quinta-feira, 23 de julho de 2015

De boas intenções o inferno está cheio (?)

Esses dias essa frase me veio na cabeça assim, aleatoriamente. Eu pensei rapidamente sobre, talvez, não concordar com ela. Mas desisti do pano pra manga e mudei de pensamento. Agora ela me veio na cabeça outra vez.

Tudo porque eu estava lembrando de um livro que terminei de ler recentemente. “Azul da cor do Mar”, da Marina Carvalho. Nunca tinha ouvido falar da autora e confesso não ser uma exímia conhecedora da literatura contemporânea brasileira. Me fale de literatura brasileira e eu só vou saber citar nomes das antigas e um ou outro mais recente que acabou virando hype, tipo o Antônio Prata, a Paula Pimenta ou a Martha Medeiros. Mas li infinitamente mais livros gringos e tenho mais preguiça de arriscar em títulos duvidosos quando eles são daqui. Preconceito idiota. Enfim.

Ganhei esse “Azul da Cor do Mar” em fevereiro do ano passado, de uma grande amiga minha. Eu estava me formando em jornalismo e ela teve todo um cuidado de pesquisar para me dar de presente um livro que fosse protagonizado por uma jornalista. Fala sério, vai. Sabendo que eu gosto de ler, ela podia ter entrado na livraria e pegado o primeiro best seller que pulou na sua frente, para não ter trabalho. Mas não, ela foi carinhosa o suficiente para arriscar em um livro desconhecido e pouquíssimo cotado só porque a protagonista era uma jornalista e ela achou que esse seria um presente incrível de formatura.

E foi. Toda vez que penso nessa história eu me emociono pensando em como as pessoas sabem ser lindas. Mesmo assim, deixei o livro de escanteio, empilhado na fila de “não lidos” e passando tudo que eu comprava na frente dele. Nem entendi direito o que tinha me dado na telha quando, esse mês, finalmente resolvi pegar o coitado ali e dar conta de descobrir o que ele tinha pra mim.

Acabou que minhas previsões preconceituosas estavam corretas: o livro é bobo; imaturo. Não consigo pensar em outras palavras para descrevê-lo senão essas. Personagens completamente surreais, histórias de amor que nascem do nada, supostos adultos que agem todos como adolescentes, a utopia do mercado de trabalho onde a estagiária chega abalando e no seu primeiro dia de trabalho escreve uma matéria que supera a do jornalista estrela da redação e é publicada na primeira página... deu pra entender, né? Se ainda não deu, eu conto um spoiler: a protagonista estava na mira do revólver de um traficante, tendo sido feita refém e, ignorando toda a negociação da polícia, believem-me, o cara só resolveu soltá-la quando ela implorou pra não morrer virgem. Ou, respeitando as palavras da autora, quando ela disse que não poderia morrer sem nunca ter tido uma noite de amor, se é que ele entendia. Gente.

Cheguei num nível da leitura que eu devorava o livro e dava risada com a quantidade de clichês, falta de profundidades, diálogos ridículos e declarações de amor baratas. Até com o nome dos personagens eu já estava me irritando: as melhores amigas da protagonista se chamam Alice e Sofia e eu quero ver alguém da década de 90 ter duas melhores amigas com esses nomes. Na época existiam Marianas, Fernandas e Jéssicas, Marina. Não Alices e Sofias assim, a rodo. É por isso que insisto na falta de maturidade para descrever o que senti lendo a história. Se tivesse sido escrita por uma menina de 14 anos eu ia botar bastante fé. Meninas de 14 anos talvez acreditem em toda essa mentira-cor-de-rosa que Marina tentou me fazer engolir. Enfim.

A intenção dela com certeza foi boa. Ela quis lançar um livro, tinha essa história na manga, mandou pra editora que achou a ideia o máximo, fez o favor de casá-la com uma capa tão brega quanto e voi lá, o livro foi para as prateleiras e acabou na minha mão, por mais uma grande dose de boa intenção da minha amiga que, tudo o que queria, era encontrar uma obra com protagonista jornalista e conseguiu.

Porque que eu disse tudo isso? Sei lá. Pra dizer que talvez eu não concorde mesmo com essa história de que de boas intenções o inferno está cheio. Porque, sei lá, às vezes tudo o que a gente quer ver nas pessoas é que a intenção delas era boa. Se o bolo solou, se o presente foi repetido, se o livro era ruim... é realmente, sempre, o resultado final que importa? Acho que não, de verdade. As pessoas tem essa cisma meio inconsequente de só se importar com os finais das histórias. Todo mundo quer um final feliz, a qualquer custo. Mas o meio, gente, o meio. O meio é o caminho. O final só acontece no final, o meio dura muito mais tempo e talvez seja muito mais importante. Nem só de resultados totalmente positivos são construídas as histórias felizes. O livro era bizarro – e foi um dos presentes mais lindos que já ganhei de uma amiga na vida. A boa intenção vale sim. Talvez, em determinados casos, ela seja o que mais vale. 

10 comentários:

  1. Começando com aleatoriedades, estou me esforçando para melhorar na área da nova literatura brasileira. Acho que somos tão bons quanto os gringos, só precisamos nos descobrir. Já tive e ainda tenho um pouco desse preconceito, mas estou tentando superar. Tô lendo agora um "chick lit" brasileiro que tem seus problemas, mas, em geral, estou achando bem escritinho (só que estou na página 30 anda, risos).
    Que pena que o livro não ornou, mas concordo que o que conta é a intenção, e que a felicidade não é o destino é o caminho e essa coisa toda. Não acho que a gente deva nunca na vida deixar um fim meio cagado estragar um meio incrível. O fim foi cagado, que pena, tem outros fim, mas o resto permanece importante.
    Ah, e eu tinha uma amiga Sofia na escola, sorry.
    Te amo <3

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  2. Sobre as intenções: Pensando bem, acho que você está certa. Recentemente, tive que ir num evento que não estava nem um pouco a fim de ir, mas as pessoas envolvidas na organização estavam tão empenhadas e tão empolgadas que, no fim, nem foi tão ruim, foi aceitável justamente porque era importante pros envolvidos.

    Sobre o livro: eu passei o mesmo que você lendo as maravilhosas obras da Isabela Freitas. Li o "não se apega não" nas férias passadas e o "não se iluda não" e só o que tenho a dizer é: NÃO LEIA NÃO! Encontrei essas mesmas falhas que você encontrou no livro que ganhou, só que, por ter um tom de auto-ajuda, foi pior ainda. Eu gosto de chick-lit, mas que tristezinha perder meu tempo com esses dois livros. Se não leu, fuja. Sério.

    Tive uma colega Sofia no pré, mas todas as outras envolvidas depois dessa época tinham nomes mais populares.

    Boa sorte pra nós com os próximos livros o/ Bjs

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  3. Amiga, socorro! Se servir de consolo, preciso dizer que eu morri de rir cada vez que você fala desse livro no snap e essa parte do não poder morrer virgem. Ai socorro. Preciso ler só pra poder rir com propriedade (?). Minha literatura como um todo é bem falha e você sabe, mas a brasileira, coitada, tenho até dó. Sei lá, preciso rever isso, preciso ler mais histórias criadas aqui. Mas tudo bem, um passo de cada vez.
    Sobre o inferno estar cheio de boas intenções, eu gostaria de dizer que:
    1) Amo essa frase porque eu sou louca desse jeito mesmo.
    2) Concordo com você. Acho que a gente se importa demais com o fim, mas gente, o meio. Tão mais gostoso. Tão mais interessante. Mas ao mesmo tempo acho que ela tem lá seu fundo de verdade quando a gente pensa naquelas pessoas horríveis (ou personagens horríveis) que fazem um monte de merda mas nossa, fiz tudo isso por amor/família/sei lá. Migo, seje menas e vá pro inferno. vlw flw.

    te amo <3

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  4. GURIA, por isso que te amo! Hahahahahaha ano passado ganhei de Natal um livro que já tinha lido três ANOS atrás em Dublin, mas sorri e agradeci e falei que ia ler só porque a intenção foi mesmo boa. Acho que esse ditado só faz sentido quando a gente sofre uma presepada de alguém que supostamente estava cheio de boas intenções, mas gostei da reflexão hahha
    Também tenho pé atrás com nacionais, li quase nada, tanto que até esqueço das sessões de literatura nacional nas livrarias, que feio né? Tsc tsc tsc hahah

    beijo <3

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  5. HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH.... Amiga que droga, o que dizer? que pena que não leu antes pra poder trocar! uahsuahushuahs. Pelo menos umas boas risadas de um livro muito ruim você teve. Amo você, e quase morri de tanto rir!

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  6. Ana, que saudade de entrar aqui para ler seus textos!

    Enfim, cara, admiro muito sua força de vontade de ir até o fim com um livro ruim! Eu não dou conta e boto pra escanteio hahahahaha...

    Fico feliz que o livro seja fruto de uma atitude tão linda da sua amiga! Pelo menos isso fica, né? rsrsrs

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  7. Acho que as pessoas repetem as coisas meio sem critério. Porque todo mundo fala que de boas intenções o inferno tá cheio, mas também dizem que o que vale é a intenção. Ou que os fins justificam os meios, mas depois não justifica nada. Dá vontade de fazer aqueles círculos de conjuntos pra ilustrar que às vezes uma coisa exclui a outra, ou então que, como diz outro ditado, as coisas não são tão preto no branco.

    Eu acredito muito nas boas intenções e acho que o inferno seria um lugar razoável se estivesse mesmo muito cheio delas. A consideração e o carinho da sua amiga são muito mais importantes que o conteúdo do presente. Aliás, não é essa a lógica dos presentes? Gosto muito mais de saber que a pessoa teve o cuidado de pensar em algo pra mim, do que no algo de fato, por mais que presentes legais sejam muito bacanas.

    Enfim. Sofia e Alice. Aham. HAHAHAHAHAHA
    essa vai ficar pra nossa geração, quando formos escrever um YA. Sofia e Alice, que vão rivalizar com a Valentina, e talvez se apaixonar por um Antonio, um João ou um Vicente.

    beijos, amiga <3
    te amo!

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  8. Às vezes as pessoas usam de uma boa intenção pra justificar as coisas que fazem, mas que na verdade não aconteceram vindas de uma boa intenção, sabe. No caso de presente da sua amiga foi bem o contrário e aí sim vale o meio, porque o final não anulou o bem que ele te fez.
    Como diria a Jout Jout em Coisinhas Flutuantes o negócio é aproveitar o caminho ^^
    Bjss

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  9. Li esse livro e você falou tudo que achei dele. Leia "O castelo de vidro" da Jeannette Walls. Esse sim.

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  10. Confesso que também tenho um pouco de preconceito com literatura nacional, especialmente a mais "comercial", mas me parece que cada vez mais tem bons livros brasileiros saindo (não é o caso desse, pelo que tudo indica, haha). Eu não curti muito os juvenis brasileiros que li, mas li livros destinados a pessoas de treze anos tendo vinte, sabe? Não sou exatamente o público-alvo (mesmo que eu costume gostar bastante de livros destinados a crianças e adolescentes).
    Eu sempre interpretei a frase "De boas intenções o inferno está cheio" como se quisesse dizer que todo mundo acha que está fazendo o bem, mas o bem é questão de opinião. Sei lá, as pessoas matam as outras achando que estão fazendo um bem para a humanidade, esse tipo de coisa.
    E achei interessante esse comentário sobre os nomes. Minha melhor amiga de infância se chama Alice (e conheço mais umas 3) e já estudei com uma Sofia também. Eu gosto quando os personagens têm nomes mais diferentes, porque se todo mundo tem nome comum eu acabo confundindo as personalidades. Mas, claro, o escritor tem que saber dosar isso (inclusive li a sinopse e vi que tem um personagem chamado Bernardo e tenho a impressão de ter visto vários Bernardos em livros recentes. Existe tanto Bernardo assim no mundo?)
    Beijos

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