quinta-feira, 20 de maio de 2010

Atrás das grades

Já não estava aguentando mais. Ficar presa ali era o fim. O mundo todo girava lá, do lado de fora. Ela era obrigada a ver por trás do vidro, sempre. Essa história poderia ser.. sei lá. De Fernandinho Beiramar, numa cela de cadeia.
Mas não.
É a história de Sofia, que tem apenas 8 anos. E as grades são de sua própria janela.
Só que ela nasceu no mundo como ele é hoje. Onde na verdade, ninguém tem liberdade. Sua mãe conta que podia brincar na rua até de noite. Jogar bola, empinar pipa. Ela chora, olhando os carros, ouvindo o barulho. Deseja estar lá fora, mas ao mesmo tempo tem medo.. Mal se concentra na imagem, e vê uma senhora sendo assaltada. Levaram sua bolsa, e a empurraram. Por sorte, conseguiu cair sentada e se equilibrar. Sofia derrubou mais uma lágrima. Que crime tão grave ela tinha cometido, mesmo antes de nascer, para ser punida com um mundo destes? Um mundo onde as crianças não podem correr na rua. Um mundo onde os bandidos ficam do lado de fora, e os bons do lado de dentro?
Ela chora de novo e pensa que realmente não sabe se é melhor ser obrigada a ficar do lado de dentro, ou se do lado de fora.
Se aninha em sua cama, dorme abraçada a seu ursinho. Sonha que está num imenso jardim, brincando com muitos amigos. Todos são felizes. Ela senta então e pede para nunca mais acordar. Mas seu coração sabe, que a manhã vai chegar de novo. E que um dia, o sol voltará a brilhar para todos. Do lado de fora da janela.


8 comentários:

  1. Que texto bonito, Ana!
    E sabe, é bem assim que as coisas são, mesmo. Nós mesmas não tivemos essa mesma "liberdade" que nossos pais tiveram!
    Me lembrou uma música da Pitty, ouça, chama De Você! x)

    Beijo!

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  2. Texto fofo e que retrata muito bem a realidade! Eu ainda pude brincar na rua, pois moro em um bairro afastado do centro. Mas muitos amigos meus moram no centro e não tiveram essa oportunidade. Percebo que isso gera um certo 'trauma' do mundo de fora, pois eles tem medo de ir até a esquina da própria rua. Não gosto de ser pessimista, mas acho que as coisas irão piorar para próxima geração. =/

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  3. Como minha cidade é pequena eu sempre tive toda essa liberdade também, e realmente é muito bom, deve ser terrível morar em um lugar em que não se pode sair de casa sem sentir medo.

    Beijos, Alessandra.

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  4. Existe a liberdade do mundo e a liberdade3 que temos de nós mesmos, dentro da prisão que nós mesmos construímos. Sofia está presa do mundo por sua janela, mas antes de poder abri-la e ver o mundo, deve primeiro libertar-se de si mesma e de seu medo do mundo desconhecido, uma comum característica humana.
    Ser livre é ser diferente, é não ser humano, mas para o bem próprio, devemos tentar ultrapassar a barreira do humano para depois ultrapassar as barreiras que o mundo tem.
    A liberdade pode ser adquirida por todos que a almejam e que a mereçam, basta que esta pessoa liberte seu coração de sua prisão de seis janelas


    Continue melhorando seus textos cada vez mais Ana, sei que você pode,e que vai, longe!

    Beijos do seu fã nº 1, Bárbaro

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  5. Olá, obrigada pela sua visita, estou retribuindo é claro e é claro tbm te seguindo. Seu 'quem sou eu' ficou muito show!

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  6. Aihh nem fala... nem imagino como seria minha infãncia sem a rua.. hahaha

    eu vivia na rua o dia inteiro!!!

    Uma pena saber q cada dia q passa, é menos provável v esse tipo de cena.

    beijinhos mil

    Por Sami

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  7. É uma triste realidade, trazido por um belo e consciente texto.

    bjs

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