domingo, 28 de julho de 2013

Dos comércios de bairro

São sempre nos dias de agenda totalmente lotada que acontecem os detalhes mais inusitados da semana. Nessa sexta-feira, por exemplo, na falta de uma reunião, eu tinha duas. Além disso, é o dia de mandar o informativo da escola, e por uma anedota do destino, eu, que sempre começo a editá-lo na quarta-feira, não tinha nem tocado no mesmo. Adicione a isso o fato de que eu precisava revelar 30 fotos para colocar no mural dando as boas vindas aos alunos e que era impossível ir até a gráfica de sempre porque o meu amigo esqueceu de ir trabalhar de carro.

Levantei da minha cadeira munida apenas de pen drive e carteira, agradeci aos deuses por estar fazendo um pouco de sol, apertei ainda mais o casaco com forro peludo e fui desbravar os contornos da escola em busca da papelaria que imprimisse minhas 30 fotos em folha sulfite em uma qualidade razoavelmente animadora e sem cobrar um dos meus rins.

Na primeira papelaria que fui, a impressora de tinta colorida estava “levemente estragada”, e o teste da impressão resultou e uma foto onde as pessoas tinham os rostos levemente esverdeados e tinham suas roupas cortadas por linhas amarelas. Melhor não. Resolvi cruzar os dedos e ir até a outra papelaria que conhecia, quase que na certeza da decepção. Lá não devem caber 5 clientes em pé, é óbvio que eles não imprimem nada. Mas fui. E quase sentei de alegria quando o mocinho me falou que imprimiam sim, e que custava R$1,50. Falei que eram 30 impressões, e ele me disse: “Sério? É que… vai demorar. Tipo, 1 minuto pra cada uma”. “Tudo bem, eu espero”, disse eu. Só que esse 1 minuto virou 2 e eu passei mais de 1h dentro da papelariazinha olhando a impressora caseira deles cuspir as minhas fotos. Que saíram numa qualidade linda, by the way.

Enquanto eu ficava ali, parada de pé, com a mão em cima do balcão, fiquei reparando no ar gostoso que tinha a tal da papelaria. Pequenininha, no meio da muvuca, na frente de um posto de gasolina e perto de uma lojinha de quinquilharias. 3 atendentes, que se revezavam nos atendimentos, e eu passei tanto tempo ali que os 3 me atendiam ao mesmo tempo. “Quer um café?” disse o mais velho, que tinha até um jeitinho de dono. Eu ri e disse que não precisava. “Um chocolate quente? Uma volta no shopping?” eu continuei rindo e dizendo que não. “Uma cadeira? Moça, é sério, você vai cansar”, ele disse. Enquanto isso a impressora respirava fundo para imprimir, sei lá, a minha foto número 4. “Tudo bem, só essa e mais 26, pensava eu”. E fiquei ali, analisando o cenário pitoresco que me cercava.

Aquela papelariazinha, no fim das contas, tem tudo. Até fita métrica e aparelho de fax. E eu não fui a única que me aliviei sorrindo quando consegui o que queria. A mocinha que foi procurar a fita crepe quase deu pulos de alegria, e o moço que tinha ido passar um fax quase estourou uma champagne. “Nós passamos sim, mas sabe, ninguém mais usa fax hoje em dia!”, disse o atendente, meio que jogando na cara do cliente, de um jeito simpático, que ele era um ultrapassado.

Enquanto minhas fotos saíam, comprei flags coloridas para marcar meus livros. Papeei no whatsapp com as minhas amigas, enquanto um senhorzinho que estava do meu lado pedindo xerox colocou a mão no meu ombro e disse: “meu Deus, menina, como você digita rápido nesse celular!” e depois ainda reafirmou para o atendente “olha quanta habilidade ela tem no teclado dessa coisa!”. Sorriu pra mim e perguntou se era um samsung. Eu disse que não, e ele perguntou se era um tablet. Eu disse que meu celular era grande mesmo, mas que não era um tablet. Ele perguntou se o que eu estava mandando eram torpedos, e eu disse que sim, porque não quis explicar o que era whatsapp. Mas morri de vontade de dar um abraço de “Feliz dia dos avós” nele.

Ele foi embora e eu continuei. Vi clientes de sempre zoarem pedindo as contas. Vi o atendente que tem cara de dono chamar as senhoras de meninas, que ficavam sorridentes. Enquanto isso ele contava em voz alta as minhas fotos e me perguntava de novo se eu não queria mesmo sentar.

Já eram 10 pras 4 quando consegui sair de lá, pensando que tinha meia hora para editar e enviar o informativo, pregar as fotos no mural, e ir para a primeira reunião. Saí correndo, mas saí feliz, porque tinha sol e porque me diverti na 1h30 que passei dentro da papelaria. Meu amigo colou as fotos no mural pra mim, fiz o informativo rapidinho e resolvi enviá-lo depois, entre uma reunião e outra. As reuniões foram rápida, o informativo foi enviado, e deu tudo certo. Sábado os alunos adoraram ver as fotos no mural. Eu olhava pra elas, lembrava da impressora demorando 2 minutos em cada uma, e ria sozinha pensando em como são incríveis esses pontos de comércio de bairro. Conhecer cliente pelo nome, vender fita métrica e mandar fax nos dias de hoje realmente não é pra qualquer estabelecimento.

8 comentários:

  1. Ai, Analu..eu amo quando no nosso dia a dia a gente acaba encontrando pessoas queridas e simples e que fazem do teu dia melhor. Só pelo teu relato eu já peguei uma simpatia enorme pelo suposto dono do estabelecimento. :)
    Se Analu eu fosse, passaria lá todos os dias só para dar um alô e ganhar uma nova amizade. Amizades assim valem a pena. :)
    Beijo.
    Te amo! <3

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  2. Com toda certeza o que a Gabriela disse... Deu um ar de que coisas assim deixam o coração mais feliz, cheio de esperanças e que coisas pequenas, simples dá pra melhorar e MUITO o nossos dias, basta a gente observar - como a Analu fez ao observar o faz, fita métrica e etc.
    Deu uma simpatia enorme!
    Beijinhos.

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  3. Ei Ana Luisa,

    Acabei lembrando da minha cidade com o teu post. Cidadezinha do interior que você conhece e sabe o nome de todo mundo.

    Você costuma fazer review dos livros que le? O que achou de morte súbita, recomenda?

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  4. Você conseguiu tirar um proveito imenso dessas 1h30min só em observar as pessoas, mas se fosse comigo, certamente ficaria estressadinha com a espera HAHAHA.

    O dono do estabelecimento aparenta ser muito legal e parece que o ambiente é bem tranquilo e singular, pela sua descrição. Achei fofo!

    E ainda bem que deu tempo de você fazer tudo. Que agenda lotada!

    Beijos :*

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  5. Que post absolutamente delicioso!
    Na vizinhança que eu morei quando era criança tinha uma papelaria dessas minúsculas que tem de tudo. As donas eram duas irmãs de meia idade e eu ia lá pelo menos uma vez por semana comprar adesivos e papéis carta ou então sempre que precisava de alguma coisa de emergência, de tinta guache, massinhas e até massa de gesso! Era uma delícia passear lá e acho que é por isso que eu gosto tanto de papelarias. Nunca vou esquecer uma carteira da Hello Kitty que chegou e a moça deixou separada pra mim, porque ela sabia que eu iria amar. Eu estava numa fase Hello Kitty. Ela era linda linda, rosa bebê, com uma carinha gigante da Hello Kitty, que era onde tinha um botão pra abrir. Juro que lembro do cheiro que ela tinha! E que custava 14 reais o que, pra mim, que tinha 9 anos e ganhava 5 reais dos meus pais toda semana, era um dinheirão. Mas eu comprei a carteira com meu dinheiro e fui feliz até ela se despedaçar.
    Divaguei.
    Mas amei o post.
    E te amo!

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  6. kkkk Ana, aqui onde moro tem um monte desses comércios, e você me fez lembrar de uma experiência que tive ontem mesmo, em uma auto-escola, achei muito engraçado como as pessoas se conhecem e mesmo sem se conhecer direito saem conversando com todo mundo, a senhora, lá da auto-escola que me atendeu, contou histórias enquanto esperávamos o sistema do Detran...
    Essas peculiaridades é que fazem das pequenas e simples coisas as melhores!

    Abraço!

    www.allanpenteado.blogspot.com.br
    www.jovemecristao.blogspot.com.br

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  7. Já amo essa papelaria! Eles vendem flags! Sua vida estava incompleta sem flags. Agora sua estante vai ficar coloridinha. Ai sei lá, só gosto muito mesmo de flags.
    E queria ter coragem de sair desbravando São Paulo assim. Acho que deve ser o máximo descobrir as histórias que tem por lá. Acho que não exploro o suficiente. Aqui no Rio eu era melhor amiga de todos os comerciantes do meu bairro e dos do bairro da minha mãe. Aliás, os do bairro da minha mãe me conhecem desde sempre. É aquele lugar em que você sai na rua dando bom dia pra todo mundo. Delícia.
    Beijo! <3

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  8. Adorei o post Analu, você me fez lembrar de um senhor dono de uma banca de jornais da minha cidade, eu sempre compro gibis na mesma banca, todo mês eu vou lá e quando ele me vê já levanta e vai pegar a edição do mês, o engraçado é que ele sempre sabe o que eu quero, as revistas que me interessam, ele sabe até o dia que eu vou, sempre antes do dia dez, e apesar dele me conhecer tão bem e eu ter aprendido até a forma como ele anda, eu nunca perguntei o nome dele e ele também não sabe o meu. Acho que em qualquer cidade, é muito fácil você simpatizar com alguém se conseguir ler nas entrelinhas das pessoas. Texto fofíssimo, me apaixonei!
    Beijocas

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