quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Acabou, Jéssica?

Quem vê pensa que foi assim o ano todo

Chegou o dia 31 de dezembro e com ele aquela tradição de aparecer no blog para se despedir do ano que está indo embora e pedir pelo amor de Deus para que o próximo seja melhor. Na verdade, 2015 requebrou tanto a cadeira (?) e remexeu tanto na minha vida que resolvi me entregar à zoeira e até o título do post de fim de ano é um meme eu nem sei se a palavra correta do que espero para 2016 seja "melhor". Senta aí que lá vem história, afinal de contas, se eu tenho um resumo para fazer das linhas a fio que vou despejar aí embaixo, esse resumo é: 

2015 foi um dos piores anos da minha vida
2015 foi um dos melhores anos da minha vida

BA DUM TS. Se ficou confuso para vocês imaginem pra mim. Vamos por partes. Lembro que no fim do ano passado o Gregório Duvivier escreveu um texto dizendo que todos os anos passam rápido, mas alguns passam como um AVC e outros como uma andorinha. Eu sei, eu também citei esse texto no meu último texto do ano passado mas que que eu posso fazer se ele sempre parece cabível? Enfim. Acho que 2015 passou foi feito um elefante mesmo: não tão ruim quanto uma doença fatal, nem de longe tão leve quanto uma ave (#rainhadasmetáforas).

A verdade é que não dá pra dizer que esse ano não foi marcante. 2015 foi tudo nessa vida menos leve e fácil. O que foi ruim foi ruim demais - o que foi bom foi bom demais, também. Neil Gaiman diz em Um oceano no fim do caminho que não existe nenhum adulto sequer no mundo e eu acredito muito nisso. Mesmo assim acho que muitas das coisas que eu vivi esse ano foram as coisas mais adultas que já me aconteceram

Esse ano eu perdi meu avô e fui demitida pela primeira vez na minha vida. Não que uma coisa se compare à outra, mas eram duas coisas que eu tinha muito medo que acontecessem. A primeira porque meu avô, além de ser uma pessoa que eu amo muito, é (não consigo falar dele no passado) o maior alicerce da minha família. A segunda porque eu achava que ser demitida era uma situação totalmente terrível, que a gente devia morrer de vergonha, se sentir imprestável, querer se enfiar num buraco e coisa e tal. 

Perder meu avô foi a segunda coisa mais terrível que aconteceu na minha vida (por ordem cronológica mesmo, não de importância), mas isso me mostrou que a minha família é ainda mais sólida do que eu pensava. Ser demitida não foi nem de longe o bicho de sete cabeças que eu pensava que seria: tá tudo muito bem, obrigado, não fui linchada, não quis morrer de vergonha e continuo fazendo freelas para a empresa que eu trabalhava. (Isso tudo aí é ser meio adulto, não é? Ver grandes medos nossos se tornarem realidade e descobrir que somos capazes de enfrentá-los e que bola pra frente?)

As coisas maravilhosas que aconteceram nesse ano também foram bastante adultas. Em 2015 eu casei uma amiga (essa aqui!) e pouco tempo depois conheci o amor da minha vida. PAUSA: "Você não precisa amar uma pessoa como se ela fosse o grande amor da sua vida. Eu preciso.". DESPAUSA. 

Quero dizer para vocês que se vocês nunca organizaram um chá de pinto lingerie num apartamento alugado no Rio de Janeiro, nunca foi para o salão fazer folia com suas melhores amigas, nunca invadiu a suíte da noiva para cantar Beyoncé com ela (e se emocionar com ela sendo maqueada para o grande dia), nunca participaram de um cortejo segurando buquê, nunca fizeram um discurso no altar desejando que duas pessoas sejam felizes para sempre e nunca assinaram como testemunha de um casamento vocês não sabem o que estão perdendo. O dia em que eu casei uma amiga pela primeira vez foi um dos dias mais felizes da minha vida e também foi um dos dias mais felizes da minha vida o dia em que, pouco mais de 3 meses depois, eu fui dormir nas nuvens com uma sensação deliciosa que eu desconhecia: estar apaixonada e não ser platônico. (Tudo isso aí também é muito adulto, né não?)

2015 foi rápido como todos os outros anos... e longuíssimo, ao mesmo tempo. Ele teve tanta paulada e tanta coisa boa - e tanto as pauladas como as coisas boas foram sempre tão fortes que me fizeram perder o rumo de casa TANTAS VEZES - que parece que o que aconteceu, por exemplo, no começo do ano, já aconteceu há muito mais tempo do que só alguns meses. Pareceu um ano esticado e cheio de surpresas. Pareceu até que eu estava desafiando: quando acontecia algo muito bom e eu pensava "duvido que algo ainda se equipare a isso"; quando acontecia algo ruim, lá vinha, rápido e faceiro, o mesmo pensamento, com uma pequena variação "agora chega, né, Jéssica?" só que nunca chegava até que, como tudo na vida, aparentemente, chegou. Hoje é dia 31 de dezembro. Amanhã vai ser 2016.

Eu comecei 2015 me colocando à prova: morro de medo de agulha e estava com uma tatuagem marcada para o dia 5 de janeiro. Venci um medo grande, me senti maior e mais forte, mandei o ano vir porque eu estava pronta. Dado o resumo de tudo de importante que aconteceu durante esses últimos 365 dias, acho que concluo o ano com um grande e cansativo empate com vários gols. Daqueles que você leva um, fica triste, faz um, fica feliz da vida, leva outro, fica triste e assim vai indo. Vamos definir que o ano terminou no 3x3 - e bem feito pra mim, já que foi isso que eu pedi dele fazendo tatuagem no início de janeiro e gritando aos quatro cantos que o que me afogava é que me fazia ter vontade de flutuar.

No primeiro dia do ano eu sempre fico esperançosa e poética porque sim, eu sou esse tipo de pessoa clichê que cisma em acreditar que ano novo vida nova um livro de páginas em branco pronto para a gente aprontar o que quiser e blablabla. No primeiro dia de 2015 eu sentei feliz da vida para escrever no caderninho cor-de-rosa que eu tinha comprado porque decidi que ia levar a sério a história de fazer um journal (HAHAHAHA) que 2015 seria o ano da minha vida... mas só até 2016. Sabe aquilo que a gente cisma em tentar aprender, de aproveitar o presente porque ele é, na verdade, o único tempo que temos mesmo para viver? Então. Eu acho que eu já sei disso sem nem saber.

Fui dar uma olhada na minha retrospectiva de 2014 e vi que ela estava totalmente na vibe dessa: o que foi ruim foi ruim e o que foi bom foi melhor ainda. Talvez eu ande achando que todos os anos são muito intensos porque eu tenho aprendido a vivê-los de verdade, ou isso é só mais uma filosofia de boteco? Sei lá. Sei que eu já aprendi tem tempo de que eu sou uma pessoa que sente e que se não fosse assim não seria eu então vou continuar assim, sofrendo muito com o que for ruim, sendo feliz demais com o que for bom e que Deus me livre de um dia não ser realmente tocada pelo que acontece.

O que eu espero de 2016? Sei lá. Só sei que eu pretendo começá-lo tomando água de coco na praia, sossegada, de mãos dadas com o maior presente que 2015 ano meu deu, olhando a vida acontecer e as ondas baterem levinhas na areia - porque às vezes tudo o que a gente precisa é de um pouco de sossego bem acompanhado. Durante os outros 365 dias, sei que virão muitos outros sossegos e muitos sufocos também - mas dá para cruzar os dedinhos e torcer para que o saldo de gols seja positivo para o lado das coisas boas? Dá, né. E não me perguntem por que diabos eu encafifei com essa metáfora futebolística já que nem de futebol eu gosto. Feliz ano novo!

Nenhum post importante deste blog pode terminar sem gif da Taylor Swift

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

25 parágrafos sobre os livros do ano

Há quem diga que o ano não acaba se não rola o especial do Roberto Carlos na Globo. Eu já acho que o ano não acaba se não rola retrospectiva literária, então bora tratar de fazer de uma vez porque ficar presa em 2015 não é uma opção.

Pelo que eu percebi nos últimos anos eu faço um zigzag de retrospectivas: um ano me empolgo e faço em vídeo, no seguinte respondo um questionário criado pela Tary em, sei lá, 2012. Ano passado tivemos 40 minutos de abobrinhas audiovisuais – o que quer dizer que sobrou pra esse ano responder ao questionário da Tary. No entanto eu ando rebelde quando não sigo os demais e escrevendo tão pouco que decidi que vou é falar pelos cotovelos um cadim sobre os livros que me marcaram esse ano e vai ser isso mesmo.

Entrei em 2015 muito bem acompanhada da literatura. Tinha finalmente criado coragem de encarar Haruki Murakami em seus 1Q84. Devorei o primeiro, dei umas intercaladas, li o segundo, outras intercaladinhas, até que terminei o terceiro no começo de abril. Não vou me estender porque teve post na época. Leiam 1Q84.

Gostei tanto da experiência que quando descobri que a obra do Murakami era muito maior do que eu pensava saí correndo atrás de outros títulos. Li O incolor Tsukuru Tasaki e seu anos de peregrinação, Após o anoitecer  e Minha querida Sputnik e achei que são livros razoáveis. Até agora, para mim, a obra prima do moço é, de longe, 1Q84. Inclusive achei o da Sputnik superestimado: era o que eu mais ouvia falar e foi o que menos gostei dentre os três. O que eu mais quero ler, Do que eu falo quando eu falo de corrida, fica como meta para 2016 porque toda vez que eu resolvia procurar ele estava esgotado e/ou mais caro que os outros e aí eu fui deixando.

Um ano não é feito só de Murakami então vamos mudar de assunto. Esse ano conheci o primeiro livro da Rainbow Rowell que acho que posso dizer que gostei. Anexos é bem gracinha. Ainda assim não animei de ler Ligações porque achei até a sinopse chata. Estou curiosa para ler Carry On dela, que saiu esse ano e dizq é meio que uma paródia de Harry Potter (?) mas aposto que vou terminar de ler xingando, hehe.

Mudando do saco pra mala, teve livro de crônica esse ano também. Li Paixão Crônica da Martha Medeiros porque comecei a folhear de bobeira na livraria e me encantei. A Martha tem um jeito delicioso de escrever e as crônicas são tão leves que de repente você percebe que já acabou o livro. Nesse livro ela fala de amor de um jeito tão bonito e tão sensato ao mesmo tempo que não tive como não favoritar.

A primeira bomba do ano veio (também logo em janeiro) com Não sou uma dessas, da Lena Dunham. Gente, que-livro-insuportável. Eu fui até procurar o link de um texto que fiz sobre o livro para colocar aqui mas não achei, será que eu sonhei que escrevi ou acabei falando dele em algum meme literário? Não me lembro direito, o fato é que achei o livro uma perda de tempo danada. É uma autobiografia de uma pessoa que nem tem 30 anos (sou totalmente contra biografia de gente que nem saiu das fraldas ainda) com um título estilosinho só pra enganar. Me senti lesadíssima, terminei querendo meu dinheiro de volta – mas a capa é tão linda, né? ¯\_(ツ)_/¯

Ao mesmo tempo que esse teve uma outra meio-que-autobiografia-de-gente-nova mas que eu gostei infinitamente mais: ao contrário de Lena, Katie resolveu escrever não para contar sobre sua vida de famosa-especial que já fez um monte de coisa que a gente com a mesma idade nunca conseguiu fazer – mas justamente o contrário. Não falei dele aqui, mas saiu um texto meu sobre o assunto lá na Revista Pólen, se tiver interesse corre lá #jabá.

Um livro de título bonito que foi uma questão na minha vida por ANOS foi Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. Devia ter uns 3 anos que eu queria ler, finalmente li e fiquei chateada: achei um livro bonito, mas que não marcou, e eu sonhava muito um sonho de amar esse livro demais porque GENTE esse título, sabe? Isso não é título de uma obra que não se queira tatuar na testa.

Esse ano eu também li Garota Exemplar e fiquei besta com a loucura dos personagens. Acreditam que não vi o filme até hoje? Pois é. Eu sendo eu. Mas gostei bastante do livro; uma bela coleção de particularidades da mente doentia alheia para a gente analisar e se sentir psicólogo.

Em março eu resolvi que finalmente ia começar a trilogia Divergente. Li o primeiro e o segundo e, contrariando a minha mania de nunca deixar uma série inacabada, tomei a decisão de que não era obrigada a ler o terceiro. Achei a história muito fraquinha e má explicada. Minha sensação foi de que a Veronica Roth resolveu ir na onda das distopias YA que estava fazendo sucesso mas não conseguiu chegar nem perto de onde a Suzanne Collins chegou com seus Jogos Vorazes. Não comprei a ideia das facções (é assim mesmo que chama?) e ficou difícil acreditar no resto. Ainda tentei ver se o filme me animava mais mas não curti também não. Paciência.

Em abril eu li um grande candidato a melhor do ano, Americanah, da maravilhosa Chimamanda. Não vou falar dele agora porque também teve post na época, tá aqui para quem quiser. Foi em abril também que finalmente entrei em contato com meu primeiro Saramago, As Intermitências da Morte e, fora o sufoco de ler um livro inteiro de texto corrido sem divisão de capítulos e tampouco pontuação (rssss) digo que amei demais. Saramago é tão gênio que conseguiu resumir seu plot genial no clichê dos clichês e ainda assim me deixar batendo palma no final. Nunca vou esquecer essa história e no dia seguinte ninguém morreu.

Além do livro da Lena Dunham e dos Divergentes teve MAIS bomba ainda no primeiro semestre. Homens, Mulheres e Filhos me ganhou direitinho com um trailer muito interessante (de um filme que acabei nunca assistindo) e uma capa belíssima. Sério, o livro parecia tão interessante e tão cult que saí correndo pra ler e, sério, QUE BOSTA de livro que não sai e nem chega em lugar nenhum. Fala basicamente de futebol americano (ou era baseball?) e sexo. Uma perversão danada entre uns alunos de ensino médio americano e seus pais mal-sucedidos, basicamente. Posso repetir? Uma bosta.

Li também um dos famosos do ano: Por lugares incríveis, da Jennifer Niven. Ao meu ver um livro bom, mas não maravilhoso, e como disse minha amiga Tary, cheinho de adultos imprestáveis que dá vontade a gente sacudir a cabeça deles, sério. Às vezes eu acho que devia rolar faculdade que permitisse um ser humano resolver ser pai/mãe. Todo mundo brinca que os psicólogos falam que tudo é culpa da mãe mas gente, sério, muita coisa pode ser sim e essa narrativa é a prova da treta que pais relapsos podem acabar causando. Enfim (?), a história fala de depressão e suicídio na adolescência e sempre vale para a gente parar para pensar um pouquinho, né?

Em junho veio MAIS UMA BOMBA, dessa vez decepcionante. Na Praia é tão enfadonho e me deixou tão incomodada que rendeu esse texto aqui. Em julho eu li Nós, do David Nicholls, e gostei. Não é nenhuma maravilha mas limpou a barra que ele tinha sujado feio com Resposta Certa que eu queria jogar pela janela de tanto que achei ruim. Aí eu li também A Sociedade Literária e a torta de casca de batata, um romance epistolar leve e muito delicinha sobre gente que gosta de ler, ainda por cima. Livro que fala de livro dificilmente não me conquista.

Ainda em julho eu li Desde o primeiro instante que eu tive muito medo de ser ruim e acabou me surpreendendo positivamente, estou até curiosa para ler o outro livro dessa autora que foi lançado a pouco tempo, se não me engano Amor à segunda vista. Aí, AINDA EM JULHO (que mês produtivo) li Azul da cor do mar que é tão mas tão mas tão ruim que chega a ser bom, ao menos se você parar de levar a sério e começar a rir da quantidade de asneiras e clichês derramados sem dó nem piedade. Para finalizar o mês teve A Invenção das Asas, da Sue Monk Kidd, que rendeu texto também.

Em agosto eu me frustrei um pouco com Toda a luz que não podemos ver. Achei que seria maravilhoso e só achei ok. Falei sobre o assunto aqui. Aí eu li um livro fraquíssimo da Sophie Kinsella que também rendeu post. Sabe como é né, era época de BEDA e até respirar tinha que virar texto. No mesmo mês li outros dois da Sophie, o 3 e o 4 da série de Becky Bloom e só passei mais raiva (tá para nascer uma personagem mais chata que a Becky nessa vida). Na rabeirinha do mês teve Para Sir Phillip, com amor da Julia Quinn, porque eu já estava com saudade dos Bridgertons e seus romancinhos de época banhados nas intrigas e nos beijos secretos. Mais pra frente acabei lendo também O conde enfeitiçado. Engraçado perceber como a Julia foi ficando mais saidinha no decorrer da série: se no primeiro livro os personagens mal se beijaram antes do casamento, acho que no último a Hyacinth deve casar grávida porque o fogo-no-rabo pré matrimonial anda ficando cada vez mais ousadinho. Acompanhemos.

Outro grande livro do ano foi Deuses Americanos, do Neil Gaiman, eterna empolgada indicação das migas Gabriela Couth e Anna Vitória – que realmente valeu tudo o que elas diziam. A história mostra os “antigos” deuses, aqueles do Olimpo e companhia mesmo, querendo batalhar contra os atuais “deuses” da sociedade, basicamente essas novas obsessões humanas tipo televisão, computador e dinheiro. O livro é uma pira muito louca e é genial. Ao meu ver tem horas que dá uma engrenada e fica meio preguiçoso, mas quando fica eletrizante ele fica irresistível e quando eu percebia já tinha lido 100 páginas numa sentada.

Em outubro eu dei conta de uma pendência literária de ANOS vamos agradecer à miga Anna que me deu de presente: para Francisco, da Cristiana Guerra, livro de não ficção que todo mundo já ouviu falar nasceu do blog homônimo que na verdade são cartas da Cris para seu filho Francisco cujo pai morreu enquanto ela ainda estava grávida. Uma das coisas mais lindas que eu já li sobre o amor. Tinha que fazer pausas para voltar a respirar porque perdia o fôlego com os textos.

Aí eu reli A Redoma de Vidro, da Sylvia Plath, que eu tinha lido há uns dois anos, em inglês. Ele tinha transformado a vida das minhas amigas mas não tinha me marcado em nada e eu decidi que era porque eu tinha lido no original sem estar acostumada a ler em inglês. Não foi por isso, infelizmente. Quando reli eu gostei da leitura, mas já esqueci de muita coisa e realmente não foi uma obra que mudou a minha vida ou me fez ficar martelando passagens e pensamentos. Terminei outubro com Estação Onze, que amei demais. ESSE mexeu comigo. Teve texto.

Em novembro teve Fale!, outro que eu queria ler há muito tempo e acabei achando bem mais ou menos. O livro é um super sucesso, pelo que li, entre adolescentes de vários países e fala sobre estupro, enquanto incentiva os jovens a falarem sobre seus problemas. Não deixa de ser interessante e é com certeza um livro que eu indicaria para essa faixa etária, mas não me pegou muito não, achei a narrativa bem fraquinha.

Li também A Arte de Pedir, da Amanda Palmer, e achei genial. É tipo um livro de autoajuda autobiográfico: falando sobre sua vida e sobre as tretas em que já se meteu, Amanda passa seus ensinamentos sobre sua maneira de levar a vida: confiando nas pessoas e acreditando que elas podem ser gentis. Gostei demais.

O Pistoleiro (da série A Torre Negra) que também li em novembro, foi meu primeiro Stephen King. Não faz meu estilo, mas dentro do que se propõe é um livro interessante. Fica marcado pra mim porque é um dos livros favoritos do meu namorado – e foi o primeiro que ele me emprestou, com uma dedicatória linda linda e linda que ele fez no próprio livro para poder me emprestar. Me deixem ser ridícula.

CHEGAMOS EM DEZEMBRO, finalmente. Já estou sem fôlego e vocês também, se é que alguém chegou vivo até aqui. Nesse mês eu li Um mais um, da Jojo Moyes. Ele não é ruim, mas foi o que menos gostei da autora. Estava ansiosa para ler e amei ganhá-lo da minha amiga, mas acabou com 3 estrelinhas só. Aí li MAIS UM da série da Becky Bloom, o quinto, e só passei mais raiva. Não sei como Sophie Kinsella insiste em escrever esse troço e achar que os dramas são ao menos levemente verossímeis. Alguém aí lê Becky Bloom e está afim de debater o romance entre a Becky e o Luke? Sério, nunca conseguirei levar esses dois a sério. Nunca.

Semana passada eu terminei de ler A Amiga Genial e gostei bem menos dele do que gostaria de ter gostado. Milena fazia a maior propaganda e eu fiquei MESES vigiando o preço dele na Amazon até que finalmente baixou e eu comprei. É uma tetralogia, então ainda vou insistir, mas foram poucas as partes que me empolgaram. A história tem como centro duas amigas (Elena e Lila) e é narrado por Elena, que é obcecada por Lila e vive sua vida em função da dela. Para lembrar a galera que também existe relacionamento abusivo em amizade e etc. Em volta delas estão as pessoas que moram em seus arredores e seus dramas, fofocas e intrigas de uma cidade de interior há algumas décadas. Vai ter um punhado de machismo, mais outro punhado de machismo e um monte de machinho saindo no soco por motivos questionáveis. Peguem a pipoca. Pronto. Agora a gente só volta a falar de livro no ano que vem. Prometo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O amigo secreto nunca é amigo e raramente é secreto

Vou fazer a egípcia, fingir que nada aconteceu e nem comentar o fato do meu 1282º sumiço do ano e nem sobre a furada do projeto das anedotas. Também não vou comentar o fato de que voltei para falar da novela das 7 de novo, mas dessa vez o assunto é mais sério, sigam-me os bons.

Lá na semana que a novela começou eu fiquei indignadíssima assistindo aos primeiros capítulos. No caso de alguém estar perdido eu contextualizo: Marina Ruy Barbosa era constantemente assediada/perseguida pelo seu padrasto. Não, ele nunca chegou a estuprá-la, mas esse não é o ponto – ou ao  menos não deveria ser, né? Como eu disse, fiquei super indignada assistindo, porque o assédio para cima da menina (não só por parte do padrasto, mas também por parte dos frequentadores do boteco dele, onde ela trabalha) acontecia o tempo todo e totalmente às claras como a mãe dela ora fingia que não via ora implorava para que ela evitasse a situação parando de usar roupas tão curtas.

Em um primeiro momento confesso que já fechei a cara e fiquei mareando aquela vontadinha filosófica de sair na rua com cartazes pedindo para a Globo parar com o desserviço social. Depois eu fiquei pensando melhor e decidi que se eles juntarem esses fatos todos para problematizar aos poucos durante o enredo será uma ótima ideia – afinal de contas, mentindo eles não estão. A novela está é jogando na cara de todo mundo a dura realidade: assédio é encarado com muito mais naturalidade do que deveria… e a mulher ainda acaba com a culpa. Seja pelas roupas curtas (?) ou, pausa para nos pasmarmos de lembrar, por reagir violentamente para se defender.

A vontade de escrever esse post veio do capítulo de hoje, quando, NO MEIO DE UMA FESTA BADALADA, repito, no meio de uma festa badalada, a menina foi claramente assediada por um comendador, na pista, na frente de um monte de gente. Ela tentou escapar de forma discreta e ele continuou na insistência, puxando-a pelo braço, quando então ela gritou e o empurrou… se tornando a piada da festa. Para completar o acontecimento, enquanto caía ao levar o empurrão, o cara segurou o vestido dela, rasgando-o completamente, fazendo com que ela ficasse de lingerie no meio da pista.

Vamos ignorar um pouquinho o exagero porque afinal de contas é um ~folhetim novelesco~, mas para frisar o que importa: a menina foi assediada covardemente na frente de um monte de gente E da imprensa E ficou com toda a culpa porque “deu um barraco” ao se defender. Só uma outra moça, no fim do capítulo, cogitou abrir a boca rapidinho para falar que “epa espera aí ela foi assediada” e foi rapidamente cortada pelas pessoas mais importantes. O que mais dói? Admitir que a novela não está mostrando nada mais que a realidade.

Esse meme do “amigo secreto” que fez barulho na internet nesses últimos dias só deixa claro, ironicamente, que o amigo nunca é tão secreto assim. Na maioria absoluta das vezes, inclusive, é alguém que todo mundo vê e prefere fechar os olhos. É sempre mais fácil colocar um escândalo nas costas da “menina/mulher barraqueira que está sempre na defensiva” do que arrastar um filho da puta para a delegacia de uma vez e acabar com a conversa. Assédio sexual é crime – mas a maioria das pessoas já viu acontecer e a maioria das mulheres já teve que enfrentar.

A novela ainda está no primeiro mês e, repetindo o que disse lá em cima, espero de verdade que eles problematizem melhor a questão ao invés de apenas mostrar – afinal de contas, “apenas mostrar” talvez seja um perigo maior do que não mostrar: as pessoas podem usar como exemplo, principalmente esse friso em cima do fato de que o assediador nunca é o culpado, e tudo o que não precisamos nessa vida é de MAIS EXEMPLO na cabeça de quem não deve, mas enfim. É um grande looping de indignação pensar que: 1) a novela me indignou antes de eu lembrar que 2) peraí ela só está mostrando a verdade, a sociedade indigna mesmo 3) me indigna ainda mais pensar no tanto que a sociedade segue nos indignando.

E ainda tem quem não entenda/seja contra o tema da redação do ENEM de 2015. Tem que saia por aí falando que acredita de verdade que existe igualdade de respeito entre os gêneros e que as mulheres já estão “querendo demais”, “sendo radicais demais”, “se fazendo de vítimas demais”, tudo demais. Essas pessoas de certo nunca foram mulheres sozinhas numa rua escura e deserta.

“Eu entendo o feminismo quando estou numa rua escura e deserta
e percebo há alguém atrás de mim. E quando olho para trás e percebo
que esse alguém é uma mulher, meu coração para de palpitar e eu sei
que ela também está feliz em me ver”
(autor desconhecido)