segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Porque tem coisas que mudam. E coisas que não.

Era 3 de outubro de 2007 quando aquele telefone tocou e eu vi a minha mãe chorar quando atendeu. Eu me atirei na cama e chorei alto. Chorei gritando, chorei de soluçar, chorei de desespero. Eu ainda não sabia como ia ser isso, porque nunca tinha perdido ninguém. Só sabia que nunca mais ia te ver. E que isso ia doer pra caramba.

Você já não era minha “rotina” desde que eu me mudei de Vitória aos 7 anos. Sempre que íamos embora da sua casa nas férias você chorava pra caramba. Me olhava com olhinhos que diziam que meus pais não podiam ter feito a crueldade de me levar para longe dos seus braços. Pois alguns anos depois foi pra longe dos meus braços que você foi arrancada. Sem pedir permissão, e nem te trazendo pra me visitar nas férias.

Eu sei que todo mundo tem sua hora. E sei que a sua chegou. E que você foi embora assim, de uma hora pra outra, como quem pisca. Sem sofrer, sem ficar doente, sem ficar presa a uma cama.. Com certeza você se foi do jeito que queria, porque não consigo te imaginar presa numa cama. Mas podiam ter te segurado aqui mais tempo, embora eu sabia que independente disso, seria pouco. É sempre pouco, vó.

Nesses 4 anos o mundo não parou de girar e a minha vida não parou de acontecer. A diferença agora é que você sabe de tudo o que acontece, sem eu precisar fugir da minha cama pra sentar aos pés da sua, de madrugada, e te contar um monte de coisas. Mudou que eu não consigo mais entrar na sua casa sem sentir um aperto no peito e uma vontade de sair correndo até aquele quarto e te ver sentada na cadeira vermelha. Mudou que não tem  mais você de avental lá na cozinha, me servindo bacias e bacias da melhor batata frita do mundo. Mudou que ninguém mais nunca me abraçou segurando no meu rosto e me chamando de “modesa”, aquele seu jeitinho único de falar que eu era a sua Deusa. Mudou também que ninguém nunca mais, de repente, no meio de uma conversa, me deu um tapa na cara que realmente doeu, só pra dizer: “Sua porcaria, você é a cara do seu pai!”.

Papai sempre foi o seu neném. Eu fui a neta com a qual você sonhou desde que suas filhas não chegaram a nascer. Fui o seu presente de aniversário, fui a xérox feminina do teu filho, e minha irmã diga o que quiser: Mesmo ela sendo muito mais parecida psicologicamente com você do que eu, eu sempre fui a sua pedra preciosa. É claro que você amava as duas igual, mas eu sei que sempre fui o seu xodó.

Vó, mudou também o fato de que sua neta tímida que se escondia na barra da sua saia agora sobe num palco e sai por aí dizendo que é atriz. Engraçado né? Você vivia me chamando de “bichinho-do-mato”. Em vida, você nunca viu uma peça minha, vó. Mas eu consigo te ver sentada na primeira fila. Você ia sorrir e dizer: “Sua porcaria, você era a melhor de todas.”

Mudou muita coisa, vó. Mas muita coisa não mudou.

Não mudou que eu continuo chorando quando penso demais em você. Não mudou que eu choro horrores no dia do nosso aniversário sem poder ouvir você cantar parabéns pra mim no telefone. Não mudou que eu sento na janela e canto parabéns pra primeira estrela que eu vejo à meia noite. Não mudou que eu continuo sendo a cara do meu pai e não mudou o fato de que nunca alguém vai fazer uma batata frita como a sua.

Espero que não tenha mudado o orgulho que você sentia de mim. Eu ainda quero ser tua Deusa, tua pedra preciosa, tua porcaria. O dia que eu deitar no teu colo de novo, você pode dar um tapa na minha cara de novo. Eu prometo que vou reclamar com o mesmo sorriso que fiz daquela outra vez. Porque doeu, mas porque eu sabia que era carinhoso.

Saudades de você, minha linda. Quer saber de outra coisa que não mudou? A última coisa que eu falei pra você viva foi: Eu te amo, viu, vó?

Isso nunca vai mudar.
Eu continuo te amando.
Viu, vó?

18 comentários:

  1. Você gosta, né? De emocionar os outros. Da próxima vez vou ler seus textos com um lenço já pronto na mão porque tá difícil. Tá complicado.

    Tenho certeza de que sua vó, onde quer que esteja, se sente muita orgulhosa de você e ainda se emociona com o caminhar da sua vida. Tenho certeza!

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  2. Ana Luísa,

    Hj acordei com uma saudade imensa de sua avó. Pode passar muitos e muitos anos, e esse dia ficará amrcado para sempre.
    O primeiro ato hj foi fazer uma prece por ela. Onde ela estiver sei que estará olhando por vc´s, que eram o maior orgulho dela.
    Bjs

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  3. Desde que dei uma pausa no meu blog, eu continuo te visitando, Ana! Continuo porque adoro te ler, mas raramente comento. Mas esse texto, em particular, me fez ficar uns minutos parada, respirar fundo pra conseguir comentar, sim, eu precisa comentar. Vi tua vó na minha, sabe?!
    Mas a minha se foi tem 4 meses, e eu ainda não consigo falar dela com essa suavidade que talvez só o passar dos anos tragam. Há 4 meses não consigo falar dela e ainda me pego evitando lembrar, o que foi inevitável ao ler esse teu texto, tão cheio de detalhes tão característicos das avós, todo esse amor que só elas são capazes de ofertar. Até hoje eu só consegui dizer em prece rapidamente que a amo e que ela sempre será uma das pessoas mais importantes da minha vida e rapidamente encerrei. Sei que ela escutou, tenho certeza que sim!
    Assim como sua avó deve estar lá em cima sorrindo com esse texto lindo, sorrindo a cada vitória sua, acompanhando e se orgulhando MUITO da pessoa que você é! =)

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  4. chorei, chorei porque sinto a mesma coisa e também chorei porque sinto uma saudade imensa da minha vó.

    Chorei porque, infelizmente, essa é uma dor que a gente compartilha (':

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  5. Ah, Aninha... que texto bonito. E triste.
    Perdi meus pais tão nova e ainda não consigo escrever ou falar sobre isso... Fico feliz que vc consiga expressar seus sentimentos de forma tão clara. Faz um bem, né não?
    Beijosss

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  6. Chorei.

    Pensei em tanta gente que eu amo, pensei no quanto quero aproveitar mais essas pessoas, me doar mais, estar com elas...

    Lindo.

    Um beijo.

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  7. amor de vó é amor de vó, nada muda e ninguém pode substituir.

    beijas, moça ;*

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  8. emocionante pra kramba hein meu.....vo te que confessar que caiu lagrima.....texto muito showw....muito lindo...

    meus parabens, voce vai muito longe e a cada vez que eu leio um texto seu, é como um animo para eu escrever cada vez melhor também!

    muito sucesso para voce sempre, sua linda!!

    beijão

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  9. Mas é uma coisa linda esse amor desmedido, tipicamente incondicional... já disse que não tenho esse xodó com vô e vó, mas conheço bem a perda de um ente querido. Dói, mas a vida continua, como você mesma disse.

    Beijo

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  10. Me arrepiei do começo ao fim. E me deu saudades do vô. Lindo, lindo. Saudades doída essa né? Mas eles estão lá, presentes, nos assistindo. Eu acredito nisso.

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  11. Ana, independente de sua fé, de sua religião, do que vc acredita ou deixa de acreditar, TENHA CERTEZA que sua vó está bem, feliz por você, sabendo de tudo o que vc pensa e deseja de bom para ela, e principalmente, torcendo para que sua neta seja bem sucedida e muuuito feliz na vida!
    pq é isso que as avós sempre fazem, independente de estarem aqui do nosso lado para nos abraçar, ou em algum lugar melhor nos passando boas energias e acolhedores abraços espirituais ^^

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  12. Sem desmerecer os outros posts, mas acho que esse foi o texto mais lindo e emocionante que você já escreveu por aqui. Assim, já teve muitos textos seus em que meus olhos marejaram e uma ou duas lágrimas saíram disfarçadamente. Nesse aqui as glândulas lacrimais fizeram hora extra. Já disse que fico nostálgica quando o assunto é avó/avô. Morte de avós é coisa que eu nem gosto de pensar muito porque né, minha vó tem 93 anos e embora eu queira muito que ela ainda viva no mínimo uns 10 anos, eu sei que provavelmente ela vai embora muito antes do que eu imagino. E eu já perdi meu avô, já perdi uma grande amiga e sei que qualquer outra pessoa que eu perca nunca vai me fazer acostumar com essa mistura de saudade insuportável, lembranças maravilhosas e amor incondicional que a gente sente e nunca, nunca passa. Eu aprendi, de um jeito difícil, admito, que a saudade não é medida pelo grau de parentesco, mas pela "função" que cada uma dessas pessoas ocupou na sua vida. Eu ainda nem consegui voltar na casa do meu avô depois que ele morreu. E, graças a Deus, a mãe da minha amiga vendeu a antiga casa delas porque entrar lá era um martírio sem tamanho. Eu ainda acho que já que é impossível que nós estejamos sempre com as pessoas que amamos por perto, nós deveríamos no mínimo saber o dia que elas se vão pra poder nos despedirmos adequadamente. Você teve tempo de dizer pra sua vó que a amava. Eu não tive nem isso.
    E essa sou eu, de madrugada, chorando e rindo do "sua porcaria. você é igual ao seu pai", lembrando do meu vô e da minha amiga e fazendo um comentário GIGANTESCO no seu blog. Só não vou me desculpar porque falar sobre isso sempre alivia e porque você é nada mais, nada menos que a embaixadora-mor dos comentários gigantes. Sua avó deve ter muito orgulho disso também!
    Sinta-se carinhosamente abraçada por esta cearense matraquenta e nostálgica (e tímida! Meu Deus, como é que eu tive coragem de escrever tudo isso!) haha
    Beijo, Aninha <3

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  13. sem palavras, só digo que chorei demais lendo esse texto Ana. A homenagem mais linda que a sua vó podia receber :')

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  14. Chorei horrores com esse texto. Talvez porque eu esteja num momento muito emotivo, ou simplesmente porque quando o assunto é "avós" eu fico toda derretida, por amar desesperadamente os meus e não ter mais nenhum por perto. Muito bonito o que você escreveu, ela deve ter ficado mais orgulhosa ainda da Deusa dela! Te amo, lindinha :)

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  15. Sua vó ainda te ama e sempre te amará, enquanto todos nós, que lemos e comentamos, a amaremos e faremos de tudo para que você esteja sempre feliz, por isso terá de nos aguentar fazendo-a feliz! Quem mandou ter tantos amigos e ser a pessoa maravilhosa que você é, parafraseando sua avó, sua porcaria?

    Muitos beijos Aninha. E já sabe: qualquer coisa é só ligar

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