sexta-feira, 15 de agosto de 2014

RIP

Um dia desses eu olhei a minha pilha de livros em cima da escrivaninha e tive uma epifania sinistra: Em qualquer momento da minha vida que eu morra (bate na madeira 3 vezes) eu deixarei uma pilha de não lidos.
 
Se chegar a essa conclusão já foi assustador, imaginem então quando, no meio de outro pensamento, sentei assustada na cama e pensei que, muito pior que isso, provavelmente, quando morrer, deixarei um livro NA METADE.

A morte me assusta. Não só a minha. Todas elas. Me assusta e me deixa completamente perturbada. Não consigo simplesmente aceitar que alguém que estava aqui ontem de repente não está mais.

E eu estava com esse tema rondando a minha cabeça, sem saber como abordar em algum texto. Porque, é claro para todo mundo que, ao morrermos, com certeza deixaremos algo no meio do caminho. Sempre fica algo por dizer, algo por fazer, alguém por abraçar, uma história para terminar. Mas as vezes (graças a Deus) a gente esquece disso. Minha pergunta é: Seria mais proveitoso viver sem pensar na morte ou pensando nela?

Ficaríamos transtornados pensando que tudo tem um fim ou aproveitaríamos mais cada momento e tentaríamos não deixar nada por fazer, sabendo que podemos ir embora a qualquer momento?

Morreu o moço Eduardo Campos, todos vocês sabem. E morreu do nada, em um acidente de avião, um dia após sua entrevista no Jornal Nacional. E é terrível lembrar que isso pode acontecer a qualquer momento com qualquer um. Estarmos aqui, cheios de planos, e no dia seguinte, THE END. E salvo em casos de doenças gravíssimas a longo prazo, esse THE END vem sem avisar e sem termos direito a choros e velas que o convençam a não chegar. E eu nem sei mais como continuar porque isso dá um nó enorme na minha cabeça.

Em abril assistimos, no meu trabalho, uma palestra sensacional com o dramaturgo e ator Roberto Alvim, não sei se vocês conhecem. O cara é incrível. E deu um sermão gigante em todos os presentes, perguntando o que pensaríamos se a morte aparecia para nos levar. Ele disse que só está vivendo direito quem teria coragem de dar as mãos pra ela e acompanha-la com paz de espírito, e que quem ajoelhasse pedindo mais tempo não entende nada da vida.

O que ele quis dizer era que temos que estar vivendo todos os dias de forma inteira. Aproveitando cada segundo e resolvendo nossas crises e que, por isso, estaríamos sempre felizes e limpos quando a morte quisesse aparecer, sem precisarmos pedir por mais. Isso só me deixa mais confusa porque, estando eu completamente feliz e limpa, teria mais vontade ainda de pedir por mais tempo. Não devo saber nada da vida mesmo.

13 comentários:

  1. Também não sei nada. Sabia, na verdade, até meu filho nascer. Hoje, só consigo pensar (nem me lembro dos livros pela metade e da estante inteirinha pra começar) no que vou perder se eu for cedo e ele ficar, com a vida inteira pela frente, com tombos que vão precisar de beijos, com primeiras vezes que vão exigir palmas e parabéns, com toda a falta que uma mãe pode fazer. Pior que isso, só pensar no oposto…. Aí mesmo é melhor parar de pensar. Ignorance is bliss.

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  2. SEMPRE PENSO NISSO
    Assim, não sempre - o tempo inteiro. Mas quase. Olho pra meus livros e... poxa, que dó. Tenho vontade de viver um pouco mais - muito mais - apenas para ler todos aqueles que ainda não li.

    Aliás, estava eu vendo ACEDE essa semana e pensando justamente nisso, de morrer no meio de uma frase.

    E não vou me alongar aqui porque seu texto me inspirou um outro texto, guria. ♥

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  3. Eu não só imagino isso, como penso no que será que minha mãe vai fazer com meus livros e o quanto ela vai ficar triste olhando pra eles (alerta morbidez nível hard). A ideia da morte repentina me ajuda horrores.

    Esse ano tem me ensinado que a gente precisa se agarrar nos momentos de felicidade o quanto puder e aproveitar muito as pessoas que a gente ama.

    Mal posso esperar pra vocês estarem aqui e eu costurar cada momento no coração <3 Amo você!

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  4. Morrer no meio de um livro é maldade demais. E a opinião desse Roberto Alvim, é verdadeira em partes, porque de qualquer forma, talvez ninguém nunca esteja pronta pra ir embora deste mundo, mesmo vivendo cada dia por inteiro sempre vai ficar faltando algo pra fazer, uma vontade nova, um lugar novo pra ir. Mas a vida isso, ninguém nunca vai ter tudo que ela oferece.

    Boa noite, bjos.

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  5. Não sei lidar com perdas, de nenhum tipo. Às vezes, me sinto meio imatura demais nesse aspecto. Mas sempre ando com esse pensamento de carpe diem, de se despedir das pessoas como se fosse a última vez, mesmo em final de briga. Tenho medo de perder a pessoa tendo coisas a dizer, tendo dito palavras ruins, tendo feito coisas ruins. Chato que isso limita muito as opções.

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  6. Somos duas, Ana (pelo visto, mais de duas). Eu detesto falar de morte, pensar na morte. Também fico com esse nó na garganta. Mas é a única certeza que temos, né?

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  7. Engraçado que a ideia de que eu vou morrer um dia não me abala tanto. Acho que depende muito da sua ideia de morte, porque a minha concepção faz com que tudo pareça pequeno demais diante dela, sabe? Não consigo pensar nos livros que não vou ler, nos filmes que vou deixar de assistir, essas coisas. Mas a morte dos outros é algo que me tira o sono, literalmente. Tem tudo a ver com a sua teoria da cadeira vazia: é quem fica que precisa lidar com o vazio.

    A morte do Eduardo Campos me abalou muito, muito mesmo. Acho que ela deixou claro que nossos planos não estão com nada - afinal, quer plano maior do que um dia estar no meio de uma campanha pra ser presidente de um país, e depois ver tudo isso acabar? Fico um pouco assustada quando penso nos meus próprios planos, e em como tudo pode ir pelos ares sem mais nem menos, e que ninguém vai me avisar antes.

    E aí eu dou risada (ou, dependendo do humor, fico bem irritada) quando pergunto pro meu pai coisas relacionadas ao futuro (coisas banais, tipo onde vamos almoçar no domingo) e ele responde com um: "não sei nem se vou estar vivo até lá". Mas, se a gente parar pra pensar, ele é quem está certo de agir assim.

    Esse comentário não fez o menor sentido.

    Mas eu amo você mesmo assim. <3
    beijos

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  8. Só sei que o lado de lá, está ficando cada vez mais interessante.. Grandes pessoas, grande perdas =/

    Beijos

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  9. Não é nada fácil lidar com a morte. Eu mesma perdi pessoas importantes da minha vida, e sei que muita coisa ainda está por acontecer, afinal de contas a morte faz parte da vida. E concordo totalmente com Roberto Alvim, precisamos viver todos os dias para estarmos preparados quando chegar a hora. E viver bem, fazer aquilo que nos agrada. Eu pelo menos acredito nisso.

    Adorei seu blog!
    Beijos :)

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  10. Ai Ana...
    2014 tá desse jeito: parece que um fantasma nos ronda, levando um monte de gente interessante e necessária. A morte do Campos me chocou muito, pois pensei logo no filho que ele teve no início desse ano.
    Ontem assisti novamente "Sociedade dos Poetas Mortos", porque tem o Robin Williams como protagonista - outro maravilhoso que nos deixou. E acho que posso resumir o teu post em um dos maiores ensinamentos do filme: carpe iem, aproveite o dia.
    Afinal, do amanhã, nada sabemos.
    Beijos.

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  11. Este texto não poderia mexer mais comigo se eu tivesse lido outro dia.
    Ontem comentei que não gosto de ver repercussões de tragédias por que não consigo parar de pensar no assunto: em quem ficou, como foi, na nossa pequenez diante dessa força maior e que pode acontecer com qualquer um.
    Fico apavorada e só consigo pedir proteção, proteção, proteção, proteção.

    Vamos deixar muitas coisas pela metade e isso não deveria ser justo.:/

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  12. Nossa! Estou passando por uma crise existencial (me deixa!) e ando pensando muito na morte, ou coisas inesperadas. Hoje mesmo estava pensando em como seria a minha vida se eu perdesse um braço. É que tudo parece tão distante que ás vezes nos dá impressão que somos imunes, mas não somos. Isso assusta muito né? Você começar o post dizendo sobre os livros que não irá ler, eu admito que é uma coisa que penso muito. Assim, de modo geral.

    Bom, só sei que não quero morrer tão cedo. Vou até parar por aqui pq já estou ficando tristinha haha bjs

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  13. Depois que li o teu texto eu lembrei de uma frase famosa do Cazuza "morrer não dói..." fico pensado que a dor é mais de quem fica... fiquei pensado também "e se eu morrer?" (E se eu morrer vem outro em meu lugar, E se eu morrer vão me condecorar, E se eu morrer será que vão chorar? E se eu morrer será que vão lembrar?) com diz o refrão da musica “Numa cidade Muito longe daqui...”

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