terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O que eu vou contar para os netos?

Vou contar que quando eu era pequena, internet era um artigo de luxo. Eu tinha 8 anos e entrava no site da Mônica pra jogar quando viajava pra casa do meu tio, que tinha banda larga. Eu nem sabia o que era banda larga, mas eu sabia que havia algo de especial na casa dele, que fazia a gente poder usar o site da Mônica por mais tempo. Tempos depois, meus pais colocaram banda larga na minha casa e eu montava dolls all over the day. A internet era uma coisa muito divertida e interessante.

Vou contar pra eles que um dia, sem nada pra fazer, eu resolvi criar um blog. Eu sei, completamente absurdo. Com que fundamento alguém iria querer criar uma espécie de diário aberto, no meio da internet, e falar um monte de besteiras enquanto o mundo inteiro poderia ler? Pois é, mas eu quis. Então eu criei o blog e comecei a escrever.

Posso contar pra eles, me entusiasmando um pouco mais com o rumo das coisas, que haviam mais pessoas que tinham blogs, que a vovó não era a única maluca em uma terra de gente sã. Assim como a vovó, havia vários! E um acabava chegando até o outro, fosse por qual motivo fosse. Nesse momento, posso usar uma daquelas frases clichê, que diz que as pessoas entram na nossa vida por acaso, mas não é por acaso que permanecem. Mas desistirei de usar a frase, porque não acho que as pessoas entram em nossa vida por acaso não. Tudo tem propósito.

Sorrindo ainda mais, contarei que um dia cliquei despretensiosamente em um link que surgiu na minha frente. O nome do link era SO CONTAGIOUS, e eu sambei na cara do perigo, achando que aquilo não iria me contagiar. E então apareceu um fundo bege, com bolinhas nude-querendo-ser-cor-de-rosa, e uma Audrey Hepburn de ponta cabeça. Nunca mais eu passei um dia sem entrar naquele blog.

“Por que, vovó?”, eles perguntarão, assombrados. E eu direi que ele era de uma menina de 13 anos que escrevia muito bem. Eu virei fã dela. Lia tudo, sem parar. Comentava todos os posts. O blog dela deveria ser contagiante, mas o viral era eu. Ou melhor, a stalker. Eles me perguntarão o que é “Stalker”, e eu vou rir na hora de explicar. Eles então rirão da minha cara. E eu contarei que quando a vovó cisma com alguém, é porque cisma. E eu cismei que aquela menina era um tipo de gente muito bacana, e então, eu virei fã.

Eu vou contar para os meus netos que fui fã e apenas fã por muito tempo. Elogiando, lendo os textos dela para outras pessoas, sonhando em um dia ser igual à menina que, com menos de 14 anos, dizia que seu livro preferido era Memórias Póstumas de Brás Cubas, enquanto eu, aos 16, me enrolava com Dom Casmurro sem obter sucesso e acabava voltando pros diários da princesa.

Ainda dando risada, vou contar que de repente, sem mais nem menos, em algum desses dias triviais, a menina resolveu comentar no meu blog também. Continuando num fluxo do qual eu não consigo lembrar direito, um dia nós tínhamos nos adicionado no MSN (e então eu farei uma pausa dramática pra explicar como eram esses tempos de MSN), e estávamos conversando trivialidades. Conversando trivialidades! Eu e a geniazinha do So Contagious.

Depois disso, as coisas se encaminharam de forma tão rápida e natural que é difícil de explicar até para meus netos aguçados de curiosidade infantil. De fã, virei amiga. De amiga, confidente. E quantas vezes não varamos a madrugada rindo juntas de besteiras, e quantas vezes não passamos noites falando de literatura, e quantas vezes não choramos juntas ao longo da tarde por descobrirmos mágoas em comum. E quantas vezes não fomos amigas, no sentido mais exato, bonito e simples que essa palavra pode ter.

Contarei, sorrindo, para os meus netos, que a menina do So Contagious é muito mais que a menina do So Contagious. Ela é a Anna Vitória. Ela lia Brás Cubas na pré-adolescência, mas nunca se negou a ler Meg Cabot no meio de sua fase adulta. Ela fazia jornalismo de graça, porque qualquer um em sã consciência lhe daria o diploma sem que ela precisasse de aulas. Ela escrevia as melhores resenhas de todo o mundo, e ainda as escreve. Ela tinha um cachorrinho gênio, chamado Chico, o poodle, que era tão fofo quando um punhado de algodão doce, daqueles bem açucarados. Ela é mineira, e fala trem bão, e ela tem uma voz de neném, que, pronunciando coisas maduras tais quais as que ela pronuncia, torna a conversa extremamente engraçada, se você parar pra analisar.

Contarei que no dia que ela fez 19 anos, eu sentei pra escrever algo que conseguisse expressar o quanto eu amava essa minha amiga, e o quanto eu desejava que essa menina fosse feliz e realizasse todos os seus sonhos. Digo mais: contarei a eles que, no fundo do meu coração, eu tinha certeza de que sim, ela os realizaria. Porque, acima de tudo, merecia tê-los realizados. E eu tinha que fazer esse texto me baseando em pães de queijo, porque foi o tema “Anna-vitoresco” que me foi designado nesse #PôneiDay, mas eu absolutamente não consegui, e resolvi falar de Internet mesmo, porque sou rebelde.

Por fim, eu direi para os meus netos que coincidências não existem, e que, sendo a vida a arte do encontro, quem tem que se encontrar, um dia, se abraça. Direi que, no fim das contas, quase não existem desconhecidos no mundo. E sim, amigos esperando que nós o descubramos por aí, entre as esquinas da vida, ou as htmls.

Eu direi que amizades podem sim, durar pra sempre, e eles então ligarão o nome à pessoa e dirão: “Ei, Anna Vitória é a tia Bavis, que é casada com aquele tio legal de óculos? Ela é a mãe do tio Davi e da tia Helena?” E eu direi, exultante: “Mas é claro que é! Quem mais nesse mundo seria capaz de se viciar em Chico Buarque e One Direction ao mesmo tempo? Anna Vitória, meus queridos, nesse mundo, só tem uma! E eu tive a sorte de achar e ter como amiga. E vocês achando que a avó de vocês era fraca...”

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Feliz aniversário, pequeno Pônei.
Da sua amiga orgulhosa e eterna fã, Babalu de Banana.

9 comentários:

  1. Assinar como Babalu de Banana é uma prova de amor tão grande, cara. Estou deveras emocionada. Espero que Anna Vitória valorize esse desprendimento em nome de uma amizade. Ah, essa foto me doeu um pouquinho. Que saudade. Sinto falta de vocês todo o santo dia. Queria tanto estar lá em Berlândia hoje. Mas enfim.

    Nossos netos vão ouvir tudo sobre a nossa amizade, com certeza. Viva o #poneday Annoca, te amo demais! Feliz aniversário, minha flor mineirinha.

    <3

    P.S: Naluísa, nem vou comentar sua cara-de-madeira de fugir da pauta HAHAHAHAHA Creiça

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  2. HAHAHAHAHAHAHAHA Ah, que texto mais fofo! Confesso que me senti meio fora da casinha, porque você conhece a Anna há 6 anos e eu sou uma nobody neste mundo, mas tudo bem. Ainda amo vocês e acho que a vida é a arte do encontro, de modo que me sinto muito feliz por ter encontrado vocês em algum momento por aí.
    Consegui imaginar na cabeça a Annoca com marido dos óculos super legais sentadinhos naquelas cadeiras de velhinho, que ficam balançando na varanda, enquanto eles ouvem Chico Buarque e comentam sobre clássicos da literatura. Awn!

    Parabéns, Anna! Toda felicidade do mundo, que você merece, ainda seria pouco. Nós te amamos! <333

    Beijos

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  3. CADÊ MEU LENÇO, PRODUÇÃO? Ai, que lindas! Vocês são as duas tias loiras divas que meus filhos terão. Aliás, tias o escambau, madrinhas loiras.
    A vida é a arte do encontro, deveras. E assim como nosso encontro é incrível, você e Anna tavam escritas nas estrelas com toda a creicice que isso envolve.
    Amo vocês! Amo Bavis! HAPPY #PONEIDAY! <333333333
    Amo esses aniversários também. Vou passar o dia jogando amor pra ela. E deixo aqui reservado o lugar do pão de queijo:
    Beijo! <3

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  4. Analu, menina, que texto!
    Ficou muito bonito e achei válido fugir assim do tema #soyrebelde.

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  5. Chorei. Sem mais. Nem tenho o que comentar porque ela sabe o suficiente dos meus sentimentos bichescos. HAHAH

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  6. Ai meu Deus, tô tremendo!
    Eu já ia começar esse comentário te dando uma bronca, porque eu vi o trecho que você colou lá no Facebook e eu pensei que você ia contar sobre mim pros seus netos como se eu fosse passado. Ia dizer que isso era um absurdo, já que eu vou ser responsável por ensinar a eles que você não é Vovó Analu, mas sim Vovó Banana <3 E depois vou contar que você punha foto só de sutiã no Facebook. Serei a tia gagá troll dos seus netos.

    Mas aí esse final me derreteu todinha, assim como o texto. Nem tenho palavras, amiga, pra dizer como eu fico feliz por estar nesse post hoje e como eu sou grata a Deus e ao universo por ter feito a gente se encontrar e poder ter uma história linda - que tá só começando - pra contar pros outros. Pros netos, pra internet e pra quem não acredita nessa coisa de virtual.

    Obrigada por tudo, pelas palavras lindas - de hoje e de todos os dias -, as madrugadas infames, as dores compartilhadas e por você existir, que é o mais importante.

    Te amo muito muito muito!

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  7. Ah, gente, que texto mais fofo! Ficou tão lindo que nem sei direito o que comentar. Só posso dizer que amizade assim é coisa linda de se ver e que a gente só pode ficar querendo ter uma também. *-*


    Beijo!

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  8. Ai gente, eu chorei demais com esse texto, Analu.
    Desde o começo eu fui montando um cenário na minha cabeça de todas nós em um sítio enorme, com um monte de guri correndo de um lado pro outro e você sentadinha num canto, numa cadeira de balanço, cochichando alguma coisas pros seus netos. Quero demais que esse texto de realize. Aliás, eu sei que vai.
    Amo demais da conta vocês duas, cruz credo.

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  9. Lindo post! digno de uma amizade sincera e verdadeira. E o mundo dá voltas né?!? literalmente!!! E nessas voltas lhe trouxe gratas surpresas...


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