Esse título é só pra comprovar que esse texto todo vai ser só mais uma fraude. Porque não dá pra começar uma tentativa de não-lirismo e não-poesia usando da mesma. Pra começo de conversa, o título não é meu. É de uma peça que eu nunca assisti, mas que sempre me chamou atenção por ter o nome que tem, embora eu não fizesse ideia do porquê. E talvez ainda não faça.
Eu leio demais. Desde pequena. Não assisto tantos filmes, mas ouço músicas o dia inteiro, e das parcas séries que vejo, guardo muita coisa. Tenho um caderninho que, outrora branco, hoje é repleto de trechos que me marcam. Não precisa nem ser trecho, afinal. Minha irmã vive me zoando por ter achado ali escrito “É flor de maracujá”. Mas foi porque me tocou. Maracujá é meu suco preferido. E eu acho que ficaria feliz se alguém me chamasse assim, sem querer. De flor de Maracujá, eu digo.
Anoto as coisas nesse caderno alternando canetas vermelhas e pretas. Acho que é uma tentativa de tornar intenso em algum canto na minha vida algo que na verdade eu só li ou ouvi por aí. John Green diz que gênios fazem, e prodígios aprendem o que os gênios fazem. Utilizando como uma metáfora, eu sou um tico de cada coisa. Mas o problema é que tudo fica no mesmo campo: O da literatura.
Eu escrevo coisas, quando consigo. E quando não, cito trechos. E assim meu mural do facebook é alimentado: Com coisas bonitas que os outros escrevem. Claro, sempre com os créditos. Mas porque eu leio, ouço, e não consigo calar. Não consigo calar o que a dor ou a alegria dos outros causa no meu peito. Não consigo calar uma música que corta a minha alma em mil pedaços, não consigo calar o amor que alguma outra pessoa sentiu, uma vez, num livro ou num sonho.
Dia desses eu descobri que eu sou poeta e não aprendi a amar. E é duro. Minhas vivências, em sua sua maioria, são páginas de livros. As histórias de amor, quase 100% delas totalmente literárias. Eu já quis engolir histórias pra que elas acontecessem dentro de mim, e eu já quis criar as minhas próprias, e talvez seja por isso que elas demoram a acontecer.
Eu passo muito tempo criando diálogos e tornando líricas as frases que ainda não cheguei a dizer. Já ensaiei, confesso, sozinha no quarto, votos que faria no meu casamento, para alguém que ainda nem conheci. Eu tento transformar minha vida na poesia que ela não é. Antes fosse, e assim eu daria um jeito de disseminar as vírgulas, os suspiros e o ponto final conforme a minha querência.
É necessária muita iluminação pra perceber que viver de verdade não é perguntar “Posso colocar meu coração aos seus pés”, porque na vida real, a gente tropeça nas pernas da pessoa e derruba o coração, que se estilhaça, antes mesmo de se ter a chance de perguntar (a si mesmo) se queria depositá-lo ali. Quem consegue pensar na pergunta não são os humanos, são os poetas. Sou eu.
Eu penso na pergunta. Eu sei que a saudade é a saudade, e eu entendo a maioria das lágrimas que eu deixo cair. E me contaram, talvez tardiamente, talvez na hora certa, que na hora da nossa situação limite, a gente não consegue significar nada do que acontece, nem ao menos saber com qual sentimento se está lidando.
Quem sabe a vida não é sonhar. Quem sabe a vida não é tornar lírico. Porque não adianta tentar driblar as palavras e tomar cuidado com os pontos finais sendo que sei que são as vírgulas fora de hora que fazem os sentidos das coisas serem relevantes.
Porque que isso tudo é uma fraude? Porque eu estou aqui tentando confabular e poetizar com palavras escolhidas e pontuadas minha percepção tardia e vazia de que eu cheguei até aqui só pra descobrir que muito citei e quase nada vivi. E pra ser ainda mais ré confessa do lirismo que eu tento atingir inutilmente, tornando a vida vaga e o texto também, vou terminar com outra citação, pra ver se eu mesma me acordo.
Bobeira é não viver a realidade. E eu ainda tenho a tarde inteira.
Amiga, acho que isso tem muito a ver com o modo como nós amamos (e odiamos) as palavras. Somos todas parecidas com Liesel. Somos as meninas que roubam livros, colocam uma aliança no dedo por causa de alguns trechos que fazem o coração bater mais forte e mordem edições bonitas.
ResponderExcluirMas eu prefiro ser assim. Se eu não fosse desse jeito talvez não teria conhecido outras Liesels pelo mundo.
"Eu já quis engolir histórias pra que elas acontecessem dentro de mim".
Você é foda. Te amo demais.
P.S: Tu PRECISA ler Os Famosos e os Duendes da Morte. Tô falando muito sério.
Vou tatuar na vida o primeiro parágrafo deste comentário.
ExcluirMeu amor de Analu, eu acho simplesmente fantástico o teu jeito de poetizar tudo. É lindo. Que graça teria a vida? Sério mesmo que tu quer "acordar" e parar de ser assim, ou que acha que tá errado? Não tá, amiga. A pessoa que não fantasia é vazia.
ResponderExcluirEspero que tu seja assim pra sempre.
Te amo.
Ana, achei engraçado que ontem a gente postou textos na mesma hora e falando sobre as mesmas coisas, basicamente. Sério, tô chocada com a coincidência. Haha.
ResponderExcluirEu acho bonito o jeito que você poetiza seus textos e acho isso uma dádiva de Deus. Sem brincadeira.
Ter esse insight de que a vida não é como num livro e que não adianta ensaiá-la, partiu meu coração em mil pedacinhos, não vou mentir, mas acho que isso é bom. Porque traz a gente a tempo de viver a nossa realidade.
Só uma coisa: não deixe de poetizar seus textos, isso faz parte de você. Isso torna você diferente de um monte blogs que leio. :)
Beijo :D
Amiga,
ResponderExcluirNão entendo o motivo pelo qual você deixou esse texto na gaveta por tanto tempo.
"Dia desses eu descobri que eu sou poeta e não aprendi a amar. E é duro. Minhas vivências, em sua sua maioria, são páginas de livros. As histórias de amor, quase 100% delas totalmente literárias. Eu já quis engolir histórias pra que elas acontecessem dentro de mim, e eu já quis criar as minhas próprias, e talvez seja por isso que elas demoram a acontecer."
Esse parágrafo resume. Pode ser uma porcaria essa vida de muito lirismo, porque a gente sempre espera demais, viaja demais. Mas, sei lá, talvez algum dia a coisa toda faça algum sentido. No dia em que nossos Mr. Darcy aparecerem, talvez. Calma que eles estão vindo! hahahah
Te amo, sua gênia!
Beijo <3
"Minhas vivências, em sua sua maioria, são páginas de livros." Lindo, Analu. Eu tenho a impressão que as minhas também são. É que tudo parece muito mais interessante nas páginas. E a maioria das coisas que estão lá não acontecem na "vida real" todo dia. Se eu pudesse, me mudava pra lá; qualquer um dos 'lás'.
ResponderExcluirNão se preocupa demais em viver, meu amor. Você está fazendo isso desde que nasceu, mesmo que não perceba. E a sua história pode ser muito mais interessante do que parece aos seus olhos. Já pensou que os personagens podem ter esses mesmos pensamentos?
Você é uma personagem linda, Nalu!
Beijos.
As expectativas, o planejar e o esperar que tudo saia conforme o roteiro que criamos diariamente. Quem nunca? E acho difícil deixarmos de lado esse nosso lado (aqui declaro minha culpa também), mas acho que minimizar as dores e dúvidas é o ponto. Até porque se deixássemos de ser assim, seríamos outra pessoa e não o que somos.
ResponderExcluirÓtimo, ótimo texto.
Lindo, lindo.
ResponderExcluirCada vez mais sou sua fã.
Bjs
adorei a serio esta linda mesmo :o comecei agora a ler o blog e ja sou fã *-*
ResponderExcluircomcei o meu blog a pouco tempo se quiserem passar por la http://eu-gosto-de-unicornios.blogspot.pt/ ficava muito agradecida
Cara, eu li e reli esse texto tantas vezes que ainda não consegui pensar no que vou comentar aqui.
ResponderExcluirTe amo, Flor de Maracujá.
Amiga, esse post doeu demais em mim. Já senti isso tanto, e tantas vezes tentei escrever a respeito, mas sempre em vão. Você tirou as palavras da minha angústia, mais uma das tantas dores da vida que a gente divide - o que me faz ser meio grata a elas, de um jeito bem bizarro.
ResponderExcluirPra você ver como eu amo você!
<3
Quase chorei. Sério.
ResponderExcluirÉ exatamente o que estou vivendo, e tenho certeza que viverei uns anos mais. As vezes me pego imaginando se eu não virarei uma daquelas velhas que vivem sozinhas, sem ninguém pra estar ao lado, pra compartilhar o chá o ver fotografias antigas.
Tô esperando surgir mais alguma parte do corpo que possa arrepiar e se identificar e morrer de medo e depois de esperança. Porque, Analu, nós somos assim mesmo. Passei metade da vida achando que "Eu sou o poeta e não aprendi a amar" era uma frase dolorosa e pra mim, até que alguém veio e me disse a mesma coisa. Ouvir isso da boca de outra pessoa é ainda pior.
ResponderExcluirMas qual o motivo de não ser assim? Por que você ia querer ser diferente? A vida é inegável, é impossível fugir dela e a partir do momento em que somos jogados nesse mundo louco estamos sujeitos à todas as emoções do mundo. Talvez seja difícil conviver com o fato de tantas histórias morarem na nossa cabela e serem incompatíveis com a nossa realidade, mas olha, I wouldn't wanna be anybody else. E isso foi você que me ensinou. Não trocaria minhas horas de literatura por mais horas de amor porque sem a literatura eu amaria mal e errado. A gente não aprende a viver nossa própria história, ela já está acontecendo e o mais provável é que só percebamos isso daqui a muito tempo.
Esse texto arrancou pedaços de mim. Mas é um privilégio ter meu coração partido por você. E eu não queria ser alguém que não pudesse parafrasear isso.
Beijo! <3