relação ao Meridiano de Greenwich. Ou seria o contrário? Nem sei ao certo.

Latitude e Longitude. Um número para cada uma dessas posições, em qualquer lugar no mundo que você esteja. Lugar. Esse conceito tão vago. O que é um lugar? O que é um casa? Quanto de cada lugar podemos carregar conosco?

O fato é que cada um precisa de um lugar no mundo. Alguns lutam mais para encontrar, outros menos. Alguns tem sempre certeza de onde querem estar, outros querem ganhar o mundo. Eu gosto da ideia de ganhar o mundo. Sem nunca deixar de carregar comigo o lugar em que sempre sei que serei feliz.

A casa da minha avó sempre foi meu melhor lugar do mundo. Meu retorno. Minha origem. O canto para onde eu sempre gostarei de ir – e de retornar. Pessoas não são pra sempre. Construções talvez também não sejam. O fato é que não importa o que aconteça (e olha que coisas sempre acontecem), toda vez que entro naquela casa, geralmente uma vez por ano, sinto cheiro de lar. De memória. De pão saindo do forno. De criança correndo ao redor das janelas. De “não faça barulho, tem bebê dormindo no quarto do bequinho”.

Foi na calçada da minha avó que eu ralei tantas vezes o meu joelho que ele mal tinha tempo de se cicatrizar. Foi naquele portão que prendi o dedinho algumas vezes. Foi naquela varanda que tomei alguns escorregões. Foi na sala que dei tantas risadas. Foi no quarto que tive tanto medo do escuro com o soar das doze badaladas do relógio.

Latitude e longitude. Dois números extensos, medidos em graus, minutos, segundos, norte/sul, leste/oeste. Poderia, um punhado de números, representar tudo o que o coração guarda sobre as casas que fazemos pelo mundo?

Não posso estar sempre na casa da minha avó, mas decidi que ela pode estar sempre comigo. Tatuei os dados geográficos do endereço que mais amo no mundo no meu tornozelo. Tornozelos são interessantes. Mexemos nele quando queremos ficar na ponta de pé, prestes a dar salto. Da mesma forma que ajudam no salto, os tornozelos estão, também, bem pertos do chão. Eles nos ajudam a ter asas... e a nos lembrar das raízes. Asas e raízes. Os dois legados mais importantes que podemos carregar nessa vida.

tattoo

Agradecimentos especiais à Rafa, minha prima-irmã, companheira de jornada, que abraçou e ideia junto comigo.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Eu e o mar

Pra quem não sabe, eu nasci em Vitória. Vitória é uma ilha. Uma ilha é um pedaço de terra cercado de água por todos os lados. Eu morei em Vitória até os meus 7 anos e meio e passei a vida toda ouvindo que piscina era muito melhor que praia – tudo isso porque minha mãe odeia areia e água gelada.

Praia, em Vitória, é um tanto e areia e um tanto de água muito gelada. A gente, quando é criança, tem mania de repetir o discurso dos pais sem nem pensar muito a respeito. E foi assim que eu cresci dizendo que piscina era muito melhor que praia – e que a gente nem precisava ficar 2 horas no chuveiro tentando tirar a areia do útero depois.

Se durante os 7 anos que morei em Vitória eu fui 5 vezes na praia, é muito. Imaginem então o que aconteceu depois que eu me mudei pra São Paulo: minha vida praiana foi ladeira a baixo. Morando longe de qualquer possibilidade de praia e com pais que nunca gostaram do assunto, não foi àtoa que eu demorei um bocado de anos para perceber e resolver assumir publicamente o meu estado de espírito rebelde: Eu amo o mar – e eu acho que eu o prefiro às piscinas.

praia#ovelhanegra

O mar é gelado sim, mas depois que você dá o primeiro merguho, já acostumou. O mar tem movimento, ele te mostra que a gente nunca fica parado na vida ou que, pelo menos, não deveria. O mar te trapaceia, te dá uns caldos, é mais sujinho que a piscina da casa da tia, mas o susto tem sempre gostinho de sal. Até isso, no mar, nos aproxima mais da sensação de estarmos vivos. Sal na pele (e na língua) tem muito mais gosto de vida do que o cheiro do cloro que impreguina na nossa mente (isso sem falar no cabelo).

O mar tem toda a ambientação do caminho de areia fofa e da linha do horizonte. O mar nos aproxima de nós mesmos. O mar me parece um daqueles presentes da natureza que nem merecemos ter, mas temos, e além de tudo isso, não deve ter dor de alma que um banho de mar não ajude a amenizar – e a gente nem precisa ficar 2 horas no chuveiro tentando tirar o cloro do cabelo depois.

O mar é imenso e… azul!
NEMO, peixinho.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Everything that drowns me makes me wanna fly

1º de janeiro, ano novo, vida nova, cabeça cheia de filosofias de botequim loucas para serem colocadas no papel. Esse é mais um daqueles textos que eu começo sem fazer ideia de onde vai dar e estou avisando desde já, portanto daqui em diante a leitura é por sua conta em risco, he.

O ano começou muito bem obrigado e cheio de poesia na alma quando encontrei uma mensagem de ano novo do Neil Gaiman – que depois eu descobri que é de um bocado de tempo atrás mas, vejam só, continua novinha. Em suma, ele diz que deseja a todos que cometamos muitos erros no ano novo.

Sim, erros. Erros simples, erros gloriosos, erros que ninguém cometeu antes. Porque cometendo erros a gente sabe que está fazendo alguma coisa. Se erramos, afinal, tentamos. Visto por esse lado, o erro é praticamente um acerto.

Ainda na mesma mensagem, Gaiman disse que se o que estivermos querendo fazer estiver nos dando medo, aí mesmo é que devemos fazer. Pensei na quantidade de medos adrenalísticos que eu já enfrentei na vida: o de montanha russa, o de subir no palco, o de dizer oi para um garoto na janela do chat.

Antônio Prata diz que a gente nunca sabe o que vai acontecer quando saltarmos, mas que a vida não faz nenhum sentido se não dermos o salto. Isso mesmo, o salto, aquele salto no escuro, onde a gente sai de um lugar seguro, com impulso e tremendo nas bases, sem saber onde vai dar.

Gritei muito na montanha russa e quando no meio do looping abri os olhos, a única coisa que vi foram meus pés – e o céu. O carrinho anda tão rápido que esse frame da minha vida deve ter durado 1 segundo, mas foi 1 segundo infinito. Subi no palco um punhado de vezes nessa vida – e em todos os momentos de gelo na coxia, antes de entrar e dar a primeira fala, eu me arrependi de ter inventado moda. Segundos depois, ao dar a tal da fala, era simples lembrar que era possível. A janela do garoto ficou muitos dias aberta enquanto eu não arranja força para digitar o O e o I. Até que eu o fiz. Não nos casamos – sequer nos beijamos ou marcamos um encontro – mas o papo foi divertidíssimo.

A gente não tem como saber se não tentar. Se a gente tentar e errar, tudo bem, afinal de contas, só erra quem tenta, só toma de 7 quem entra em campo. E se querem saber mais, o medo é o grande tempero da vida.

Porque que o Carrossel não chega aos pés da montanha russa? Dar voltas e voltas sentada no cavalinho não coloca pedras de gelo na barriga da ninguém. A única vez na vida que eu subi num palco sem medo, a peça não deu em boa coisa. E se abrir a janela da pessoa e chamar pra conversar não for, assim, uma grande questão, deve ser que a pessoa não tenha tanta importância.

O porquê da escolha do título? OneRepublic conseguiu teorizar a vida muito bem nesse verso, oras. É exatamente o que nos afoga que nos dá vontade de voar. Fosse a vida sempre muito cômoda e fácil, estaríamos todos com a faca e o queijo na mão o tempo todo e arrancar um pedaço para degustar não seria, assim, tão maravilhoso.

Fica registrado mais um desejo meu para 2015: que eu, que você, que nós, tenhamos muito, muito medo – e enfrentemos um depois do outro. Até quando o salto der errado e quebrarmos uma perna, até quando dermos com os dentes no chão, até quando errarmos e, talvez até, principalmente quando errarmos, estaremos acertando e muito.