quinta-feira, 2 de julho de 2015

- Você faz novos amigos!

Foi com leveza, simplicidade e um enorme tom de condescendência que PAI, Meu me soltou duas vezes na vida a frase que intitula esse texto. Das duas vezes ele estava me colocando na bagagem ao mudar de cidade. Se eu estivesse no olho dessa situação, como foi há 15 e 5 anos, diria que fui carregada como um dos móveis. Não deixa de ser, não é como se eu tivesse tido escolha. Mas a raiva e a tristeza do momento acabam passando e a gente volta a si e aceita minimamente que os pais fazem conosco o que dá pra fazer. Com 7 e 17 anos não existia a opção deles me deixarem para trás, por mais que doesse. O problema nunca foi esse. O problema era a sua insistente mania de minimizar o que era importante no meu mundo.

"Você faz novos amigos". A frase ecoa na minha cabeça. Gostaria de saber quem foi que decidiu que amigos eram descartáveis. Feito móveis. Feito livros. Você lê um, curte um bocado, põe na estante de volta e vida que segue. Rio pensando: se até dos livros eu demoro a me desapegar, imagina das pessoas.

Essa história de que nenhuma pessoa é insubstituível pode ser confortadora em muitos casos, mas bater na tecla de que tudo bem precisar perdê-las porque existem novas para você conhecer me parece um descaso absurdo. E os laços? E os abraços? E as histórias? Calma aí, cara, não é só trocar por novos.

Acho que o sonho do meu pai, quando eu era mais nova, era me fazer entender que amigos eram sempre passageiros, que não tinham tanta importância assim. "Sério que você tá chorando desesperada desse jeito por deixar os amiguinhos para trás?", ele perguntava. E prosseguia: "Você pensa demais com a emoção, tem que pensar com a cabeça" (?). 

Pai, desculpa, eu dei errado na vida. Dei errado na vida porque dou risadas contidas ao pensar nos seus conselhos. Dei errado na vida porque acho tão mais bonito e mais acertado pensar com o coração que ainda tatuarei cuor agire em algum lugar do corpo. Para não esquecer nunca do que é importante, sabe?

Sem mágoas - são apenas as minhas conclusões. Só estava lendo Nós, do David Nicholls, ontem, na cama, e de repente ele me soltou um trecho que resume tudo o que eu sempre confabulei a respeito dessa história de dar valor aos amigos. A sociedade num geral dá pouca importância a isso com essa história de "é só fazer novos". É como se a família ficasse em um patamar inalcançável, porque não se faz família nova. Trabalho também a gente tem que levar super a sério, porque é o sustento, Amigos são amigos; devem ser tratados como  amigos. , como se eles fossem pouca coisa; como se fossem coadjuvantes facilmente substituídos, e não, não tem que ser assim.

Já tive que substituir meus melhores amigos da vida algumas vezes nessa vida, em duas delas de forma compulsória e ó, vi o mundo acabar. Tudo bem, após algumas tantas manhãs seguintes, acaba ficando tudo bem, afinal de contas. Mas entre o mundo acabar e a manhã voltar a ficar boa demora um bom bocado de dias que eu pretendo não ter que experienciar de novo. Talvez eu tenha aprendido tão bem a lição, inclusive, que ao invés de permitir que a uma distância imposta acabe me afastando naturalmente dos amigos feitos com a proximidade, resolvi subir uma fase na dificuldade inicial e acabei fazendo amigas JÁ a distância. Se a distância não foi capaz de atrapalhar, nada no mundo será.


Meus amigos não são substituíveis.
Meus amigos não são SÓ amigos.
Deêm uma olhada nesse abraço e vocês vão entender porque.

10 comentários:

  1. Meu pai sempre teve um tom nonchalance de tentar me acalmar sempre que, por alguma circunstância da vida, eu tivesse de me despedir dos meus amigos. Eu sou particularmente sortuda por nunca ter me mudado, desde criança, porque eu provavelmente não levaria tão bem. Quando saí de uma escola pequenina de ensino fundamental e passei pra escola de ensino médio na cidade vizinha, meu pai fez um carinho na minha cabeça e disse, entre risos: "Tem mil outras garotas lá pra você conversar". O que eu queria mesmo dizer era: "Mas nenhuma delas viveu as aventuras que nós vivemos. Nenhuma delas passou todas as noites do mês no telefone comigo até as quatro da manhã, mesmo sabendo que nós nos veríamos na manhã seguinte. Nenhuma delas me deu um abraço apertado de meia hora quando minha avó foi embora, porque sabiam que eu não precisava de palavras, apenas de amor. Nenhuma delas passou os meus melhores momentos da vida ao meu lado e esteve lá nos mais difíceis também. Nenhuma delas correu na minha direção quando nós passamos meses sem nos ver e era como se só ali tivéssemos chegado em casa. Aliás, casa não, LAR." Tinha mil coisas que eu queria dizer. Mas não disse. Porque sei que ele não entende o valor da amizade como eu entendo. Pouca gente entende. E cá entre nós, nós somos realmente sortudas por entendermos.

    ResponderExcluir
  2. Com toda certeza do mundo posso dizer que quando a amizade é verdadeira a distância não separa não. Ouso até dizer que o tempo também não afasta a amizade verdadeira.

    Lindo esse abraço coletivo <3

    ResponderExcluir
  3. Será que isso é uma coisa de geração? Que nossos pais foram criados pra pensarem que amigos eram só amigos e nós descobrimos que, opa, eles são muito mais que isso? Porque já escutei muito isso da minha mãe quando, por algum motivo, eu tentava fazer demais por uma amizade ou sofria por alguma amiga e recebia em troca uma cara que seria o equivalente a um "seje menas, filha". Momentos. No fundo eu queria que ela entendesse um pouquinho de como as coisas funcionam na minha cabeça, porque a real é que eu nunca valorizei minhas amizades como agora e por mais que a vida não esteja aquela festa o tempo inteiro, tenho certeza que as melhores partes dela só aconteceram porque eu tinha essas pessoas do meu lado. Eu te abraçaria neste instante se a gente não tivesse uns bons km nos separando, porque você é uma dessas pessoas e de longe já foi responsável pelas melhores partes do meu ano, mas já que eu não posso (pelo menos não agora, mas essa vida que me aguarde, porque não posso sossegar muito tempo) pelo menos eu posso olhar pra o que a gente construiu nesses poucos meses e pensar que eu tenho, de fato, as melhores pessoas do mundo comigo.

    te amo <3

    ResponderExcluir
  4. Eu penso como Sharon, acho que é algum defeito da geração dos nossos pais, porque não é possível. Ouvi isso dos meus pais a infância inteira, sempre que mudava de escola ou cidade. Nunca consegui entender. O que a gente viveu com uma pessoa nunca acaba, não muda e é pra sempre, mesmo que a distância aumente e a amizade acabe de fato.
    E A Gente...somos a melhor prova de que a distância não é nada quando se tem MUITO AMOR. E que amor! Fico arrepiada olhando essa foto porque conseguiram captar a nossa essência ali. E é lindo!
    TE AMO muito! <3

    ResponderExcluir
  5. Oi Ana!!
    Que foto linda!! Acho que existem amigos que são irmãos que nasceram em mãe diferentes... e amigos que não são amigos... ou são SÓ amigos, vale seguir nosso coração e ver quem é amigo de verdade.... Eu tive que acabar com amizades tb, por mudar de escola, e eu tentei, mas simplesmente uma pequena distancia mudou tudo, então realmente não era amizade verdadeira, né?!

    Bjinhos
    JuJu
    As Besteiras Que Me Contam

    ResponderExcluir
  6. Adorei o texto Ana.
    Também sou desse time que acredita que amigos não são "só amigos".. Que amigos a gente não coloca que lado e faz novos amigos.. A gente até faz novos, mas os outros continuam. Pq são laços.

    ResponderExcluir
  7. Acho tão bonita a sua sensibilidade ao escrever Ana! Falando de amizade então, só me faz enxergar o quanto de verdade tem aí, nas suas palavras.
    Já deixei amigos pra trás também, mas como diz o poeta " amizade é um amor que nunca morre', sempre tem AQUELES que são pra sempre, apesar da distância, apesar da agenda lotada, apesar das mudanças.

    Beijão. ♥

    (ps: essa foto é maravilhosa, você são lindas juntas) ♥

    ResponderExcluir
  8. Ai, que lindo! ^^ É maravilhoso ter esse tipo de laço inquebrável, e amizades há distâncias já nascem com o selo de "se na distância nos unimos não é ela que vai nos separar", rsrs

    ResponderExcluir
  9. Estive pra ler e comentar nesse post faz dias, mas com as provas finais e a vida na labuta, não consegui.

    E olha, eu concordo contigo. Amigo não é "só" amigo. Que mania que as pessoas tem de diminuir amizade em prol de outras coisas. Eu tenho dificuldade em fazer amizades, mas depois que faço, se algo dá errado, eu fico um tempão me remoendo.

    Meus amigos de hoje são basicamente os mesmos que eu tinha na escola. Milagrosamente a gente ficou unido -- ou até mais unido --, e estamos aqui hoje, dividindo várias coisas juntos.

    Não sei no post de quem que comentei, mas acho a amizade de vocês muito bonita e essa foto tá maravilhosa.

    Beijos!

    ResponderExcluir
  10. #AI #NOSSOS #PAIS
    Como estávamos conversando aquele dia, acho que é uma coisa de geração isso. Sinto que as pessoas, principalmente as mais velhas, tratam os amigos como os coadjuvantes na vida, sabe? Meio que as pessoas que estão ali quando você ainda não casou ou tem um namorado, meio que o tapa buraco. Depois tudo vem na frente da amizade. Família, trabalho, namoro, vida, enfim. Sei lá, as pessoas se preocupam (!) comigo porque eu não namoro, como se isso fizesse de mim uma incapaz, uma leprosa, uma maluca, sei lá, mas ninguém acha incrível o fato de eu ter tantos amigos bacanas. Falo sem modéstia, porque se tem uma coisa que eu dei certo nessa vida foi com meus amigos. Vejo quase toda semana meus amigos de infância, estou até hoje com os amigos que fiz no primeiro semestre da faculdade e fazemos as coisas juntos desde então sem nunca brigar, e fiz amigas no Brasil inteiro, a história mais maluca, sem pé nem cabeça, e mais certa que eu já vivi. Sério, o que é um namorico perto do que a gente conseguiu?

    Aí meu pai vai e pergunta qual a necessidade de um chá de lingerie.
    Ai nossos pais.
    Pelo menos estamos ignorando esses ensinamentos lindamente e sendo erradas e tortas juntas. E amigas.
    te amo <3

    ResponderExcluir