segunda-feira, 7 de março de 2016

Sobre a inércia

Eu nunca gostei de física, mas se tem algo que tirei de todas as aulas desta nada distinta disciplina que fui obrigada a suportar da 7ª série até o 3º ano do ensino médio é que VM é igual a delta S sobre delta T e que a inércia é uma lei que prega que todo corpo que está parado tende a continuar parado.

Acho que comecei a entender mais ou menos o que isso queria dizer quando estava no olho do furacão do meu segundo ano de faculdade. Se alguém me perguntar como sobrevivi a 2011 eu não saberei dizer. É claro que eu sei que muita gente se vira nos 30 porque tem que fazer milhões de coisas todos os dias mas o câncer do vizinho não cura o meu resfriado e long story short, a verdade é que nesse longínquo ano de 2011 (parece que foi ontem) eu ia para a faculdade de manhã, para o estágio à tarde e para a aula de teatro à noite, o que fazia com que eu basicamente saía de casa às 6h40 e voltava para ela às 22h20, com um rápido intervalo no horário do almoço. Se você pensa que eu chegava e morria você está tremendamente enganado, porque os momentos relaxantes do dia devem ser aproveitados, dizem, de modo que eu chegava, tomava banho, jantava, e só então ia "viver", o que significava que era basicamente perto da meia noite que eu sentava no computador para assistir coisinhas, pegava um livro, pensava na vida, essas coisas. Eu passei 2011 inteiro dormindo uma média de 3 horas por noite - e eu não consigo lembrar de um ano em que eu tenha sido tão produtiva e tenha tido tanta energia, à parte do sono.

A verdade é que eu passava o dia bocejando e aproveitando cada trechinho de locomoção para cochilar e preferia almoçar em 10 minutos para dormir os outros 40 disponíveis, mas fico admirada de lembrar que mesmo bocejando eu tinha muita vontade de fazer um monte de coisa o tempo todo e me envolver em tudo quanto é projeto e invenção errada era possível. É por isso que o gráfico é tão desesperador, me acompanhem.

Lembro de alguém ter dito uma vez que quando você quer pedir alguma tarefa urgente a alguém, deve pedir a alguém que já está bastante atarefado. A ideia é que quem tem muito o que fazer sempre arranja uma brechinha para ter mais o que fazer, enquanto quem não anda fazendo muita coisa... precisa sempre de mais tempo ainda para não fazer nada. É triste constatar que isso é a mais pura verdade.

Como já falei por aqui em linhas tortas algumas vezes, em agosto do ano passado eu fui demitida. Cumpri o aviso prévio até o início de setembro e desde então entrei nas estatísticas. Lembro tão nitidamente da minha primeira madrugada como demitida porque eu chorava copiosamente e dizia que no dia seguinte iria procurar outro emprego. Quando a adrenalina baixou, fiz uma porção de contas e decidi que conseguiria "ficar de férias" até o final do ano. Seria um presente para mim mesma, concluí, porque desde o 2º ano de faculdade eu tinha começado a trabalhar, emendado um emprego no outro e nunca tinha nem parado para pensar no que eu queria fazer. 

O tempo passou e eu confesso que não procurei emprego ativamente até agora - já estamos em março. Tenho algumas coisas em mente, vou começar uma pós, alguns planos foram feitos incluindo uma viagem no fim de abril com o boy para "se despedir" do meu futuro 1 ano sem tirar férias, já que um emprego novo vem com isso na bagagem. Noves Fora (nunca entendi essa expressão) tudo o que eu queria era dar mais uma explicação barata pelo meu sumiço do blog: confesso que não ando fazendo muita coisa, e é impressionante como simplesmente sentar para escrever se torna complicado quando você não tem quase nada competindo a atenção com isso.

Quando a gente tem muito tempo livre parece que tudo pode ser feito daqui a cinco minutos. Tem dias que penso que preciso sentar e pelo menos pensar em algum texto - e nada. E nada. E nada. É um looping. E aí, depois de ter postado só duas vezes em fevereiro, eu lembro que em agosto eu segurei um BEDA inteirinho, trabalhando e vivendo normalmente. Onde foi parar tudo isso? No âmago do tempo em que eu tinha menos tempo sobrando e vontade de gastar minha energia com coisas interessantes que vão além de assistir seriado ou, sei lá, ficar parada olhando para o teto.


A inércia é um conceito muito verdadeiramente bizarro. Ou seria bizarramente verdadeiro? O fato é que, eu digo, já parece meio ridículo procrastinar postagens no blog, imaginem procrastinar pegar o celular, abrir o whatsapp e ver o que está acontecendo nos grupos. Ou ainda: parabenizar logo o amigo pela peça de teatro de ontem. Ou ainda: dar parabéns para a amiga que está fazendo aniversário. TUDO, absolutamente TUDO parece extremamente passível de ser feito daqui a pouco, ou daqui a muito, ou OPS, nunca? Posso me arrepender depois de ter dito isso, mas olha, que saudade de estar ocupada e produtiva e feliz de estar fazendo muitas coisas ao mesmo tempo. Não sou do time que prega que a gente tem que estar SEMPRE ocupado para ter orgulho de si mesmo. Prezo totalmente os meus dias de descanso, mas já deu muito tempo de aprender que eles são bem mais preciosos quando a gente passa, pelo menos, os cinco dias da semana esperando por eles - ou o mês inteiro esperando pelo feriado.  

Esse blog tem 7 anos com 6 anos e meio completamente assíduos. Peço perdão pelo semestre esquisito e vazio, ainda não consigo prometer que VOU VOLTAR e ser melhor, mas posso prometer que existe essa intenção, serve? Vocês ainda vão me ver, de novo, descabelada e postadeira e apaixonada, porque dessa novidade eu nunca mais vou me desocupar.

8 comentários:

  1. Ai é tão difícil admitir, mas eu sou uma procrastinadeira danada! rsrsrsrs
    Seus textos, todos eles, são tão gostosos de ler!

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  2. Engraçado que hoje cedo eu estava vindo pra casa lendo a newsletter da Anna Vitória e pensei que fazia muito tempo que não lia nada teu (com exceção daquela news de quinta, mas ela era mais um diálogo, né? não conta) e que tu tava meio sumida das ~internets~, especialmente aqui do blog, e aí chego em casa pra ler texto novo, e um tweet perdido na minha timeline, e até um post no grupo da Pólen. Quer dizer, mordi a língua.

    Bem-vinda de volta mais uma vez e boa sorte nessa saída da inércia. Eu sou 100% o tipo de pessoa que prefere estar atolada de trabalho a não estar fazendo nada, tipo agora, que o semestre da faculdade está acabando e eu não consigo ficar um segundo sem falar sobre isso porque tenho responsabilidades até não dar mais conta, mas também nunca estive me sentindo tão útil. Vai entender.

    Beijo!

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  3. Aninha.... Vemk dar um abraço que super te entendo <3 já passei muito por isso e acredito que logo passa, você mais do que ninguém tem um dom incrível de transformar cotidiano num conto incrível e divertidíssimo por mais que o cotidiano não tenha muitos eventos hehe tomara que você encontre um bom emprego e se ocupe - mas não muito! descansar é preciso!

    beijo! <3

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  4. Hahaha olha que eu entendo hein

    Acho que até essa experiência é boa, nada é por acaso, aprende-se algo e sorte da gente poder ler e gerar aquela empatia, afinal quem nunca?

    Essa falta de vontade eu tive até de abrir o olho.
    hehehe acontece

    http://rascunhosehistorias.blogspot.com.br/

    Aproveita mesmo assim e volta.

    http://rascunhosehistorias.blogspot.com.br/

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  5. Amiga, demorei mas cheguei me ame <3

    Eu entendo DEMAIS o que você diz. 2014 estava eu fazendo faculdade, monografia, grupo de pesquisa, estágio, morava lá na casa do cacete e tava tudo bem? Hoje em dia eu ainda tenho várias coisas pra fazer, trabalho 8h, limpo casa, cozinho etc., mas parece que aquela energia inesgotável dos bons tempos acabou. Parece que quanto mais a gente faz, mais a gente consegue fazer.

    Acho que fazer demais também é estafante, que tudo na vida é encontrar um equilíbrio. Mas pra chegar lá precisa quebrar a inércia, e eu sei como é difícil, e também resistir à tentação de dizer sim pra mais coisas quando já estamos soterradas.

    Mas não se vá, fica comigooooo não nos deixe.

    Te amo <3

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  6. Me identifiquei tanto!

    (Exceto pela parte da física, claro, pois amo muito, inclusive a física da faculdade que, por mais incrível que pareça, é pelo menos umas 4x pior.)

    Eu tô numa situação parecida.

    Como sobrevivi a 2011 (!!!) é um mistério. Assim como você, eu saia de casa antes das 7 e voltava depois das 22h. Eu tinha aula das 8 às 22h, com 2h de almoço (que eu usava pra estudar e fazer trabalhos) e 1h entre a aula das 18 e das 19h, que eu usava praticamente só pra me deslocar (as aulas eram em campi diferentes) e comprar alguma tralha pra jantar na sala de aula mesmo, apesar das broncas do professor. Eu chegava em casa super tarde e às vezes ainda tinha coisa pra estudar, apartamento para limpar e uma vida pra viver. Além disso, final de semana sim, final de semana não, eu passava mais de 10h me deslocando pra ir visitar meus pais e amigas e acabava, em casa, ajudando com faxina, supermercado e outras coisas.

    Agora, eu me formei. E, pela primeira vez em muito tempo (uns 7 anos), eu tenho muito tempo livre e não sei lidar. Fazer qualquer coisa tem sido um sacrifício imenso e eu só consigo pensar naquela menina que dormia 3h por noite e ainda conseguia tirar 8 na prova de cálculo 2 (outro mistério).

    Força, amiga! Até porque é uma força que tira um corpo da inércia, seja em repouso ou em movimento.

    Beijocas,

    Dani

    P.S.: Escrevi um post lá no blog uns anos atrás justamente relacionando a primeira lei de Newton ao nosso comportamento :) https://semformolnaoalisa.wordpress.com/2013/09/11/lei-da-inercia-e-produtividade/

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  7. Olha só que coisa: quando você escreveu esse texto, eu estava numa fase péssima de escrita e até meio desesperada com isso. Eu queria muito escrever, eu tinha muito assunto pra colocar em dia, mas era incapaz de colocar uma palavra depois da outra. Eu não entendo de física e nunca tive um ano tão intenso como foi o seu 2011, mas enquanto eu lia esse post só conseguia pensar: é isso, é isso, é isso. As férias inteiras eu prometi que ia postar mais, mais e mais, e a única coisa que consegui fazer foi assistir Friends (amiga, ÚLTIMA temporada, estou no chão). Mas a gente supera. Quebra o ciclo, acha difícil no início, mas se coloca em movimento de novo - e aí ninguém vai conseguir nos parar.

    TE AMO <3

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  8. Miga, te entendo tanto. Até hoje não sei como BEDEI e BEDEI sem deixar um diazinho pra trás. Não consigo escrever, tudo que escrevo segue sendo uma bosta. Acho que às vezes a gente tem que aceitar que NÃO DÁ e pronto. Segue-se em frente. Não gosto dessa sensação do blog ser uma obrigação, de mimar ser uma obrigação. Parece que sobrecarrega também. Mas continuo aqui e sigo mimando, tho.

    HAHAHAHA

    Beijo!

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