quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Da prosa e poesia dos meus vidros

Meu quarto tem um espelho grande. Uma janela com dois vidros. 3 murais de foto feitos de vidro e 5 portas de armário (vejam só: de vidro!). Era tudo muito transparente e puro até que eu comprei canetas para escrever neles.

Achei que escreveria e desenharia para sempre, mas sou apegada. Escrevi quando comprei e nunca mais apaguei. No espelho tem meu trecho favorito de Florbela Espanca, já meio apagado pelo tempo. Mesmo assim, toda hora que eu me encaro no espelho ele me grita que eu devo saber me perder pra me encontrar.

Em uma das portas do armário tem, inteirinho, o Soneto da Fidelidade, de Vinícius. Que seja infinito enquanto dure. Ainda nessa mesma porta, Cazuza em dois trechos. Um de “Preciso dizer que te amo”. O outro que diz que seu amor é uma mentira que a minha vaidade quer.

Na porta do lado, Camões, insistindo e dizer que amor é dor que desatina sem doer. Na terceira porta, um coração, que minha prima desenhou em nome do meu afilhado, dizendo que me ama e que aquela porta é dele.

Na quarta porta, um desenho lindo da Couth, bobeirinhas que minha irmã escreveu, um trecho de John Green e um de Taylor Swift, todos falando de amor. A outra porta é dos amigos, e cada um rabisca o que quer. Na janela tinha Legião, mas o suor da chuva derreteu tudo, e eu coloquei Clarice Falcão no lugar pra minha janela se perguntar no meu lugar se nesse filme de romance vai ter beijo no final.

Não só virou base para as minhas quotes poéticas, meu quarto virou playground. Meus priminhos, que já curtiam o ambiente, o tem como o cômodo mais legal do universo, onde eles podem rabiscar o armário com canetas. Geralmente eles vem, fazem uns desenhos, uns rabiscos, eu delimito a área e depois taco álcool na bagunça e fica tudo bem.

Da última vez eu não prestei atenção. Mas além do coração com meu nome dentro e da bonequinha que eu não quis apagar, eles rabiscaram Cazuza, Taylor Swift e o mantra da máfia. Talvez tenha que ser assim. Talvez a gente tenha que ver o que fica, mesmo debaixo da bagunça, depois que os furacões passam.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Felicidade, felicidade, abra as asas sobre nós!

Abuso de uma paráfrase de Dudu Nobre para intitular mais que essa crônica, e sim, a visão que tenho da minha geração. Uma vez li em um texto que a minha geração só será adulta aos 30 e concordei sorrindo e balançando a cabeça, aliviada: Ufa, então não sou só eu que não me sinto adulta.

Logo depois veio Neil Gaiman me dizendo que ninguém é adulto de verdade. Juntei esses dois “dados” e comecei a matutar que a maioria das pessoas que conheço por volta dos 20 e poucos anos está no mesmo barco que eu: O da adolescência.

E não digo que é imaturidade não. A gente tá se formando na faculdade, trabalha, pensa num mundo melhor. Mas ainda não viramos adultos. Veja a geração de nossos pais: Aos 20 anos eram todos casados ou a beira de. Trabalhavam em grandes empresas e tinham filhos no colo. Hoje, a maioria esmagadora dos meus amigos vive na casa dos pais e usa o salário pra pagar livros e netflix. E isso não é uma crítica, é apenas uma constatação. Os tempos mudam. E isso não é necessariamente ruim.

Minha humilde conclusão: Há quem diga que nossa geração é recheada de cucas frescas. Não acho. Acho que a nossa geração é a que busca pela felicidade. Clama por ela, grita por ela. E isso traz tanta responsabilidade e dor de cabeça quanto a outra, que lutava para ser alguém na vida e ter uma grande carreira. No fim das contas, não é que não somos adultos. É que nossa maneira de ser é simplesmente diferente do que estamos acostumados a chamar de adultos.

A minha geração parece deveras mais existencialista que a geração de meus pais. Não os imagino passando noites em claro pensando na felicidade, nos valores de vida, na hipocrisia das pessoas, na nossa própria, e matutando essa vontade torturante de ser feliz. Parece que eles se preocupam mais com a vida objetiva, e a nossa é mais existencial. Repito: Nenhuma crítica a nenhum dos dois, apenas constatações puramente filosóficas.

Lembro que, quando eu estava no primeiro ano da faculdade, minha professora de “Arte, Estética e Comunicação” entrou na sala e disse que adorava lecionar para turmas de Jornalismo, porque todo mundo estava ali porque queria. Na sala de direito, metade levantava a mão dizendo que estavam ali por pressão dos pais.  “Pai nenhum em sã consciência põe pressão no filho pra ele fazer jornalismo! Eu fiz publicidade, mas o meu filho, ah, ele vai fazer direito”, disse ela, sorrindo e brincando, enquanto eu engolia em seco pensando que estava escolhendo por minha conta algo muito importante e poderia me ferrar só por querer ser feliz.

Hoje, recém formada e ensaiando a crise pós faculdade, percebo que eu fiz o que devia fazer. É o que me faz feliz, e se é o que me faz feliz, é o certo. Não me importa agora pensar em grandes carreiras, em muito dinheiro, em uma vida extremamente regrada e sólida. É óbvio que quero segurança na vida, mas penso na felicidade antes de pensar na segurança, e acho que esse é o ponto chave que difere as duas gerações.

E para quem continuar achando que felicidade é preocupação de gente que não tem mais preocupações, eu repito um diálogo que li uma vez em um blog que gosto muito. A mãe disse, ao ver o bebê recém nascido, que a única coisa que desejava para ele é que ele fosse feliz. E o pai, sabiamente, disse: Perceba que você está pedindo o mais difícil.

Ser alegre é fácil. Alegria depende de momento. Felicidade depende de toda a carga, de todo o contexto, de toda a inspiração que rege a vida. Felicidade não é supérfluo. É coisa séria. É a base da segurança. Se querem saber, acho que minha geração é privilegiada por focar em ser feliz. E repito, como em um mantra: Felicidade, felicidade, abra as asas sobre nós!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Uma crônica sobre a falta de uma crônica

Você está atolada naquela fase de vagas magras. Tenta se forçar a escrever e não consegue. Começa a ver o blog ficar às moscas, encontra uma teia de aranha aqui, outra ali, respira fundo e tenta esquecer o acontecido. Pensa nas pessoas cujos blogs sobreviveram mesmo passando meses no vazio de palavras e acha que o seu também sobreviverá.

Não consegue se conformar com esse presságio terrível e resolve se jogar, suicidamente, em conjunto com a amiga e mais algumas corajosas em mais uma maratona 7 dias 7 crônicas, que outrora deram tão certo que os sete temas apareceram na sua cabeça como num passe de mágica.

O primeiro dia vai no sufoco. O segundo dia vai se passando enquanto você acorda, trabalha e tem reuniões visualizando a página em branco e o tema que não vem. O dia passa e você procura o tema em cada segundo dele, inclusive no meio das compras de Natal. Quem sabe uma crônica sobre o quebra-cabeças novo! Ou sobre o presente do afilhado que tá difícil de encontrar. Melhor: Sobre o shopping lotado na segunda-feira! E não. Nada rende.

Você olha o relógio e vê que faltam réles 50 minutos para o dia acabar e que você precisa parir alguma coisa e postar nesse blog para não abandonar o barco no início do desafio. Se conforta ao ver que a amiga também não conseguiu postar a dela ainda. Sabe que, vindo de onde vem, aparecerá alguma genialidade naquele blog em 5 ou 10 minutos enquanto você, ainda sem tema nenhum, será obrigada a postar uma crônica sobre a falta de uma crônica, e, logo em seguida, tomar um banho para ver se esfria as ideias e consegue postar alguma coisa decente no terceiro dia. Aguardemos.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Dos fins, começos e meios

Tem aquele texto que diz que foi sábio quem decidiu dividir o tempo em anos para que as pessoas pudessem contá-los, renovar suas esperanças ao fim de cada período, e outras coisas do gênero. Eu, que outrora sempre fora uma apaixonada inveterada pelos tais fim de ano, ando-os achando dignos de estudo. Pelo menos em relação aos meus sentimentos com sua chegada.

Convencionemos que ele comece a aparecer em meados de outubro. Pipocam decorações de natal em tudo quanto é canto e eu começo a me desesperar: “Mas como assim Natal gente? Pelo amor, parem com isso, ainda estamos em outubro, não me assustem, ainda tenho tempo”.

No início de novembro, entro no desespero: “Dear God, realmente estamos no fim do ano e eu não fiz porcaria nenhuma que prestasse ou realizasse algum sonho”. Do meio para o fim de novembro, começa o período da resignação: “Ah, tudo bem, não realizei nenhum grande sonho, mas até que fiz um tantinho de coisas relevantes, né?”.

E eis que após esses dois meses de preliminares, dezembro chega e empurra a nossa porta. O tempo, que até aqui estava passando rápido, para de passar. Nunca os dias demoram tanto a passar como quando as férias estão para chegar e você já não aguenta mais uma gata pelo rabo. No meu caso, faltam 12 dias para as férias. 12 dias esses que parecem 50, tamanha quantidade de coisas a serem feitas até lá. Nessa temporada do ano, você já não lembra do que deixou de fazer, não se preocupa em pensar na resignação, tampouco no desespero. Você apenas se remói de cansaço e conta os segundos até que as férias cheguem.

E então chega o momento em que as férias são realidade, você passa, sei lá, os primeiros dois dias de pernas totalmente pro ar na certeza de que o dolce far niente é a melhor coisa que alguém podia ter inventado na vida. Aí vem a preparação da festa de Natal em si, a semana limbo que vem em seguida, a virada do ano, e como se por mágica, das 23h59 do dia 31 de dezembro para a meia noite em ponto do dia 1º de janeiro, some todo o cansaço, o desespero, a melancolia e a resignação: “Virou o ano, e agora sim, 365 dias para fazer coisas incríveis, tem muito tempo, esse ano eu consigo!”. No dia 2 de janeiro começa a ressaquinha de toda a esperança arrebatadora causada pelo dia 1º. Lá pelo dia 5, já deu tempo de se acostumar com o ano novo e lembrar que não é o passar do tempo que tem o poder de fazer milagres com a sua vida, e sim, você mesmo. E então você vai vivendo normalmente o seu ano até que chega outubro e o ciclo do fim-começo-meio te arrebata outra vez.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Cinco belezas roubadas

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Não me lembro direito quando foi exatamente que ouvi falar pela primeira vez de “As virgens suicidas”, mas sei que foi no ato que corri ao meu Skoob marcar que precisava ler a obra. Procurei, procurei, e não encontrei. Até então, julgo que fosse algo bem desconhecido. Pouca gente tinha ouvido falar, pouquíssima gente tinha lido.

Acredito que quase 2 anos depois, quando tinha conseguido desencanar um pouco, ganhei, de surpresa, de aniversário. Foi uma felicidade clandestina nível hard, e eu não conseguia parar de olhar para o livro e não sorrir sozinha só de lembrar que ele era meu. Nunca tinha lido, mas já o amava. Quem nunca?

Na contra-capa do livro, a sinopse, encabeçada pelo título desse post, que por sinal, amo. E logo em seguida, um texto dizendo que sobretudo, essa não seria uma história triste. Não consigo saber ao certo de Jeffrey, o autor, mentiu sobre isso. A história é triste sim, não tem como não ser. Mas ao mesmo tempo tem um ar leve que permeia todo o peso, e que consegue realmente fazer com que aquilo não seja principalmente uma história triste. É. Mas não é. Sabe assim? Acho que posso definir dizendo que é melancólico. Certamente melancólico.

Sofia Coppola não se fez de rogada e adaptou um filme belíssimo, captando exatamente o ar que Jeffrey quis empregar, transformando a história terrível na melancolia permeada de leveza. Conseguiu brilhantemente. O filme é inteiro em tons pastéis, inclusive, o que faz com que toda a história, que deveria ser sombria, se torne… doce.

Não me entendam mal: É triste, é melancólico, são cinco meninas que se matam por serem privada pelos pais de tudo. Mas ainda assim, é doce e belo. Eu sabia que essa história nunca sairia da minha cabeça, e em julho deste ano, batendo papo com meu amigo que é professor na Cena Hum, comentei sobre essa obra e ele decidiu que poderíamos montá-la se ele pegasse alguma turma de adolescentes esse semestre.

Pegou. Eu adaptei o texto, Kaio dirigiu, e vivemos um semestre intenso e delicioso para fazer Belezas Roubadas nascer no palco. E nasceu. E foi difícil segurar a emoção olhando o empenho do elenco, o semblante tão bem construído das cinco meninas, o amor pelo projeto, e a intensidade do que nasceu no palco hoje. O público ficou de queixo caído, mas ainda mais fiquei eu, mesmo já tendo visto todos os outros ensaios. Enfim, nem sei o que dizer, na verdade. Era só pra contar que foi lindo e que é muito, muito delicioso realizar sonhos que a gente nem sabia que sonhava.

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- Do que os seus pais tem tanto medo?
- De que nós sejamos o que eles não conseguiram ser.