segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Sobre uma galera que vivia intensamente

Quando eu estudei romantismo, nas aulas de literatura do colegial, eu achava lindo quando a professora contava as histórias dos autores. Eles eram boêmios e morreram todos novos. Morriam de amor, vejam só que faceiros esse românticos. Aos 20, 22, 26, 30 anos no máximo. Tinham uma vida feliz e serelepe escrevendo livros, até que se apaixonavam profundamente e não podiam mais viver carregando aquela dor. Se entregavam às madrugadas e bebedeiras, pegavam uma gripe forte ou uma tuberculose e morriam. Nunca pensei que isso seria legal pra mim, mas que eles vivem intensamente, viviam.

Apesar do nome desse blog parecer sugestivo, eu nunca tinha lido A vida como ela é do Nelson Rodrigues. Aliás, quando eu criei o blog eu coloquei esse nome na maior inocência. Enfiada até o talo em uma adolescência recheada de Crepúsculo e Meg Cabot, eu nem sabia quem era Nelson Rodrigues. Quando eu entrei no teatro, obviamente, descobri, e depois de ler algumas peças, ganhei o livro de amigo secreto e acabou que essa foi a minha última leitura de 2012/primeira de 2013. Porque o livro é grande! Tem quase 500 páginas. Na verdade é uma reunião de 100 crônicas de quando ele escrevia no jornal. Eu ainda não acabei, li 77 delas. Mas já tenho uma concreta ideia do que encontrarei nas outras 23, então resolvi falar logo sobre o assunto.

Nelson escrevia para criticar a sociedade da época. E eu não vou falar que estou enjoada, porque leria mais 200 de suas rapidinhas e boas crônicas, mas que a sociedade era então bem previsível, ah, isso era. Pra começar não existe fidelidade. Todo casal se trai o tempo inteiro, e meu sonho ultimamente é encontrar no meio de uma dessas 23 que faltam alguma história de um casal que foi fiel até o fim. E, claro, em 80% dos casos eles resolvem essas mágoas de traídos na base do tiro. O que já morreu de gente nas minhas 387 páginas lidas não está no gibi, juro. Confesso que adoro os suicídios rodrigueanos. Sim, ou alguém nunca ouviu falar de Vestido de Noiva? Tem muita gente também que morre de gripe. Os homens se referem às moças como “aquela pequena”, e elas os chamam de “meu filho”. Além disso, quando ficam grávidas, dizem, somente: “Eu estou!”.

Engraçado mergulhar nessa sociedade onde todos os homens trabalham em escritórios, as mulheres não trabalham, e a única coisa que todos parecem ter pra fazer da vida é trair e mandar cartas anônimas relatando traições alheias, até que de repente morrem de gripe. Ou de tiro, claro. Ah sim, ainda tem os que resolvem se enforcar quando estão muito desesperados por terem que casar obrigados.

avidacomoelaé

Sei que não sou ninguém pra vir aqui fazer “propaganda” de Nelson Rodrigues. Mas pra quem nunca leu, só quero dizer que vale a pena conferir e se sentir em uma novela das 18h. Sempre imagino as ruas de paralelepípedos com algumas charretes passando pelo meios dos carrões imponentes, enquanto os homens andam de chapéus e as mulheres ajeitam os cabelinhos nas janelas e dizem, umas das outras, que a Fulana do Euzébio não é flor que se cheire pois vive dando bola para o cunhado.

20 comentários:

  1. Eu tenho vontade de ler Nelson Rodrigues e certamente começaria por esse livro. É um mundo diferente para se mergulhar: outra linguagem, outros extremos. Ah, achei demais o “Eu estou!”.
    Interessante ter lembrado das aulas de literatura. É o segundo blog hoje que me faz lembrar das minhas aulas de literatura com uma saudade daquelas.

    ResponderExcluir
  2. Eu sempre fui do estilo Meg Cabot, Crepúsculo, Harry Potter hahaha.
    Mas agora eu tenho me interessado muito por livros assim, e essa não é a primeira vez que leio sobre o Nelson Rodrigues, quem sabe logo logo consigo ler um livro dele? =)

    Eu sempre adorei ler e estou começando a voltar aos meus velhos hábitos (porque quando fui para o colegial à 4 anos atrás eu não tinha mais biblioteca para pegar livros então parei de ler por um tempo kkk) principalmente com as promoções maravilhosas do Submarino!
    E esses dias me indicaram um meme de incentivo à leitura e eu te indiquei nele pois sei que você gosta de ler (até te tenho no skoob) e sei que tanto você quanto as outras meninas que indiquei provavelmente terão ótimas indicações para esse meme!
    Então caso se interesse aqui está o link:
    http://concepcoeserradas.blogspot.com.br/2013/01/meme-laco-de-incentivo-leitura.html

    Beeijos

    ResponderExcluir
  3. Analu,

    Na faculdade assisti a alguns episódios da série (?) inspirada nas crônicas do Nelson Rodrigues que passava na Globo (?) e gostei bastante. Até fiquei com vontade de saber mais, mas por algul motivo x, acabei me esquecendo. Agora, depois da sua resenha, terei que adicionar A Vida Como Ela É na minha lista de livros para a vida :D

    Quero ser transportada para o mundo das novelas das 18h!

    Boa semana!
    Beijos,

    Michas
    http://michasborges.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. Vou colocar na lista.

    Eu também me encantava com as histórias dos poetas boêmios! Fico imaginando como seria a minha vida se eu tivesse nascido naquela época. Já assistiu Meia-Noite em Paris? Se não, assista! É mais ou menos aquilo haha

    Beijos

    ResponderExcluir
  5. Amiga, queria que minha mãe estivesse acordada pra eu ler essa resenha em voz alta pra ela e mostrar como minha amiga escreve lindo. <3
    Estudar romantismo foi a maior decepção da minha vida. Quando eu era mais nova, ouvia esse nome e pensava se tratar apenas de histórias de amor bonitinhas e coloridas, aí veio o Augusto dos Anjos e matou todos esses sonhos. Não sou muito fã dessa escola, confesso, acho os textos muito cheios de angústias em superlativo, sei lá (Tatá me julgando em 3...2...).
    Voltando à vaca fria, se tem uma coisa que eu amo em alguns autores é a capacidade deles de criar um universo todo próprio, onde todos os livros contam com uns tipos fixos de personagem. Me sinto assim com as obras do Machadão e da Jane Austen!
    Beijos

    ResponderExcluir
  6. 3...2...1! Claro que vou te julgar, Anna Vitória! O exagero ultra romântico é maravilhoso de ler. Amor desesperado lado a lado com a morte é muito bacana de ler na ficção. Deus me livre disso na minha vida, mas nos livrinhos é fantástico. Vocês já leram Noite na Taverna, né? Pois eu já! Quatro vezes, hahaha! Fiquei com vontade de ler foi o Vestido de Noiva. Nunca li esse. Só pediram livro chato no meu ano de vestibular. Mas eu adoro as versões pra TV das obras do Nelson. Sempre sanguinolentas e, sim, ultra-românticas. Adoooooro!

    Beijos!

    P.S: Leia Noite na Taverna! É fininho, perturbador e FODA.

    ResponderExcluir
  7. Que resenha maravilhosa! Já li só Vestido de Noiva dele e achei irreverente a forma dele. Fiquei com muita vontade de ler A Vida Como Ela É.

    ResponderExcluir
  8. Outro dia assisti um documentário falando de Nelson e futebol e fiquei louca pra ler o que ele escreveu! Vi este livro na Saraiva e também super entrou no hall do quero ler.

    Beijoca

    ResponderExcluir
  9. Amiga, ainda não tinha te dito, mas eu adoro esse livro do Nelson Rodrigues! Cá entre nós, foi o único que eu li dele, mas minha professora dessa cadeira sempre disse que se eu quisesse falar sobre o Nelson sem falar besteira, era esse livro que eu deveria ler. Lembro que, na época, eu inclusive fiz um artigo sobre o livro e tudo mais, sobre a forma com que ele falava mal da sociedade e ela se revoltava por ele escrever exatamente o que de fato acontecia na época. Se você gostou dele, com certeza vai gostar do livro do Rubem Fonseca que eu indiquei no meu livro de retrospectiva. Agora, deixa eu te contar: não é só você que achava bonitinho a galera morrendo jovem por amor, haha. No curso de letras a gente tem até umas piadas internas envolvendo tuberculose, olha só que espirituoso. Mas gostei muito que você captou sim a essência desse livro. Beijo <3

    ResponderExcluir
  10. É uma delícia mesmo ler Nelson Rodrigues! Safado, irônico e tudo, com seus exageros tão característicos. Esse eu ainda não li, mas acho ainda mais legal ver as peças ;)

    ResponderExcluir
  11. já li uma crônica, mas quando relatou em seu texto lembrei de machado de assis: em todos os textos, ou ele é traido, ou traiu, ou teve caso com alguma mulher casada. Mesmo assim, eu adoro o jeito que ele escreve e tenta te persuadir ao decorrer do livro (vide dom casmurro)

    obs: sua nova leitora, seguindo-te;

    ResponderExcluir
  12. Engraçado você começar falando do romantismo, pq hoje mesmo, no escritório, falávamos disso e como todos os autores morriam de tuberculose por volta dos 30! Parece até transmissão de pensamento, rs. E enquanto lia o texto fui imaginando, também, um cenário de novela das seis da Globo - que eram as únicas que eu assistia quando estava em casa e, mesmo assim, não acompanhava direitinho. Estou numa vibe de ler mais literatura brasileira, mas não os sempre indicados no vestibular. Vou anotar Nelson Rodrigues como uma ótima opção para dar continuidade à minha missão! :D

    Beijo!

    ResponderExcluir
  13. Acho que a sociedade ainda é bem previsível, alguns hábitos podem ter mudado, mas se você parar pra pensar, hoje em dia as pessoas também resolvem as coisas no tiro (e não só mágoas de traição, o que é pior), e quanto a infidelidade? Acho que nem preciso comentar. Os problemas não são exatamente os mesmos, é verdade, mas que são bem parecidos, são.
    Deve ser por isso que os clássicos perduram por séculos. Por tratar desses problemas, conseguem ser sempre atuais.

    ResponderExcluir
  14. Eu nunca li nada do Nelson, aliás, foi só ano passado que resolvi sair dessa vida de Crepúsculo (ok, esse foi há mais tempo) e da Meg Cabot. Tô atrasada, né? Enfim. Espero um dia ler esse livro que você indicou porque parece ser algo engraçado de se envolver. Sei lá, traições e tiros...Coisa de novela mesmo!

    Ah, a segunda geração do romantismo foi amor à primeira vista pra mim. Eu ficava impressionada com aquele amor que os autores sentiam por suas donzelas tão brancas e de cabelos negros. Eles eram tão devotos, tão lindos com as palavras que, por exemplo, eu senti nas vísceras "o sofrimento do jovem Werther" quando li. Mas não vou mentir que eu sempre achei aquilo tudo só bonito no papel. Acho até que se fosse aplicado à vida real, seria provável que eu mandasse o carinha pastar...Sou péssima, né? Mas convenhamos, é tudo muito exagerado.

    (Obrigada pela força lá no blog, Ana! Você é um amor!)

    Beijo :)

    ResponderExcluir
  15. Nunca li nada do Nelson, Aninha. Só assisti uma peça uma vez. Mas já ouvi falar bastante dessas características dele e tenho bastante curiosidade. Um dia ainda lerei.

    Sua introdução falando de romantismo me lembrou a parte correspondente em O Mundo de Sofia que eu acabei de ler (sim, eu sei que já estou velha). Mas meu período favorito na história sempre foi a Antiguidade mesmo.

    Beijinhos.

    ResponderExcluir
  16. Estudar literatura sempre foi uma das maiores frustrações da minha vida escolar, o método do qual os meus professores fazem uso é péssimo, pura decoreba, sempre jogaram mil informações e esperavam que a gente decorasse tudo e tudo ok, vamos fingir que estamos estudando. O resultado disso é que não sei nada, ou muito pouco, sobre. Nelson Rodrigues entrou pra minha lista de "quero-ler-pra-ontem" ano passado, não sei quando o descobri, mas achei super interessante o título desse livro e decidi que precisava lê-lo. Adoro esse tipo de abordagem, gente, não sabia que era tão enorme, mas vamos lá, a vontade de ler tinha esfriado, mas voltou com tudo. Muito amor. <3

    ResponderExcluir
  17. Tu já assistiu a adaptação do Daniel Filho para essas crônicas? Gente, é um deleite! Eles escalaram os melhores atores da Globo para os papéis e eum já não consigo mais ler uma história dessas sem já ter o rosto de cada um formado na minha mente. AMO!

    ResponderExcluir
  18. Nossa, me fez lembrar muito da época do colégio e das aulas sobre o tal romantismo. Lembro que minha melhor amiga (minha guru em literatura, dado que eu sempre puxei para o lado das exatas) detestava, dizia que era o pior período e que era ridículo toda aquela fantasia, como, por exemplo, a morte tuberculosa enfeitada, com moças morrendo por uma tossezinha, deitadas imaculadas em suas camas, quando, na verdade, a morte por tuberculose é uma coisa bem nojenta. Acreditei nela e odeio o romantismo e seus floreios até hoje. O que gostei na sua resenha é que toda essa traição e burburinhos sociais me lembraram muito de Primo Basílio e, de fato, suas críticas ao romantismo e a todo esse mimimi social de amor jovem e breve, mostrando que, por trás, a sociedade era podre mesmo. Coincidentemente (ou não), foi um dos meus livros favoritos na época do vestibular. Depois você diz qual conto gostou mais para eu procurar e ver se gosto da narrativa? Beijos!

    ResponderExcluir
  19. Ana, duas coisas:
    - leia a BIOGRAFIA do cara! é fantástica. Recomendo!
    - assista os episódios de A Vida Como Ela É, em dvd. Tem um deles, com a Malu Mader, Antonio Calloni e Maitê Proença, com narração de Zé Wilker, que é a cereja do bolo!
    Eu já fiz A Serpente no teatro. Não lembro qual das duas irmãs eu fiz, acho que foi a que ganhou o marido da outra de presente... kkkkk... já faz tempo.
    beijos!

    ResponderExcluir
  20. Repito sempre que adoro quando tu fala de livros, aliás, sempre dou uma passada por aqui quando quero alguma dica de leitura. beijos

    ResponderExcluir