segunda-feira, 30 de junho de 2014

Brasil X Chile, 28 de junho, eu sobrevivi

Eu falei que não ia mais tentar me controlar e não vou. Principalmente não depois de sábado. Porque algo sobre sábado está entalado na minha garganta (rouca) desde que saí na rua com a bandeira enrolada no pescoço e porque minhas dores musculares não me deixam negar que aquele jogo me atropelou como um caminhão.

No meu post passado, onde eu relatei que nos outros 3 anos e 11 meses onde não existe Copa eu não consigo entender direito a paixão das pessoas pelo futebol, minha amiga brilhantemente comentou que a magia é toda essa, porque para a paixão não existe explicação nenhuma. Achei um comentário bonito e sincero, mas nada que mudasse a minha vida. Pelo menos não até sábado, quando olhei aqueles goleiros, em câmera lenta, se dirigindo para o gol como quem se dirige para a forca.

Eu assisti ao jogo em uma lanchonete bem bacana aqui de Curitiba. Eu e minhas amigas chegamos tarde: devia faltar uma meia hora para o jogo só. Obviamente não conseguimos mesa, o que, acho eu, foi até melhor: assistimos no balcão do bar da fila de espera, NA FRENTE da televisão. Perdi a conta de quantas vezes ajoelhei na banqueta e soquei aquele balcão. Mas nada se comparou ao momento dos pênaltis.

Juro que, até agora não sei como, pelo menos ali na área do bar só estávamos eu e minhas amigas (Mimi, Giu e Palo) em pé. Não sei que tipo de torcedor tem sangue frio o suficiente para assistir sentado a uma disputa de pênaltis, mas só sei que eu estava enrolada na bandeira, de mãos dadas com minhas amigas, como se a minha vida dependesse daquela bola entrar naquele gol. E foi ali, naquela caminhada lenta dos goleiros até o gol que eu entendi tudo o que a Anna quis dizer naquele comentário anterior.

Tive uma epifania rápida e não pude deixar de rir de mim mesma. Pensei: "Engraçado pensar que daqui a 10 minutos estaremos classificados ou eliminados. Simples assim. Ou estaremos muito felizes ou muito tristes. E...? Gente, é um campeonato, que engraçado pensar em como isso mexe com a gente. É só uma bola. São só 11 homens jogando. Não vai mudar absolutamente nada prático na minha vida aquela bola entrar no gol e mesmo assim, meu Deus, não consigo deixar de rezar para que ela entre ali, balance aquela rede e me dê uma classificação." E era isso. Não existe lógica nenhuma, e acho que eu entendi que, quanto menos lógica tiver, melhor fica. Porque emoção não tem que ter lógica. Um grito de gol não tem que ter nenhum sentido. 

Eu estava posicionada de frente para a cozinha do bar. Por uma janela, ao lado de nossa televisão, podíamos ver tudo o que rolava na cozinha. E foi nesse momento que eu olhei para lá e percebi que a cozinheira comemorava o pênalti antes de mim. Claro! A televisão deles era com sinal analógico, tudo acontecia segundos antes! E foi assim que, enquanto na nossa televisão o Sanchez se posicionava para bater, que ela cornetou quase chorando e eu comecei a pular junto. Antes dele chutar. Antes daquela bola bater na trave.  E foi só ali que eu descobri que eu tava com o corpo inteiro duro há mais ou menos 20 minutos.

Hoje já é segunda feira. Eu tenho pouquíssima voz. Meu ombro e minha barriga doem como se eu tivesse passado o fim de semana fazendo abdominais. Esse jogo me atropelou como um caminhão desgovernadíssimo. E desde que aquela bola chilena não entrou que eu não consigo deixar de sorrir. Não tem a menor lógica. E essa é a exatamente a magia. Vamos para as quartas, Brasil! Joga para mim! 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Vim falar de Copa de novo

Sem nenhuma razão específica. Aliás, eu nem sei no que esse texto vai dar, nem sobre o que exatamente eu vou falar, mas é que Copa é o único assunto que ronda na minha cabeça nesses últimos dias e se Antônio Prata que é Antônio Prata e recebe para escrever já deve ter feito, se não me engano, 5 textos sobre o assunto, não sou eu, réles mortal, que vou me privar.

Durante os 3 anos e 11 meses em que somos obrigados a viver sem Copa eu juro que absolutamente não consigo entender o que as pessoas tanto veem em futebol. Gente, 22 homens brigando por uma bola. Sério? Qual é a graça disso? Qual a graça de sentar, todo ano, todo domingo a tarde, na frente da televisão para torcer, sei lá, para o Corinthians? Sim, porque eu digo que sou vascaína (e sou, tenho até camisa) mas se vi metade de 3 jogos na vida foi muito. Dou um sorriso quando ganha e no dia seguinte já esqueci. Agora, acho realmente engraçado galera soltando fogos e ficando mal humorada por causa de jogo. Até por que, uma curiosidade que me faz gastar massa cerebral às vezes é: o que significa torcer para um time?

Porque na Copa é diferente. Você torce para a seleção do seu país, fim de papo. Agora. Time. Você nasce, seu pai coloca em você a camisetinha do Palmeiras e aos 12 anos você tá gritando gol e chorando por causa do time. Acho muito engraçado. Grita que jamais seria São Paulina. E se seu pai tivesse colocado em você a camisa do São Paulo, São Paulina você seria, sem dúvida nenhuma. Fico pensando de onde veio. Será que meu bisavô, um belo dia, olhou a camisa do Vasco e pensou: Que linda essa cruz vermelha, vou torcer para ela! E isso rendeu toda uma linhagem? Não sei. Acho curiosíssimo. Algum antropólogo já defendeu tese sobre isso?

Mas então, o que eu ia dizendo é que por 3 anos e 11 meses eu acho curiosíssima a relação das pessoas com o tal do futebol mas que, durante esse 1 mês que rola entre junho/julho a dada 4 anos eu viro outra pessoa. Viro alguém que fica rouca gritando gol, que xinga juiz, que trata de relembrar o que é a regra do impedimento. Já era divertido nas outras, mas nessa Copa eu não sei o que aconteceu.

Não sei se é porque é aqui, não sei se é porque eu virei adulta (!), não sei. Só sei que eu sei nome de jogadores de outras seleções, sei quais são os mais chatinhos, sei as datas de todos os jogos e, pasmem, pessoas do meu trabalho me ligam para me perguntar se eu acho que o Brasil passa pelo Chile com tranquilidade ou não. Como otimista inveterada, gritei no telefone que passa, claro que passa, e que o Chichichilelele vai cantar a musiquinha chorando sábado a noite, comprando passagem de volta. Otimismo esse que não consegue impedir o pavor que sinto, bem lá no fundo, de sair eu chorando desse jogo e ser obrigada a amargar a dor de ver a minha Copa acabando antes do que devia.

É só 1 mês. Só faltam 20 jogos. VINTE jogos. E eu não faço ideia do que vou fazer quando isso acabar. Não sei sobre o que o twitter vai falar, não sei que tipos de gifs engraçados vão circular pela internet, não sei como vai ser ficar mais 3 anos e 11 meses sem gritar gol ou sem discutir possibilidades de oponentes com os amigos, sem brincar de bolão e errar lindamente quando a Espanha resolve tomar de 5. Não sei. Não quero saber. Tenho raiva de quem sabe. Emburro num canto, cruzo os bracinhos e digo pra mim mesma que ninguém vai acabar com a minha Copa, que ela deve ser eterna (Antônio Prata concorda, aliás) e que nada mais tem graça na vida.

E só para fazer um comentário sobre o post da Anna Vitória (que também não sabe falar de outro assunto): Não decoro casa, porque acho too much. Tem duas bandeirinhas no carro de mamãe e eu já acho demais, preferia uma só. Tenho uma blusa amarela escrito Keep Calm and Love Brasil e usarei em todos os jogos *simpatia*. E achei que estava tudo controlado até aí, mas quando mudei minha foto de perfil do facebook para uma foto com cartola verde de bolinhas amarelas com a bandeira do Brasil no meio… bem… fui obrigada a concluir que a Inês estava mesmo morta. Acho que dia 14 de julho passarei o dia sofrendo de ressaca moral com direito a dor de saudade no peito e tudo o mais. Quem sabe lá pelo dia 20 as coisas voltem ao normal. Ou não.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Meio do caminho

Outro dia a Milena fez um post que me fez pensar para comentar. Eu sei que vocês vão clicar no link e conferir com seus próprios olhos o conteúdo do texto (tô de olho em vocês), mas para dar uma adiantada, ela fala sobre os meios do caminho que assolam nossas vidas, sejam os metafóricos e os literais. No caso dela, ela não gosta nada desses meios de caminho. Já eu, fiquei nadando em dúvidas enquanto tentava comentar.

No comentário eu comecei falando que uma vez, pensando a respeito da tão almejada invenção do teletransporte, fiquei elencando mentalmente as coisas que perderíamos com a utópica chegada desse advento. Para além dos sempre tão marcantes reencontros, confesso que pensei um tanto nas transições. Nesses meios de caminho literais. Pensei no quanto eu sempre gostei de pegar estrada e de ficar horas olhando pela janela, ouvindo música e vendo as árvores passarem correndo. Gosto de viagens de trem. De ônibus. De avião. Gosto de aeroportos. Gosto de estar em movimento.

Esse blog tem quase 6 anos e vira e mexe eu começo a escrever um texto que eu não faço a menor ideia de como vai se desenvolver. Mas o fato é que uma parte dele veio desse comentário que tentei fazer no blog da Mimi. Outra parte dele veio de quando eu estava decolando hoje de manhã. Eu já tive muito medo de avião. Hoje não tenho mais nenhum. Se tem uma coisa pela qual eu gosto de passar nessa vida são as decolagens. Medo é um negócio engraçado, né. Eu, por exemplo, tenho pavor de agulhas. Uma vez lembro que eu era criança ainda e uma coleguinha disse uma vez que amava tomar vacina (!). Nunca admiti isso e até hoje, quando esse momento surgia na minha cabeça eu ria pensando que ela só podia estar fazendo graça. Só que agora, enquanto eu digitava que amo decolar, lembrei que a minha irmã tem absoluto pavor disso e que, no mínimo, acha que eu faço graça. Quem sabe a menina realmente gostava de injeções. Eu gosto de decolagens.

Gosto de sair do chão. Acho que é um momento onde a gente é tão absolutamente não dono de nós mesmos que nos tornamos, automaticamente, totalmente donos de nós. Quando um avião decola, quando tira as rodas do chão, não podemos mais fazer nada para mudar aquilo. Não podemos abrir as janelas. Nem levantar da cadeira. Nem gritar que tem um problema com a falange esquerda. Nada que você faça pode mudar o fato de que você está no ar e que você não tem como mudar isso. E acho que é quando a gente sente que não tem como mudar nada que sentimos uma resignação boa. Uma sensação de que, curiosamente, estamos exatamente onde deveríamos estar. Filosofia barata. Acabei de terminar de escrevê-la e acho que pouco vai fazer sentindo para quem ler. Mas para mim faz. Acho que me sinto infinita quando começo a decolar, e nessa decolagem ainda lembrei do nervosismo alegre de Gus Waters, tentando superar o pavor ao voar De avião pela primeira vez porque, absolutamente não tem como não pensar: caraca, estamos voando e isso é um passo enorme para a humanidade.

Ainda sobre meios de caminho, estou lendo um livro chamado “Claros sinais de loucura”. para saber do que se trata basta procurar no skoob. E eu estava lendo, lendo, e matutando sobre o que eu estava achando dele, sobre quantas possíveis estrelas eu daria, e coisas do tipo. Aí pensei que ainda não acabei, mas que falta pouco, e que não sei onde vai dar e que, aliás, tampouco sei SE vai dar em alguma coisa. Em um primeiro momento pensei que era um ponto negativo. Uma história começar aleatoriamente e terminar também aleatoriamente. Poucos minutos depois pensei que, ué, por que isso seria um ponto negativo? Muitos livros tem começos e fins mas, quem sabe, alguns realmente não precisem disso. Talvez o mundo precise de mais histórias de meios para nos familiarizarmos com esse fato. O de estar sempre no meio do caminho. Afinal de contas, caraca, passamos a vida toda no meio do caminho. Não é? O fim é o fim e acontece uma vez só. De resto, absolutamente todos os começos e finais pelos quais passamos são metafóricos e são SEMPRE meios. Sempre.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Vai ter Copa até dizer chega

A lembrança mais antiga que eu tenho de Copa foi em 1998 e tudo o que eu lembro é que eu tinha 6 anos e estava correndo no micro pátio da escola onde eu estudava. Tinha bandeirinhas verdes e amarelas penduradas nele, um cartaz de bandeira do Brasil na parede e eu estava indo para casa mais cedo porque ia ter jogo. Lembro também que fecharam a rua da minha casa para as crianças do prédio poderem pintar a rua com motivos de copa. Desenharam até o Zé Carioca no chão. A Copa acabou e a pintura não. Anos depois, quando nem em Vitória eu morava mais, viajava para lá e dava de cara com meu antigo prédio, minha antiga rua, e o Zé Carioca no chão. Hoje já deve ter se apagado.

A primeira Copa que eu assisti foi a de 2002. Mas assisti naquelas: quase tudo acontecia de madrugada. Geralmente eu acordava no primeiro gol, quando minha mãe berrava comemorando da sala. A final assisti em Baixo Guandu, na área de vovó, enrolada em uma bandeira com meus primos. Minha blusa dessa copa tinha uma coreaninha desenhada, com quimono verde e amarelo. Ganhamos e foi muito divertido comemorar.

Em 2006 minha cachorrinha tinha tido lindos 4 filhotinhos e era muito engraçado comemorar o gol com cornetas, porque eles se assustavam. Acabamos assistindo jogo com filhote enrolado no colo e tomando cuidado com as comemorações. O jogo que o Brasil perdeu para a França eu estava em Vitória já, com resto de sinusite, o globo ocular queimando de dor, deitada em um sofá. Pouco antes do Brasil perder eu já tinha dormido, mas meu afilhado mais velho, que na época tinha 2 anos, pulou com tudo em cima do meu peito. Eu acordei morrendo de dor, vi que tínhamos tomado gol, que faltava pouquíssimo tempo para nos recuperarmos, fiquei puta da vida e deixei para chorar em casa, depois de enfiar a camiseta no fundo da mala.

No primeiro jogo de 2010 eu tinha acabado de ganhar meu notebook. Ele estava novinho em folha, lindo, e eu olhava para ele de canto de olho enquanto assistia jogo. No dia que o Brasil perdeu da Holanda minha amiga de São Paulo estava passando férias na minha casa. Eu também tinha cochilado um pouco no meio da tragédia (acho melhor eu parar de cochilar, sempre dá merda) e resolvemos afogar nossas mágoas indo para o shopping assistir Toy Story 3. Depois, jogamos boliche com meus primos, no maior clima de decepção.

A Copa é uma dorzinha que passa, claro. É aquela chateação de esperar 4 anos para voltar para casa nas oitavas de final, sem troféu na mão. Esse ano vai ter Copa, vai ter muita Copa, vai ter Copa até dizer chega, se reclamar vai ter duas Copas, e eu espero que tenha hexa também. Bom jogo para vocês!

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Eleanor & Park

Eu disse, no post passado, que algumas estórias são maiores que outras. Sempre são. E o que é mais belo na arte é o fato de ela ser subjetiva e gritar a cada um de uma forma. Já costuma dizer a minha tia: O que seria do azul se todos gostassem do amarelo

Mesmo assim, acredito que seja da natureza humana ficar feliz quando as pessoas concordam com a sua opinião. Claro que existe aquela máxima de gente que não gosta de modinhas, e que só porque uma coisa vira modinha a pessoa simplesmente desiste de conhecê-la. Não julgo, exatamente, mas não sou dessas. Sempre imagino que se virou modinha, algum motivo tem. Não que isso significa que eu certamente vá atrás dela, mas pelo menos vou pesquisar o que é e ver se me interesso. Tenho amigas que nunca quiseram ler Harry Potter só porque era modinha, e tudo o que eu tenho a dizer é que lamento muito. Perderam uma experiência única por medo de parecer igual a todos. Mas o que eu ia dizendo no começo do parágrafo era que quando, afinal, decidimos nos adentrar em alguma coisa, achamos muito mais gostoso quando as pessoas concordam com a gente (ou a gente com elas) não? Ou alguém lê um livro que ama muito e fica torcendo para todo mundo odiar? Eu gosto quando concordam comigo; ou quando eu concordo com a máxima. Mas às vezes é inevitável, e foi isso o que pensei enquanto, hoje pela manhã, abria meu skoob e, respirando fundo, dava 2 estrelas para Eleanor & Park

Não pensem vocês que foi fácil: queria ler esse livro há muito tempo. Uma das pessoas cuja opinião literária eu mais respeito fazia propaganda dele a torto e a direito, falando da obra com um carinho que me fazia ter vontade abraçar o livro mesmo antes de lê-lo. Para completar a empolgação, a máfia resolveu ler o livro em grupo e seria a ocasião perfeita para passar horas destilando amor nos grupos da vida, e foi exatamente isso que aconteceu, excluindo o fato de que eu fiquei de fora do amor. Não gostei do livro e Deus sabe como eu quis amá-lo.

Ganhei ele em abril, de aniversário, de uma amiga ultra querida. Tem uma dedicatória linda, em folha cor-de-rosa. Coloquei na minha escrivaninha e fiquei admirando de longe, pensando no momento de lê-lo. Na hora de começar, toda uma felicidade clandestina: pegava, cheirava, ousava abrir rapidinho e tornava a fechar, antes que alguém notasse a abertura. Então, fechava os olhos, acariciava a capa e abria de novo. Meu Deus, vou ler Eleanor & Park! Primeiras duas linhas: Caraca, que coisa incrível, esse livro vai ser ótimo.

Primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto capítulos: tá... e aí? Sexto, sétimo, oitavo, nono: puxa, tá lento, né? e esse amor meio sem fundamento? que casalzinho estranho, não to botando fé neles... Décimo, décimo primeiro, décimo segundo: tá, era isso?

Acabou que no meio do percurso eu assisti o filme de A Culpa é das Estrelas, pirei, resolvi que nenhuma ficção me sustentaria mais do que a obra prima de John Green e larguei E&P para reler ACEDE. E reli em menos de 48h, rolando no chão com o livro, beijando capa e respirando fundo entre um capítulo e outro. Isso é que é história de amor, meu Deus, pensava eu. Terminei, coloquei na estante, me resginei: Nem tudo é ACEDE. Vamos lá, Eleanor & Park.

Peguei de novo e tudo se seguiu como tinha inciado: uma série de "tá bom, e aí?". Terminei o livro hoje cedo, pensando nos furos que ele claramente deixou (e que quem amou não vai aceitar, mas é a vida) e no que eu tinha feito de errado para não amar. Absolutamente não decreto que as pessoas amaram essa estória só porque os adolescentes são esquisitinhos, feinhos, o menino é afeminado e a menina é masculinizada. Não vou afirmar isso porque acho que é uma condescendência idiota e porque eu fico extremamente irritada quando dizem que as pessoas amaram ACEDE só porque tiveram pena dos adolescentes terem câncer. Amo ACEDE com todas as minhas forças e sempre quis matar quem diz isso, fato que me fez ficar com vergonha de pensar que a galera só amou E&P pela cota de personagens esquisitos e sofredores. Mesmo assim, acho que se os personagens fossem descritos como perfeitinhos e sendo os mais lindos da escola as pessoas não teriam gostado tanto: justamente porque para mim a estória dos dois não teve absolutamente nada demais. Prefiro mil vezes os muito menos estimados Vaclav & Lena e A probailidade estatística do amor à primeira vista. Não consegui colocar fé nenhuma na relação amorosa de E&P que nasceu do nada: acho que teria gostado muito mais se eles tivessem ficado só em uma linda (e bem construída) amizade. No primeiro dia o menino sentiu vergonha da menina nova sentar do lado dele no ônibus. No dia seguinte já queria pegar na mão dela e deixar ela ler seu gibi. Três dias depois eles estavam completamente apaixonados sem nem terem conversado? Ah não, Rainbow. Conseguiu convencer um número enorme de pessoas, mas em mim você não fez nem cócegas.

E foi por tudo isso que dei 2 estrelas, sofrendo muito: como eu queria ter amado, dado 5, favoritado para a vida. Minhas amigas estão vivendo momentos de paixão pelo casal bizarrinho enquanto eu coço meus miolinhos e penso: mas, hein, gente? Que coisa. Opinião é mesmo algo impressionante.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Algumas estórias são maiores que outras

A poesia é indispensável. Se ao menos eu soubesse para que.

Quem disse isso foi Jean Cocteau, e eu não tenho culhões para não assinar em baixo. A arte é realmente indispensável. Mas... para que mesmo? Somente algo com tanta força de espírito é capaz de carregar a força de ser indispensável sem motivo algum para isso.

Bendito seja o dia, lá nos primórdios do universo, onde alguém inventou que nem só de verdades poderíamos viver. E não falo aqui de mentiras. Falo de estórias. De ficção. De arte. Porque a arte é, de longe, a melhor maneira de ignorar a vida. 

Existe muita ficção. Muitas estórias a serem contadas e ouvidas. Muitos livros empilhados nas livrarias e também na minha escrivaninha: minha pilha de não-lidos vive prestes a me engolir. Eu leio 50 livros por ano. 

Muita coisa passa em branco. Muita coisa volta para a estante sem que tenha sido vivida. Cada estória é uma estória, e a aposta na ficção é justamente essa: é abrir uma estória nova desafiando-a a te amarrar para sempre. E se ela conseguir, aí então o seu coração muda.

A verdade é que, na vida, o sofrimento é inevitável e só o que podemos é tentar escolher quem deve ter a honra de nos ferir. Aquele tipo de estória que, quando acaba, te deixa sem saber para onde ir, e sem coragem de entrar em qualquer outra. Harry Potter é assim. Friends é assim. Coisas que ninguém sabe é assim. Para mim. Cada um tem as estórias que te falam mais ao coração.

Quando, em julho de 2012, eu abri meu A Culpa é das Estrelas e li as primeiras frases eu já sabia no que ia dar. Já sabia que, em questão de dois dias, estaria deitada na cama, em posição fetal, sem condição moral e emocional alguma para levantar dali e viver. Muito menos abrir outra estória. Esse é o problema da dor (e das estórias!): ela precisa ser sentida.

Praticamente 2 anos. Praticamente dois anos que eu conheci Hazel Grace e Augustus Waters. Praticamente dois anos que eu nunca me esqueci que alguns infinitos são maiores que outros, que todos estamos condenados ao esquecimento, que o amor é um grito no vazio e que tem coisas não lidáveis com as quais a gente tem que lidar. 2 anos.

2 anos, e ontem, à meia noite, eu estava sentada numa sala de cinema com adolescentes que gritavam ao menor sinal de um desenho de nuvem que mostrasse que o filme ia começar. Julguei-as, em muitos momentos. Queria aquilo só para mim. Mas apesar de ter me controlado o máximo para não externalizar tanto, meu coração gritou em cada segundo daquele filme, que eu queria que tivesse 10 horas. Queria que A Culpa é das Estrelas fosse uma pessoa, para eu poder casar com ela em Vegas. Queria abraçar esses personagens e passar madrugadas chorando no meio dos dois. 

Meu coração está em cacos. Cheguei em casa mais de 2 horas da manhã e ignorei todos os meus não lidos: a única coisa que eu consigo fazer da vida no momento é A Culpa é das Estrelas e vocês me respeitem. Não existe outra estória, por agora. Só existe o sorriso torto do Gus e a sabedoria de Hazel e seus infinitos que me partem ao meio. Esse é o problema da dor. Ela precisa ser sentida.

E às vezes eu paro para pensar nisso e me pergunto porque eu faço isso com a minha vida. Poderia ser uma pessoa normal e não ler. Ou poderia até ler, e não me influenciar. Poderia estar vivendo uma quinta-feira normal com estado de espírito normal, ao invés de estar sendo obrigada a viver uma quinta-feira normal enquanto meu estado de espírito é inexistente e tudo o que eu tenho vontade de fazer é olhar em linha reta, sem ao menos mover os olhos. Passaria horas assim. Quieta. Deitada. Olhando para o teto e tentando colar os caquinhos do meu coração. Se me arrependo? Jamais. É uma honra ter meu coração partido por estórias que me marcam. Eu jamais seria completa sem elas. 

Não fossem Harry, Rony e Hermione não seria eu. Não fossem Rachel, Ross e Chandler não seria eu. Não fossem Lexie Grey e Mark Sloan não seria eu. Não fossem Margherita e Giulio não seria eu. E, especialmente, não fossem Hazel Grace Lancaster e Augustus Waters não seria eu. Obrigada.


MUITO obrigada.

terça-feira, 3 de junho de 2014

O que passa pela minha cabeça

Ontem, enquanto eu andava do meu trabalho até em casa, fiquei pensando em como era engraçado o fato de que, quando o caminho se torna orgânico em nossa cabeça, começamos a fazê-lo sem perceber. Quando comecei a andar a pé, morria de preguiça. Hoje em dia, tenho mais preguiça de ficar parada esperando o ônibus. Mesmo assim, tem um pouquinho mais de inclinações do que eu apreciaria, nesse caminho. E passei muito tempo reclamando e pensando que isso cansava. Hoje em dia não reparo mais. Minhas pernas o fazem sozinhas enquanto eu penso na vida. Teve um dia que levei um susto porque já estava na esquina de casa. Quase passei direto, porque estava em outro planeta. Nem sei como virei certinho em todas as esquinas, nem como atravessei todas as ruas. O cérebro é realmente mágico.

E eu ia postar sobre isso, pensei. Mas não daria tanto pano pra manga. Então fiquei pensando em toda a sorte de coisas que eu pensava durante o caminho. Depois, resolvi que faria com o post a mesma coisa que faço com o caminho: Deixo o cérebro levar sozinho, de modo que não faço ainda ideia do que esse texto vai virar.

Ainda ontem, no caminho, estava pensando que meu pai disse que ia me dar um IPod novo, porque vai para Miami em algum momento do ano. Amei a ideia do IPod novo, que não sou hipócrita. Mas acho uma sacanagem ele ir para Miami assim, como quem troca de roupa. Até o ano passado, antes-do-inimaginável-se-fazer-real, ele era casado com mamãe e apaixonado por ela e éramos uma família de comercial de Margarina e nunca viajamos juntos para fora do país. Então ele resolve se separar e começa a viajar. Disse exatamente isso para ele, que achava uma palha assada isso. Ao que ele me respondeu que agora ele podia viajar porque só bancava uma viagem: a dele, enquanto no antigo contexto, que eu juro que pensei que duraria a minha vida inteira, teria que bancar quatro. Fiquei pensando nisso tudo e olha, acho que prefiro passar a vida sem viajar para o exterior e tendo o ninho de uma família. Obviamente ele não saiu de casa para viajar quando bem entender, mas mesmo assim acho essa "vantagem" deveras inconsequente. 

Eu acho que eu não devia ter escrito isso aí, mas tem horas também que a gente se resigna. Se as pessoas podem fazer a cagada que querem, eu posso escrever sobre o que eu quiser também. Ah, outra coisa que eu infelizmente sou obrigada a pensar durante o caminho é que o ouvido dói no frio. Primeiro é a mão, que congela. Depois as áreas próximas da orelha começam a doer, e então o ouvido grita. Sorte que isso acontece bem no fim, quando já estou chegando em casa.

No meio do caminho, tem um buffet infantil. Uma quadra antes, uma escolinha. Sempre que eu passo nessa escolinha eu vejo a televisão ligada, passando algum desenho. Pode ser que seja realmente só nesse finalzinho da aula, momento em que alguns pais atrasam e eles colocam as crianças para se distrair. Mesmo assim, meu lado insuportável de ser sempre dá um jeito de pensar que eu nunca colocaria minhas crianças naquela escola. Tenho pavor de criança na frente de televisão e acho que escola não é o lugar para isso. Mas então, falávamos do Buffet. Duas vezes já passei por lá e tinha uma decoração linda do Frozen. Era rosa com roxo e azul, e tinha vários flocos de neve espalhados. Vi apenas um pedaço, mas parecia linda. Esse filme realmente virou a cabeça de todo mundo. Eu amei também.

Perto de casa vi uma varanda de um prédio LOTADA de bandeirinhas do Brasil. Vai ter Copa, comemorei. Tirei o celular da bolsa e tentei, discretamente, fazer uma foto da varanda. Gosto de gente animada. Ultimamente ando com medo de dizer que amo Copa do Mundo. Até de inconsequente já me chamaram. Já ouvi também um sonoro "Ah, você é dessas que vira brasileira só a cada 4 anos?". Não. Não sou. Vamos cancelar a copa porque tá tudo uma merda no mundo mesmo. Inclusive, podemos cancelar também o carnaval, o natal e a sua festa de aniversário. Não temos o direito de nos divertir nem de comemorar porque está tudo errado no mundo. Enquanto você reclama eu encho um balde de pipoca, ponho uma camisa verde e amarela e sento na frente da televisão rezando para gritar gol. E tenho dito.

De noite eu comecei a ler Eleanor & Park. Muito bem acompanhada, diga-se de passagem. E como acabei de começar, não tenho muito a dizer sobre ele. Só que ele começa assim: Ele parou de tentar trazê-la de volta. Ela só voltava quando bem entendia. E que eu acho que uma história que começa assim não tem como não ser boa. E dolorida. Mas boa. Chega.