quarta-feira, 9 de julho de 2014

Alemanha 7 x Brasil 1, eu vi isso acontecer

Uns dois dias antes de disputarmos as oitavas de final contra o Chile eu sonhei que tínhamos perdido de 6 a 1 para o Uruguai. Acordei desesperada e aliviada ao mesmo tempo: graças a Deus era só um pesadelo. Mal sabia eu que, dias depois, a realidade se revelaria ainda pior. Não foi de 6 que tomamos. Foi de 7.

Acho que a gente sente o peso da idade bater quando vive algum acontecimento marcante. Depois do jogo do Chile, enquanto voltei à pé, para a casa do meu tio, enrolada na bandeira, pensei que iria amar contar para os meus netos que eu estava lá em 2014 e vi o Brasil ganhar uma Copa nas oitavas de final, batendo (e pegando) pênaltis. Ontem eu fui obrigada a perceber que o que vou ter que contar para os meus netos é que eu estava lá em 2014, no dia que o Brasil perdeu uma semifinal de 7 a 1 e não se iludam, queridos netos, só fizemos 1 gol porque a Alemanha ficou com dó.

Desde que eu entrei em estado de choque quando a Alemanha fez 4 gols em 6 minutos (sim) que eu fiquei imaginando o que me sobraria para escrever, já que não poderia usar o texto do hexa que veio pronto na minha cabeça outro dia. 

Até agora, confesso, não descobri o que escrever. Mal dormi a noite, tive febre (sim), sonhei com futebol a madrugada inteira. Talvez meu problema tenha sido levar essa Copa a sério demais. Porque eu levei, sabe. Antes do nosso segundo jogo, minha tia disse, em um almoço em família, que a Dilma tinha comprado a nossa vitória. Eu, do alto da minha falsa maturidade, disse que era melhor perder então, porque ganhar comprado seria um absurdo. Dias depois, enquanto morria do coração no jogo contra o Chile, juro que cheguei a rezar: Dilma, se você não comprou, compre. Eu quero ganhar.

Hoje, depois de tomar de 7, apesar de estar sofrendo, retorno ao meu pensamento anterior: ganhar comprado realmente não seria justo. É duro admitir mas não estamos jogando bola e o país do futebol não merecia levantar a taça do Hexa em casa sem ter jogado bola o suficiente para isso. Quem sabe em 2018, quem sabe em 2022 ou 2026, quem sabe quando ele voltar a dar show em campo e honrar exibir a taça ele o faça de novo. Está doendo, e muito. Me senti atropelada pelos alemães ontem mas, venhamos e convenhamos, é muito mais bonito vencer na raça do que vencer na sorte. 

A Alemanha está jogando tanta bola que eu nem consigo sentir raiva dos caras. Muito pelo contrário: Agora que o Brasil não está mais brincando, torcerei pela Alemanha com toda a força que me restou. Não antes, claro, de torcer para o Brasil levar o terceiro lugar. Não que eu acredite que, depois desse atropelamento, aqueles meninos, tão desgastados emocionalmente, consigam jogar alguma coisa. Mas jogando alguma coisa ou não, torcerei. Torcerei sábado, torcerei daqui há 4 anos, torcerei sempre. "Pior do que sofrer seria não ter copeado", disse minha sábia amiga Amanda quando eu disse que não brincaria de Copa nunca mais. Não sei quem eu queria enganar. Claro que brinco. Brincarei sempre. Brincarei tanto que hoje ainda estou com a blusa do Brasil que vesti em cada um dos jogos. Brincarei tanto porque sempre aprendi que não pode descer pro play quem não sabe perder. Sei perder, por mais que doa. Sei chorar por ter tomado de 7. Nunca vou esquecer desse dia mas, trocadilhos à parte, vamos tocar a bola pra frente e lembrar que nossos avós viram o Maracanazo em 1950, antes de comemorar o tetra em 94 e o penta em 2002 e que, por isso, nunca vamos perder a esperança de comemorar um hexa e um hepta (!), mesmo depois de termos sido atropelados no Mineirão, em 2014. 

9 comentários:

  1. Você e estes seus textos incríveis Ana. aiai.
    Não pode descer pra Copa quem não sabe perder! Não pode vestir a camisa do Brasil no outro dia, se não a carrega com orgulho.
    Torcerei sempre. E se invés de terceiro, tivesse disputa de último lugar, torceria também, porque não sou torcedora modinha e o Brasil não é suas nega procês amarem e desamarem ele assim. Tomem vergonha. hahahahhaa

    Arrazô, como sempre. ♥

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  2. Torcer para o Brasil se torna uma proporção MUITO maior do que torcer para qualquer outro time em nível nacional... Merecíamos pelo menos ESSA alegria... a do "pão e circo"... Seria pelo menos um incentivo para o GIGANTE manter-se atento e acordado... se não conseguimos nem ganhar um mundial (e isso já faz 8 anos ) o nosso pais sendo "o pais do futebol" quem dera os nossos problemas em nível social.

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  3. Eu amei esse texto. Amei! Estou louca pra parar de falar no jogo de ontem, mas acho que como ainda não faz nem 24 horas, ainda possa.
    Ganhou ontem o melhor time, o que treinou mais, o que estava mais preparado, o que tinha um conjunto melhor. Sei reconhecer isso. Também sei perder, por mais dolorido que possa ser.
    Agora, torço no sábado. Torço pra que eles consigam erguer a cabeça e jogar de novo, porque não vi isso ontem. Sei que é difícil, mas sempre vou estar torcendo.
    Vi o Brasil ganhar uma Copa, e o já Brasil ganhou duas no curso da minha vida. Ontem, vi o fiasco e vai ser difícil esquecer mesmo. Mas, independente do final feliz ou triste, tudo vira história.
    Que venha o hexa, o hepta, quantos títulos forem, quando estivermos preparados pra isso. E, de fato, é melhor perder do que seria não ter copeado. Amei participar e amei torcer.

    Beijo!

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  4. Eu fiquei estarrecida com o jogo de ontem! O negócio não foi nem perder. É óbvio que os alemães estavam melhor preparados, mas o time simplesmente desistir assim depois de tomar o segundo gol foi ridículo no mínimo. Eles ficaram como patetas ali no campo, enquanto os alemães se divertiam de jogar a bola na rede. Sério, nem sei se os alemães curtiram tanto a goleada assim porque realmente foi fácil demais.

    Eu fiquei com dó. É claro que estava torcendo pelo Brasil, mas depois do terceiro, quarto, quinto gols, já sabia que o jogo tinha terminado. Aí desanimei. Foi feio de ver. Porque nossos jogadores nem fizeram por onde tentar virar o jogo. Isso foi o mais triste.

    Enfim, passou. Tomara que tenha sido lição aprendida pra seleção. E vamos torcer pra Holanda perder hoje. Porque tomar goleada da Argentina, mesmo que pelo terceiro lugar, não vai ser bacana. ;)

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  5. É isso mesmo, Analu. Valeu enquanto durou mas os meninos, realmente, não tinham condições de levantar uma taça. Por mais que me parta o coração, sim, eles não tinham. Mas um dia eles, ou outros, terão. E nós gritaremos o hexa engasgado nas nossas gargantas.

    Beijos, amorinha!

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  6. O jogo foi ontem, mas ainda estou em letargia. Nunca antes na história da minha vida vi coisa parecida. Claro que doeu, e ainda está doendo, mas nem por isso vou sair por aí queimando bandeiras e repudiando meu país. Sou brasileira independente de resultados futebolísticos, e, muito embora uma vitória seja sempre melhor, na derrota temos que permanecer firmes e leais. Continuo com a bandeirinha no carro, e vou torcer loucamente no jogo pelo terceiro lugar. Permaneço brasileira, com muito orgulho e muito amor. ♥

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  7. Amiga, futebol é uma coisa muito didática, né? Sei que eu forço a mão nas metáforas, mas é tanta coisa que se alinha, sabe? Tanta coisa na vida que a gente sofre por não ter conseguido, mas ao mesmo tempo sabe que não merecia. E talvez isso faça com que doa três vezes mais. A gente vê que conquistar uma coisa é muito melhor que ganhar de mão beijada, por mais confortável que a última opção seja. E que viver uma coisa intensamente, mesmo se o final não for como a gente espera, é sempre melhor que não ter vivido de jeito nenhum. Brincaremos sempre. Champions league que nos aguarde! hahaha
    Te amo e amei nossa Copa.
    <3

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  8. Ana de uma lida nessa cronica depois apague se quiser tem tudo a ver com o torcedor brasileiro do Brasil ou de qualquer time.

    “E fiquei pensando que quando for a nossa vez de novo teremos certamente a torcida mais dedicada, fiel, convicta e feliz do Brasil. Por que será a torcida dos que resistiram! Aguente só mais um pouco...”.

    O passado é prologo. Certos acontecimentos dão força a essa frase, transforma tudo que veio antes em preliminar, em mero antecedente, ou para usar outro termo literário, em prefácio. Você se da conta de que tudo que houve até ali, toda uma vida, toda uma história foi simplesmente preparação para aquele certo momento, depois do qual, nada será como era. E o passado ganha uma lógica que não tinha. Você passa a entender tudo em retrospecto, tudo tinha um sentido em que você apenas não perceberá na falta do momento máximo.
    A vitória do grêmio, em Tóquio em 83 nos anos medíocres, o quase rebaixamento, as finais desperdiçadas, os vexames, as desilusões, tudo era prólogo para ontem. Agora ficou claro, agora ficou lógico. O próprio destaque como melhores do mundo, conquistado pelo Barcelona e pelo Ronaldinho fazia parte da preparação para o nosso 17 de dezembro que não teria o mesmo gosto épico se o adversário fosse outro. Tudo era armação para aumentar o brilho e o drama do nosso momento máximo, tudo se encaixava, ou você pensa que a saída do Pato e do Fernandão foi obra do acaso, esse autor sem imaginação? O resultado veio sendo construído aos poucos, desde antes da fundação do Internacional, antes de Pedro Alvares Cabral, antes de Onero e das Pirâmides, e eu sabia que havia uma justificativa histórica para o topete do Gabirú!

    Há dias a leitora Poliana Lopes me lembrou de um texto que eu tinha escrito e esquecido, ela teve a gentileza de me mandar o texto e eu peço licença para repeti - lo agora era assim:
    “Meu caro Colorado, desculpe essa carta a céu aberto, é por que não sei seu nome nem seu endereço. Na verdade, só vi você na rua de mãos dadas com seu pai e cercado pelos seus irmãos que vestiam a camiseta do Grêmio, suponho que fossem seu pai e seus irmãos. Você estava com a camiseta do Internacional, quase parei o carro para olhar melhor, mas não era miragem.
    Você tinha uns quatro ou cinco anos e estava de camiseta vermelha, seu pai vestia uma camiseta branca exemplarmente neutra, mas posso imaginar como tem sido a sua vida em casa. As provocações, os petelecos, a flauta, o martírio. E lá estava você de camiseta vermelha o antigo escudo orgulhosamente no peito, desafiando todas as provações. Não sei se você sabe que vários colorados da sua geração não aguentaram, e trocaram de time. Levaram pais e avós ao desespero, mas não suportaram a preção do sucesso gremista, você aguentou! Você não sabe, mas é um herói. E fiquei pensando que quando for a nossa vez de novo teremos certamente a torcida mais dedicada, fiel, convicta e feliz do Brasil. Por que será a torcida dos que resistiram! Aguente só mais um pouco, meus respeitos."
    Mas isso tudo também pode ser um sonho, se for, por favor, não me acorde!

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  9. Amiga, já não aguento mais discutir sobre isso tudo. Porque pra mim a questão é o psicológico deles e pronto. Agora volto a me calar sobre futebol como era antes.
    Mas foi doloroso, viu. Eu não acreditava enquanto via a bola entrar vezes seguidas e todo mundo na minha família se revoltava. Eu esperava acordar, como quando espero acordar no meio de um acontecimento ruim da minha vida. Aquilo não mudava a minha vida, mas na hora pareceu que sim. Doeu. Mas fiquei até o fim vendo. Senão teria vergonha de mim mesma.
    Agora poderei falar que vi o Mireinazzo. Infelizmente. Mas também vi a Copa de 2014 inteira, com seus muitos erros e seus muitos acertos.
    Beijo <3
    It was a pleasure to have my heart broken by you, Copa.

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