domingo, 31 de março de 2013

Você tem uma nova mensagem. Para ouvir tecle…

- Elisa? É o Lucas. Eu ouvi seu recado. Você sabe que odeio telefone e só mantenho por causa do trabalho, mas ele não parava de avisar que tinha mensagem na Caixa Postal e então... Não te atendi aquele dia porque esqueci o celular em casa. Tanto não dou à mínima pra ele que às vezes até esqueço que tenho um. E agora é você que não atende. Espero que não esteja magoada comigo. Juro que não te ignorei. Eu jamais faria isso. Não contigo. Você não está magoada, né? Se tiver, me desculpa, por favor. A verdade é que eu já estava esperando você ligar faz tempo. Fiquei feliz que ligou. Você sempre foi mais corajosa que eu. Foi você que perguntou meu nome e puxou assunto, lembra? Eu enfiei a mão no bolso e olhei pro lado porque seu sorriso era tão bonito que eu tinha medo de ficar vermelho. Mas mesmo assim eu fiquei. Eu sempre fico. E estou agora. Ainda bem que você não tá me vendo. Elisa, eu lembro daquela árvore. Eu lembro do teu beijo, claro. Lembro de tudo. Eu também... eu também sinto saudade. Muita saudade. Você nunca teria caído se eu estivesse do seu lado, pegando a sua mão. Me sinto culpado pelo modo como acabou. Aquelas briguinhas idiotas parecem mais idiotas ainda agora. Mas vem cá, você vai fazer alguma coisa mais tarde? Que tal a gente se encontrar na lanchonete e percorrer aquele caminho de sempre? Podemos parar em frente à arvore, vai ser divertido. Preciso muito te ver de novo. Me liga pra confirmar. Dessa vez, eu prometo que vou atender

{Eu queria muito ter sido autora dessa resposta maravilhosa que o Lucas deu para a mensagem que a Elisa deixou na caixa dele no post passado. Mas quem a escreveu foi a Tary! O que foi incrível, porque eu não conseguiria distanciamento emocional da parte “Elisa” da coisa para escrever a parte “Lucas”. Ela, por sua vez, postou no blog o recado que a Amanda deixou na caixa postal do Inácio, e quem bancou a resposta do mocinho fui eu. Ela ainda não postou, mas em breve estará lá! Amiga, obrigada pela companhia de sempre e pelas nossas invenções blogueiras! Te amo!}

terça-feira, 26 de março de 2013

Deixe seu recado após o sinal

- Alô? Oi, eu… liguei pra… é, na verdade eu não sei porque que eu liguei. Mas eu sabia que você não ia atender. Esse, aliás, era um motivo constante das nossas briguinhas. Você quase nunca atendia o celular. Posso confessar que no fundo eu achava charmoso o seu jeito de não dar a mínima pra tecnologia e viver ignorando a existência desse aparelho telefônico compacto? Confessei. Confesso também que agora eu tive um arrepio gostoso de curtir a adrenalina de pensar que você atenderia. Quem sabe dessa vez estivesse esperando uma ligação. Pensei que talvez você tivesse esperando a minha. Mas tudo bem. Eu liguei porque eu sabia que não ia precisar falar. Ia cair na caixa postal, e você sabe que eu odeio falar com secretária eletrônica. E eu tô falando.. Olha que coisa.. Eu acho que tô ligando porque ontem eu lembrei de você. Não que eu não lembre nos outros dias, mas ontem foi mais forte. Porque eu tava fazendo aquele caminho que a gente sempre fazia, e, distraída, tropecei e dei de cara com uma árvore. Quando a gente começou a namorar você vivia dizendo que tinha certeza que eu era do tipo de menina que se distraia andando na calçada e acabava dando de cara num poste. Não foi num poste, foi numa árvore, mas eu não tô falando de árvores. Eu tô falando de nós.  Você ia rir, né? Ia falar que estava certo, me chamar de desastrada, e ia falar mais uma vez que sempre enlouquecia por garotas desastradas. Ia sorrir e me dar um beijo daqueles. Ah, talvez eu tenha ligado também pra falar que o seu beijo foi o melhor da minha vida. E que eu… sinto saudades. Quando você ver esse recado, se não for pedir demais, me… BIP BIP BIP.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Amarelo

Eu gostava de amarelo até o dia que ouvi que eu ficava horrível de amarelo porque era branca demais e loira. Me senti uma tentativa de ovo frito ambulante e nunca mais usei essa cor.

E invoquei que não gostava. Só acho lindo sua mistura com o azul, porque isso é a cara do verão. Iniciei meu processo de fazer as pazes com o amarelo quando esse perfume me gritou para que eu o levasse, e todas as minhas amigas disseram que ele simplesmente era eu.

Não estou por aí dizendo que usarei roupas amarelas, porque não tenho a intenção de fazer isso mesmo. Mas agora assumo que é uma cor linda e radiante, e que não é culpa dela que não vista bem em mim. E isso tudo porque o tema do desafio fotográfico meu e da Dedê, dessa vez, eram cores. E ela me jogou o Amarelo sem pensar duas vezes. E eu me diverti.

amareloalice1

amareloa1

IMG_0956

amarelo2

sexta-feira, 22 de março de 2013

Conversas de berçário


Dizem que minha memória é assustadora de tão boa, e eu não me lembro de, em temos mais remotos, ter ficado numa maternidade esperando um bebê nascer. Em 2011, com a chegada da Marina, curti bastante essa novidade. Domingo passado, com o nascimento do Rico, repeti a experiência e, durante a semana, ao invés de fazer algo útil tipo a minha monografia, fiquei parada pensando sobre a avaliação antropológica do que acontece do lado de fora dos berçários.

Tudo começa quando a mãe entra pra sala de parto e a gente fica do lado de fora em cólicas. Todo mundo apreensivo, uma família começa a encarar a outra, e cada chorinho que se escuta são sorrisos que se abrem, e logo as falas: “É o meu”.

Quando a Nina nasceu, tinha um bebê no berçário antes dela chegar, e ficamos olhando e pensando que logo chegaria a nossa. Na hora do nascimento do Rico, não tinha nenhum, e então, como não tínhamos nada pra olhar, ficamos andando em círculos e fazendo comentários afoitos, enquanto oferecíamos pão de queijo pra senhorinha que estava sozinha esperando o nascimento do seu netinho Lorenzo.

Como o primeiro chorinho foi o nosso, esquecemos de tudo o mais que havia na vida e nos voltamos praquele embrulhinho chorão que o Gui mostrava pra nós através do vidro, e apenas meia hora depois que minha mãe reparou que Lorenzo não tinha aparecido ainda e começou a ficar com pena da senhorinha. Thanks God, foi só um atraso técnico e o menino dela apareceu logo depois, e éramos muitos no vidro pra olhar aquilo tudo. Não muito depois apareceu um Davi, e a família dele chorava muito. E aquele aglomerado de pessoas se acotovelando na frente de um vidro pra ver um monte de recém-nascido, que, aos olhos de pessoas sãs e não tombadas pelo momento, são todos iguais com a mesma carinha de joelho.

Depois que todos nascem e a ansiedade nervosa muda para a ansiedade afoitamente alegre, começa aquele boom de máquinas fotográficas, as ligações, e as comparações entre quem está lá, do lado de fora do vidro: “Olha ali o meu, ele não para de se mexer, que espertinho”, enquanto a outra diz: “E o meu nem abre o olhinho, vai ser bonzinho!”, e ainda: “O tem 50cm e 3kg, vai ser alto quando crescer”, e o outro retruca: “E olha o cabelinho preto do meu!”. É uma delícia.

Pessoas apaixonadas e emocionadas exibindo suas pequenas criações como se ninguém na vida nunca tivesse visto um bebê. É o momento chave da vida de muita gente, é a hora que a gente realiza um sonho e inicia outros tantos. Nasceu saudável e tá tudo bem? Ok. É a hora dos outros detalhes. Caraca, é um meninão! Ain, é uma princesinha! É a cara da mãe! Tem o nariz do pai!  Olha que pezinho comprido! E olha ali, mal nasceu e já está com o olhão aberto.

E todo mundo fica ali. Sonhando e se debatendo com os sonhos dos outros, olhando para aqueles pequenos corpinhos e pensando que, meu Deus, como a natureza é maravilhosa, e como a vida é incrível!


Minha cena preferida de "berçário" na ficção

quinta-feira, 21 de março de 2013

Extremamente alto e incrivelmente perto

Quem tiver um conhecimento remoto sobre a pessoa à qual esse post se dirige, rirá da minha cara e me perguntará meu nível alcoólico quando decidi usar esse título. Porque Deyse, a digníssima moça maranhense que sopra as velinhas nesse 21 de março, é pequenininha feito um cupcake de cereja, e mora muito, monte longe dessas minhas terras curitibanas.

Já aqueles que tiverem um conhecimento mais aprofundado sobre esse ser, dirão que estou completamente certa ao intitular assim o meu texto. Pra começar, Deyse não é simplesmente Deyse. Nem Deíse. É Dedê. Dedê da cova, do Sr. Saraiva, das histórias inimagináveis. Dedê de cereja, da gargalhada deliciosa, do pé torcido em terras paulistanas. Dedê do Guaraná Jesus. Minha Dedê.

Dedê é extremamente alta, porque a altura de uma pessoa tem o tamanho de seus sonhos, de suas realizações, de suas vontades, e dos seus infinitos. Dedê é grande. Com 21 anos e quase duas faculdades terminadas, minha amiga nordestina apaixonada por Caio F. tem uma estante de livros invejáveis e um bloco enorme de histórias pra contar. Eu vivo dizendo que minhas pessoas favoritas são as que me fazem passar mal de rir. Dedê pisca em neon nessa lista, porque bastou passar dois dias com essa criatura para eu pensar que teria um colapso. Altura metafórica é para poucos. E Dedê é alta. Extremamente alta.

Longe é um lugar que não existe e por isso Dedê está sempre incrivelmente perto. Porque se quer estar com um amigo, já está. E ela está constantemente do meu lado, porque lembro das histórias, porque lembro dos abraços, olho para as fotos, e tenho um Guaraná Jesus me encarando na minha escrivaninha todo santo dia! Dedê fotografa comigo todo dia 25, fala mal de livros que eu também não gosto, e faz questão de estar sempre em sintonia. Incrivelmente perto.

Dedê, se um livro fosse e tivesse uma capa, teria uma capa com uma mão. Só pra gente poder puxar os dedinhos e ouvir histórias diferentes. E cada dedinho vem com um sentimento diferente, faz parte do pacote. Os sorrisos, os dengos, os ciúmes, o frio e as indignações. E eu acho ótimo, porque pra gente segurar a mão de alguém, a gente tem que aprender a segurar ela inteirinha, sem se irritar com um dedinho ou outro que não combinem muito com você. Amizade é isso.

Deyse, Deíse, Dedê, MINHA Dedê, te desejo tudo de melhor que a vida possa te dar. Te desejo que todos os seus sonhos sejam extremamente altos, e estejam incrivelmente perto de serem realizados! E te digo, mais uma vez, que te amo, mesmo você me rechaçando por eu banhar nas horas erradas. (Queria te ver morando em terras gélidas e descobrir se tomaria tantos banhos por dia quanto toma por aí).

IMG_6226

FELIZ ANIVERSÁRIO!

domingo, 17 de março de 2013

Eu sonhei um sonho e esse sonho era você.

“Você nunca sabe qual dia será o mais importante da sua vida. Os dias que você pensa que serão os mais importantes nunca são tão importantes quanto você os imagina. São os dias normais… os que começam normalmente… Aqueles que acabam se tornando os mais importantes. Você não reconhece o dia mais importante da sua vida. Não até que você esteja bem no meio dele.”

Grey’s Anatomy

E foi bem assim que aconteceu. O dia 17 de março começou à meia noite, e por volta das duas horas da manhã eu resolvi dormir. Com o cabelo ainda um pouco molhado, pensei que tudo bem ele acordar de qualquer jeito, seria um domingo frio e tedioso e eu não pretendia sair de casa. Baixei um joguinho novo no celular e apaguei. Acordei quatro horas e meia depois com o celular tocando. Desliguei instintivamente, e depois levei uns 10 segundos pensando se na tela estava escrito que era uma ligação da Bianca, ou se eu estava sonhando. Como o celular tocou de novo, vi que não era um sonho. Era a realização de um. Porque na hora que eu atendi, ela falou: Lu, seu afilhado vai nascer.

Seria poético dizer que tudo o que se sucedeu a isso se tornou uma nuvem em minha cabeça, mas não. Eu sei de cada passo do que aconteceu hoje. Levantei, vesti meu suéter de coraçõezinhos e passei meu perfume mais doce. Quando fui tomar café, olhei pras minhas mãos e pensei que, puxa, nem deu tempo de fazer as unhas.

E na maternidade eu andei. De um lado pro outro. Deu tempo de dar um beijo na Bia, e então o Gui entrou também, e pessoas chegavam, nenéns choravam, e eu continuava andando de um lado pro outro, comendo pães de queijo e esperando o meu neném. Claro que eu estava esperando na porta errada quando ouvi meu primo chamar, da frente do berçário. E então eu corri, só não voei porque não pude, mas corri e dei de cara com um vidro. Lá dentro estava você.

Depois olhei pra janela e pensei que o mundo parece tão igual pras outras pessoas. Pensei que muitas delas estão tendo o domingo tedioso e frio dentro de casa, com os cabelos bagunçados, tal qual eu pensei que passaria o meu. Tudo do lado de fora parece igual, aliás. Mas meu domingo está tão diferente! Está quente e ensolarado, por mais que Curitiba tente me fazer acreditar no contrário.

Meu domingo tem cheirinho de neném, tem cheirinho de amor, tem cheirinho de um coelhinho lindo de roupinhas brancas, que nasceu com 47 centímetros e 3 quilos e 325 gramas, às 9h19 da manhã do dia 17 de março de 2013. Um dia no qual eu entrei pra dormir, sem nem desconfiar que poderia ser um dos mais felizes da minha vida.

Ricardo, meu príncipe. Você é mais que um bebê, é mais que uma pessoa. É um sonho realizado. Eu amo você um tanto de amor que não cabe em mim, então não me peça pra explicar. Aliás, hoje, não me peça palavras. Eu olho pra você e digo tudo. Tudo o que você também me disse quando abriu os olhinhos pra mim, ainda por detrás do vidro, querendo dizer: Viu, Dinda? Eu tô aqui.

IMG_9904

“Não posso prometer que estarei aqui pelo resto da sua vida.
Mas prometo que te amarei pelo resto da minha.”

quinta-feira, 14 de março de 2013

Antropologia da adolescência

Terminei meu horário de trabalho hoje e fui esperar meu pai me buscar. Fui até a varandinha e sentei no banco vermelho. Eu, minha bolsa e meu livro da Clarice. E ali eu fiquei. Ouvindo o vento, o silêncio, e o que Clarice estava afim de dizer.

De repente brotou um turbilhão de vozes, uma mais alta que a outra, e saiu uma porção de adolescentes (uns 8, mas adolescente faz barulho), todas meninas, que fizeram uma rodinha por ali e começaram a conversar. Conheço todas de vista, com algumas já bati altos papos, mas vieram me cumprimentar e voltaram pra sua rodinha. Eu desisti da Clarice, porque o barulho externo estava maior que o interno, peguei meu Candy Crush Saga e fiquei me divertindo com as cores das balinhas enquanto ouvia os papos.

Adolescente é uma categoria muito particular de ser humano, né? São vivos por demais, têm sede de vida por demais, são alegres por demais, e tristes por demais também. E naquele momento aquelas quase dez meninas estavam empolgadíssimas, e falavam fazendo gestos, usando gírias, rebolando e falando de cinema. Adolescentes, em grupo, de pé, na porta da escola, falando alto. Tão leve. Uma delas disse que a mãe estava chegando e foi pro lado de fora do portão, enquanto as outras resolveram falar de viagens. Quando uma disse que queria ir pra Rússia, e então a que estava no portão falou: “– Meu ex namorado era russo! Quero dizer, era grego!” e então todas as outras correram pra saber as histórias do namorado grego.

E eu ri. Ri sozinha, do lado de minha Clarice Lispector, pensando nisso tudo aí. Pensando nos intervalos da escola, no tempo que eles se chamavam recreio. Pensei nas rodinhas, nas pequenas intrigas, nas azarações, nas gargalhadas. Pensei em como a gente aproveitava bem aquele recreio de 20 minutos. Falávamos, gritávamos, achávamos que éramos o máximo.

Adolescente é um ser engraçado. Passa a manhã acompanhado dos amigos, tendo a certeza de que é o dono do mundo. Fala sobre o futuro com uma propriedade que nenhuma pessoa de outra faixa etária consegue atingir. De tarde, em casa, descobrem no facebook que o amor da vida delas está provavelmente namorando outra, porque deixou um coraçãozinho na timeline. E então ligam chorando pra melhor amiga pra contar. E sofrem. Sofrem com uma certeza absoluta de que suas vidas acabaram. Sendo a certeza de uma alegria desmedida ou de uma tristeza sem fim, uma coisa é certa: Adolescentes sempre têm certeza de ter certeza de tudo. (E certamente arranjam essa máscara fortíssima para poder esconder que a única certeza que têm é a de que não têm como terem certeza de nada.)

Eu costumava ser aquela adolescente sem lugar nenhum no mundo. Uma daquelas que não sabe quem é na vida, e que não acha nada legal esse lugar entre a infância e a idade adulta. Sentia saudades da infância, e ao mesmo tempo, queria desesperadamente ser adulta. Essa era eu. E hoje, sentada naquele banco abraçada com as palavras introspectivas de Clarice, tudo o que eu queria era voltar pra viver só mais um dia no meio daquela certeza, mesmo que ela fosse a certeza de não ter certeza de nada, enquanto falávamos alto no recreio, comíamos bala e reclamávamos de frio só para os meninos tirarem seus casacos e colocarem em volta de nós. Aqueles casacos nos faziam as mulheres mais poderosas do mundo, e faziam deles os mais perfeitos cavalheiros. Nós nos aninhávamos nas roupas grandes e fazíamos caras de dengosas, e eles empinavam o queixinho com uma cara de: – Te protejo de tudo, Baby.

Bons tempos, esses, onde eu tinha certeza de que aos 20 teria uma vida impreterivelmente perfeita. Aos 20, eu lembro que a vida aos 15 não era perfeita, e a única certeza que tenho, é de que ela também não vai ser perfeita aos 25. Mas que pode ser boa, mesmo assim.

teens

segunda-feira, 11 de março de 2013

Por que você escreve?

Perguntaram à Clarice. “Por que você bebe água?”, foi o que ela replicou. “Pra me manter vivo” foi a resposta do jornalista. “Pois então”, foi o que ela disse depois.

E eu acho que é bem isso aí. Com a singela diferença de que todo mundo precisa de água pra viver, e só alguns precisam escrever. Talvez eu preferisse não precisar escrever. Beber um copo de água é muito mais prático. Escrever é um caso um pouco mais complicado.

Tem vezes que é uma maravilha. Você está passeando na rua quando de repente um texto despenca prontinho de paraquedas na sua cabeça, e você senta para colocar no papel sabendo o lugar exato de cada vírgula. É mágico. Mas é bem raro. Não dá pra contar com isso. Os textos (pelo menos os meus) são meio medrosos, e não saltam de paraquedas com muita frequência. Na maioria das vezes eu preciso fazer carinho nas palavras para convencê-las a virem caindo. Mas ainda assim é lindo quando eu faço carinho e elas caem. Porque tem vezes que não adianta.

E é aí que o bicho pega. Porque eu preciso escrever, né? É. E não dá pra passar sete dias deitando no travesseiro com a cabeça tranquila sem conseguir soltar nenhuma linha. Mas a linha não quer sair. E eu rodo de um lado pro outro. Fico horas olhando pra uma página em branco. Muitas vezes, não existe nem um tema geral. Não faço a menor ideia sobre o que preciso escrever. Mas sei que preciso. É aquela vontade desesperadora de algo que você não sabe o que é. Você sabe que em algum lugar do universo existem palavras flutuando e loucas de vontade se agarrar naquela folha em branco, mas você simplesmente não as encontra.

Mesmo passando algumas poucas e boas, não troco esse vício por nenhum outro. Não quero me curar de ter que escrever. Acho que a vida é muito menos completa quando a gente não escreve. Sexta-feira mesmo. Minha irmã me contou um causo da vida dela que foi tão engraçado, que mesmo tendo sido um super mico que ela pagou, eu olhei e disse que deveria ter acontecido comigo, só porque eu poderia escrever algo sobre o assunto.

Escrever é procurar a poesia em cada canto, a prosa em cada situação, é fazer o coração pulsar no ritmo que as palavras jorram dos nossos dedos. Precisar escrever pode ser uma necessidade meio masoquista. Mas eu não troco. Porque um texto bem escrito me satisfaz muito mais que um copo cheio de água. E porque existem muitas perguntas que eu preciso responder pra mim mesma, e que talvez só as minhas palavras possam solucionar, mesmo que elas sejam extremamente irrisórias perto das grandes palavras da humanidade das quais eu sou uma eterna fã.

zflores

terça-feira, 5 de março de 2013

Amanhã você vai entender

Outro dia, vagando no facebook por aí a fora, li algo parecido com: “Um dia nós paramos de achar que merecemos um final feliz e aceitamos o final que realmente teremos”. Compartilhei engolindo em seco. Quando será então que desistimos de ter um final feliz e aceitamos carregar o suposto fardo que nos foi reservado?

Não sei se é o inferno astral querendo dar as caras, mas eu ando querendo entrar em uma dessas piras bem erradas de achar que a vida é apenas isso aí e que eu não nasci pra ser uma grande pessoa ou realizar meus sonhos. E quem nunca entrou em crise que atire a primeira barra de chocolate.

Então eu estava debaixo do chuveiro cantando Legião Urbana a plenos pulmões e pensando nas letras das músicas. Cada hora que eu paro pra pensar nelas eu reparo em algum trecho novo. E então eu cantei com o o peito apertadíssimo que o que foi prometido, ninguém prometeu. E me resignei a sair do chuveiro extremamente magoada por ter demorado tanto a cair em mim que ninguém nunca me prometeu que meu futuro seria do jeito que eu sonho, e que ninguém nunca me prometeu que eu seria feliz e que, aos 70, colocaria a cabeça no travesseiro tranquila, realizada, tão feliz a ponto de nem conseguir fechar os olhos. Ninguém me prometeu.

Tem um episódio de Grey’s Anatomy em que um velhinho fala que é dura a vida quando você percebe que todos os seus amanhãs já viraram ontens; que seus sonhos já foram realizados, já terminaram de se realizar, e não te sobrou mais nada além das lembranças. Fico imaginando então o quão doloridíssimo deve ser, estando praticamente no leito de morte, ser obrigado a pensar que seus amanhãs nem chegaram a virar ontens, simplesmente porque não aconteceram.

Ninguém me prometeu nada, e eu continuo acreditando. Isso tudo é uma mentira e eu já passei da hora de parar de ser feliz assim, à toa, porque tudo com o que eu ainda sonho é ilusão e nada vai acontecer.

Eu tenho mania de pensar essas coisas erradas. Que tudo o que eu quero muito nunca vai acontecer, porque seria felicidade demais. Talvez uma felicidade que eu nem saiba sentir, mas que eu quero muito.

Acontece que, no meio desses desesperos internos que vem do nada, eu só consigo pensar em fé. E como diz a minha ilustríssima amiga Anna Vitória, o que me segura no meio disso tudo é a fé. E é paradoxal o fato de entrar em crise por admitir que ninguém me prometeu nada e me acalmar pensando na fé.

No final das contas, a fé é isso, né? É acreditar que alguém prometeu. Prometeu, mas não delineou cada um dos seus passos. Alguém te prometeu finais. Consequências para o que você decide fazer com cada um de seus começos e meios. Eu aposto que no fim de algumas das minhas alternativas de caminho tem alguma coisa bem feliz. Eu só preciso estar iluminada o suficiente pra saltitar minhas auroras no caminho que vai chegar nesse final. Bem simples seria, se tivesse como a gente ver, no começo do passeio, aonde ele vai nos levar. Mas talvez a vida não fosse tão completa sem as alegrias repentinas; as crises; as pausas pra abastecer. Talvez não valesse tão a pena viver sabendo exatamente onde iríamos chegar.

Então foi isso que fizeram: Transformaram o tédio em melodia, fazendo do futuro uma nuvem e nos deixando parados no meio do caminho torcendo pra não pisar em falso e dar de cara com um monstro. E aqui estamos nós. Aqui estou eu. Que tento terminar esse texto pensando que alguém me prometeu sim, mas que eu tenho que faz por merecer no meio do caminho, e que independente do que aconteça, tem uma força superior que ecoa na minha cabeça: Amanhã você vai entender.

E é aí que eu volto a respirar, volto a acreditar na magia, e tenho coragem de dar o próximo passo, fazendo de tudo pra me sentir infinita em cada um deles. Porque talvez a vida nem seja mesmo sobre o final, e sim, sobre o caminho.

keep

Mantenha a calma e continue.


Tudo deve ser uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.