segunda-feira, 30 de junho de 2014

Brasil X Chile, 28 de junho, eu sobrevivi

Eu falei que não ia mais tentar me controlar e não vou. Principalmente não depois de sábado. Porque algo sobre sábado está entalado na minha garganta (rouca) desde que saí na rua com a bandeira enrolada no pescoço e porque minhas dores musculares não me deixam negar que aquele jogo me atropelou como um caminhão.

No meu post passado, onde eu relatei que nos outros 3 anos e 11 meses onde não existe Copa eu não consigo entender direito a paixão das pessoas pelo futebol, minha amiga brilhantemente comentou que a magia é toda essa, porque para a paixão não existe explicação nenhuma. Achei um comentário bonito e sincero, mas nada que mudasse a minha vida. Pelo menos não até sábado, quando olhei aqueles goleiros, em câmera lenta, se dirigindo para o gol como quem se dirige para a forca.

Eu assisti ao jogo em uma lanchonete bem bacana aqui de Curitiba. Eu e minhas amigas chegamos tarde: devia faltar uma meia hora para o jogo só. Obviamente não conseguimos mesa, o que, acho eu, foi até melhor: assistimos no balcão do bar da fila de espera, NA FRENTE da televisão. Perdi a conta de quantas vezes ajoelhei na banqueta e soquei aquele balcão. Mas nada se comparou ao momento dos pênaltis.

Juro que, até agora não sei como, pelo menos ali na área do bar só estávamos eu e minhas amigas (Mimi, Giu e Palo) em pé. Não sei que tipo de torcedor tem sangue frio o suficiente para assistir sentado a uma disputa de pênaltis, mas só sei que eu estava enrolada na bandeira, de mãos dadas com minhas amigas, como se a minha vida dependesse daquela bola entrar naquele gol. E foi ali, naquela caminhada lenta dos goleiros até o gol que eu entendi tudo o que a Anna quis dizer naquele comentário anterior.

Tive uma epifania rápida e não pude deixar de rir de mim mesma. Pensei: "Engraçado pensar que daqui a 10 minutos estaremos classificados ou eliminados. Simples assim. Ou estaremos muito felizes ou muito tristes. E...? Gente, é um campeonato, que engraçado pensar em como isso mexe com a gente. É só uma bola. São só 11 homens jogando. Não vai mudar absolutamente nada prático na minha vida aquela bola entrar no gol e mesmo assim, meu Deus, não consigo deixar de rezar para que ela entre ali, balance aquela rede e me dê uma classificação." E era isso. Não existe lógica nenhuma, e acho que eu entendi que, quanto menos lógica tiver, melhor fica. Porque emoção não tem que ter lógica. Um grito de gol não tem que ter nenhum sentido. 

Eu estava posicionada de frente para a cozinha do bar. Por uma janela, ao lado de nossa televisão, podíamos ver tudo o que rolava na cozinha. E foi nesse momento que eu olhei para lá e percebi que a cozinheira comemorava o pênalti antes de mim. Claro! A televisão deles era com sinal analógico, tudo acontecia segundos antes! E foi assim que, enquanto na nossa televisão o Sanchez se posicionava para bater, que ela cornetou quase chorando e eu comecei a pular junto. Antes dele chutar. Antes daquela bola bater na trave.  E foi só ali que eu descobri que eu tava com o corpo inteiro duro há mais ou menos 20 minutos.

Hoje já é segunda feira. Eu tenho pouquíssima voz. Meu ombro e minha barriga doem como se eu tivesse passado o fim de semana fazendo abdominais. Esse jogo me atropelou como um caminhão desgovernadíssimo. E desde que aquela bola chilena não entrou que eu não consigo deixar de sorrir. Não tem a menor lógica. E essa é a exatamente a magia. Vamos para as quartas, Brasil! Joga para mim! 

10 comentários:

  1. Também estou sorrindo( e tremendo e chorando e com dentes apertados) até agora Ana!
    Que jogo! Que jogo!
    Primeiro: esse juiz inglês terá até a 293843265475156897231º geração dele amaldiçoada! se não fosse ele, teríamos nos classificado com o gol do Hulk, fim. Não teríamos passado por todo esse sofrimento, pelamor.
    (ou talvez tenha sido melhor assim, ter 8 infartos em menos de meia hora, prova de que nada pior pode vir (AMÉM).

    #prafrentebrasil #ataçadomundoénossa

    Beijoca :*

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  2. Eu até agora não acredito que sobrevivi a esse jogo. Assisti aos pênaltis meio sentada, meio quase levantando, sussurrando alguma coisa pros jogadores porque sei lá, né? Vai que o feitiço funciona? Obviamente não funcionou, porque o Brasil ainda tinha que perder dois pênaltis pra gente quase morrer, mas ok.
    Porque, no fim, passamos. Com emoção. Com MUITA emoção. Com coração disparado e tudo que tem direito nos testes pra cardíaco do Galvão.
    Estou morrendo de medo do jogo das quartas, morrendo. Mas cada coisa em sua hora porque que jogo foi esse de sábado. Não vou esquecer tão cedo.
    E eu também acho que a coisa mágica do futebol é isso. Não os 10 caras correndo atrás da bola e um tentando segurar ela. Nem mesmo os gols lindos, embora eles contribuam. Mas é essa emoção que não tem lógica, mas que a gente sente e sente muito, e compartilha com tanta gente e por isso é tão incrível.
    Boa sorte pra nós, e inspiração praqueles moços da nossa seleção porque eles tão precisando.

    Beijo!

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  3. Acho que todo mundo que se importa minimamente ainda não se recuperou do baque desse jogo. Assisti o jogo com amigos e tinham mais ou menos umas 15 pessoas na festa. Dessas 15, só umas quatro estavam realmente se importando com aquilo - o resto tava ali pela farra, torcendo pros feriados no meio da semana não acabarem, no máximo. Eu não abri a boca nem pra gritar da segunda metade do segundo tempo até o fim da prorrogação, e quando aquele chute do México bateu na trave faltando dois minutos pra prorrogação acabar, eu senti uma tristeza tão genuína que meus olhos encheram de lágrima. Minha amiga, uma das quatro que se importavam, pegou no meu braço e disse assim: se tivesse entrado a gente tava fora. Engoli essa ideia como se fosse um tijolo de gelo, que só foi derreter sábado a noite.

    Tô lendo um livro muito bom sobre futebol, do Nick Hornby. Ele conta a história dele com o Arsenal, que nos anos 70 e 80 perdia muito mais do que ganhava. E invariavelmente ele tinha essa sensação horrível que a gente experimentou rapidinho no fim de semana, e se pergunta por que ele se submetia àquele tipo de coisa, e nem sabia responder. É como eu disse antes (HEHE), não tem explicação nenhuma, muito menos funcionalidade, e talvez por isso seja tão bom.

    Sorte pra nós. E coragem! E resistência cardíaca!
    beijos <3

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  4. Não tem mesmo como deixar de sorrir!
    Achei lindo isso: ão existe lógica nenhuma, e acho que eu entendi que, quanto menos lógica tiver, melhor fica. Porque emoção não tem que ter lógica. Um grito de gol não tem que ter nenhum sentido.
    Porque é lindo demais isso. É lindo demais torcer. É bonito demais sofrer e classificar e gritar e ficar sem voz e pular e abraçar o povo desconhecido que vibra e chora e comemora o gol junto.

    #jogapramim Brasil. E que meu coração aguente.

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  5. Também não sei como sobrevivi aos pênaltis! Era uma mistura de chopp com nervosismo com minha amiga me culpando por ter morado no Chile e que meudeus! Até eu que não sou muito de torcer gritando fiquei fora de mim quando aquele menino chileno errou o pênalti e quero guardar esse sentimento dentro de um pote de sorvete pra juntar depois com o que irei sentir nas próximas vitórias do Brasil porque EU ACREDITO.
    E ah! Peguei o maior trânsito da vida tentando achar um bar com uma boa TV e sentei na cadeira NA HORA QUE O JUÍZ TAVA PEGANDO A BOLA DAQUELE TOTEM, pense! Felizmente conseguimos a TV bem em frente ao telão!

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  6. Minha mão ainda dói daquele tapa que dei no balcão, meu joelho ainda tem um roxo enorme da porrada que dei nele na cadeira do bar. E pensar que lá no dia 13 de junho eu andava cabisbaixa com essa Copa.

    POR ISSO EU AMO A GENTE <3

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  7. Da série "marcas físicas que a copa me deu": meu pé tem um roxo enorme que eu arrumei em algum momento desse jogo e não consigo lembrar como. Provavelmente dei um chute no ferro.
    Só consigo lembrar de Augustus Waters pensando sobre o sentido de jogar uma bola por dentro de um aro com uma rede. Ele não achou, mas aparentemente a gente consegue ver muito sentido em mandar uma bola pra dentro de um retângulo com uma rede. Ou em não conseguir. A magia só pode estar aí.
    Beijo <3

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  8. Amiga, também não sei como sobrevivi àquela partida e não faço a menor ideia de como sobreviverei às que virão. MAS: estarei lá, segurando o choro (ou não), batendo em Weslley com almofada quando alguém perde um gol (o bichinho só se lasca) e me desesperando se tivermos, DEUSOLIVRE, ter que decidir mais algum jogo nos pênaltis.

    Não tem lógica nenhuma, mas tem um zilhão de outras coisas que não têm lógica, mas são importantes pra gente. Eu já havia sentido o gostinho da paixão pelo futebol quando ia para o estádio com meu pai, mas preferi ignorar. Acho que ela cresceu e retornou com força total nessa Copa, porque olha: tá díficil de lidar. Mas vamos em frente!

    Joga pra gente, Brasil!

    Beijins!

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  9. É isso: não faz sentido. Em algum momento, o bichinho do futebol morde a gente. ♥

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  10. Melhor jogo da minha vida. Sinceramente não sei como verei os próximos jogos, sozinha, sem ninguém pra ficar em pé e apertar e pular junto comigo. Se te serve de consolo, amiga, também ainda estou toda dolorida. Meus ombros nunca voltaram a ser os mesmos depois daquele dia.

    Beijos <3

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