quinta-feira, 27 de março de 2014

Às vezes a gente não precisa de um plano de vida

Na verdade, esse texto não tem nenhuma razão de ser a não que não seja completar a frase que iniciei no título. Como eu sou prolixa, vou escrevê-lo mesmo assim. 

Eu estava lendo "Samantha Sweet, executiva do lar", meu segundo Sophie Kinsella seguido, que eu li em dois dias, porque desopilar é sempre preciso na vida do ser humano. Entre muitas risadas, geralmente acabo levando um soco na cara com alguma filosofia inesperada e interessante. Samantha foi tomada por uma e, consequentemente, me ensinou.

A questão da mocinha é que ela jurava que vivia a vida perfeita, apesar de existirem um milhão de controvérsias. Era uma profissional maravilhosa que viva para o trabalho, até que cometeu um erro que arruinou sua vida. Isso em seu pensamento e, não vou mentir, no meu também, que me peguei completamente embriagada pela história e passei o resto da minha tarde de ontem apavoradíssima com o drama dela. Juro. Eu estava no trabalho com um desespero existencial que não tinha nenhuma razão de ser a não ser o pensamento de como era impressionante o poder que uma falha tinha para tirar toda uma vida do prumo.

O que vou falar agora não é spoiler, porque é óbvio pensar que a moça vai ter que reestruturar sua vida e aprender a dar uma grande rebolada. Trata-se, afinal de contas, de um Chick lit. Mas a questão é que ela teve alguém que soube dizer para ela que tudo bem algo dar errado, porque a vida em si é muito, muito forte para ser arruinada de verdade. E que, além disso, tudo bem se em algum momento as coisas de repente desandassem e você não tivesse mais um plano porque, às vezes a gente não precisa de um plano de vida, precisa apenas saber o que fazer em seguida. E isso já é muita coisa.

Eu curto um plano. Sou dessas ansiosas que curte mais os dias que antecedem a festa do que a própria festa. AMO uma contagem regressiva e acho que a vida tem muito mais razão de ser quando podemos esperar por algo concreto. Mas é fato que acontecem imprevistos. Erros. Mudanças de caminho repentinas. Falta de chão. E, de uma hora para a outra, a gente pode não ter nada pelo que esperar. Nada concreto para realizar. A gente pode se sentir na frente de um enorme buraco negro. E esse ensinamento, para mim, disse tanto dizendo tão pouco. Porque é muito fácil se apavorar com a falta de perspectiva e simplesmente se jogar no buraco por inércia. No entanto, se lembrarmos, em algum momento, que podemos pensar apenas no que fazer em seguida, é só respirar fundo e desviar do buraco. Por maior que ele pareça (ou realmente seja), tem sempre alguma coisa do outro lado.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Riquinho,

Hoje você completa 1 ano! E eu pensei, pensei, pensei e não consegui pensar em nada extraordinário para te dizer no dia de hoje que eu já não tenha te dito ao longo de todos esses 365 que se passaram.

Então vou dizer o que eu sempre digo: “Eu te amo!” “Você é uma delícia!” “Seu gostoso!” “Vamos voar com a dinda?”. E aproveito a data para deixar claro que vou dizer isso pelo resto da sua vida. Vou te apertar na frente dos seus amigos e dizer que te amo. Vou olhar para você brincando e dizer que você é uma delícia. Vou tirar fotos de você e te chamar de gostoso. E quando você estiver adolescente, bem maior do que eu, eu vou olhar para você com esse tamanhão todo e vou perguntar se você quer voar.

Você quer voar, meu amor? Você sempre quer. É uma brincadeira que a gente inventou. Eu te levanto bem alto e você dá gargalhadas para mim. Às vezes, lá de cima, escorre uma baba, bem em cima da minha cara, e você ri mais ainda enquanto eu finjo que reclamo e te ponho não chão para me limpar. Acho importante, Ricardo, que você nunca se esqueça de voar. Nos meus braços, nos seus próprios, e no mundo. Raízes você já tem, sabemos. Valorize-as. E cultive as asas. Elas fazem um bem danado.


Feliz 1 ano de voo, e muito, muito obrigada por escolher voar comigo. Eu não sei o que eu seria sem você. 

sexta-feira, 14 de março de 2014

Qual a cor da guerra?

Acredito piamente que cada um tem total direito de reclamar dos próprios problemas. Mesmo que eles sejam “ínfimos” perto dos grandes problemas sofridos pelos outros. Mesmo pensando dessa forma, não consigo não ficar com vergonha de mim mesma quando “entro em contato” com a realidade insuportável de algumas pessoas. Muitas vezes é a literatura inspirada na realidade que me entrega essa visão. Foi assim com Cidade do Sol, do Khaled Hosseini, e não poderia ter sido diferente com A vida em tons de cinza, da Ruta Sepetys, que eu terminei de ler chorando (e Deus sabe como isso é raro) neste último domingo.

A obra fala de guerra, e está aí um assunto no qual eu não sou muito chegada. Tenho um pouco de preguiça e insisto na mania de pensar que todo mundo só quer fazer mais do mesmo e que a exploração desse assunto já não rende muito além de um monte de obras parecidas. Que bom que nem lembrei que não curtia o assunto quando comprei esse livro e o devorei. Esse é certamente o tipo de livro que te deixa com embrulho no estômago, e se tem uma coisa que eu adoro, essa é sair da zona de conforto quando leio.

A história é narrada em primeira pessoa por Lina, uma adolescente que é jogada em um vagão de trem com sua mãe, seu irmão mais novo e muitas outras pessoas que tinham uma vida tranquila em seu país (Lituânia) e foram expulsas de lá simplesmente porque Stálin decidiu que devia ser assim.

Já falei um tanto aqui sobre ditadura e sobre como esse é o tipo de maldade que mais me tira do sério, simplesmente porque eu não consigo admitir que alguém um dia acorde na certeza de que pode decidir o que quer do mundo e acabar com a vida de todo mundo que estiver pela frente para fazer o que acha que é certo. E foi por isso que eu passei, mais uma vez, muita raiva lendo. Porque, sabe, são pessoas jogadas em trens apertados. Tiradas de suas camas para trabalhar sem comer. Exploradas no frio e mortas deliberadamente porque sofriam. Em um dos trechos que mais me emocionou, Lina diz que do lado de fora de seu vagão estava pichado Criminosos e Putas. Ela olha então para a recém-nascida que foi tirada da maternidade e jogada lá junto com sua mãe e concluiu o óbvio: Ela mal acabou de nascer e já é uma criminosa. Afinal de contas, cadê o sentido desse mundo, não?

Cenários de pessoas sendo escravizadas em guerra me tiram completamente do sério, e eu não consigo admitir que reclamo de tomar chuva chegando no trabalho enquanto pessoas realmente passaram por todas essas atrocidades, e o pior, continuam passando e MUITO por aí.

Hoje o pessoal do Hypeness publicou um vídeo chocante que uma ONG britânica gravou, sobre o cotidiano de uma criança que era feliz e de repente passa a viver em tempos de guerra. No fim do vídeo, a frase: Apenas porque não está acontecendo aqui, não significa que não está acontecendo, e isso me traz a dolorida reflexão de que eu vivo ignorando tudo isso, e devo continuar não focando no assunto, para manter minha sanidade, mas isso não muda o fato de que sim, toda essa coisa horrível continua acontecendo por aí.  


Ruta me obrigou a lembrar de tudo isso e o fez de uma forma muito digna e bem feita. Foram anos de estudos e pesquisas (escritores, por favor, foquem nessa mulher e entendam o quanto o conhecimento é importante para a construção de uma obra) que culminaram em uma história coerente e bem fundamentada. Além de emocionante. Agora, podem me chamar de coração de pedra: Achei totalmente vazia a relação da protagonista com Andrius, o outro adolescente que está em seu grupo. Para mim, nitidamente a autora pensou que devia colocar uma dose de romance para validar seu livro, e eu podia ter passado muito bem sem a historinha de amor no meio da guerra. Porque o foco não está nela, ela não é real como foi em O Diário de Anne Frank, e, na minha opinião, não faria absolutamente nenhuma falta. Mesmo assim, dei 5 estrelas. Porque ela tirou minha cabeça do confortável e me deixou esganada de raiva do mundo. E eu adoro quando isso acontece. 

sábado, 8 de março de 2014

Querida Ana,

Esse post faz parte da Blogagem Coletiva de Março do Rotaroots.
A ideia original, de escrever uma carta para você 10 anos mais jovem, é do site Hypeness.
O tempo passa. E eu já começo essa carta utilizando esse clichê terrível de falar do tempo (que nós duas odiamos amar) porque preciso que entendamos essa máxima de uma vez por todas e sei que se você entender, aos onze anos, será muito melhor e mais produtivo para nós duas. Faça um esforço, vou repetir para fixar: O tempo passa.

foto (1)

O que eu quero dizer com isso? Bem, vamos lá. Posso parecer metida a sabichona, mas eu sei exatamente em que pé da sua vida você está, e sei tudo o que você está pensando sobre isso. Você está na sexta série e acabou de mudar de escola. Suas novas amigas não são tão amigas assim e você já está percebendo isso. Elas escondem seu estojo quando você sai da sala e fazem você se estressar procurando por ele. Já fizeram coisa bem pior que isso aí, aliás. Eu sei. Antes de mais nada, quero te dizer para não guardar rancor. Elas são adolescentes, tanto quanto você, e embora pareçam saber de tudo, não fazem a menor ideia de nada. São altas, são mais velhas, são mais espertas, mas não são superiores. Ser popular não é tão importante quanto parece. Não se acanhe, nem se julgue: você é exatamente como deveria ser. Brinque de boneca enquanto ainda tiver vontade, por favor. Não tem nada de mal nisso, eu juro. Um dia essa vontade passa, e você não será uma adulta pior por ter demorado um pouco mais que para dar o primeiro beijo.

Voltando a falar de amizade, uma dessas amigas vai sofrer na mão das outras também, tão logo você seja excluída do grupo. Isso, essa mesma, você sabia o tempo todo. Essa menina vai te ver sentada, sozinha no intervalo, lanchando. E vai te chamar para sentar com ela, porque agora ela também está sozinha. Você vai agir certinho: Não vai nem lembrar que ela também escondia seu estojo. Vai sentar para lanchar com ela como se sempre tivesse sido assim. E talvez tenha sido sempre assim mesmo. Se não foi, vai ser, por muito tempo. Você e ela vão se descabelar uma com a outra e brigar um tanto, e vai ser sempre igual: ela vai esbravejar e você vai chorar. Depois de, pelos meus cálculos, uma média de 30 minutos, vocês farão as pazes e ficará tudo bem. Sempre fica. É o que a gente espera.

Eu sei também que você quer fazer medicina, mas desmaia com sangue. Acho lindo sua perseverança, e morro de orgulho dos seus sonhos de abrir um consultório. É aí que entra uma das coisas principais que tenho a te ensinar sobre o tal do tempo e o fato dele passar: sonhar é lindo, meu amor. Há até quem diga que sonhar é fazer o rascunho da vida. O ponto é que às vezes acontece o contrário, e o que a vida te dá é um rascunho mal feito do que você sonhou. E você vai pensar que perdeu tempo demais na sua vida sonhando acordada ao invés de viver. Esse tempo que você está perdendo enquanto se estressa querendo que o futuro chegue já é a sua vida. Pare de esperar pelos 25 com essa ânsia desesperada de estar com a vida feita. Não quero te desanimar, mas é que já estamos com quase 22, e a vida não está nem perto de estar feita. E eu juro que não faço ideia de em que ponto foi que as coisas desandaram, senão eu te avisava. Eu não estou querendo te decepcionar, estou querendo te dar um conselho coerente: Se você já sabe que a vida aos 21 também não vai ser perfeita, aproveite a imperfeição dos seus 11 sem essa gana de alcançar uma idade que não vai te trazer prontos todos os seus sonhos realizados. Aliás, um adendo rápido sobre sonhos: Eles nunca estarão todos realizados, e essa é a graça. Temos que ter pelo que esperar. E curtir muito essa espera, porque ela já é a nossa vida.

Já que toquei anteriormente no assunto da sua sexta-série, sei que você morre de medo da sétima. Não tem nada de diferente das outras, tá? Você vai estudar, passar desde o terceiro semestre, e se soubesse antes não teria se preocupado tanto em decorar tudo o que tem dentro de uma mitocôndria. Não vai cair na prova. E se você quer saber mais, as coisas mais importantes da vida nunca cairão na prova. Não é um 10 em matemática que vai moldar seu caráter, e seus pais não vão te amar menos o dia que você tirar um 6. Aliás, seu 6 vai chegar esse ano. Em uma provinha mensal. E você vai chorar e pensar que seu mundo acabou. Não acaba não, eu juro! Juro juradinho e ainda te conto um spoiler: Aos 16, você vai tirar um 4 em uma prova bimestral de física e vai morrer de rir, agradecendo por não ter sido um 0. Calma, não me bate. Não foi aí que sua vida desandou, e você não virou vagabunda: Você só começou a aprender que não tem como ser boa em tudo. Em biologia e português você vai continuar tirando notas ótimas, pode voltar a respirar.

Vamos parar de falar de notas. Sei que esse é um de seus assuntos preferidos, mas está longe de ser um dos meus. Preciso falar um pouquinho de Harry Potter, porque sei que sua carta de Hogwarts não chegou. Estou com 10 anos de vida a mais na bagagem e ainda não superei o fato de ter nascido trouxa, então entendo sua mágoa. Quer um consolo? Você não sabe como a série acaba, mas eu sei, e você, tontinha do jeito que é, ia tomar um Avada Kedavra na cara no primeiro minuto de batalha. Foi melhor assim. Se você tivesse recebido a carta, provavelmente não estaríamos mais aqui.

Ana, agora eu preciso falar sério. Coisas inimagináveis vão acontecer na sua vida. Coisas boas e coisas ruins. E sobre isso, tentarei te passar como mantra uma frase que vi por aí: Deixe seu sorriso mudar o mundo, mas não deixe o mundo mudar seu sorriso. Aos quase 22, estamos, juntas, tentando acreditar no universo. Tentando acreditar que vai fazer sentido. Tentando acreditar que vale a pena. Então eu te peço: Reforce sua fé. Se você não reforçar a sua, vai acabar faltando para mim. Acredite na vida, Ana. Acredite no mundo. Por favor. Acumule fé. Ela nunca é demais, e se um dia ela nos faltar, então não nos sobrará nada.

Quero te falar mais coisas, para não te deixar sobrecarregada de pedidos doloridos. Ah sim. Tente entender seus pais, tios e avós, mocinha. Eles são bem mais vividos que você, que aliás, não está nem perto de ser dona do seu nariz. Continue batendo algumas portas e chorando de raiva porque eles não te deixam faltar aula e nem ficar no computador depois das 22h. Bater portas e chorar de raiva de quem manda em você faz parte da vida. Eu sei que você acha que eles não fazem a menor ideia do que estão fazendo, e talvez eles não estejam mesmo. Nossos adultos não sabem de tudo, Ana. Eles vão errar algumas vezes, mas vão acertar na maioria delas, e você vai ser uma pessoa muito melhor do que seria se não tivesse aprendido o que são limites.

Para além disso, sabemos que você tem a sua própria cabeça, e vai utilizá-la, o que é perfeitamente justo. Você terá ideias e convicções diferentes das deles. Quando estiver irritada achando que eles têm pensamentos ridículos, lembre-se que foram eles que te tornaram um ser humano coerente o suficiente para aprender a pensar com a própria cabeça e discordar do que eles dizem. Eles já acertaram muito, e não é porque você pensa outras coisas que tudo o que eles pensam deve ser rechaçado. Nem por isso abaixe sua cabeça. Procure o equilíbrio. E quando for começar a discordar utilizando seus próprios argumentos, tente não chorar. Nem gritar. Fale baixo, segura de si. Mostrar que você tem consciência do que diz (e do que quer) é muito mais eficiente que lágrimas e soluços, tá bom?

Ah sim. Para terminar, vou falar um pouquinho sobre medo. Você é medrosa, Ana. Eu sei que é. Nós somos. Mas aos 5, você disse para sua mãe que jamais entraria em um avião. Aos 7 você entrou e achou muito divertido decolar comendo milho, lembra disso? (Um adendo: Espero que você tenha aproveitado bastante o seu milho. Hoje em dia as companhias aéreas não servem nem amendoim mais.) A vida é uma sucessão de medos, Ana. Se eles serão enfrentados ou não, depende de você. Depende de nós. Não fuja de seus medos. Não os enterre em baixo da cama. Coloque-os na sua frente. Assuma-os. Respeite-os. E encare-os. E quando não conseguir encarar, tudo bem. Chore. Respire fundo. E vá de novo. E se estiver com medo, vá com medo. Mas vá. Eu confio em você. Confie em mim. Só nós podemos fazer isso dar certo.

foto (2)

Ah, sobre as fotos. Na primeira você está brincando com a Kimmy. A Kimmy continua conosco, cada dia mais deliciosa. Tem coisas que não mudam. Na segunda foto, sou eu mostrando a língua no nosso baile de formatura da faculdade. Sim! Nos formamos! Não foi em medicina não. Mas não vou contar o que é para não perder a graça. Você vai descobrir sozinha aos 15 anos. Prometo.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Late mais alto que daqui eu não te escuto

Ou: O dia em que eu levei as crianças para pular pulei carnaval.

Eu pulei carnaval pouquíssimas vezes na minha vida. Que eu me lembre foi uma só. Eu tinha, sei lá, uns 10 anos, comprei uma fantasia de mulher gato (sim) que consistia em um maiozinho amarelo com vermelho (sim) e uma máscara de olho de gatinho preto estilo Tiazinha (sim) e lá fui eu ferver no clube, junto com meus pais e minha irmã devidamente vestida de Índia. Lembro que eu passei alguns minutos felizes, mas logo a coisa toda miou porque caiu daquelas espumas no olho da minha irmã, e minha memória me falha, mas eu meio que curtia um espírito de porco, e tinha comprado um tubo de espuma para mim, então existe uma leve porcentagem de chance da culpa ter sido minha. E a mera possibilidade não é um blefe, eu juro que não lembro exatamente. Só sei que a farra acabou cedo e que eu acabei no banheiro do clube tomando banho e provavelmente uma semana depois ainda caia confete da minha pessoa, porque gente, confetes.

Falei falei falei e não falei nada. Só queria contar que esse era mais um carnaval que eu não iria pular, e eu também nem fazia muita questão porque tcharam não fui acostumada a fazer isso. Acontece que na terça-feira eu ia ao cinema com minha amiga e acabou miando, então acabei refém de uma priminha de 4 anos que me abraçou e disse: Lu, não é que você vai pular carnaval comigo? E eu, inocentemente achando que a menina iria pular carnaval no meio da própria sala disse: Mas é claro!

Não era no meio da sala. A mãe delas é super animada, uma característica que eu vivo anotando no meu caderninho mental de inspirações para quando eu tiver as minhas crias. Gente, imaginem uma terça-feira nublada, com a maior cara de domingo, em que (no caso dela) você acabou de pegar horas de estrada com trânsito e com duas crianças no carro. Você vai passar a tarde de pijamas ou vai levar suas filhas para PULAR CARNAVAL? Eu provavelmente passaria horas de pijama, mas como eu disse, a Cínthia é animada. E eu entro em que parte da história? Ah sim, na parte em que eu inocentemente prometi para a criança que eu iria pular carnaval com ela. Então quando a Cínthia mencionou que ela estava procurando um clube com matiné para as meninas poderem foliar eu pensei que a p***a era realmente séria, a Inês já estava morta e eu comecei até a me animar junto e pensei que pelo menos um dia de feriado salvaria o meu carnaval de Oscar, livros e edredom.

Preciso mencionar ainda que na minha família paira toda uma aura de gente pessimista, e que enquanto eu almoçava me preparando para o programa da tarde, ouvia meu tio falar a cada cinco minutos, religiosamente, que ia estar tudo desanimado e vazio, e que íamos perder tempo, e que o carnaval já estava acabando, e que, e que, e que insira aqui um motivo para a sua pulada de carnaval infantil dar errado. Mas a Cínthia, como eu ia dizendo, é MUITO ANIMADA, e nada miaria sua vontade de levar as filhas para foliar. E eu, a essas alturas, olhando para uma Bela e uma Branca de Neve,  já estava tão apaixonada pela ideia que estava fazendo figa para os pessimistas estarem errados.

Chegando no quarteirão do clube, já conseguíamos ver uma porção de pais pela calçada carregando filhotinhos fantasiados. Alguns, mais animados, estavam até meio fantasiados eles mesmos, como a mãe com tiarinha da Minnie e o pai com chapéu de Octorbefest feat. suspensórios vermelhos. Nota mental para quando eu for mãe: Ser animada, levar os filhos para pular carnaval e utilizar adereços.

Na entrada do clube… fila para comprar ingresso. Comecei a ficar com um leve medo do que iria encontrar lá dentro. Entramos depois de uns 20 minutos e… confetes. Confetes, confetes, confetes, mesas e mais mesas cheias de pais, cama elásticas, piscina de bolinha, tubos de espuma e serpentinas para tudo quanto era lado. Respiramos fundo e fomos desbravar o universo com as crianças. 5 minutos depois estávamos no meio da pista. Eu e a Cínthia já estávamos segurando o Tchan e as crianças estavam, as duas, de braços cruzados olhando para a nossa cara, bravas, porque tínhamos passado direto pelas camas elásticas. Voltamos para a entrada.

E assim foi, minha gente. Comemos pipoca e algodão doce na faixa enquanto dançávamos músicas nada educativas e ortodoxas e as crianças se matavam na piscina de bolinhas ou tacavam confetes uma na cara da outra. Tentei ensinar a Anna os passos de alguma dança errada que nem lembro mais qual era, e se alguém me perguntar eu vou responder que até Mamonas Assassinas e Macarena eu dancei. Nota mental número 02: Voltar ao dia da minha formatura e exigir ao DJ que toque Macarena.

Sobre o título do post? Ah sim, é que era uma matiné de carnaval, né. Para as crianças. E tinha um milhão de Branca de Nevinhas, Rapunzéizinhas, Homem-arainhos, batminhos e coisa e tal. E eles até tocaram umas marchinhas também, alguém aí lembra da cabeleira do Zezé será que ele é? Então. Mas no meio disso, juro, gente, eu estava dançando na fila do algodão doce e escuto bradar pelo salão beijinho no ombro pro recalque passar longe e todo o resto da música que vocês conhecem muito bem e nem finjam que não. Era uma matiné infantil, gente! Quando eles anunciaram que depois das 23h começaria a de adultos eu juro, fiquei com medo. Mas fui para casa às 19h, enquanto as meninas perguntavam porque essa festa não tinha lembrancinha (!), eu e Cínthia tínhamos confete até nas nossas almas, e a única coisa que ecoava no meu ouvido era que pau que nasce torto nunca se indireta. Pulei carnaval, galera!

minas
Desejo a todas inimigas vida longa

segunda-feira, 3 de março de 2014

O young adult da capa bonita

Eu acho que dificilmente serviria para ser crítica de algo. Não que eu não saiba ter uma opinião imparcial sobre as coisas (tirando Harry Potter e Noviça Rebelde, que não têm defeitos), mas é porque eu amo amar. Se eu pretendo odiar alguma coisa eu nem pego para ler ou assistir. Se eu pego na mão, é porque eu quero gostar. Não tenho paciência para ser sadomasoquista e entrar de cabeça em alguma coisa que só vai me fazer reclamar, e fico muito feliz quando sou surpreendida no caminho. Digo, quando encontro muito mais do que eu espero. Foi isso que Haley Tanner conseguiu fazer comigo em Vaclav & Lena.

Esse livro chegou às minhas mãos por motivos de uma promoção aleatória na Submarino. Fui fazer uma catada de librinhos que eu andava querendo e a Tary disse que ela e a Dedê tinham resolvido comprar também um tal de young adult com nome difícil e capa bonita que estava bem baratinho. Pensei que quase de graça até injeção na testa e que os livros da Intrínseca não costumam me decepcionar. Coloquei o livro na minha cestinha também.

Logo mais ele chegou em minha casa acompanhado de A vida em tons de cinza e Jardim Secreto. Eu coloquei o coitadinho na minha pilha de não lidos e pensei que podia ficar para algum momento. Não fiz questão nem de decorar o  nome dele. Vaclav & Lena dava muito mais trabalho para falar do que simplesmente YA de capa bonita.

Eu nunca decido ordem para os meus não lidos. Eu termino um, vou até a pilha, e deixo ela me encarando até que algum livro me chame. E acabou que Vaclav & Lena me chamou antes do que eu pensava que chamaria, e eu peguei o bichinho assim, limpa. Sem expectativa e sem preconceito nenhum. E gente, que surpresa.

O livro realmente não tem nada demais, e se tem uma coisa que eu admiro nesse mundo é despretensiosidade. Haley foi tão pura em sua narrativa que não tem como não se sentir íntima dos personagens, tão simplesmente sinceros. E é impressionante como essa simplicidade chega no leitor. Eu sentia todos os cheiros que ela descrevia, bem como a menor mudança de humor dos personagens.

A história fala, obviamente, de Vaclav e Lena, dois amigos, ambos imigrantes russos nos Estados Unidos, mas com histórias de vida bastante diferentes, que se conheceram aos 5 anos e se separaram aos 9. O livro se divide 4 partes. Começa com os dois juntos, depois conta a parte de Vaclav separado de Lena, a parte de Lena separada de Vaclav, e então, os dois juntos novamente, quando se reencontram depois dos anos que passaram separados sem chegarem realmente a se separar. Mas eu posso falar horas a fio sobre essa obra e nunca vou conseguir expressar a emoção que eu senti no final, porque não posso contar.

Só adianto que faltavam 3 páginas para acabar o livro e eu estava sentada pensando que a história ia terminar sem rumo nenhum, e que com o parco número restante de páginas, a moça certamente apelaria com um final clichê e mal resolvido.  Levei um soco tão lindo na minha cara que tenho vontade de abraçar a autora toda hora que lembro. Arrisco dizer que o último capítulo desse livro descreve melhor a palavra sublime do que qualquer definição de dicionário. E eu me peguei com o olho cheio de água pensando que realmente, existem muitas vezes na vida em que as pessoas merecem mais do que a verdade têm.

vaclav
Sem assistente não existe mágico