sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Só mais um texto panfletário - 21/31

Deixa eu contar uma historinha rápida para vocês: eu não sou publicitária (ah jura?) mas já cogitei ser. Devia ter meus 16 anos e teve um concurso na Ana Maria Braga (rsssss) onde 5 estudantes de publicidade cumpriam tarefas e no final um deles ganharia alguma coisa. Eu estava de férias e foi a única semana da vida que acordava cedo só para assistir o “Mais Você”. Achei tudo aquilo muito divertido e decidi que ia ser publicitária, só que logo depois joguei essa ideia no fundo daqueles baús, junto com os outros milhares de “quando eu crescer serei *insira aqui*”. Enfim.

Eu não sou formada em publicidade e nem sou entendedora do meio. Também não sou formada em marketing e não tenho nada técnico a dizer sobre o assunto – e eu só queria afirmar que, na minha humilde opinião, se EU que não tenho conhecimento oficial nenhum sobre essa área específica fico emburrada assistindo televisão, tem alguma coisa bem errada acontecendo.

Tem um bordão que eu criei para mim mesma que é “publicitário dificilmente acerta, mas quando acerta, ACERTA”, e eu repito isso instantaneamente quando vejo algum comercial que me faz querer abraçar bem apertado os seres humanos responsáveis por ele, porque olha, É DIFÍCIL.

Li bem por alto outro dia um artigo de algum blog falando que era triste e errado utilizar as minorias como forma de apelo comercial, se referindo à tão comentada propaganda da Boticário. Concordo? Em termos. É aquela velha história do “o preconceito nem deveria existir e então você não ganha um biscoito por reduzi-lo”, sabe? Assino embaixo dessa máxima, mas quando se trata de indivíduos. Nenhum de nós merece biscoitinho por não ser um idiota, mas talvez, só talvez, dou um crédito maior do que deveria às empresas que tem coragem de dar a cara a tapa.

A sociedade é capitalista e de uma forma ou de outra, tentando ser poética ou não, tudo o que uma empresa precisa atingir através da propaganda é o apego do público para que ele compre o seu produto (ah, sério?) e não deve ser assim tão tranquilo optar por pisar em um caminho não tão seguro. Por isso, não digo que a empresa merece um biscoito por mostrar que não tem preconceito, por exemplo, mas acho que merece sim um docinho por se colocar no fogo rapidão sem saber exatamente no que vai dar, porque enquanto isso, ENQUANTO ISSO, tem marca muito grande e conceituada por aí que segue falando que a magia dos produtos de limpeza está na mulher.,

E aí eu fico consternada na frente da televisão mesmo que eu já tenha visto a mesma propaganda 10 milhões de vezes. Não consigo conceber Mônica Iozzi, Dani Bananinha e Ivete Sangalo na frente de uma tonelada de produtos de limpeza falando que as mulheres são divas e brilham porque conseguem DAR CONTA DA LIMPEZA DA CASA enquanto os homens jamais seriam capazes disso. E aí eu franzo a sobrancelha e fico gritando internamente VAI BOMBRIL, ISSO MESMO, QUE ÓTIMO SERVIÇO VOCÊ ESTÁ FAZENDO PARA A SOCIEDADE.


Dez segundos depois acontece o que? Isso mesmo, uma propaganda de cerveja, daquelas bem maravilhosas do-jeitinho-que-a-gente-gosta, com uma mulher praticamente nua sendo chamada de verão e servindo a bebida do mascu – que ainda faz o favor de frisar para sua namorada que cerveja boa é a servida pela Verão, se for servida pelo garçom não vale.


É por isso que eu vou voltar rapidinho a bater na tecla do: a galera que está, ao menos, se esforçando para fazer direitinho e se “atualizando” nos novos modelos sociais não devia merecer um biscoito, mas merece. Merece por fazer o mínimo – que a maioria ainda insiste em não fazer. Merece por botar a mãozinha na consciência e pensar que dá pra gente fazer propaganda de dia dos namorados jogando nas fuça da sociedade que amor é amor e pronto.

Sonho com o dia em que alguma santa empresa de produtos de limpeza vai fazer a mesma coisa e passar a propaganda toda pregando que a magia ESTÁ NOS PRODUTOS e não na mulher. Não é difícil, vai. É só colocar um homem dando conta do serviço inteiro, reiterando que essa história de que “lugar de mulher é no tanque” já acabou tem tempo. E na propaganda da cerveja, que tal colocar as mulheres de boa batendo papo com as amigas no boteco e tomando umas também?

Já que resolvi brincar de ser panfletária hoje e me enfiar no vespeiro, vou aproveitar para comentar rapidamente também que achei um grande ganho essa proibição de publicidade infantil. Quando começaram os babados a respeito do assunto, confesso, fiquei plantadinha em cima do muro. Algo me dizia que a publicidade infantil era errada, mas eu não entendia direito o que, e martelava na minha cabeça que hoje em dia a galera exagera querendo proteger as crianças de tudo. Eu explico: passei a vida sendo bombardeada por publicidade infantil na televisão e sim, morria de vontade ter muitas das coisas anunciadas, e foi, também, por causa disso, que aprendi desde pequena que eu não podia ter tudo o que eu queria. Nunca morri por não ganhar todas as Barbies anunciadas, mas perdi alguns minutos da minha vida bitolada pela ideia de que só seria completamente feliz quando as tivesse. Fiquei pensando se “cortar o mal pela raíz”, ou seja, acabar com as propagandas, não seria mais um dos artefatos contemporâneos para manter as crianças em uma bolha de falta de frustrações, sabe?

Mas mesmo com todos esses argumentos internos (que eu de fato considero até hoje), descobri de repente o que era aquele “algo” que me dizia com tanta ênfase que era errado: criança não tem poder de compra. Ponto final. Não existe absolutamente nenhum sentido em liberar uma enxurrada de publicidade em pessoas que não são responsáveis pelas compras, the end. A gente pode continuar tirando as crianças da bolha ao ensinar que ela não pode ter tudo quando ela quiser o brinquedo do amiguinho e não for ganhar. Pronto.

Uma conclusão a respeito disso? Se a galera do nicho de mercado infantil foi obrigada a se reinventar e deve estar conseguindo (não ouvi falar de nenhuma falência ainda) é porque não é impossível. Vamos clamar pela “REFORMA PUBLICITÁRIA JÁ”? Quem vai para as ruas comigo?

11 comentários:

  1. Nossa, 90% do tempo a publicidade me tira do sério. Melhor coisa que eu fiz na vida foi quase parar de ligar a televisão. Assisto minha novelinha pela internet mesmo, muito mais rápido e sem interrupção. Eu gostei da propaganda do Boticário e concordo com você que tem mérito, porque mesmo que com interesses comerciais, qualquer coisa que ajude a normalizar coisas que ainda são vistas com preconceito, são algo bom pra mim. E eu adoro banhar nas lágrimas da família brasileira.

    Beijos, te amo <3

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  2. Ai amiga, onde que assina mesmo?
    De baixo pra cima: Também cresci querendo ter tudo dos comerciais, sem poder ter 1% e isso ensinou, de certa forma. Mas se pode cortar o mal de uma vez, a gente aprende que querer não é poder de outra maneira, né? Sem contar que evita uma boa quantidade de choro e esperneações. hehe
    Fico só imaginando o dia que esses produtos de limpeza pararão de jogar tudo pra cima da gente, porque se o produto é tão mágico assim, qualquer um pode fazer.
    Os comerciais acertados ganham meu coração de uma maneira que nem sei.
    Meus queridinhos da vez são o da Coca-cola (da adoção) e o da Sundown (fofofofoofofofo).
    Tá, se tem criança a chance de me derreter é enorme, mas apaixonei.

    Beijos.
    Bom final de semana. ♥














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  3. gente, eu vou! Só pela propaganda do bombril eu já iria pra rua porque olha, vejo pouca televisão e quando vejo me irrito. Mulher é diva e homem é divagar *rhysos*
    Sério. Quero morrer toda vez que vejo essa propaganda. Até quando???? u_U

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  4. Oi Ana!

    Acredita que eu estava pensando nisso hoje?
    Essa propaganda da bombril é uma coisinha muito idiota mesmo... E a Verão?! Quando começa a passar já mudo o canal
    #mepoupe
    E a propaganda da adoção da Coca Cola é muito linda mesmo <3 <3

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  5. Gente, sim! Vou pra rua contigo sem nem pensar duas vezes, Analu. Publicidade é um negócio que eu queria que fosse melhor, e sempre que eu falo isso em casa a minha mãe pergunta por que é que eu não fui fazer. Não me parece tão difícil aumentar a representatividade e quebrar os padrões, sabe? A Boticário fez uma coisa muito simples e olha só quanta gente comentou! A Risqué fez aquela bosta sem tamanho com os Homens Que Amamos e olha como foi péssimo pra marca! É só questão de pensar bonitinho, gente, cês não veem as mudanças que estão sendo debatidas, não?

    Nem falo nada sobre essa propaganda da Bombril. E ainda teve macho reclamando e colocando na justiça porque falava mal de homem???!!!!??! E não foi tipo "nós também limpamos a casa", mas sim "OLHA A NOSSA MORAL AÍ PÔ!!!!!!!!!" e nossa, que ódio.

    Quem vira e mexe acerta pra mim é a Always. A Do It Like A Girl me enche os olhos de orgulho. <3

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  6. SIM, SIM, SIM, SIM! Eu sempre fico pensando nisso porque, ainda que meu curso não seja exatamente publicidade, entre todas as habilitações de comunicação social, é a mais próxima da minha, então ok, é uma coisa presente que eu sou obrigada a pensar todo dia. Assim, eu entendo que não é a coisa mais fácil do universo tirar uma campanha da cartola. Que é muito mais fácil seguir uma fórmula do que fazer uma campanha foda 10, 15 vezes num ano. Sem contar que sim, dentro das agências, existem pessoas que não estão interessadas em mudar. Que vão olhar pro diretor de criação que quer fazer tudo diferente e dizer "não, porque não, só segue o script". Sem contar o cliente. Como é difícil ter clientes. Como é péssimo lidar com pessoas. Então eu entendo as pessoas que estão nesse meio, que ganham mal pra cacete (é uma área que envolve muita grana, mas muito pouco chega em quem realmente pensa as coisas e põe a mão na massa), que lidam com gente escrota o tempo inteiro e que tem contas pra pagar como todo mundo. Isso é terrível e eu odeio pensar no mundo dessa forma, mas às vezes é difícil colocar uma coisa que você acredite na frente das contas que não param de chegar e da comida que você precisa comer.

    Enfim, coloquei dessa forma porque normalmente as pessoas só falam nossa que horror essas campanhas e claro, são um horror mesmo, vou pras ruas protestar. Mas tem pessoas por trás da campanha que provavelmente acham elas o horror e mesmo assim estão lá, fazendo uma coisa que não gostam porque né, paciência, é a vida. E é por isso que eu iria pras ruas com você. Pra protestar sim, por campanhas de verdade, que parem de seguir fórmulas e que de fato retratem o que a gente vive agora, que mostrem o que a gente precisa ver. Ninguém mais aguenta ver mulher em propaganda de produto de limpeza, como se só elas usassem (eu não faço ideia pra que serve a maioria); ninguém mais aguenta ver a gostosa na propaganda de cerveja ou homens numa mesa de bar (alô, a gente bebe também); ninguém é obrigado a tratarem fotos vazadas de uma forma tão errada. O que O Boticário fez foi um passinho contra essa corrente e eu achei importantíssimo, de verdade. Mas aí, logo depois, eles aparecem com uma campanha ridícula de uma mulher liderando uma equipe tática ou qualquer coisa assim, atrás de um cara, e quando ela encontra ele, deixa os caras do lado de fora e vai dar uns beijos no bandido. Você viu essa? Nem lembro se era exatamente assim, em detalhes, mas era uma coisa assim e eu achei um absurdo. Depois as pessoas acham que mulher não pode ter trabalho ~de homem~ porque se envolve demais e não tem controle e só é coração. Sinceramente, ninguém precisa reforçar mais esse tipo de pensamento errado.

    Amiga, enfim, esse mimo já tá virando um post resposta (?), então vou parar. Mas enfim, vamos protestar, por favor.

    te amo <3

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  7. Conte comigo! Eu já tenho muita preguiça de assistir televisão, e quanto sento para assistir, além da programação ser horrível (exceto quando está passando Jornal Hoje por motivos de Sandra e Evaristo s2), ainda tem propagandas de vergonha alheia no meio. Achei linda a propaganda da Boticário para o dia dos namorados, e acharia ótimo se estivesse passando até hoje, para lembrar a família tradicional brasileira que estamos lutando pelos direitos de todos e o choro é livre. Não deveríamos estar passando por tudo isso, mas temos. Então, biscoito para eles (adorei essa expressão, haha). Outra propaganda que eu reparei que inverteu os papéis é a das Havaianas, em que a Cléo Pires e outra atriz que eu esqueci o nome ficam sentadas esperando enquanto os namorados, atores que eu também esqueci o nome, ficam provando chinelos afetadamente. Achei satírico, mas não depositei muito pensamento nisso para pensar se, afinal, foi justo ou ofensivo. Não sei o que acontece por trás da criação dessas campanhas, mas, gente, vamos investir mais seriedade nisso, por favor.

    Beijinhos! :)

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  8. Já comentei que te amo hoje? Então! Te amo!

    Vou começar pelo final porque 1) eu nem sabia dessa lei até que 2) fui no teatro com meus pais ver um musical e tinha um menininho escalado mas que o ministério proibiu de fazer a peça e o assunto acabou surgindo e concordo demais contigo! Eu to com um abuso tão grande dessa propaganda do verão que tá durando um ano inteiro! Sério, vontade de jogar uma bomba e explodir todo mundo que idealizou essa campanha...

    Eu só vi a polemica do Bombril por cima, mas achei HIPER desnecessário e Veveta caiu no meu conceito por ter aceitado um treco desse - foda-se o dinheiro, eu não aceitava hahaha

    enfim, amei o textão e to assinando em baixo VAMO PRA RUA hue

    beijo! <3

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  9. (meu deus, eu fechei a página antes de publicar meu comentário, quero morrer).
    Basicamente eu dizia que SIM, ME LEVA CONTIGO, TO INDO.
    Parei de ver televisão porque tento manter o pensamento de que "a vida vai melhorar", mas quando sento no sofá é só decepção. Com o noticiário e com as propagandas, que senhor jesus, só piora. Eu nem estava sabendo dessa do Bombril e sinceramente nem quero ver pra não me dar gastura. É triste porque quando eu penso que estamos indo para um caminho bom, vem isso e me mostra que "opa, não querida, ainda estamos na mesma, ta?"
    :(
    Mas tenhamos fé!

    Te amo <3

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  10. Nossa, amiga, essa semana mesmo eu vi essa propaganda da ~verão~ e fiquei chocada com o mau gosto. Não costumo ver propaganda de TV porque quase nunca assisto TV e quando chega no comercial eu pego o celular e esqueço da vida (?), mas aí você vê que ANOS se passam e as propagandas de cerveja continuam com o mesmo discurso machista e horrível. Não cheguei a ver a do Bombril, mas li sobre a polêmica e sabe o que é mais BIZARRO? Estavam tentando processar a marca porque a propaganda era ofensiva pros homens porque diziam que eles eram devagar. Valha-me Deus, né?

    Também concordo que as pessoas não deveriam receber uma estrelinha dourada por fazer o mínimo, mas respeito demais a coragem de propagandas que se levantam contra o status quo. É claro que batendo de um lado rola o marketing positivo pro outro lado, mas é um risco muito grande que se corre, e fico feliz em ver as marcas peitando essas pessoas loucas. Não devia ser assim, né?
    Enfim, vamos pra rua agora.
    beijos
    te amo!

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  11. Eu já pensei em fzer publicidade também, shauhsua porque, tipo, eu sou meio encantada com comerciais de televisão. Nunca fui de ficar louca por um produto que via na TV (na verdade verdadeira eu sempre fui uma pessoa pé no chão, e fui o tipo de criança educada e que seguia na linha, sempre com medo de errar etc, então eu sabia que não tinha condições de ter tudo, chato isso né, mas seguia em frente sem importunar minha mãe com minhas vontades, e sempre quando lhe pedia algo eu colocava um "quando você tiver dinheiro" antes). Só que eu acho a mecânica (?) a propagando bem interessante e toda vez que vejo uma a categorizo ou em "marca que só tá marcando presença", "essa só tá na base da apelação e mentirada", "queria ter imaginado isso". Essa última é das boas, sabe? Essa é daquelas criativas sem enrolar o consumidor (ao menos não muito). Mas ao mesmo tempo sempre achei que publicitários são uns serzinhos hábeis em manipular uma pessoa (ou várias) então fico com um pé atrás até hoje com a profissão, sem contar com o fato de talvez u não seja boa nisso né.
    Acho que essa pequena história desnecessária para dizer que essas propagandas preconceituosas misóginas etc me dão muita repulsa, justamente porque existem tanta gente vendo aquilo e virando adepta daquela ideia ou a consolidando ainda mais em sua mente.

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