terça-feira, 1 de maio de 2012

Colcha de retalhos

Sabe aquela pessoa que tem gostos super específicos e sempre acaba gostando de coisas que tenham a ver umas com as outras? Aquelas que têm sempre o mesmo humor, seguem sempre o mesmo estilo, usam sempre as mesmas palavras? Então, eu não sou assim. Meu sonho já foi ser uma pessoa assim, meio continua, feito um edredom. Mas acabei concluindo que minha sina, que hoje eu já acho deliciosa, é ser uma colorida colcha de retalhos.

Por exemplo, se você ligar o meu IPod despretensiosamente, vai encontrar de tudo. Tá. Funk e Heavy Metal você não vai encontrar. Mas de Avril Lavigne a Balão Mágico, passando por Cazuza e sertanejo universitário, ah, você vai. Desde uma Adele super fossa até um Black Eyed Peas ligado no 220V. Porque certamente eu terei momentos em que  precisarei ouvir cada um desses tipos, ué.

Na minha prateleira de livros, vish. Vai de Harry Potter a Vinícius de Moraes, com Meg Cabot no meio, uns dedos de Clarice Lispector e um cheirinho de contos de fadas. Vai ter Lolita e vai ter Alice no País das Maravilhas. Vai ter A Sangue Frio ao lado de Para uma menina com uma flor. E eu acho isso fantástico. Pra que diabos eu tenho que sair por aí me dizendo a CULT do pedaço, com um Dostoiévski em baixo do braço, enquanto escondo o Jogos Vorazes em baixo do travesseiro? De jeito nenhum. Esfrego qualquer um na cara da sociedade sem um pingo de vergonha. Até contos de fadas eu já levei pra faculdade.

Já quis ter um estilo de roupas pra chamar de meu também. Não funcionou. Tem dia que eu vou acordar inspirada e ir pra faculdade de bota, rímel, brinco grande e cachecol. No dia seguinte, vou querer me enfiar no moletom cinza, com a calça jeans mais confortável e um tênis.

Acho incrível pessoas que tem um perfume marcante. Sabe aquela que chega e você sabe que chegou? Quando eu estava no colegial, pegava carona com meu vizinho, e só de entrar no elevador eu sabia se ele já tinha descido pra garagem ou não. Decidi que ia escolher um perfume só pra chamar de meu. Falhei. Tenho uns 5 dentro do armário e cada dia gosto mais de um.

Quando eu ganhei a Elizabeth (minha câmera, para os não íntimos), eu fiquei toda supimpa e metida da besta, pensando que ia criar a minha identidade fotográfica. Até que talvez eu tenha criado minha identidade… preferindo não ter identidade nenhuma! Você provavelmente não vai olhar uma foto minha e saber, de cara, que é minha. Porque elas não seguem um padrão. Uso efeito Lomo em uma, anos 60 na outra, e ainda vai ter aquela lá em tons pastéis. Vou tirar foto de um livro em um dia, e foto de uma criança emburrada no dia seguinte. Foto desfocada e foto com foco. Foto escura e foto estourada. E eu adoro.

Faço amizades com as pessoas mais diferentes do mundo. Desde a quietinha que só usa roxo/rosa e mal fala em público até a que mal penteia o cabelo e grita dentro do shopping. A gente vive experiências tão diferentes e divertidas com cada uma delas!

Adoro porque eu acho que a gente acaba refletindo no que fazemos a fase que estamos vivendo, as vontades que vamos tendo, o estado de espírito do dia. Sou apaixonada pelo meu edredom inteiro lilás, mas quando se trata de mim, prefiro ser essa colcha de retalhos, com pedaços de rosa, azul, um vermelho escuro ali, e até um branco com bolinhas amarelas na ponta esquerda.

Ah, sim, sou sempre a mesma quando se trata de comida. Minha pizza vai ser sempre de calabresa. E meu sundae vai ter sempre uma bola de sorvete de creme, a outra, de morango. Meu au-au vai ser sempre um duplo especial sem salada e sem mostarda, só que com milho. O suco, vai ser sempre o de maracujá. E se eu for numa trattoria, sempre vou pedir um spaghetti ao molho branco. E nunca, nunca experimentarei jiló.

zzz

De Sapatilhas-cor-de-rosa a Florbela Espanca, prazer, Ana Luísa.

16 comentários:

  1. A CAMISETA REALMENTE FICOU PERFEITA!!!! (para o texto, claro. Não sou metida assim, rs)
    Adorei o texto porque eu me identifico horrores e acho que já deu pra notar, né? Tipo naquele texto que eu falei do batom azul lá, prova total que eu sou Mayra - diversidade - Resende. Porque, né! Colchas lilazes são bonitas para ficarem em nossas camas, não para serem nossas identidades!
    E quer saber? No meu celular tem funk e heavy metal também e estou lutando por uma estante de livros menos nerd, mas faz parte de mim preferir os livros nerds, sem preconceito com os outros, apenas questão de gosto mesmo!
    Enfim, adoro você justamente por não ser facilmente descritível, afinal, fiz uma camiseta inteira e não falei nem de metade!
    Abraços, minha flor!

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  2. Mas amiga, é isso que te faz única! É assim que faz você ter seu próprio estilo, jeito de ser! Aliás, o que seria da nossa vida se fossemos iguais aqueles 'pseudo-cults' que carregam juram que leem coisas 'fodas', mas a noite leem Crepúsculo?! Ué, eu leio Florbela, Crepúsculo, Caio Fernando e Agatha.
    Te amo por isso, muito!
    Beijos

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  3. Amiga, eu amo colchas de retalhos. Aliás, nesse momento estou morrendo de frio debaixo de um edredom com essa estampa. Que pra mim é a mais linda desse mundo inteiro! Gosto muito mais de pessoas assim, de diversidade, do "tudão", de ter amigo de todo jeito, ler livros sobre tudo quanto é coisa. Pode me chamar de pós-moderna e dizer que não me aprofundo nada, sabe? Eu gosto é de tudo aquilo que me faz bem, assim como você. É muito melhor ser colcha de retalhos. Somos mais felizes, mais completas, conversamos sobre tudo e experimentamos um pouquinho das melhores coisas.

    Beijo!

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  4. Eu me identifiquei! Totalmente. Também me acho colcha de retalhos (mas isso agora que você deu nome à questão HAHA) Acho super legal, super ryco ser assim e não mudaria nunca, ainda que vez ou outra apareça alguém pra resmungar/julgar/implicar!

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  5. Esse seu texto me lembrou muito a Graphic Novel Retalhos de Craig Thompson.

    Eu também sou assim sabe. Também já tentei ter um cheiro especifico, por que parece que todos ao meu redor tem um, e sempre me lembro. mas também não consegui. e estou tentando a cada dia me entender, mas nunca pensei que fosse tão complicada. que EU fosse tão complicada.

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  6. SUPPPPPPER! Pra quê forçar ter uma identidade se a sua identidade é ser colcha de retalhos? Isso é ótimo e lindo. Uma personalidade baseada em variedades, mais poético que isso impossível. Adorei adorei adorei.
    Beeijos, gata <3

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  7. Analu, você tá certíssima! Pessoas colcha-de-retalhos são muito mais divertidas que pessoas edredom!
    E é isso que amo em você :)

    beijo

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  8. Oi Ana, sua fofa e sumida! =]

    Que jeito bonito de se descrever. Na adolescência a gente busca mesmo criar uma marca, e vai ver que pros outros a gente até cria, mas depois isso passa a ser tão secundário... mas é claro, que há pessoas que acabam tendo marcas, querendo ou não.

    Lendo o texto todo, acho que também sou uma colcha de retalhos. Talvez só seja mais certinha no que diz respeito a perfume: tenho dois, um pra noite e um pro dia e só. E o da noite é o mesmo faz milênios! rs...

    beijoca

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  9. Fantástico o texto. Amei o modo como você o escreveu!

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  10. Isso mostra que sua personalidade é impar. Adorei o texto Aninha Luísa..

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  11. Amiga, mandou bem! Eu sou meio que assim também, tirando algumas coisas que nunca mudam. Tenho tantas amigas que são sempre as mesmas... tô longe disso. Vou de Beethoven até Taylor Swift, de Lolita até Jogos Vorazes e jamais sinto vergonha disso.
    Acho que esse é um dos motivos de que eu gostar tanto de você, haha. <3

    Beijo!

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  12. Analu, você tá super certa! É bem melhor ser "essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo". Eu gosto dos mais variados tipos de filmes e livros, e é bem preferível ser assim do que fechar a mente para novas coisas só por não serem de determinada maneira. =*

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  13. Ai meu Amor de AnaLu, por isso que eu te amo.
    Pessoas colchas de retalhos tem muito mais história, muito mais coisas pra contar, muito mais vida.
    Eu sou assim e olha só que engraçado, meu namorado é o oposto. É aquele do mesmo perfume, do mesmo tipo de música, etc. Mas sabe que não é ruim? Acho que nos equilibramos, por assim dizer. hahaha
    Beijão.

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  14. Adorei o modo como você se descreveu, ótimo texto.

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  15. HAHA, que texto divertido. Eu também sou meio assim, sabe, já tentei ser de tudo um pouco e acaba que eu sempre sou eu, essa que é de tudo um pouco. Tenho isso de um dia querer me vestir linda e no outro de tênis e moletom (hoje deve ser esse dia :P)

    Mas acho que é assim que se é, hoje em dia os estereótipos sociais mudaram, e a gente pode ser uma colcha de retalhos, uma salada de frutas! Gostar de tudo um pouco, fazer de tudo um pouco.

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  16. é que cada um tem seu charminho e seu jeito especial de ser....no caso você tem o jeitinho ana lu de ser né lorinhaaaa.... *__*

    saudadess...bjaoo

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