domingo, 17 de junho de 2012

Pra não dizerem que eu só falo das flores.

Porque, céus, como já falei das flores! Basta um ensaio incrível, um aquecimento transformador, um caso cômico ou uma estreia transcendental para eu aparecer aqui com os dedos ávidos no teclado e os olhos escorrendo amor para falar sobre o teatro. E aí eu corro a mão pelo teclado e desando a tagarelar, por linhas a fio, sobre a maravilha de viver “em cima de um palco”. Sobre as flores eu vivo falando. E sendo as minhas flores preferidas do mundo as margaridas ou não, o teatro, como grande parte das coisas dessa vida, é um grandessíssimo buquê de rosas vermelhas.

Sim. Rosas vermelhas são lindas. Majestosas. Imponentes. Glamorosas. Chegue em algum lugar com um buquê de rosas vermelhas nos braços. Todo mundo vai parar para olhar e vai ter algum comentário pra fazer. Nossa, como são incríveis as rosas vermelhas. Mas não se esqueça de tomar cuidado ao pegar no cabo. Estará lotado de espinhos.

Os espinhos não são insuportáveis. São coisas com as quais aprendemos a lidar. É só tomar cuidado na hora de encaixar os dedos, e assim você pode impor sua rosa vermelha na cara da sociedade. Só que sua mão invariavelmente vai ter escorregado em algum momento. E enquanto as pessoas veem a rosa vermelha, você está radiante por mostrá-la, mas só você sabe o quanto os espinhos te arranharam!

O palco é sim radiante. É brilho. É glamour. Estar ali em cima dá um sopro de vida, uma força pra alma. Eu nunca saio de um palco da mesma forma que entrei. É transformador. E é ainda mais transformador pensar que estamos transformando também a vida de quem foi assistir. É uma sensação incrível estar em cima de um palco apresentando uma peça. Só que não é só isso. Não é só entrar no figurino, deslizar pelo cenário, dar o texto na hora certa com a intensão certa e coisas do gênero.

É exaustivo. Tem muita coisa por trás. Tem avalanches de esforços. Tem passar tardes fazendo cenário, e só lembrar às 18h30 que você não almoçou. Tem reformular toda uma rotina pra poder passar horas e horas a fio ensaiando. Tem repetir a mesma cena 230 vezes, não aguentar mais falar a mesma coisa, e ainda assim, dar toda a força que você tem pra parecer que é a primeira vez. Afinal de contas, se você já está careca de saber que o personagem está aflito à toa, o público não tem nada com isso e quer sentir a aflição.

Fazer teatro não é subir num palco com textinho decorado. Fazer teatro é carregar tijolos, é passar o dia agachada no chão pintando madeira e colando florezinhas de cola quente, é provar figurino, fazer listas mentais, pensar no personagem durante dias, ter pânico de o personagem simplesmente não querer surgir dentro de você…

Às vezes a coisa flui. Às vezes você se pega sentado na cama às 4h da manhã cheia de ideias, com mais de 2 meses faltando pra peça, sentindo cada fala na sua pele e tendo outros milhões de insights. Às vezes o personagem, aquele fanfarrão, só resolve aparecer no dia do ensaio geral. Invariavelmente, a hora que ele de repente aparece, dá pra perceber aquele calor no peito, o sorriso abre sozinho. Como é bom se encontrar. Não, isso não quer dizer que ele não vá sair passear nunca mais. Porque ele vai. E como é frustrante quando isso acontece. Como é horrível apresentar uma peça sem sentir o personagem no coração. Tudo fica vazio. O olhar é o primeiro a desaparecer. E aí é o dobro de concentração e força pra segurar na técnica aquilo que na hora não funcionou na paixão…

Gente, teatro não é glamour. É batalha. Mas é uma batalha que a gente entra pra ganhar, sem outra opção. Porque alimenta o espírito de uma forma que é impossível explicar. É uma batalha que sempre me faz ficar maluca por volta de 15 dias antes da estreia, onde a peça está cada vez mais próxima de acontecer e as coisas parecem ficar cada vez mais distante de estarem prontas. É o bloquinho de contas. É a olheira. É o cansaço. É começar a tratar das pendências da peça às 9h da manhã e terminar às 22h30. É colocar a mão na testa e se perguntar onde diabos estava com a cabeça quando resolveu ser atriz. É surtar e sair falando pelos cantos esse desespero. É saber que a TPM muitas vezes tem o nome da peça e o sobrenome do personagem. É se jogar num travesseiro e não querer levantar nunca mais. Sim, tudo isso é teatro. Mas sim, vai ser teatro também a hora que você subir no palco para estrear e a coisa acontecer. E sim, isso faz tudo valer a pena. Tudo.

A minha TPM da vez se chama ESTADO, e estreia dia 23. Sim, já temos um cenário. O figurino está se encaminhando. Eu apanho em cena (e me divirto!) e sempre saio roxa dos ensaios. Não, ainda não encontrei a Vitória que existe dentro de mim. Sim, estou com o psicológico morrendo de medo. Sim, manchei minha calça jeans de tinta a óleo. Não sai. Sim, parafusei horrores. Sim, tentei martelar e quase martelei o dedo. Sim, hoje, domingo 17, começa oficialmente a maratona da semana-intensiva-que-antecede-a-estreia. Sim, amanhã tem churrasco na casa do meu tio e eu não vou porque tenho que ensaiar. Em pleno domingo. Sim, fiquei chateada porque a minha mãe joga na minha cara que a Anna Beatriz nem pergunta mais por mim quando eu não apareço. Sim, eu gostaria de passar a tarde rolando com ela no chão, mas eu preciso ensaiar! A lágrima às vezes vem quente, mas a gente sabe que vale. Por hora, a única coisa que sei é que dia 23, às 21h, estarei subindo no palco de novo. E mesmo que tudo dê errado (bate na madeira 3, 6, 12 vezes) estaremos ali em cima. Respirando essa energia que é o melhor alimento do mundo. E lá fui eu, que tentei e tentei falar dos espinhos, mas já acabei nas pétalas mais lindas das Rosas. É que o jardim é tão vasto, que não, absolutamente não tem como não falar de novo das flores!

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14 comentários:

  1. PUTA QUE PARIU. CHOREI AQUI ANA LUÍSA. Você descreveu tudo com tamanha intensidade e sapiência, exatamente como é. Exatamente. Com todas as torturas mentais que a gente passa, todas as crises, TUDO. Em uma semana sentimos o que pessoas normais demoram meses, quiçá anos para sentir! A gente é obrigado a viver intensamente, é obrigado a descobrir outro ser dentro de si mesmo, mas manter com a cabeça no lugar. É obrigado a tantas coisas que nem sei. Esse texto vai pros melhores que já li aqui, viu? Apaixonei. Dignissimo. Parabéns.
    E dia 23 nós vamos começar a vencer nossas batalhas, eu às 11h da matina e você às 21h da night. Tudo dará certo. Sabemos disso. Mas o sofrimento prévio é impossível de não ser sentido.
    Te amo e tenho certeza que vou gostar da tua peça, mesmo que você insista em dizer que não.
    <3

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  2. Eu gosto tanto desse seu amor pelo teatro, que tenho que confessar que por vezes pensei em entrar só para sentir tudo isso! E faço das palavras da May, as minhas: vamos AMAR SUA PEÇA, mesmo que você insista em nos dizer que não!
    Te amo <3

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  3. " assim você pode impor sua rosa vermelha na cara da sociedade."

    OIEOIEOIEOEIOEOI

    AI, Nalu, só o que posso desejar é boa sorte. Digo: MERDA! (realmente se usa isso? hahahaha) ótimas vibrações da Máfia inteira pra ti. E vai ser lindo!
    ;*

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  4. Véi, na boa... já amei o título de cara. Porque né... Enfim. Sempre que você escreve sobre teatro eu morro de vontade de voltar a fazer. Sinto muita falta e foi o melhor curso que eu já fiz. Com certeza, teatro não é glamour. Na verdade, é também. Mas ninguém vê os bastidores, a preparação, o medo, a responsabilidade. E tudo isso some quando o sentimento de dever cumprido aparece. Sentimento de felicidade. Simples assim. Amei, como sempre e como tudo o que você escreve, né. Beijos, CHEFA <3

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  5. Você sempre me deixa com vontade de correr pro teatro, como disse a Marie. Já até encontrei duas escolas pra escolher ano que vem.
    E, amiga, é assim mesmo. As coisas sempre são muito pesadas e ninguém vê isso, só vê a obra final. Mas, tenho certeza que Estado vai ser demais e você vai se sentir super grata quando acabar!
    Não esquece de compartilhar, tá? Tu sabe que eu sempre quero saber de tudo, hahaha!

    Te amo!!!
    Beijos <3

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  6. Cara, eu nunca gostei de assistir uma peça, não sei por que, mas sempre gostei de participar de uma. Acho que é uma emoção enorme, só de você pensar que aquelas pessoas que vão assistir estarão olhando para você, captando cada mensagem que você quer passar *-* É muito bom!

    Beijos!

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  7. Você tem tanta paixão em você que isso se traduz em tudo o que faz, fala e escreve. Até o seu ciúme é reflexo do quanto você se apaixona pelas coisas. E isso é lindo, lindo, lindo de ver.


    Te amo!


    Vai dar tudo certo, viu?

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  8. E tudo isso porque a paixão compensa qualquer coisa, né, Nalu? Um dia planejo achar algo que faça eu me sentir assim porque, vou te dizer, é uma coisa muito bonita de se ver. E juro pra você que um dia ainda vou te ver em cena, ou morro infeliz.

    Beijos! E você vai arrasar, eu sei :)

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  9. Acho linda essa tua paixão pelo teatro, e é bacana porque ela me parece algo tão familiar, uma vez que você a transcreve tão bem, tão singularmente. Já subi em palcos, só que pra dançar, ok, não foram PAAAAALCOS, enormes, chiques, ou qualquer coisa que chegue perto disso, mas me fizeram sentir uma emoção única, uma sensação única, da qual eu sinto muita falta hoje em dia. E eu bem imagino o qual difícil deve ser essa vida de atriz, porque há muitos espinhos mesmo, há muita doação de quem se dispõe a entrar nessa área, só que, como você mesma disse, as flores são recompensas que valem todo o esforço. Que ocorra tudo perfeitamente bem, Analu, beijo!

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  10. Que coisa LINDA! Para além da lindeza do conteúdo, preciso dizer que achei o post por demais bem escrito e tô emocionada com o fato de você ter usado "grandecíssimo" no texto. Como boa amante de superlativos, me senti contemplada. Amo essa palavra.
    Amei o post.
    Amo você.

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  11. Eu adoro quando você fala de teatro. Morro de vontade de conversar com você sobre isso, mas fico com vergonha de puxar o assunto sabendo que você é tão ocupada hahaha Adorei o post realista. Imagino que seja batalha mesmo, esforço mesmo, trabalho pesado meeeeeesmo. Desejo muito sucesso nessa nova peça!

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  12. Essa sua paixão, esse sentimento, alegria, doçura, empolgação, esse amor que você tem quando fala do teatro, isso é tão lindo e tão gostoso de se ler! Dá muita vontade de mergulhar nesse mundo só por causa das tantas maravilhas que você descreve, rs.
    Parabéns pelo seu tamanho esforço, é muito legal ver o quanto você se dedica e ama o teatro. Muita sorte nessa estréia e em todas as muitas outras que estão por vir. Ainda verei você e Mayra atuando <33
    Break a leg! Beeijos Anlu :***

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  13. Já vivi o teatro e sei da exaustiva rotina de se entregar demasiado. Hoje, na livraria, não é tão diferente assim. Apesar das flores, tropeço também nos espinhos da convivência e comodidade de muitos. Mas faço a minha parte. Qualquer trabalho é assim. E existem dores e delícias em ser livreira ou atriz. A gente sempre descobre o lado bom. Abraços!

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  14. Mais um post sobre Teatro pra minha coleção! <3
    Eu acho que só vou ficar cem por cento feliz quando puder ver você no palco! Ao vivo, vendo e sentindo a emoção de todos esses meses de esforços.
    Vitória, chega logo. Tem uma tal de Cachinhos de esperando ansiosa. Sábado estarei torcendo por você.
    Beijo! <3

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