domingo, 12 de janeiro de 2014

O que completa e o que transborda

O ser humano é um mistério. Quando tratamos de questões mais biológicas e práticas, como, sei lá, moléculas, hormônios e órgãos, a coisa já sai do controle. Ao se falar de sentimentos então, é um completo desvario.

Estava pensando nisso dia desses quando lembrava da frase de John Green (sempre ele), dessa vez dita em O teorema Katherine, que diz que É possível amar muito alguém, mas o tamanho do seu amor por uma pessoa nunca vai ser páreo para o tamanho da saudade que você vai sentir dela.

Reza por aí a lenda de que o próprio John Green não concorda com a frase, e pode ser que para muita gente ela não faça sentido. Mas no meu caso ela é latente, e no de muitas pessoas também. Como ele mesmo já disse em A Culpa é das estrelas, o problema da dor é que ela precisa ser sentida. E, céus, como ela é sentida.

Não sei se é uma tendência do ser humano dar mais importância à própria dor do que à própria alegria, mas a minha sensação é a de que os sentimentos bons nos completam. Os doloridos nos transbordam. Não porque queremos que seja assim, mas é porque rola aquela questão de que alegria nunca vai ser demais, então por mais que seja enorme, não é excesso e não transborda. Já a dor, essa é sempre um excesso. Não queremos sentí-la, queremos nos livrar dela, e cada pontinho já é um excesso, já é transbordante. Nos dói mais ainda o fato de saber que precisamos sentí-la, e então a consciência da dor causa uma dor ainda maior.

E é por isso que eu concordo absolutamente com essa frase. O amor é a parte boa de um conjunto de sentimentos que pode doer bastante. E o amor, ele é grande. Mas ele nunca vai ser maior do que a saudade, do que a dor que a falta da pessoa nos causa. O coração, realmente, tem razões que a própria razão desconhece.

10 comentários:

  1. Amiga, esse tema é meio dolorido. Me pergunto se eu tenho uma memória péssima ou se é assim com todo mundo, mas costumo me concentrar na dor. Nunca escreve textos sobre épocas felizes e, a não ser que sejam particularmente especial, acabo me esquecendo delas depois de um tempo. Mas época particularmente doloridas rendem.
    Depois que li aquele texto do John no tumblr sobre essa frase de sentir falta, se tornou um dos meus objetivos de vida conseguir amar mais do que sentir falta. Acho que esse é o tipo de amor mais difícil.
    Seu post me fez lembrar do livro que terminei de ler ontem, em que o cara vira pra menina e diz que não pode ficar com ela porque a ama demais e isso tira o espaço dele, dói. E é bem isso que eu não quero sentir ou que sintam por mim.
    Beijo <3

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  2. Não sei bem o que dizer sobre esse seu texto, amiga. Só que eu sou dessas pessoas que sente muita saudade. Das épocas que passaram, do sol passando sobre os amigos, de algumas pessoas, do que elas já foram e, principalmente, de mim mesma. Aí seu texto me fez pensar se eu me esqueço de amar por me ocupar tanto com a nostalgia. Preciso refletir mais sobre isso porque viver de passado, sinceramente, não está nos meus planos. Sobre a dor, concordo que precisa ser sentida, mas também acho que precisamos dizer a ela quem manda e gritar chega às vezes. Ser tomada por esse sentimento é perigoso.

    E, meu Deus, parem de citar John Green! #internas

    Beijos <3

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  3. Emocionado...
    Boquiaberto...
    Sem Palavras...

    gotadenanquim.com/

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  4. E quando sentir a dor, não queira que ela suma tão depressa. Aprecie ela como se aprecia o amor, porque a dor também faz parte desse ser que é você. Tenha a paciência de ficar no chão um tempinho a mais, naquele desmoronamento todo, naquela agonia do peito. Todo mundo precisa conhecer a metade que cai no escuro para entender o que é ser completa no claro. E acredite, esse minutinhos a mais de conhecimento podem fazer com que a saudade não seja dolorosa e se torne um sentimento nostálgico de algo bom que veio, ficou um tempo e foi. Porque ele simplesmente tinha que ir e você leva apenas o que foi bom. :) Adorei o blog. Estou seguindo tá, Ana? Um beijão!

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  5. Teorema... foi uma das minhas decepções do ano 2013/2014. Fiquei com vontade de abandonar a leitura na primeira semana... Mas eu compro a maioria dos livros que leio, não posso dar-me esse luxo.

    A gente só aprende mesmo quando a gente sente (dor) ou como diz aquele ditado extremamente grosseiro "quando a merda bate no queixo é que se aprende a nadar..." e o tempo é relativo tem uma musica aqui no sul que fala isso "se ta ruim demora se ta bom vai embora... a vida passa sem a gente vê."

    Não ando em uma época muito nostálgica. Sim, tem uma porrada de lembranças da infância/adolescência que da aquela pontinha de saudade... mas quem vive de passado é museu né? quero viver coisas novas e bacanas dignas de me lembrar daqui a dez anos ou mais.

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  6. Gostei bastante da sua teoria, amiga (amo nossos papos virando posts), mas eu muito sinceramente não sei qual é minha opinião sobre o assunto. Eu sou muito nostálgica, muito mesmo, mas ao contrário da Mimi, tenho uma memória muito fraca pra acontecimentos ruins. Então acho que sempre fico com as partes boas pra mim, e por mais que a falta seja doída, não é aquele tipo de dor que machuca, o tipo de dor que acho que você e o Colin estão falando.

    Ao mesmo tempo, faz sentido isso de a dor transbordar, de ser sempre muito maior do que a gente pode suportar simplesmente porque num mundo ideal não sentiríamos dor nenhuma e amaríamos sem fim.

    Não sei, não sei #martelando

    Beijos <3

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  7. Há alguns anos (1 ou 2, não sei) eu escrevi algo parecido no meu blog. Claro, que do meu jeitinho curto e grosso de ser. Hahaha Mas basicamente dizia que a gente presta muito mais atenção nas coisas ruins, nas nossas dores, do que nas coisas boas, nas alegrias e no amor. E tu super completou meu pensamento sobre isso dizendo que a dor transborda. A dor é excesso. A dor é demais para nós. As dores, saudades e sentimentos ruins são muito mais expressivas e marcam muito mais a nossa vida. É uma coisa macabra, se for parar para pensar. É um jeito tenebroso de nos afundar ainda mais na nossa própria existência. Existência essa que...dói, muito mais do que sorri.
    Infelizmente.

    Te amo e amei esse post. <3

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  8. Ás vezes eu me impressiono com a mente humana também. Da nossa capacidade de achar grandes ideias em tantos detalhes que passam despercebido por tantas pessoas. Foi o que você fez, achando essa reflexão que me deixou sem palavras, apenas com uma grande vontade de reler e reler até minha mente se acostumar.

    Parabéns Analu!!!!

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  9. Ai amiga, me abraça. Amo tanto esse livro que ai <3 tive uma identificação tão grande com ele que nossa, mas essa parte da saudade ainda já é uma baita duma verdade por si só, quando estamos apaixonados então VISH! E esse post tem uma melancolia poética deliciosa viu? Gosti <3

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  10. Meu Deus, que texto perfeito!
    Li e me identifiquei na hora! Nunca tinha pensado dessa forma, mas "os sentimentos bons nos completam. Os doloridos nos transbordam" fez total sentido para mim. Obrigada pelo insight hahaha
    Beijos

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