segunda-feira, 29 de abril de 2013

Todas as coisas são lidáveis

Minha amiga pegou meu “A Culpa é das Estrelas” emprestado, e me devolveu, brilhantemente, cheio de tags coloridas para indicar as páginas onde ela tinha deixado pequenos bilhetes com trechos que a fizeram parar de respirar.

Quando eu terminei de ler esse livro, eu não sabia o que fazer com tanto sentimento dentro do meu peito. Dei uma mordida na beirada do livro, e depois fiquei abraçada com ele em posição fetal pensando que minha vida jamais seria a mesma depois de Hazel Grace, Augustus Waters e tudo o mais que circunda suas existências. Tive certeza de que sentiria saudades desse livro para sempre, e amarguei o fato de que nunca mais poderia lê-lo novamente pela primeira vez.

Sinto saudades dele desde aquele momento, mesmo tendo-o em minha estante. E tive até medo de relê-lo e não sentir a mesma coisa. Heresia. Hoje quando abri o livro com as anotações da Éri, tive certeza de que já passa da hora de devorá-lo outra vez. Porque ele sempre vai fazer todo o sentido do mundo, e eu só vou conseguir abraçá-lo e dizer “OKAY”.

Mas na realidade eu não vim falar sobre isso. Eu vim falar sobre o que está no título. Porque uma das páginas que minha amiga tinha separado tinha justamente um trecho que fez meu coração parar por alguns instantes, tamanha sua sinceridade: “Eu fiquei pensando no verbo lidar e em todas as coisas não lidáveis com que se tem que lidar”.

E eu fechei o livro, abracei, e pensei de novo em como isso tudo aí é uma verdade dolorida. A gente passa por muita coisa nessa vida. A gente lida com muita coisa nessa vida. A gente assiste gente que a gente ama lidando com coisas com as quais a gente tem certeza de que não conseguiria lidar.

Que atire a primeira pedra quem nunca disse: “Fulano foi muito forte. Eu no lugar dele não aguentaria”. Eu já disse inúmeras vezes. E quer saber? Não acho de verdade que seja bem assim. Não é bem aquela história de que “Deus dá o frio conforme o cobertor”, mas acredito que seja algo que tenha mais ou menos a ver com isso. Na verdade acho que a gente aprende a aumentar o cobertor conforme o tamanho do frio que a gente sente.

O fato é que coisas, impreterivelmente, acontecem. E a gente não tem outra escolha senão lidar com elas. Eu tive que me mudar aos 7 anos de cidade. E tinha certeza de que aquilo era extremamente não-lidável. Quando eu pensava, aos 17, que estava muito feliz com minha vida em São Paulo e que jamais me mudaria de novo, meu pai chega em casa e diz que a gente vai se mudar. Agora sim, isso não era lidável. O mesmo raio não deveria cair duas vezes no mesmo lugar. Mas caiu, e eu fui obrigada a lidar com aquilo. Quando eu tinha meus 14 anos e via as pessoas desesperadas falando de vestibular eu pensava que não queria chegar naquela idade, porque eu não conseguiria lidar com aquilo. Lidei.

O fato é que, infelizmente ou não, todas as coisas são lidáveis. E não porque sejamos exatamente fortes ou estejamos preparados para elas, mas simplesmente porque a gente precisa lidar com elas. A gente tem que engolí-las guela abaixo e arrumar forças, às vezes de um lugar que nem sabíamos que existia.

Para finalizar, vou ser obrigada a parafrasear John Green em Hazel Grace de novo, pra dizer que isso tudo é apenas um efeito colateral de se estar vivendo, e que tudo é, na verdade, um efeito colateral de se estar vivendo.

factory

Unfortunately

13 comentários:

  1. Você basicamente escreveu este texto pra mim. Estou naquele momento da vida em que tudo que aparece parece simplesmente não lidável e não consigo me imaginar a anos luz rindo de tudo que passei e pensando em "como fui forte", acho que sempre vai doer. Acho que a vida tem muitos efeitos colaterais dolorosos e acho que vou reler os três livros do John Green nas próximas férias, um após o outro, só pra sentir uma catarse tripla dessa coisa que a gente chama de "vida" e que você, brilhantemente, mostra exatamente como é.
    Abraços <3

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  2. o amor/meu amor, é completamente vago pra dizer oq exatamente estou amando, mas é totalmente lidável quando se trata de adequa-lo ao que quer que seja em relaçao a esse livro, às suas palavras, a tudo q envolve essa aura linda desse OKAY. obrigada, eternamente, Éri

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  3. Olha, amiga, eu poderia tatuar esse post, já passei da fase de simplesmente imprimir e sair por aí entregando pra estranhos na rua.
    Eu ando meio quieta esses dias, acho que você notou isso, bem como as meninas. Ando meio que trocando ideias comigo mesma, e muitas delas giram em torno do tema desse post. Você tipo transformou meu vômito de motivos em arte.
    Nunca, nunca mesmo, havia parado pra pensar sobre essa citação. Inclusive, depois me avise a página, porque faço questão de marcá-la. Ela é uma daquelas que doem aquela dor que precisa ser sentida, entende? Terminei de ler esse post às lágrimas, e nem sei muito o que dizer. Mas foram lágrimas de alegria, de verdade. Muito obrigada por esse post. Muito obrigada por ser minha amiga e por ter estado comigo enquanto eu sucumbia nas últimas coisas aparentemente não-lidáveis com as quais eu tive que lidar. Sim, todas as coisas são lidáveis quando se está vivo, principalmente quando se está vivo e cercado de amor. Ainda bem que a gente tem isso, né?

    Eu amo muito você!

    Beijos!

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  4. Acabei de te perguntar no face de qual livro era essa frase maravilhosa, mas conhecendo você como eu conheço ela teria rendido post e qual não é a minha surpresa quando chego aqui e me deparo com esse post incrível?

    E é tão isso. Acho que a gente amadurece um pouquinho mais cada vez que aprende a lidar com coisas não lidáveis. Eu me sinto uma gigante perto da Flávia do início do ano que não vivia sem o tal amor e blábláblá. Eu não conseguia imaginar meu mundo sem meu avô e aqui vou eu.

    Você é linda e esse post é primoroso - to indo buscar o livro pra procurar essa frase e grifar.

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  5. O ser humano é o ser mais adaptável que existe!

    jj-jovemjornalista.com

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  6. Ai, fiquei sem palavras! Que amor de texto. <333
    Depois que entrei na faculdade, passei a achar que aquilo tudo era uma coisa super não lidável, mas acabei aprendendo a lição valiosa. Também marquei esse trecho do ACEDE e também fiquei com receio de relê-lo e não marcar tanto de novo, mas é besteira. Quando eu conseguir cumprir minha meta literária, o lerei de novo. :)

    Beijo :)

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  7. Acho que esse é um dos melhores textos que já li nesse blog, Analu e um dos mais lindos também.

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  8. Amiga, eu achava que não ia sobreviver ao TCC e sempre tenho certeza que não vou sobreviver a mais nenhum dia de jornal diário, mas Deus me cobre e eu me encolho debaixo do coberto, costuro alguns retalhos nele e vou seguindo.

    Lidar com o não lidável faz parte da vida.


    Amei o texto e amo você!

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  9. Fato é que não concebo um mundo aonde as pessoas não apreciem a delicadeza das obras de John Green. O cara é muito bom no que se propõe a fazer, e “A Culpa é das Estrelas” é um dos livros mais amor que li nessa vida. E são tantas as frases, os socos e os choques de realidade que esse é um dos meus livros favoritos.

    E posso dizer que as coisas são lidáveis sim, por mais que a uma primeira vista a gente ache que não são. Minha avó morreu a pouco e lembro de ficar pensando "e agora, e agora? não dá pra continuar" mas, bem, aqui estou. Recolhendo os pedaços dia após dia, mas, ainda assim, prosseguindo.

    A verdade é que somos mais fortes do que pensamos. E a vida está aí, diariamente, para nos colocar à prova.

    (e quer dizer que somos colegas de ônibus? HAHA, adorei!)

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  10. Penso muito nisso, amiga. A gente costuma falar que não vai conseguir conviver com determinada situação, mas qual é a alternativa? A gente transforma a coisa em algo lidável, dentro da medida do possível. Muita coisa injusta acontece, muita coisa difícil e nada lidável. Mas o que podemos fazer a não ser aprender a contornar isso tudo e continuar procurando o melhor lado da vida? (porque o lado bom eu detestei)

    Ei, releia logo que esse livro é infinito. Você consegue as mesmas emoções várias vezes.
    Te amo!

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  11. Eu sempre fui dramática, sempre achei que tudo ia dar errado. Ainda acho, aliás. Mas acontece que o ser humano foi feito para se acostumar com as coisas, para lidar com os problemas por pior que eles sejam e por pior que sejam nossos pensamentos sobre eles. A gente simplesmente lida. Sempre pensei isso. E adorei me identificar com teu texto meu amor de Analu. <3

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  12. AMIGA, VOLTEI! hahaha vim te mimar, olhe só, milagres acontecem <3
    E vá se catar com esse post, minha filha. Você tem noção do tiro no peito que ele representa pra mim, hoje? Basta olhar pro estado melancólico-não-vou-sobreviver-a-essa-vida em que eu me encontro pra entender que tudo o que eu preciso hoje é acreditar que a gente aprende a lidar com as coisas mais não lidáveis do mundo. E que a gente sobrevive e ainda pensa no final: nem era tudo isso.
    Vou ali chorar no canot depois de tudo isso. Sério.
    Te amo <3

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  13. Amiga, li seu post às 5h da manhã de ontem, num ataque de insônia, encolhidinha na cama com o celular embaixo do lençol. Li e reli e até desliguei a tela pra respirar e pensar nele, te amando ainda mais por toda a sensibilidade que sempre jorra dos seus textos e que sempre me deixam tão orgulhosa e feliz por ser sua amiga!

    Eu não lembrava dessa frase do livro, acho que no original ela tá um pouco diferente, mas já tõ levando pra vida. Sempre que acho que não consigo lidar com alguma coisa, olho pras pessoas e vejo elas lidando com as coisas dela e percebo que também sou capaz de lidar com as minhas. Como diria o pai do Drew em Elizabethtown, se não fosse isso seria outra coisa, então a gente vai levando.

    Não se fez sentido mas aff, amei muito esse post!
    beijo <3

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