terça-feira, 28 de abril de 2015

Acontecem coisas

Se tem um detalhe nas novelas que me deixa meio doida das ideias é esse esquema de ponte aérea. Não que algum outro autor consiga ganhar da Glória Perez, a musa dos voos internacionais a preço de banana, mas é uma regra meio que geral que viajar em novela é algo muito simples. Pra começo de conversa, decide-se viajar de avião de um dia para o outro. Você pode ser empresário de sucesso, biólogo ou professora de escola pública: a passagem relâmpago “Rio de Janeiro-Fernando de Noronha” estará sempre cabendo no seu orçamento de emergência. “Quer viajar, pergunte-me como!” dizem os autores. TÔ INDO PERGUNTAR, digo eu.

O fato é que eu viajo sim. Porque a maior parte dos meus amigos e da minha família não mora na mesma cidade que eu. Todo mundo acha que eu viajo bastante – só eu sei que mal consigo sair do lugar e que minhas pseudo viagens de fins de semana deixam meu cartão com registros de parcelas até um tanto depois que ela acabou. Quer coisa mais deprimente que aquela viagem maravilhosa ter acabado há mais de 2 meses e você ainda ser obrigado a lembrar dela na hora de pagar passagem? Então. Mas o post não é sobre isso. (Inclusive, o dia em que eu conseguir começar um post pelo tema dele de fato vocês podem estourar um champanhe).

O post é sobre esse último feriado, deliciosamente emendado, que calhou com uma promoção de passagens e me levou até São Paulo. Se você é uma pessoa razoavelmente sociável que morou 10 anos em uma cidade, sabe que a possibilidade de ter feito um punhado de amigos durante esse tempo é bem provável. Dessa forma, quando estou em São Paulo passo praticamente o tempo todo em trânsito – e não no trânsito, porque usamos metrô – ou em algum restaurante.

A dinâmica humana é muito engraçada: 90% dos encontros são em almoços, jantares, cafés, sobremesas. É um pão de queijinho com um amigo, um sorvetinho com outro, um cachorro quente com aquele outro ali. Só não voltei 3 quilos mais gorda (em 3 míseros dias) porque em São Paulo se anda tanto que dá pra comer e emagrecer ao mesmo tempo.

Olha, nem vou ficar relatando em detalhes esses 3 dias em São Paulo porque deu  pra vocês entenderem, por cima. Mas preciso relatar uma noite. Ou ainda, a tentativa de uma noite que passei ao lado de minha amiga/irmã/anfitriã Milena Martins, aquela que mora na lua. Saímos de casa às 23h (ou perto disso) com altos planos de dançar até o sol raiar. Eu sei que a ideia de dançar até o sol raiar plus um par de sapatos de salto jamais configuram uma boa ideia, mas eu sou teimosa. Sou teimosa e tenho 1,57 de altura.
- Amiga, tô pensando em ir de salto, a balada é perto do metrô?
- Analu, salto nunca é uma boa ideia.
- É perto do metrô ou não?
- É, pertinho.

Toda santa vez que eu vou pra alguma festa/balada eu juro pela minha próxima geração que na vez seguinte não usarei salto (rssssss). Da última vez que eu precisei de Milena para me guiar em uma cidade grande ela nos fez dar uma volta no Rio de Janeiro para chegar a um lugar que era relativamente perto de onde estávamos. O prognóstico geral da ideia não era nada boa.

Andamos até o ponto de ônibus. Deu tudo certo. Pegamos o ônibus. Deu tudo certo. Pegamos o metrô. Deu tudo certo. Descemos na estação de metrô que era perto da balada. Saímos pela estação e eu já fui esticando o pescoço procurando a dita cuja que, se vocês recordam (e eu recordava muito bem) era PERTINHO. Não encontrei de cara, mas pensei que tudo bem vai, ainda é pertinho se for na quadra seguinte. Estávamos no meio da quadra seguinte e meus pés já estavam querendo doer quando resolvi abrir minha boca pra perguntar se faltava muito. “Claro que não, amiga” ela disse. E eu, louca para levar uma resposta negativa seguida de risadas, insisti: “Falta mais de uma quadra dessas?” ao que ela me respondeu, rindo: “Nossa amiga, muitas dessa ainda”.

chocked

Meu mundo começou a cair ali e não terminou de cair nunca mais. Porque a gente andava. Andava. Andava. E a balada simplesmente não aparecia. No fim das contas, o pertinho de Milena queria dizer que a estação de metrô era mais ou menos o número 1500 e a balada, o 600. Eu estava de peep toe, gente. E enquanto eu andava, além da dor do salto vinha aquele roçar do sapato nos dedos e isso configura uma tragédia irrecuperável. Era perto da meia noite quando FINALMENTE chegamos na tal da festa e acontece que a fila dava volta no quarteirão. Ficaríamos pelo menos 1 hora paradas na fila – e meu pé não aguentava nem 5 minutos.

O que fizemos em relação a essa situação? Se você pensou que demos meia volta e fomos embora você está corretíssimo. Não tenho cara de quem luta a esse ponto por uma balada na sexta-feira a noite, guardo minhas lutas para guerras muito maiores #momentoautoajuda. O detalhe ainda não mencionado é que o metrô fecharia antes de conseguirmos chegar na estação de Mimi, que infelizmente ainda não é na lua, mas é bem perto. Solução? Pararmos no meio do caminho, lógico, na casa da amiga da minha mãe onde ela, por obra do divino, estava hospedada porque, vejam só, também achou promoção de passagem.

Sei que pegamos um táxi para voltarmos até a estação do metrô (aquela que devia ter sido pertinho), entramos no metrô, pedimos informação para uns garotos sobre a baldeação e eles erraram a linha, de forma que pegamos sentido contrário, e a essas alturas a gente não conseguia mais fazer nada além de rir (e eu chorava junto pelo estado do meu pé). Entre mortos e feridos e depois de atravessarmos o viaduto da Sumaré COMPLETAMENTE DESERTO (#aventureiras) à 1 da manhã, chegamos ao prédio da amiga de mamãe e dissemos para o porteiro, com a maior cara de acabadas com roupa de festa: Oi, vamos no apartamento X. “Ok, quem são vocês?” disse o porteiro. No fim das contas ele interfonava e ninguém atendia – mas ficou com tanta dó do nosso estado que nos deixou subir. E foi assim que chegamos na residência, recebemos comida, lavamos o pé e dormimos – com roupa de festa e tudo – em duas no colchão de solteiro que estava do lado da cama que minha mãe estava usando. Acordei perto das 10 sem saber nem onde estava, o que me fez pensar que talvez dormir fosse tudo o que eu precisava mesmo ter feito naquela madrugada, ao invés de festar.

Se vocês acham que a dignidade já tinha diminuído o suficiente, não queiram imaginar a cena de voltar ~para casa~ as 11h da manhã de domngo COM ROUPA DE SÁBADO A NOITE, resto de maquiagem – e havaianas, porque não colocarei um salto nesses pezinhos tão cedo. E tenho dito.

As coisas, elas acontecem.
Autor desconhecido

terça-feira, 21 de abril de 2015

Meus começos favoritos da literatura

O título e o vídeo são totalmente auto explicativos, mas sempre dá pra reiterar: estou falando sobre começos inesquecíveis de alguns livros que já cruzaram meu caminho. Spoiler: Tem de J. K. a Saramago. Assiste aí, vai. Às vezes eu gosto de falar pelos cotovelos ao invés de escrever. Mas é só às vezes.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

33 coisas que vocês poderiam morrer sem saber

Vi essa tag respondida pela Del no blog Bonjour Circus e adorei porque tarra faltando nas internet uma tag de perguntas pessoais não tão óbvias quanto essas listas de perguntas que sempre circulam por aí em looping eterno, sabe? Então. Aí achei que essa era uma coletânea ótima de questionamentos que vocês possivelmente nunca fizeram sobre mim mas que eu resolvi responder mesmo assim. Divirtam-se. Ou não.

1. Porque você costumava levar bronca quando criança?
Não é exatamente uma bronca, mas eu roía muita unha, então estava sempre com a mão na boca. Consigo fechar o olho e escutar minha mãe, aquela voz na minha cabeça, dizendo: "tira a mão da boca!!!!!1111". Também levava bronca porque fazia um milhão de coisas ao mesmo tempo, tipo pular no sofá, desenhar, ver desenho e brincar de Barbie. E aquelas broncas clássicas por brigar com a minha irmã - mas era sempre ela que começava.

2. Quando foi a última vez que você saiu sem rumo?
Olha, não costumo fazer isso não, na verdade. Só tenho no meu histórico uma "pocket saída sem rumo". Na verdade eu estava com minha mãe e minha irmã na praça de alimentação no shopping, a gente brigou, eu levantei da mesa e sai aleatória pelos corredores. Acabei me refugiando na livraria e não atendi o celular só de birra, de modo que elas foram embora sem mim e eu continuei lá, fuçando uns livros e chorando, lógico. Aí, quando eu cansei, peguei um táxi e fui-me embora. Fim.

3. Três objetivos para o seu futuro...
Pode ser que isso seja algo bem errado, mas eu tenho mais sonhos que objetivos. Sei lá. Eu digo que quero muito casar e ter filhos, mas não consigo colocar isso no campo dos objetivos porque não é algo que eu consiga resolver sozinha. Quero muito trabalhar em uma revista ou editora de livros bacana e ficaria muito feliz se conhecesse vários países diferentes. 

4. O que você encontraria se abrisse a geladeira nesse exato momento?
Precisa detalhar? Bom, provavelmente eu encontraria queijo, presunto e peito-de-peru fatiados, suco de maracujá, suco de laranja, suco de uva, uma tupperware de arroz, maionese, mostarda, ketchup e uma caixinha de leite condensado. Tem também, obviamente, um daqueles gavetões que ficam na parte debaixo da geladeira e guardam verduras, mas nunca abro. E no congelador provavelmente tem um pote de sorvete de creme, waffles, batatas fritas, nuggets e, eventualmente, feijão?

5. Qual tecnologia ocupa mais seu tempo?
O celular é praticamente extensão do meu corpo - e nem me olhe com essa cara porque sei que o seu também é. 

6. Uma coisa usada que você comprou...
A biografia da Grace Kelly, na Estante Virtual. Foi o primeiro livro que comprei em sebo, paguei menos de R$10,00 (não me lembro exatamente quanto) e o livro chegou perfeito. Parecia que nunca tinha sido tocado. 

7. Qual a primeira coisa que você faz ao acordar?
Reclamo mentalmente que estou com muito sono e que eu devia ter dormido mais cedo. Aí eu me espreguiço e me visto, enquanto continuo reclamando. 

8. Do que você precisa nesse exato momento?
Tomar um banho. Na verdade, eu passo o dia pensando na hora que finalmente conseguirei tomar um banho. Não há enrosco no mundo que uma boa chuveirada na cabeça não amenize.

9. Qual foi a última coisa que você leu, ouviu ou assistiu que te inspirou?
Eu já conhecia o blog Filosofinhas, já tinha até falado dele antes em um BlogDay. Mas semana passada eu resolvi lê-lo de cabo a rabo de novo (eu faço dessas) e gravei vários textos/ensinamentos na cabeça. Se eu fosse vocês eu começaria por esse aqui. Dica da amiga.

10. Um souvenir que você comprou ou ganhou...
Meu pai voltou de Cancun esses dias e trouxe pra mim um chaveirinho de sombreiro cor-de-rosa.

11. O que te deixa estressada?
A princípio eu ia responder que eu já saí do útero estressada. Mas na verdade eu sou ansiosa, então sou ligada no 220 e minha cabeça não para um minuto sequer, o que acaba gerando uma aura de estresse meio contínuo - o que não significa que eu passo o dia cuspindo marimbondo nas pessoas. 

12. Já morou em outro país além do Brasil?
Não, e até tenho vontade, mas não de morar fora de vez, sabe? De ir morar fora com data pra voltar, algo como "passar 6 meses em Paris". Acho mais legal do que simplesmente viajar, porque passando uma temporada você começa a enxergar a cidade como morador e não como turista, e acho que isso é fundamental para conhecer mais a cultura.

13. Você tem tatuagem?

14. Qual foi a última coisa que você pesquisou no google?
O currículo de um artista que vai ministrar uma oficina, para fazer um release.

15. Qual sua maneira de ser egoísta?
Conversar com alguém pensando no que eu vou responder antes mesmo da pessoa terminar de falar. E ler/assistir Tags pelos blogs da vida pensando nas respostas que eu daria. SEMPRE respondo uma tag inteirinha enquanto estou lendo a de outra pessoa. É involuntário. 

16. O que demora demais?
O ônibus que eu preciso pegar para voltar para casa depois do trabalho. Sério, ele nunca vem.

17. A última vez que você ficou acordada a noite toda...
Pelo que me lembro foi em janeiro. Briguei com a minha mãe e passei a noite inteira entre chorar e brigar com o edredom. Depois que amanheceu eu comecei a brigar, também, com a claridade. Tive que lacrar a janela, e devo ter conseguido fechar o olho pouco depois das 8h.

18. Qual comida que todo mundo ama mas você odeia?
Não é bem ódio, vai. Eu contei a história inteira aqui

19. O que você está vestindo agora? O que essa roupa diz sobre você?
Estou de calça jeans, bota preta de cano alto e salto inexistente, uma blusinha leve de manga comprida e um moletom de zíper. Essa é tipo a minha roupa de guerra. Em 80% dos meus dias eu estou vestida assim. Ela diz sobre mim que eu amo praticidade e morro de preguiça de inventar moda.

20. Já fez amigos ou se apaixonou por alguém que você conheceu pela internet?
Fiz amigas sim, as melhores do mundo. E um dia uma delas me apresentou virtualmente um amigo que ela achava que combinava comigo. Nós conversamos por dias a fio sem parar, rolaram altas borboletas no estômago, mãos geladas, declaraçõezinhas e tudo o mais, mas acabamos nem nos conhecendo pessoalmente, no fim das contas.

21. O que te faz perder o sono durante a noite?
Ansiedade ou ter dormido demais durante o dia. Tenho uma prima que pode dormir a tarde inteira e estará caindo de sono às 22h. Meu sonho era ter muito sono à noite independente de qualquer fator, mas geralmente sou a última a dormir em qualquer festa do pijama. 

22. Qual foi a primeira coisa que você comprou com o seu dinheiro?
Hehe, com a mesada foi um CD Room de joguinhos dos Bananas de Pijama. Eu tinha 8 anos, me deixem. Com o salário provavelmente foram livros, mas a primeira coisa bem cara que eu comprei com meu dinheiro foi meu celular. 

23. O que tem na sua prateleira?
Livros, livros e mais livros. Alguns bichinhos, canecas e copos no meio deles, para dar uns toques.

24. Como você se acalma depois de um dia estressante?
Tomando banho e saindo dele com o cabelo bem molhado. Cabeça molhada é cabeça fria. 

25. Escreva sobre algo que você quebrou...
Sou super desastrada e já devo ter quebrado de tudo um pouco nessa vida, mas no momento só consigo lembrar dos copos. Quebrei MUITO copo nessa vida, mas lembro de uma vez em que consegui a proeza de quebras quatro (q-u-a-t-r-o) tulipas do meu avô em um único dia, em momentos diversos. Que culpa eu tenho que as pessoas deixam tulipas espalhadas por aí? Uma delas eu cotovelei sem querer enquanto meu primo almoçava. Outra estava em cima da mesinha de centro da varada e eu topei com a mesa. Outra estava nas mãos do meu tio quando eu passei correndo e esbarrei no braço dele. Da quarta eu não me lembro.

26. O que você mais gosta de comer no café da manhã?
Eu não tomo café da manhã. (O sermão, ele vem a galope)

27. Como quer que sua vida de aposentada seja?
Cheia de netos, livros e viagens. Apenas.

28. O que você leva em consideração ao votar num partido político?
Olha, foi só nessas últimas eleições que eu comecei a tomar mais consciência de correr atrás de pesquisar os candidatos direitinho e coisa e tal e acho que posso dizer que voto, sobretudo, no candidato mesmo, e não no partido.

29. A religião é um fator importante na sua vida? Por quê?
A fé é muito importante para a minha vida. A religião em si, nem tanto. Sou católica, mas acredito demais nos dógmas do espiritismo (que era a religião da minha avó paterna) e meio que uno as duas coisas (ou fico em cima do muro mesmo, entenda como quiser). Mas acho que os meus valores quem dita sou eu mesma, de acordo com o que eu penso da vida e o que me importa é a minha fé. Acredito em Deus, acredito no universo, nas energias, em vida eterna e tudo o mais - e acredito que é o amor que rege tudo isso, de forma que jamais defenderia com unhas e dentes qualquer religião que prega preconceito contra qualquer forma de amor. Mesmo não defendendo cegamente, me encaixo em algumas, como disse acima, e sigo tendo fé e confiando no que eu acredito.

30. Como está sua casa agora, limpa ou suja?
Minha casa nunca está suja. Minha mãe é uma das melhores donas de casa de que já ouvi falar. O dia que eu começar a morar sozinha vai ser um Deus nos acuda.

31. Você não economiza quando o assunto é...
Livro? Não é que eu não economizo. Eu enrolo pra comprar quando o livro tá muito caro, e tals, mas o fato é que eu farei minha comprinha mensal de livros todo mês porque sim, porque gosto, porque quero. Brinco que um dia acabarei chorando abraçada com meus livros e sem dinheiro nenhum na conta. Espero que seja realmente só brincadeira.

32. Você separa o lixo para reciclagem?
Minha mãe separa lá em casa. Quando estou em algum lugar público, ponho ele nas latas certas mas isso não conta, né?

33. Sua sobremesa favorita?
Mousse de Chocolate e Creme Brulée. Não me faça escolher entre as duas. 

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Precisamos falar sobre Americanah

Ta aí mais um livro que tinha um tantinho de medo de ler. Inclusive eu to começando e me achar muito literariamente medrosa. Todo mundo começou a falar sobre, minha amiga ~super engajada~ só dizia maravilhas sobre, Anna Vitória leu e disse que se pudesse teria comido o livro inteiro, enfim. Estava mais que na hora de eu enfrentar aquele calhamaço de 515 páginas e capa bela para ver qual era. E vi.

Começarei polemizando ao dizer que dei 4 estrelas. Dei? Guentaí que to indo lá no skoob conferir. É, dei, mas é que ó, foram quase 5. Foi uma dúvida cruel, eu queria muito que tivesse a possibilidade de eu dar, sei lá 4 estrelas e meia ou ainda, 4,75 estrela, sabe. Eu dei 4 estrelas mas eu gostei bastante. Minha crise foram as 100 páginas finais, que achei chato, achei enrolação, e acredito que Chimmy percebeu isso também tanto que atabalhoou tudo e quis resolver em poucas páginas algo que precisaria de no mínimo mais umas 100. Sei lá.

Eu adorei o livro. Se você tá aí, em dúvida, pode pegar porque essa mulher escreve pra caramba. Ela é do tipo de gente que te faz ficar parada encarando o livro e tentando lembrar se era ficção mesmo ou se você é a única pessoa no mundo que não sabia que era uma autobiografia all time long, sabe assim? Tinha determinados momentos que eu tinha certeza que chegaria no final e encontraria um PLOT TWIST que me diria que a história era sim verdadeira.

São detalhes, sabe, como duas personagens que nem são importantes mas fazem parte do mesmo grupo de amigos e têm o mesmo nome. É, as duas chamam Paula. Aí eu me perguntava: para que ela inventaria uma dupla de xarás  em um livro fictício se ela pode escolher qualquer outro nome? Ora essa, porque na vida real podem haver xarás e nada mais justo que na história dela existam xarás também. Entendeu? O exemplo pode ter sido esdrúxulo e muita gente pode nem ter prestado atenção no causo das meninas de nome igual, mas eu achei muito perspicaz. São esses detalhes pequenos que transformam qualquer narrativa de uma ficção simples para uma quase realidade. Chimamanda faz tudo isso com maestria.

Já falei da narrativa, agora posso falar do conteúdo. Você não entende direito sobre racismo? Leia Americanah. Acha que o racismo acabou? Leia 2 vezes. Acha que você não tem privilégios por ser, eventualmente, uma pessoa de pele branca? Leia 3 vezes, vai. É importante. Pra frisar, sabe?

Chimamanda me deu uma aula de vida. Sobre privilégios, sobre respeito, sobre pessoas, e sobre como o preconceito pode estar nas sutilezas enquanto você aí seguia com a sua vida achando que depois que a escravidão acabou ficou tudo bem pra todo mundo. Ela me mostrou toda a diferença entre viver onde você é igual a todos e viver onde você é diferente. Onde te apontam na rua e onde você é apenas mais um – e nesse caso, ser apenas mais um é o melhor dos mundos.

Chimamanda e sua muito bem construída Ifemelu me levaram arrastada para um universo que eu desconhecia; socaram o meu estômago; cuspiram na minha cara – e eu gostei. Descontruí um monte de ideia errada que eu tinha na cabeça, saí de dentro de uma bolha, entendi meus privilégios e passei a enxergar o mundo com um pouco mais de consciência e vergonha na cara. Tudo isso enquanto navegada nas páginas de um romance, e não de um artigo sociológico/antropológico, vejam bem. A literatura, ela faz maravilhas. As pessoas deveriam usá-la mais vezes.

Racism should never have happened
and so you don’t get a cookie for reducing it.
Chimamanda Ngozi Adichie

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Sobre ciúmes, projeções, aprendizados e a vida

Dizem por aí que os outros, ah, os outros, além de serem nosso inferno (há controvérsias) são também o nosso espelho. Aquela velha história de que tudo o que nos irrita nas pessoas, na verdade, nos irrita em nós mesmos.

Vocês já conhecem a minha melhor amiga, mas vou fazer uma breve apresentação para situar algum possível leitor novato: o nome dela é Anna Beatriz e ela vai fazer 6 anos daqui há 16 dias.

Eu e Anna temos uma relação de outras vidas, só pode ser. Bastou ela nascer em Curitiba para a minha vida tratar de mudar de rumo e me enfiar aqui nessa cidade gelada também (eu morava em São Paulo). Aos 4 meses ela deitou no meu ombro e dormiu, quando tinha menos de 3 horas que nos conhecíamos. Aos 10 meses ela me chamava de “Lu” e sorria quando eu chegava. Com 1 ano ela pedia para que eu beijasse seu “pizinho” na hora do banho. Aos 2 ela disse que me amava. Aos 4 ela disse, na frente da mãe dela, que preferia que eu fosse sua mãe. Sorte que a Cínthia é parceiríssima e morreu de rir da história. Sorte a minha que ela não entende que se eu fosse a mãe eu não seria tão legal, afinal ser a prima é muito mais fácil e divertido.

Anna vai fazer 6 anos e, como todo ser humano que se preze é cheinha de qualidades e defeitos. Ela é linda, inteligente, espirituosa, engraçada e carinhosa. É mandona e ciumenta na mesma proporção. Outro dia estávamos eu, ela, meu afilhado e a mãe dele na sala. Ela queria que eu jogasse com ela no IPad e eu já tinha escolhido a cor para a cobertura do bolo que ela estava fazendo, mas o Ricardo estava com bochechas irresistíveis e sua mãe me entregava o convite de seu aniversário de 2 aninhos. Enquanto a conversa rolava, Anna me puxava pelo braço e queria que eu só jogasse com ela e esquecesse o resto do mundo. Fiquei na casa do meu tio por mais ou menos 2 horas. Ela fez bico ali e não quis mas falar comigo porque quando me quis só pra ela eu queria dar atenção para outras pessoas.

Confesso o ato-falho: dei risada. Dei uns beijos nela, achei engraçado o bico que ela fez e quando ela insistiu na recusa de olhar na minha cara eu disse que a vida não era assim. Que as pessoas não eram só nossas e que elas não nos amam menos por dividirem a atenção.

Que engraçado. Estava relendo esse post maravilhoso da Julia e senti um tapa lindo sendo dado no meio da minha cara. Nós, adultos, temos realmente mania de aceitar nossos defeitos como algo já emplacado: somos assim e pronto, não dá mais tempo de mudar. Ao mesmo tempo, cobramos das crianças que aprendam rapidamente sobre todos esses processos, afinal de contas, elas estão na fase de aprender e tem mais é que aproveitar para registrar tudo de uma vez.

Eu, do alto dos meus quase 23, fiquei irritada com uma criança de 5 anos que me queria só para ela e disse que ela precisava entender que a vida não era assim. Seria cômico se não fosse trágico eu lembrar a mim mesma o fato de que eu, novamente reiterando, do alto dos meus 23, não aprendi ainda como lidar com o fato de não ser sempre a pessoa favorita - e muito provavelmente não esteja nem perto de receber esse diploma.

O ciúme da Anna só me irritou porque eu sou exatamente assim e a gente não gosta de enxergar no outro que nossos próprios defeitos são insuportáveis. Não queria que o bico da Anna me lembrasse que eu fico emburrada quando penso que minhas amigas conversam em janelas privadas entre elas e eu não estou presente em todos os dramas. Fico pra morrer quando as pessoas começam a conversar de um assunto que eu não entendo. Resolvi que não ia mais dar trela para o meu primo só porque ele, aparentemente, prefere a companhia da minha irmã. Odeio quando estou conversando com alguém e esse alguém demora para me responder, seja por whatsapp ou na mesa do jantar.

Acontece que eu já saí das fraldas há muito mais tempo que a Anna e não posso cruzar os braços e fazer bico – vão achar que eu sou maluca, e talvez eu realmente seja. Se eu falasse tudo o que eu penso quando estou com ciúmes eu perderia metade das amigas, todos os colegas, boa parte da família e quem sabe até entregaria o meu primo de vez pra minha irmã, que é muito mais leve emocionalmente e não está nem aí para o detalhe de com quem ele vai passar a noite conversando. É complicado.

Anna, eu te entendo. O mundo já é difícil demais e às vezes tudo o que a gente quer é ser a pessoa mais especial do momento pra quem é tão especial para a gente. Amor a gente multiplica ao invés de dividir, mas tempo e atenção a gente divide mesmo, infelizmente. Às vezes a gente ganha muito, às vezes não e é isso aí, bola pra frente, a gente faz um bico, guarda umas chateações e segue com a vida porque é assim que a banda toca, afinal de contas. Se você aprender, aos 6, que é assim, talvez sua vida adulta te doa um pouquinho menos. Mas talvez não, também. O fato é que eu fiquei irritada porque você não queria entender, mas hoje lembrei que nem eu entendi ainda – e que foi exatamente por isso que me irritei. Minha flor, não se engane e não deixe o mundo te enganar: não são as crianças que tem a obrigação de dar conta de tudo e aprender as coisas o tempo todo. Adulto também aprende e Deus sabe o tanto de coisas que você me ensina todo dia. Obrigada, meu amor. Me desculpa, também. E tamo junto!

segunda-feira, 6 de abril de 2015

7. Seu Antônio

Livremente inspirado nesse blog genial aqui

Passarinha teve a ideia de entrar na dança das 1001 pessoas e acabou me dando uma ideia com seu primeiro texto. Eu sempre gostei de porteiros. Sou conversadeira desde pequena e filha de uma pessoa que vira melhor amiga de qualquer um que fique 5 minutos em sua frente na fila do pão, de modo que nunca me abstive de bater papo com os porteiros com os quais convivi nessa vida.

Quando eu era pequena, ainda no prédio em que nasci, lembro de subir correndo a escadaria para abraçar o porteiro vovozinho Juscelino que tinha ficado um tempo sumido. Agora nem consigo me lembrar se essa é uma lembrança normal ou construída, mas que eu me lembro, me lembro.

Um pouco maior, em São Paulo, ficava todos os dias pelo menos uns 15 minutos sentadinha numa cadeira, ao lado da portaria do meu prédio, esperando a perua ir me buscar para ir para a escola. Era praticamente madrugada (a perua me pegava pontualmente às 6h18, tempos sofridos) mas qualquer que fosse o porteiro do dia, geralmente ele estava animadíssimo para batermos papo. Morei quase 8 anos nesse prédio e ó, foram anos incríveis.

E daí que no maior #firstworldproblem que esse mundo já viu, me mudei para Curitiba e no meu prédio pequenino não tem porteiro. Olha, endosso aqui meu piti de burguesinha-de-primeiro-mundo-que-não-sabe-o-que-é-problema porque odeio lidar com chaves, com visitas chegando e eu tendo que abrir a porta e com a correspondência: se não tem ninguém em casa, ela volta para os correios, olha que coisa. Mas sinto falta mesmo é de um porteiro sorrindo quando eu entro no prédio e me perguntando como vai a vida. Tem o Sr. Ademir, o zelador, que vive com sua vassourinha pra cima e pra baixo e vira e mexe me pergunta se eu estou indo fazer uma reportagem, mas não é a mesma coisa.

De modo que cheguei até aqui para falar do Seu Antônio, o ex-porteiro do prédio dos meus tios. Seu Antônio, gente finíssima, cabelinho todo branco. Seu Antônio que, em um prédio de padrão econômico elevado e que deveria ter uma preocupação exacerbada com segurança, nunca na vida interfonou nos meus tios para perguntar se eu poderia subir: “Pode ir, mocinha, e que Deus abençoe!”. Sempre tive a sensação de que Seu Antônio foi padre em outra vida, ou que talvez tenha sido seminarista nesta. Nunca entrei nem saí daquele prédio sem que Deus me acompanhasse, graças ao lembrete do porteiro.

Minha tia um dia comentou que ele tinha uma vida difícil. Se eu não me engano, seus 2 ou 3 filhos tem graves problemas. A luta de Seu Antônio  é enorme e eu nunca vi aquele homem sem um sorriso no rosto. Não me enganava: o olhar era melancólico. Mas o sorriso estava sempre lá e, junto com ele, a fé. E quem tem fé, vocês sabem, têm muita coisa.

A história está no passado porque ele não é mais o porteiro, tá? Graças a Deus até onde sei ele continua vivo, mas já estava cansadinho demais para porteirar dia após dia. Sinto falta dele toda vez que entro no prédio. O porteiro atual é bem curitibano e nunca o vi sorrindo, mas tudo bem, bola pra frente. A voz do Seu Antônio ainda ecoa naquele portão e eu espero que ele esteja muito abençoado, fazendo o que quer que seja.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Leiam 1Q84

Nem lembro direito quando foi que eu comecei a ouvir falar de 1Q84, mas era 2014 e de repente o livro estava famoso. Eu achava interessantíssima a proposta do nome, e morria de medo na mesma proporção. Oi, meu nome é Ana Luísa Bussular, eu tenho 23 anos nas costas e morro de medo de achar que os livros são difíceis e me sentir burra.

No final de 2013 eu ganhei da minha amiga Mayra o “Aleph”, de Jorge Luís Borges, o filósofo, e não o do Paulo Coelho. Comecei a ler no dia 1º de janeiro de 2014. Li um blog de uma menina de 14 (repito, 14) anos que tinha FAVORITADO o livro. Larguei na metade porque não entendia nada. Era por esse motivo que eu passei praticamente um ano tremendo nas bases só de olhar para 1Q84 volume 1, que me encarava da minha escrivaninha. Giuliana Rebeca tinha me dado de formatura, em fevereiro. Peguei pra ler na última semana de dezembro.

Na verdade era meio de dezembro, eu estava fazendo minhas malas para viajar e escolhendo os livros que levaria. Foi por um triz que não deixei Murakami para trás. No último segundo resolvi colocar na mala porque me visualizei lendo 1Q84 no sofá da minha avó, com sol batendo no rosto e imaginei que seria quase uma experiência bucólica (?), não perguntem. Coloquei na mala.

Fui embora da casa da minha avó sem ter tocado no livro. Era 31 de dezembro e eu estava na sala da minha tia, minutos depois de ter terminado “Os segredos de Colin Bridgerton” e não conseguia decidir que livro escolheria para terminar 2014 e começar 2015. Peguei Murakami na mala, olhei para a capa por alguns minutos e decidi que seria ele. Não atoa, disse pra mim e pra vocês também que 2015 seria um ano interessante para se ter coragem. Era a hora de começar um livro que eu morria de medo de ler.

Medo que se provou infundado logo na primeira página. A literatura de Murakami não é difícil, o título me enganou. Não é difícil, mas é fabulosa. A contracapa diz que o gênero é “literatura contemporânea” e se tem uma coisa que eu penso sobre esse termo “contemporâneo” é que todo mundo se utiliza dele para definir tudo o que não tem definição. 1Q84 tem drama, romance, mistério e mistura realidade com fantasia de uma forma brilhante. 

Vou dizer para vocês que tia Joanne Kathleen Rowling me acostumou muito mal. Harry Potter tem um universo fantástico tão bem construído e sem pontas soltas que eu entrei numas de que fantasia, para me agradar, tinha que ser completa por si só. Essa história de misturar um dedo de fantasia num mundo aparentemente normal me deixava transtornada: pirei com “Oceano no fim do caminho” do Gaiman, e Zafón também me deixou meio maluca em “Marina”. Mas Murakami fez isso tão bem e de uma forma tão coerente (ao menos na minha visão) que nem fiquei transtornada, vejam só. A fantasia se encaixou muito bem no contexto e me fez aceitar que, ok, coisas paranormais também podem acontecer no mundo real.

Confesso que pensei que poderia me decepcionar com o final. Amei o primeiro livro do começo ao quase fim, porque o final foi enrolado e chato. Com o segundo livro aconteceu quase a mesma coisa:  finalzinho até que foi muito eletrizante, mas um pouco antes do final o livro ficou um saco. “Murakami é melhor com começos do que com finais”, bradei em alto som para quem quisesse ouvir. Meu medo era que isso se provasse verdadeiro quando eu fosse analisar a série como um todo (3 livros) e isso só ficou mais forte quando eu li a galera resenhando o terceiro livro no skoob e dizendo que ficavam um monte de pontas soltas e mal explicadas.

Felizmente não foi essa a minha conclusão. Gostei bastante da trilogia, achei que o final foi uma jogada de mestre e que as pontas que ele deixou soltas são pro leitor aprender que nem tudo na vida tem explicação. Se eu queria saber mais detalhes? Claro que queria, mas isso não é problema da obra, é problema meu que sou curiosa mesmo. Não vi nenhum problema na falta de explicação de certas coisas porque não eram informações cruciais – e eu percebi que não eram cruciais justamente porque ele não explicou, sabe assim? Depois que a gente aceita que na literatura, assim como na vida, nem tudo precisa de um porquê, fica mais fácil digerir o que não nos é entregado de bandeja.

Não sei se eu consegui convencer vocês ou não, mas olha, se alguém aqui algum dia pensou em dar uma chance a Murakami e seu livro com título bizarro, por favor, dê essa chance. Acho que o moço merece. Arrisco dizer que 1Q84 nem é o tipo de livro que deve ser amado – mas é, certamente, um livro bacana de se conhecer.

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