A primeira vez que eu assisti Friends eu era relativamente nova. Devia ter lá meus 15/16 anos e uma fé cega em relações amorosas na ficção que, por sinal, mexiam comigo de uma maneira que não era de Deus. Já passei noites sem dormir nessa vida pela angústia direcionada a um casal de novela que NUNCA ficava junto – e assisti a cena do reencontro vezes a fio para sentir o peito ardendo tudo outra vez. Quem é mais sentimental que eu?
Enfim. Por essas e outras, nada mais óbvio concluir que eu passei, sim, todas as dez temporadas da série comemorando cada cena feliz de Ross & Rachel e ficando contrariadíssima cada vez que eles brigaram. Sempre tive certeza absoluta de que eles eram suas lagostas e que estavam, desde sempre, destinados a ficar juntos no final e eles ficaram. Ficaram?
Essa foi uma pergunta que começou a ecoar de leve na minha cabeça nas vezes em que me aventurei a assistir à série novamente. Calma, não mudei de lado. Apesar de achar o Joey incrível quando ele se apaixonada pela Rachel, nunca seria capaz de torcer para que os dois ficassem juntos de fato. Eu continuo sendo team Ross. Só acho que eles são só mais um casal que a ficção usou para nos ensinar, a duras penas, que nem todo grande amor tem que ser eterno; que nem toda grande paixão funciona, de fato, a longo prazo. Às vezes as pessoas se amam demais, mas não conseguem ficar juntas para sempre porque acaba que quando estão juntas não se gostam tanto assim.
Um rápido oferecimento de David Nicholls
Ross e Rachel se amam, ao menos diz a lenda. Ele então jura que ama desde muito, desde sempre. Só que todo mundo que já viu a série de cabo a rabo sabe (por mais que seja difícil admitir) que eles se amam mais quando estão separados. Se amam quase que platonicamente. Talvez amem mais a ideia que fazem um do outro do que a realidade. Se doem de amor quando aparece um novo parceiro na vida do outro. Se amam com voracidade no início de cada nova tentativa de ficarem juntos… para rapidamente se desentenderem e alguém concluir, entre trancos e barrancos mais uma vez, que não dá. Talvez eles não tenham reparado nisso, mas a gente reparou.
É por isso que depois de ter assistido inúmeras vezes à Rachel entrar naquela sala dizendo que saiu daquele avião que, mesmo com o coração saindo pela boca, me dá uma sensação de melancolia. Porque eu não consigo mais pensar que FINALMENTE eles ficaram juntos de vez como eu pensava antes. Eu só consigo pensar que eles vão tentar mais uma vez, com mais uma retomada estonteante, e que vai dar merda em questão de dois meses. I can see it hapenning, sabe? A única diferença é que dessa vez foi o fechamento da série e quando eles começaram a arrumar treta pouco depois a gente não podia mais ver. O fato, mais uma vez, é aquele velho conhecido dos amantes da ficção: nunca conseguimos puxar uma cadeira e pegar uma bacia de pipoca para acompanhar o tal do final feliz.
Talvez existam amores que sejam assim mesmo, feitos de grandes momentos e não de grandes histórias; não de grandes continuações. Talvez existam vários casais exatamente como eles: que ficarão dando murros em pontas de facas vezes a fio tentando fazer a coisa funcionar. Talvez até o para sempre deles seja exatamente isso: as tentativas. Ou talvez pouco depois que eles se separarem de novo eles encontrem cada um um novo rumo e remoam até os 100 o fato de se amarem tanto e “não terem dado certo”. Talvez aos 80 eles ainda debatam se estavam on a break, inclusive. Talvez.