quinta-feira, 15 de março de 2012

Chaya, para os (não) íntimos.

A caçula da família nasceu na Ucrânia, mas se ressente comigo por eu afirmar isso em público. Diz que é brasileira, e não mais que isso. Se mudou pra cá perto dos 2 anos, mas jura que foi com 2 meses. Quanto menos tempo fora de seu país do coração, para ela, melhor.

Filha de Mania, que virou Marieta, e de Pinkhas, que virou Pedro. Irmã de Leah, que virou Elisa, e de Tania, que sempre foi Tania, pois o nome serviu para os dois países. Seu nome de ucraniana, Chaya. Chaya Lispector.

Desde que se lembra de ser chamada por alguém, já era Clarice, e sempre foi Clarice no Brasil. Clarice essa que certa vez, acordou desesperada de um pesadelo. Sonhou que escreviam várias coisas por aí e assinavam seu nome. “Meu nome é tudo que tenho, não podem fazer isso”. Demorou a se acalmar.

Acho que não vou conseguir explicar o aperto no peito que eu senti quando li esse parágrafo em sua biografia, Clarice, , escrita por Benjamin Moser. Sim. Meu coração se apertou. Clarice. Que um dia foi Chaya, que prefere não lembrar disso, e que sempre teve tanto, tanto apreço por seu nome, seu maior tesouro. Deve se revirar no túmulo ao tomar conhecimento de todas as baboseiras que são ditas por aí e assinadas em seu nome por tumblrs, blogs e twitters a fora.

Sim, porque Clarice e Caio são a moda do momento, e tudo nessa vida foi escrito pelos dois, ou, quando muito, por Tati Bernardi. Isso sem falar nas próprias críticas a isso, como o já conhecido: “O elefante caiu na lama. Clarice Lispector”, ou senão “Saia desse computador. Lispector, mãe”, e até eu mesma, ontem, ao ler minha amiga dizendo no face: “Cansaço é pouco, o que eu tenho ainda não tem nome” assinei embaixo: Lispector, Amanda.

Doeu na alma, gente, pensar que um medo tão grande da moça virou modinha por aí. O nome é realmente tudo o que temos de mais seguro nessa vida. Agora, se dói ter seu nome usado por aí ao léu, também é certo que dói se deparar com algo seu assinado por outra pessoa. Eu já vi isso acontecer com texto meu, e eu sou só eu. Uma aprendiz de blogueira que brinca de escrever. Fiquei foi contrariadíssima quando, procurando no google por um trecho de Pequena Abelha, de Chris Cleave, achei o parágrafo inteirinho em um tumblr. Sobre o Caio F. E, obviamente, assinado pelo Caio F.

Gente, querem criar tumblr para os ídolos? O mínimo que se pode fazer é tomar mais cuidado com o nome dele, e consequentemente, dos outros escritores que acabam envolvidos na bagunça, não?

Sobre a memória de Clarice, antes o meu amigo, que diz gostar da moça e assume não saber de nada, proclamando, somente, quando eu perguntei se ele sabia que ela tinha nascido na Ucrânia: “Sei não, Aninha. A única coisa que eu sei é que liberdade é pouco e que o que eu quero ainda não tem nome”. Gus, pode espalhar essa por aí. É mesmo de Clarice. De resto, pode continuar de biquinho calado!

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Usando o nome dos outros por aí? Vocês estão fazendo  isso errado!

5 comentários:

  1. poxa...deve ser mesmo muito chato ver seu nome levando crédito por coisas que voce não fez e vice-versa

    Não conheço muito de clarice, mas o pouco que li dela gosto muito... mas não, não idolatro ela como muitos fazem, a intensidade dela parece não me atingir tanto, não sei... Mas a respeito por tudo o que ela foi e ainda é pra literatura brasileira e acho que todo mundo deveria fazer o mesmo.

    beijos Nalu

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  2. Ai gente, juro por Deus que comecei a ler esse post pensando que tinha nascido um baby Bussular na Ucrânia que seria sua nova prima amor! Juro!
    Clarice morreria de desgosto se soubessem a algazarra que tem feito com o nome dela. Acho que zoar a piada nem é tão ruim, duro é dar share em texto piegas escrito por anônimo que insistem em atribuir a ela.
    E qual é a dessa biografia? Quase comprei dia desses, mas não sei. Tá curtindo?
    Beijos!

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  3. Com certeza é revoltante ver outra pessoa levando crédito por algo seu,principalmente algo tão pessoal,tão "você mesmo".Tenho um aplicativo chamado conselhos de Caio Fernando,e o aplicativo tem,na verdade,frases aleatórias de um bilhão de escritores.Frases de Clarice estão virando clichê aqui no Brasil,sabe ? Sinto dizer...

    beijo

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  4. Tenho uma teoria íntima que quem gosta de citar tantos autores assim, bom leitor não é. Claro que adoro citar (Isabel Allende, por exemplo) e ver o que chama atenção dos meus amigos em suas leituras. Mas uma coisa é a coerência de um colega meu de curso citando livros sobre jornalismo, por exemplo, outra coisa é uma ex-colega de escola postando uma frase da Clarice um dia depois de postar uma foto com o livro "O que mulheres inteligentes devem saber". Nunca terminei de ler A hora da estrela, mas sei que as frases dela são tão redondas que dá vontade de sublinhar tudo. Sei lá, outros autores tbm têm frases assim. O proprio Machado tem. Deve haver um estudo antropológico sobre essa febre Clarice-Caio.

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  5. Nem.me.fale.
    Eu fico puta com isso, de verdade. Aí a gente fala que gosta e vê a cara das pessoas de - "nossa, que clichê" ou "nossa, eu conheço! Não foi ele que escreveu (insira aqui uma citação que NÃO é dele". Já fizeram isso com o pobre do Shakespeare há tempos e um texto chamado O Menestrel que é bonito, mas não tem nada a ver com o estilo dele e um belo dia lhe foi atribuído na maior cara-de-madeira desse mundo. Eu ando muito revoltada com o mundo esses tempos e queria, de verdade, que as pessoas parassem pelo menos de ficar compartilhando shit no facebook só pra se sentir superior. Caio, Clarice ou qualquer outro escritor que soube pulsar através das palavras não merece ser sequer mencionado por essa gente.

    Te amo <3

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