sábado, 25 de outubro de 2014

Meu vestido cor de rosa

Minha mãe é um ser humano engraçado. Ela é do tipo coruja nível regular, sabe? Daquelas que posta foto minha com homenagem no facebook, quando dá na telha, mas que sabe apontar meus erros e não passar a mão na minha cabeça – nem quando estamos sozinhas, nem na frente dos outros. E ela não é do tipo nostálgica acumuladora. Está aí um dos nossos grandes atritos emocionais, daqueles do tipo que certamente vão me colocar na frente de um psicológo que me dê certeza de que a culpa é da mãe, sempre.

Tenho uma tia coruja que tem desenhos de quando eu era criança. Cadernos de bobagens que eu rabiscava. Se bobear, ela tem guardados textos que eu escrevia pequena. Ela tem cartinhas em uma caixa e até, pasmem, uma toalhinha de rosto que eu pintei no jardim 1. Era presente de dia dos pais, mas os meus certamente acharam a toalha esquisitinha. Minha tia não. Se encantou com ela e sempre põe no banheiro quando eu vou pra lá.

Minha mãe é ótima, mas não se preocupou em guardar desenhos, nem cartinhas (deve ter uma ou duas), nem presentinhos de dia das mães da escola e fez o favor de tornar possível que sumisse um disquete (sim) de textos que eu escrevia no computador quando era pequena. Gente, olha a veia de escritora (aham, sdds): aos 8 anos eu escrevi um texto de 10 páginas! Aquilo era o orgulho da minha vida. Passei meses no word. Era a história de uma menina que ganhava uma irmãzinha e viajava pra Disney. Lembro até agora do meu ótimo senso criativo – as bisavós da protagonista se chamavam: Holanda, Rússia e Itália – e do meu pouco conhecimento biológico – a gravidez da mãe dela durou 1 ano. Não acredito que perderam esse disquete. Se fosse uma cria minha escrevendo essas maravilhas eu faria no mínimo 10 backups. Não é todo dia que se tem a chance de usar o trem desses em um discurso na formatura – claro que serei dessas mães que discursa.

Mas a história nem era sobre isso. A história é que minha mãe não guarda as nossas coisinhas nostálgicas e, como a minha família é enorme, nossas roupas e mantas sempre foram passando para os primos que iam nascendo, de forma que nem minha manta da maternidade eu tenho. No meio dessa confusão toda, escapou um vestidinho. Um vestidinho cor-de-rosa de bolinhas que, segundo a progenitora, foi o primeiro vestido que eu usei na vida.

Ele é tão fofo e tão pequeno que eu, que já corujo meus futuros filhos antes mesmo deles sonharem em existir, mal posso imaginar vestir nele a minha menina. Estou aqui, agora, na verdade, imaginando que tipo de reflexão você leitor está esperando dessa lenga lenga toda. Sinto muito: não vai ter nenhuma. A verdade pura e simples (que raramente é pura e nunca simples, segundo Orwell) é que eu precisava postar por causa do desafio 7 dias 7 crônicas que vira e mexe eu e a Anna resolvemos fazer. O texto tinha que sair antes da meia noite e já passou das 23h. Eu não tinha tema nenhum, de modo que recorri ao grupo “642 coisas sobre as quais escrever” no facebook, sorteei o número 45 e nele estava escrito “Uma peça de roupa que guardou como lembrança”. Aí eu lembrei do vestido. E resolvi que tentaria tirar algo em relação à falta de nostalgia da minha mãe e o vestido cor-de-rosa. Não consegui, mas saiu isso aqui. Será que dá pra ser considerado uma crônica? Eu sou uma fraude.

5 comentários:

  1. Guria, vem aqui comigo e choremos. Minha mãe também não guarda quase nada. Ela tem cadernos e desenhos e várias roupas, mas nenhum, NENHUM brinquedo. Hoje mesmo eu estava na casa de uma amiga brincando com as Barbies dela, sendo feliz, imaginando que alegria seria se eu tivesse as minhas ainda :(
    Por que nossas mães são assim? Poxan.
    <3

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  2. Dá cá um abraço! __o__ Minha mãe não guardou absolutamente nada do que eu fiz/escrevi quando criança. A única coisa que guardo até hoje são uns gibis bem tosquinhos que eu fiz. Eu gostava muito de desenhar e gostava muito de histórias, como eu tinha muita raiva da Mônica, eu fazia os meus próprios gibis, porque segundo eu, minhas histórias eram muito mais legais. Chora Maurício de Souza ;'( < mas era uma tosqueira sem fim HAHAHAHA...

    Beijos :*

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  3. Nossa amiga, nunca tive muito apego com essas coisas, sabia? Eu ainda tenho basicamente tudo da época da escola, mas tá aqui em casa mais porque eu não sei o que fazer com essas coisas. Acho um desperdício (?) jogar no lixo, mas não acho serventia pra nada. Minha mãe também é bem pouco apegada, mas olha que coisa: há umas 3 semanas minha avó achou uma malinha minha na casa dela, com as coisas que minha mãe tinha guardado de quando eu era bebê. Lá tinham vários vestidinhos, umas mantas, chapéus. Sabe que fiquei meio emocionada? Guardei feliz <3

    beijos!

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  4. Minha mãe guarda algumas coisas de quando eu era pequena, mas é das mais apegadas. Eu sou, e falto chorar de emoção só de olhar pra aqueles rabiscos duvidosos que eu fazia quando era pequena. Roupas ela guardou algumas, mas o esquema era parecido com o da sua família, de forma que a maioria das minhas coisinhas acabaram indo vestir meus primos mais novos. O que sobrou em casa vestiu minhas bonecas por muito tempo, mas agora nem faço muita ideia de onde tudo aquilo foi parar. Acho que dentro de alguma mala, que é o lugar onde normalmente a gente guarda essas bugigangas. Qualquer dia desses eu procuro <3



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  5. Agora fiquei pensando se minha mãe guardou minhas coisas. Acho que não. Deve ter as lembrancinhas do meu primeiro ano em algum lugar, várias fotos. Mas não sei se os desenhos, as cartinhas, ou as roupas estão guardadas por aí. Não sei se eu guardaria. Minha mãe tá preocupada com o meu futuro, e tá guardando vários potes e panelas pra quando eu tiver minha própria casa. Vai ver é um acúmulo ao contrário -- olha pro futuro, nem tanto pro passado. Vai saber.

    Beijos!

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