quarta-feira, 31 de julho de 2013

Sopre as velinhas, Harry

É que hoje é 31 de julho e eu lembrei do aniversário de 11 anos do Harry, quando ele olhou no relógio do Duda que tinha dado meia noite e soprou sozinho as velinhas que tinha desenhado de areia no chão. Meu coração se acalenta e se aperta ao saber de como tudo mudou daquele dia até agora. E de forma nenhuma isso mudou só pra ele. Mudou pra mim, e pra mais uma quantidade infinita de pessoas.

Eu tinha 8 anos quando Harry soprou aquela vela, e, sobretudo, não tinha a menor noção de como a existência dele faria a minha vida mais completa. Se existem mil motivos para eu viver uma nostalgia pré-nascimento e desejar ter nascido em outra época, Harry Potter é o que mais me faz agradecer ter nascido quando nasci. As pessoas de outras idades leram Harry Potter. As pessoas que nascem agora lerão também. Mas nenhuma geração vai ter a dádiva de VIVER Harry Potter como a minha geração viveu. Desde os meus 8 anos que eu fui obrigada a entender direitinho o que era ansiedade, e sobre como era difícil domá-la. Sempre tinha um livro ou filme pra esperar, e quando o último filme lançou eu chorei, supostamente “encerrando” uma fase da minha vida que nunca voltaria. Na verdade não tive que superar esse final, porque ele nunca aconteceu.

Harry Potter não se encerra. Harry Potter não é uma fase da sua vida. É uma parte da sua vida, marcada no peito e ponto final. Eu tenho 21 anos de vida, o que significam 15 de Harry Potter. E meu olho ainda não cansou de brilhar quando eu penso e falo sobre esse assunto. Não canso de viver as nostalgias de cada “primeira vez” com cada personagem, livro, ou filme. Não canso de olhar os livros na prateleira e fazer carinho nas suas capas. Não canso de pensar que isso tudo é muito real pra não existir. Existe sim, tá lá do outro lado da estação 9 ¾, e o que me resta mesmo é me conformar com meu azar de ter nascido trouxa com tanta paixão bruxa no peito.

Esses dias, vagando tardiamente no Pottermore, eu descobri o que meu coração desde sempre já sabia: Eu sou da Lufa-Lufa. E chorei lendo a carta de boas vindas à casa, que me disse que a Lufa-Lufa, além de ser a casa da lealdade, é a menor produtora de bruxos das trevas. Sempre soube que eu não tinha a bravura de um grifinório, mas sou consciente do meu coração leal e lufano. Chorei de novo quando meu amigo, também da Lufa-Lufa, abriu um sorriso enorme e me abraçou, e eu percebi que nosso abraço nunca antes foi tão verdadeiro e entregue. Harry Potter faz isso com as pessoas.

Harry Potter não é ficção, não é um livro, não é um filme, não é uma historinha. É uma parte intocável e intransferível da vida de muita gente. Uma parte que qualquer lembrança faz emocionar, arrancar sorrisos, provocar debates e até arrumar confusão. Eu já levantei da carteira na sala de aula da faculdade pra apontar o dedo na cara de uma menina que desdenhou de Harry Potter. Eu nunca levanto a voz em sala de aula, e naquele dia eu saí de lá querendo atacar a jugular da menina pra ela aprender que tem coisas que a gente não pensa, quanto mais verbaliza. Eu não sou obcecada pelas coisas que amo a ponto de desprezar e amargar minutos de ódio por quem fala mal do assunto. Gosto é gosto. Mas com Harry Potter é diferente. Harry Potter coloca no auge meu lado ferino. Fale de mim, ponha defeitos em mim, diga que eu sou tosca. Mas não faça isso com Harry Potter.

E nesse dia 31 de julho, mais do que mais uma declaração de amor, eu só queria dizer, de novo, obrigada. Na verdade, a JK Rowling, porque também é aniversário dela. E como outras milhões de pessoas pararam pra pensar em algum minuto desse dia e de todos os outros, preciso agradecer mais uma vez por ter feito a minha geração ser a mais sortuda de todas por poder viver Harry Potter. Obrigada por me ensinar muito mais sobre a vida e as pessoas do que qualquer livro didático. Muito obrigada por me ensinar a ser rebelde e ler Harry Potter escondido aos 10 anos quando minha mãe me mandava estudar. Obrigada por me ensinar que ler pode ser a melhor coisa do mundo. Por me ensinar que não é só porque as coisas acontecem na minha cabeça que elas não são reais. Obrigada por afirmar que não se deve ter pena dos mortos, e sim, dos vivos, sobretudo dos que vivem sem amor. E se alguém me pegar falando de Harry Potter aos 90 anos com os olhos cheios de água, e me perguntar: “Ainda falando disso?”, eu terei toda a honra, amor, e orgulho ao usar como referência um dos meus momentos favoritos e poder responder: “Always”.


9 comentários:

  1. Analu, eu já posso chorar? Você disse tudo que eu queria dizer, e sim "Always", independente da idade, lugar, planeta, sempre será "Always"!

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  2. Lindo texto! É ótimo ver alguém defender com tanta garra o que se gosta!
    Boa semana!

    jj-jovemjornalista.com

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  3. Que lindo, Analu! Tem gente que não consegue entender esse amor todo, e eu digo que só quem viveu sabe o que é. Não é só gostar de uma história, ou de um autor, é saber que o amor por essa coisa trouxe tanta coisa boa pra vida. Amigos que vieram a ser amigos por causa dos livros, experiências que não teriam sido vividas sem os filmes, a ansiedade, os ensinamentos! Ah, só que é potterhead sabe!! <3

    (não sei se o comentário já foi, internet aqui tá a maluca!)

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  4. To chorando aqui!!!!!!!

    Primeiro porque: LI COM SUA VOZ NA MINHA CABEÇA
    Segundo porque: Harry Potter!!!!!!
    Como manter a compostura??!?!??!!?/1?!?!!?!

    Te amo!

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  5. Que nostalgia ferrada. Tudo está me levando a ler Harry Potter inteiro de novo, e você tem um dedão de culpa nisso. Lembro que quando Mariana começou a ler livros mais sérios eu disse que queria dar pra ela um livro pro ano, para que ela vivesse essa experiência maravilhosa de esperar, ficar ansiosa, reler os livros, gastar o emocional com esse universo. Pena que não funcionou porque meus tios afoitos enfiaram todos os filmes nela e acho que ela já chegou a terminar a série de livros. Ela adora e é quase tão fanática quanto eu quando tinha a mesma idade, mas olha, privilégio igual ao nosso de ter vivido tudo isso, só lamento.

    Beijos <3

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  6. Que lindo, de verdade. Sinceramente falando, acho que nunca li texto mais bonito falando sobre Harry Potter. Deu até uma invejinha aqui por não ter sido essa criança, embora tenha assistido a todos os filmes. Mas parabéns por manter essa parte bonita dentro de ti e por falar tão bem e de uma forma tão bela sobre isso. De verdade. beijinho

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  7. Já disse outras vezes: Nunca li Harry Potter, mas esse blog aqui, da Dona Analu, me faz querer e querer a cada diz ler. É uma meta.
    Pena eu não ter lido e vivido na época certa. :/

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  8. Quase chorei lendo isso, e nem li Harry Potter ainda. Tenho que tomar vergonha na cara e encarar os livros da série.

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  9. Eu escreveria um comentário gigante e inspirador, mas to chorando tanto que nem dá pra ver as teclinhas do computador.

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