sábado, 6 de agosto de 2011

Desses churrascos de família

Já falei aqui que na vista da minha janela tem uma casa com um sótão, e outra com um balanço no quintal. O que eu sempre reparo nelas é que eu amo sótãos, e que naquele balanço nunca tem ninguém. Aliás, além de 3 cachorrinhos, eu nunca tinha visto ninguém na varanda ou no quintal daquela casa. Até hoje.

Agora eu estava aqui, entre um livro e alguns blogs, depois de fazer um trabalho divertido na casa da minha amiga. Comecei a ouvir barulho de gente assistindo jogo de futebol, e fiquei contrariada, porque é uma gritaria chata, assumam. Mas eu ando numa vibe de não me irritar mais, lembram? Então. Aí eu nem me irritei, e continuei fazendo o que eu estava fazendo. Terminei de ler os blogs, e reparei que o barulho lá de fora tinha mudado. Não era mais só o futebol.

É muita gente conversando, cantando, rindo e ouvindo música. No meio disso tem umas vozes de criança e um latido ou outro de cachorro. Eu abri a janela e na hora veio o cheiro da carne na churrasqueira. E consegui ver também alguma criança se enrolando na corrente do balanço.

Me deu uma sensação boa, sabe? O cheiro da carne na churrasqueira está forte, mas o cheiro mais gostoso é aquele que eles nem imaginam que eu estou sentindo daqui: Cheiro de momentos bons!

Enquanto eles riem e conversam lá embaixo, em meio a crianças, cachorros, música e carne, eu fico aqui pensando em como são bons esses momentos. Em como não precisamos de mais nada se tivermos aquilo que eles estão tendo ali agora! Eu não faço a menor ideia sobre o horário em que começou aquele churrasco, mas pensei naqueles que começam de manhã e terminam de madrugada. Aqueles em que os pais chegam animados para “começar a queimar a carne” e as crianças chegam correndo, loucas para se encontrarem e brincarem de um milhão de coisas. E quando eles terminam, os adultos saem rindo de alguma coisa, e carregando as crianças adormecidas no colo.

Lembro, inevitavelmente, dos tantos churrascos de família que já fizemos. Aquele calor, aquela barulheira típica de um lugar onde estão juntos 1283174 descendentes de italianos e todos querem se fazer ouvir ao mesmo tempo, aquelas garrafas de refrigerante e cerveja em cima da mesa, e muita criança correndo pela varanda, enquanto os cachorros passeiam em volta da mesa tentando conseguir algum tio boa-praça que lhes dê carne… Durante o dia as pessoas que estão em volta da mesa vão se alternando, algumas tiram sonecas, tomam banhos, param para ver tv, mas sem ninguém a mesa nunca fica.

Mais de noite, as crianças vão se cansando e dormindo pelo sofá, mas sempre existem as mais resistentes, que ainda vão embora acordadas, querendo brincar como se não houvesse amanhã. As camas vão sendo arrumadas, e alguns começam a ir na cozinha pegar um copo de leite e um pão da vovó enquanto outros ainda bebem a eterna saideira. Essa é uma das minhas horas preferidas. Sentar lá no meio e ficar de butuca ouvindo as besteiras e piadas internas de quem bebeu o dia inteiro. Ficar sóbria é o mais engraçado. Choro de dar risada das conversas que surgem. Das piadas repetidas, das músicas e das zoações.

Aí tem uma hora que finalmente decidem tomar a última saideira, entram em apagam. As luzes são apagadas e as grades de garrafas de cerveja vazias formam pilhas no canto, entre a churrasqueira e o freezer.

Esses dias com certeza são daqueles que me fazem ir dormir com uma sensação gigante de “pertencer”. Porque eles acontecem desde sempre, o que implica no fato de que eu já fui parte de vários grupos de personagens: Da criança que corre na varanda e dorme antes, da que fica brava quando acaba porque quer brincar mais, da que tem 11 anos, é metida a gente grande e prefere ficar enfiada no quarto com a prima fofocando, da que curte a bagunça sem reparar em nada, e da que curte a bagunça, mas no meio dela, consegue parar e filosofar sobre como aquilo ali é bom!

Eu estou aqui, ainda, com a janela aberta, pra subir o cheiro do churrasco. Ouvindo o enorme bafafá das conversas, daquelas que tanta gente fala ao mesmo tempo que é impossível entender alguma coisa. Pra mim, que estou de fora, claro, porque tenho certeza de que lá embaixo, como nos churrascos da minha família, todos estão se entendendo muito bem, e rindo, talvez das mesmas piadas do ano passado. Agora uma mulher acabou de oferecer algo para o filho, que disse que depois comia, ao que ela retrucou que era melhor agora, e ele perguntou de que que era. Impressionante! Tem certas coisas que são tão iguais. Só mudam de endereço.

Esses churrascos de família acabam sendo sempre iguais. E é aí que está toda a graça!

16 comentários:

  1. Isso me deixou extremamente ansiosa para o próximo churrasco de família!
    E olha que só nessa semana tivemos 2 festinhas de aniversário de criança, com direito a guerrinha de salgadinho da minha vó com o irmão dela!!!

    Beijo, Ana!

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  2. Você descredeu a cena de forma tão doce que deu pra sentir o cheiro do churrasco e o vendo que balançava o balanço daqui ahuahua sabe, Analu, momentos como esse são muito preciosos. Uma vez quando eu morava em Manaus filmaram um churrasco desse, cara... é muito legal poder rever todo mundo naquele momento ali, gente que já se foi, gente que não mora mais lá, crianças que cresceram... são memórias muito legais.

    PS: Eu postei a declaração que você queria ver lá na blog ahuahuah dá uma olhada lá.

    Beijão, querida!

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  3. Na minha família também rolam os tais churrascos! E apesar de não sermos descendentes de italianos, nunca vi gente para falar tão alto e junto como a minha família! Parece que cada um fala sozinho sabe porque são vários assuntos ao mesmo tempo e ninguém ouve nada! Rs! Mas que é divertido é! Beijos

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  4. Teu post me deixou saudosa e nostálgica. Minha família costumava se reunir assim o tempo todo. Era uma família grande e unida. Não sei o que aconteceu realmente. Cada um foi para um canto e os churrascos começaram a ficar mais escassos.
    Mas tudo bem, porque eu to bolando um plano para o Natal. muahaha. HAHAHA.
    Beijo Analu <33

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  5. Ana sou obrigada a confessar, lendo seu post as imagens dos churrascos nos fundos da casa da vovó não saíram de minha mente, eu estava sempre la, um pouco mais velha que você, mas no momento de ficar no quarto eu estava la com você fofocando, e agora ficamos ate mais tarde igual no natal desse ano em que a saideira já tinha ido a muito tempo e nos, não mais nos fundos, mas na calçada, cantarolando e ainda saindo depois para comer, isso porque todos já tinham comido horrores na noite de natal!!!!! Espero que esses momentos se repitam muitas e muitas vezes
    bjinhos

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  6. oi Ana!!
    poxa, seu post com certeza vai se identificar com mais ou menos 100% das pessoas que entrarem aqui (ou seria o contrário?), porque de fato todo mundo vivencia (talvez alguns com menos/mais frequência que os outros) churrascos e reuniões animadas de família!
    opa, mais um descendente de italiano se apresentando pra garantir que quando esse 'tipo de família' se reúne o lugar vira uma comédia!
    (talvez só perca para japoneses bêbados cantando no karaokê de madrugada).

    sim, eu invadi seu blog sem mais nem menos, li os posts, comentei, e tudo isso porque... sei lá, porque me deu vontade :P

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  7. Que texto mais rico!!!!
    E você, tst tst tst... já está contaminada pelo teatro! Já é uma artista, tem olhar de artista! hahaha, parabéns!
    beijo!

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  8. Minha família nunca fez churrasco no quintal, laje ou varanda.
    Aqui, ninguém se diverte.

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  9. Eita que faz é tempo que não participo de um desses! Deu saudade!

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  10. é isso mesmo. que delícia ler... me fez lembrar dos meus churrascos de família, com amigos... e também dos meus vizinhos (que vivem lá nos textos do blog) que são cheios de comemorações.

    beijoca!

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  11. E a familia é algo que a gente nunca perde, pode ser que um amigo deixe de ser amigo, mas irmão, pai, mãe, vão sempre se-los. Adorei teu blog.

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  12. Sua descrição foi perfeita, tenho tantas saudades de quando fazíamos isso aqui em casa, ultimamente os churrascos em família têm sido um saco, não que seja culpa da gente, mas existem alguns que prefiro nem ir, quando eu era criança as coisas tinham muito mais graça, rsrsrs passei por tantas dessas fase aí também, isso está sendo um momento nostalgia para mim! Beijo!

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  13. ah... esqueci de falar que to te seguindo!

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  14. Céus, o texto veio com uma carga tão alta de positividade e fofura que me deixou até boba xD Nunca tive um churrasco em família, mas sei bem como é esse sentimento de todo mundo junto, rindo alto e jogando conversa fora :3 Clima bom.. Nostálgico, até.
    Cabei de voltar de uma viagem pra ver a família, já tô com saudade de novo, não pode )): ehuheuhe

    Nhac <3

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  15. Ana, já tinha lido esse post dia desses e achei de uma delicadeza! Sabe aqueles textos que te fazem adentrar a história, sentir o cheiros e quase presenciar o momento? Vi tudo através de sua janela tb! Amei, mesmo!


    E respondendo seu comentário: Amizade tem dessas coisas, né?! Não precisa muito, não é necesário a presença lado a lado para que essas pessoas se façam gigantes em nossas vidas. Acho mesmo que temos sorte de ter amizades assim, testadas pela distância, porque para sobreviver, é porque é grande e é de verdade, não tem nem como duvidar =)

    Um beijo!

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  16. ah estes churrasco em família sempre dão o que falar *uu*

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