segunda-feira, 13 de abril de 2015

Precisamos falar sobre Americanah

Ta aí mais um livro que tinha um tantinho de medo de ler. Inclusive eu to começando e me achar muito literariamente medrosa. Todo mundo começou a falar sobre, minha amiga ~super engajada~ só dizia maravilhas sobre, Anna Vitória leu e disse que se pudesse teria comido o livro inteiro, enfim. Estava mais que na hora de eu enfrentar aquele calhamaço de 515 páginas e capa bela para ver qual era. E vi.

Começarei polemizando ao dizer que dei 4 estrelas. Dei? Guentaí que to indo lá no skoob conferir. É, dei, mas é que ó, foram quase 5. Foi uma dúvida cruel, eu queria muito que tivesse a possibilidade de eu dar, sei lá 4 estrelas e meia ou ainda, 4,75 estrela, sabe. Eu dei 4 estrelas mas eu gostei bastante. Minha crise foram as 100 páginas finais, que achei chato, achei enrolação, e acredito que Chimmy percebeu isso também tanto que atabalhoou tudo e quis resolver em poucas páginas algo que precisaria de no mínimo mais umas 100. Sei lá.

Eu adorei o livro. Se você tá aí, em dúvida, pode pegar porque essa mulher escreve pra caramba. Ela é do tipo de gente que te faz ficar parada encarando o livro e tentando lembrar se era ficção mesmo ou se você é a única pessoa no mundo que não sabia que era uma autobiografia all time long, sabe assim? Tinha determinados momentos que eu tinha certeza que chegaria no final e encontraria um PLOT TWIST que me diria que a história era sim verdadeira.

São detalhes, sabe, como duas personagens que nem são importantes mas fazem parte do mesmo grupo de amigos e têm o mesmo nome. É, as duas chamam Paula. Aí eu me perguntava: para que ela inventaria uma dupla de xarás  em um livro fictício se ela pode escolher qualquer outro nome? Ora essa, porque na vida real podem haver xarás e nada mais justo que na história dela existam xarás também. Entendeu? O exemplo pode ter sido esdrúxulo e muita gente pode nem ter prestado atenção no causo das meninas de nome igual, mas eu achei muito perspicaz. São esses detalhes pequenos que transformam qualquer narrativa de uma ficção simples para uma quase realidade. Chimamanda faz tudo isso com maestria.

Já falei da narrativa, agora posso falar do conteúdo. Você não entende direito sobre racismo? Leia Americanah. Acha que o racismo acabou? Leia 2 vezes. Acha que você não tem privilégios por ser, eventualmente, uma pessoa de pele branca? Leia 3 vezes, vai. É importante. Pra frisar, sabe?

Chimamanda me deu uma aula de vida. Sobre privilégios, sobre respeito, sobre pessoas, e sobre como o preconceito pode estar nas sutilezas enquanto você aí seguia com a sua vida achando que depois que a escravidão acabou ficou tudo bem pra todo mundo. Ela me mostrou toda a diferença entre viver onde você é igual a todos e viver onde você é diferente. Onde te apontam na rua e onde você é apenas mais um – e nesse caso, ser apenas mais um é o melhor dos mundos.

Chimamanda e sua muito bem construída Ifemelu me levaram arrastada para um universo que eu desconhecia; socaram o meu estômago; cuspiram na minha cara – e eu gostei. Descontruí um monte de ideia errada que eu tinha na cabeça, saí de dentro de uma bolha, entendi meus privilégios e passei a enxergar o mundo com um pouco mais de consciência e vergonha na cara. Tudo isso enquanto navegada nas páginas de um romance, e não de um artigo sociológico/antropológico, vejam bem. A literatura, ela faz maravilhas. As pessoas deveriam usá-la mais vezes.

Racism should never have happened
and so you don’t get a cookie for reducing it.
Chimamanda Ngozi Adichie

8 comentários:

  1. Vejo como, apesar de tudo, a gente é bem diferente literariamente quando você diz que tirou uma fração de estrela de Americanah pelo final, sendo que ele foi uma das minhas partes favoritas. Ela abriu aquela porta, eu virei a página e as lágrimas escorreram, e eu quis abraçar o livro, comer ele todinho, dar 7 estrelas se possível. Adoro finais abertos e fortes, amo, amo, amo.

    Mas não é sobre isso que eu queria falar. Queria dizer que senti tudo isso, tapa, cuspe na cara, queria enfiar embaixo da cama e me esconder de tanta vergonha. Achei Chimmy tão lúcida, tão precisa, tão absolutamente certa em todas as coisas que diz e ao mesmo tempo ABSURDAMENTE sensível. Porque Americanah, antes de ser um ~tratado~ sobre o racismo na América no século XXI (ui!) é uma história de amor, e isso é incrível.
    Queria ser coerente e fazer o mínimo de sentido quando tento explicar como esse livro é especial, MAS SÓ SEI SENTIIIRRRRR
    me ame.
    te amo e amo que você amou o livro também!
    beijos

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  2. TODAS AS MINHAS 25 ALMAS FICARAM ARREPIADA COM ESSE FINAL!!11111
    A literatura é maravilhosa. As pessoas deviam usá-las mais vezes. Vou tatuar essa frase. Me segura, tô indo no tatuador agora.
    Nossa, só sei sentir. Me ajuda.
    Toda vez que eu leio uma frase sequer desse livro, é como dar de cara com a realidade. Ser esbofeteada por ela. Mas depois abraçada também. Porque é tão humano!
    Ai, amiga. Amo tanto esse livro. Senti tanto isso tudo que você também sentiu. Admiro tanto essa mulher. Fico tão feliz de poder compartilhar isso com você, que também admiro e amo. NOSSA, NOSSA. AGORA TO INDO NO TATUADOR.

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  3. Ainda não li o livro mas gostei do post (aliás estava esperando por ele desde que vi a capa ali debaixo do "I know places we can hide", e agora já estou esperando o post sobre As intermitências que eu li e achei muito bom). Fiquei curiosa em saber quais foram as ideias erradas que você desconstruiu depois da leitura :)
    Bisous bisous !

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  4. Tô louca pra ler Chimamanda e não consigo me decidir entre Americanah e Meio Sol Amarelo. Cada vez que alguém fala dessa moça, aumenta um ponto na escala de amor por autores que eu nunca vi nem comi, só ouço falar. Seu post me deixou em desespero pra conseguir logo um exemplar, hahaha. Beijo!

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  5. Quero taaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaanto HELP. Morro de vontade de ler todos os livros dela e anda não li? Vou comprar, preciso acabar com essa minha treta. O livro por si só já parece ser maravilhoso, mas acho que desenvolvi um pouco de preguiça por ele ser tão grande e ter uma cara/assunto mais sério. Não ando bem, literariamente falando, mas eu sei que preciso ler, e cada elogio de vocês sobre ele só fico com mais vontade. Sim, um paradoxo. Sabe quando você tá morrendo de sede, mas com preguiça de ir na cozinha buscar água? rs

    Te amo <3

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  6. Eu ainda não terminei de ler o livro, tô indo igual uma tartaruga, mas ao contrário de outros livros que leio devagar porque não curto, esse é uma questão de tempo mesmo, e daí quando eu pego leio uns 5 capítulos de vez. Uma hora eu acabo, uma hora eu entendo esse final que te fez dar 4 estrelas pra um livro que até agora eu acho que merece cinco, enfim.

    Eu também morria de medo de ler esse livro, de me sentir burra, porque eu odeio livros que fazem com que eu me sinta burra e você sabe. Mas sei lá, achei Chimmy tão escrotamente maravilhosa, tão mais incrível do que aquele discurso que você postou um tempo atrás me fez acreditar. Ela também tem me dado uma aula sobre a vida. Sobre ser diferente, sobre privilégios, sobre pessoas, sobre respeito. Eu ainda estou no processo de levar umas porradas, uns cuspes na cara - e tenho adorado. Obrigada Chimmy pela graça alcançada.

    Só espero mesmo que eu ame e dê 5 estrelas - mas tudo bem se for 4,75 também.

    te amo <3

    P.S: Jamais conseguirei beeshar certo com você </3

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  7. Eu também curti muito esse livro. Li há poucos meses. Pra mim ainda teve um outro viés, que foi o da vida de imigrante, que também sou. Essa coisa da gente se sentir um peixe fora d'água. No caso dela, ainda teve a questão racial, que ela abordou maravilhosamente bem.

    Achei o texto dela muito fluido, muito verdadeiro, quase não-ficção como você disse. Muito natural, acreditável.

    Eu tenho tentado conhecer autores de outros países e culturas e, pra mim, foi uma ótima pedida pra conhecer um pouco mais na Nigéria, não tinha a mínima ideia de como era a vida lá. Impressão minha ou tem muito a ver com o nosso Brasil? Em muitos sentidos, achei bem semelhante.

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  8. Necessito tanto desse livro! Mas to pobre demais até pra meus pequenos prazeres da vida.
    Frase divina essa do final do seu texto. 10 de 10.
    Bjss

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