Eu tinha 8 anos quando Harry soprou aquela
vela, e, sobretudo, não tinha a menor noção de como a existência dele faria a
minha vida mais completa. Se existem mil motivos para eu viver uma nostalgia
pré-nascimento e desejar ter nascido em outra época, Harry Potter é o que mais me
faz agradecer ter nascido quando nasci. As pessoas de outras idades leram Harry
Potter. As pessoas que nascem agora lerão também. Mas nenhuma geração vai ter a
dádiva de VIVER Harry Potter como a minha geração viveu. Desde os meus 8 anos
que eu fui obrigada a entender direitinho o que era ansiedade, e sobre como era
difícil domá-la. Sempre tinha um livro ou filme pra esperar, e quando o último
filme lançou eu chorei, supostamente “encerrando” uma fase da minha vida que
nunca voltaria. Na verdade não tive que superar esse final, porque ele nunca
aconteceu.
Harry Potter não se encerra. Harry Potter não
é uma fase da sua vida. É uma parte da sua vida, marcada no peito e ponto
final. Eu tenho 21 anos de vida, o que significam 15 de Harry Potter. E meu
olho ainda não cansou de brilhar quando eu penso e falo sobre esse assunto. Não
canso de viver as nostalgias de cada “primeira vez” com cada personagem, livro,
ou filme. Não canso de olhar os livros na prateleira e fazer carinho nas suas
capas. Não canso de pensar que isso tudo é muito real pra não existir. Existe
sim, tá lá do outro lado da estação 9 ¾, e o que me resta mesmo é me conformar
com meu azar de ter nascido trouxa com tanta paixão bruxa no peito.
Esses dias, vagando tardiamente no
Pottermore, eu descobri o que meu coração desde sempre já sabia: Eu sou da
Lufa-Lufa. E chorei lendo a carta de boas vindas à casa, que me disse que a
Lufa-Lufa, além de ser a casa da lealdade, é a menor produtora de bruxos das
trevas. Sempre soube que eu não tinha a bravura de um grifinório, mas sou
consciente do meu coração leal e lufano. Chorei de novo quando meu amigo, também
da Lufa-Lufa, abriu um sorriso enorme e me abraçou, e eu percebi que nosso
abraço nunca antes foi tão verdadeiro e entregue. Harry Potter faz isso com as
pessoas.
Harry Potter não é ficção, não é um livro,
não é um filme, não é uma historinha. É uma parte intocável e intransferível da
vida de muita gente. Uma parte que qualquer lembrança faz emocionar, arrancar
sorrisos, provocar debates e até arrumar confusão. Eu já levantei da carteira
na sala de aula da faculdade pra apontar o dedo na cara de uma menina que
desdenhou de Harry Potter. Eu nunca levanto a voz em sala de aula, e naquele
dia eu saí de lá querendo atacar a jugular da menina pra ela aprender que tem
coisas que a gente não pensa, quanto mais verbaliza. Eu não sou obcecada pelas
coisas que amo a ponto de desprezar e amargar minutos de ódio por quem fala mal
do assunto. Gosto é gosto. Mas com Harry Potter é diferente. Harry Potter
coloca no auge meu lado ferino. Fale de mim, ponha defeitos em mim, diga que eu
sou tosca. Mas não faça isso com Harry Potter.
E nesse dia 31 de julho, mais do que mais uma
declaração de amor, eu só queria dizer, de novo, obrigada. Na verdade, a JK
Rowling, porque também é aniversário dela. E como outras milhões de pessoas
pararam pra pensar em algum minuto desse dia e de todos os outros, preciso
agradecer mais uma vez por ter feito a minha geração ser a mais sortuda de todas
por poder viver Harry Potter. Obrigada por me ensinar muito mais sobre a vida e
as pessoas do que qualquer livro didático. Muito obrigada por me ensinar a ser
rebelde e ler Harry Potter escondido aos 10 anos quando minha mãe me mandava
estudar. Obrigada por me ensinar que ler pode ser a melhor coisa do mundo. Por
me ensinar que não é só porque as coisas acontecem na minha cabeça que elas não
são reais. Obrigada por afirmar que não se deve ter pena dos mortos, e sim, dos
vivos, sobretudo dos que vivem sem amor. E se alguém me pegar falando de Harry
Potter aos 90 anos com os olhos cheios de água, e me perguntar: “Ainda falando
disso?”, eu terei toda a honra, amor, e orgulho ao usar como referência um dos
meus momentos favoritos e poder responder: “Always”.
Analu, eu já posso chorar? Você disse tudo que eu queria dizer, e sim "Always", independente da idade, lugar, planeta, sempre será "Always"!
ResponderExcluirLindo texto! É ótimo ver alguém defender com tanta garra o que se gosta!
ResponderExcluirBoa semana!
jj-jovemjornalista.com
Que lindo, Analu! Tem gente que não consegue entender esse amor todo, e eu digo que só quem viveu sabe o que é. Não é só gostar de uma história, ou de um autor, é saber que o amor por essa coisa trouxe tanta coisa boa pra vida. Amigos que vieram a ser amigos por causa dos livros, experiências que não teriam sido vividas sem os filmes, a ansiedade, os ensinamentos! Ah, só que é potterhead sabe!! <3
ResponderExcluir(não sei se o comentário já foi, internet aqui tá a maluca!)
To chorando aqui!!!!!!!
ResponderExcluirPrimeiro porque: LI COM SUA VOZ NA MINHA CABEÇA
Segundo porque: Harry Potter!!!!!!
Como manter a compostura??!?!??!!?/1?!?!!?!
Te amo!
Que nostalgia ferrada. Tudo está me levando a ler Harry Potter inteiro de novo, e você tem um dedão de culpa nisso. Lembro que quando Mariana começou a ler livros mais sérios eu disse que queria dar pra ela um livro pro ano, para que ela vivesse essa experiência maravilhosa de esperar, ficar ansiosa, reler os livros, gastar o emocional com esse universo. Pena que não funcionou porque meus tios afoitos enfiaram todos os filmes nela e acho que ela já chegou a terminar a série de livros. Ela adora e é quase tão fanática quanto eu quando tinha a mesma idade, mas olha, privilégio igual ao nosso de ter vivido tudo isso, só lamento.
ResponderExcluirBeijos <3
Que lindo, de verdade. Sinceramente falando, acho que nunca li texto mais bonito falando sobre Harry Potter. Deu até uma invejinha aqui por não ter sido essa criança, embora tenha assistido a todos os filmes. Mas parabéns por manter essa parte bonita dentro de ti e por falar tão bem e de uma forma tão bela sobre isso. De verdade. beijinho
ResponderExcluirJá disse outras vezes: Nunca li Harry Potter, mas esse blog aqui, da Dona Analu, me faz querer e querer a cada diz ler. É uma meta.
ResponderExcluirPena eu não ter lido e vivido na época certa. :/
Quase chorei lendo isso, e nem li Harry Potter ainda. Tenho que tomar vergonha na cara e encarar os livros da série.
ResponderExcluirEu escreveria um comentário gigante e inspirador, mas to chorando tanto que nem dá pra ver as teclinhas do computador.
ResponderExcluir