quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Contrariando Sartre

Porque Sartre um dia foi lá e disse a célebre frase: “O inferno são os outros”, e eu não posso sair afirmando por aí que discordo dele. Mas tampouco concordo. Porque nesse mês eu andei analisando a minha própria pessoa (a arte de sair do seu corpo e ficar sentada do lado de fora observando suas atitudes) e cheguei a conclusão de que eu sou obrigada a contrariá-lo sim, ao menos em termos. Em muitos casos, o inferno não são os outros. Somos nós mesmos.

Eu sou capaz de fazer uma bagunça tão grande na minha cabeça, que dificilmente alguém conseguiria fazer um estrago maior. As pessoas podem até falar, julgar, criticar, mas na hora do vamos ver, na hora das madrugadas insones e das tardes de domingo, não tem jeito. Somos eu e eu. E é aí que a coisa periga.

Eu não sei vocês, mas eu me julgo muito, então eu acho que o ser humano domina a arte de se alto pregar na cruz, sabe assim? E quando eu resolvo me pegar pra Cristo, lembro de erros de mais de anos atrás, erros dos quais eu não me perdoo, e resolvo, inutilmente, ficar matutando sobre o assunto, até tudo virar uma bola de neve e eu me pegar sentada na cama chorando em plena madrugada.

Não. Eu não estou em crise existencial, muito pelo contrário, e é por isso que estou conseguindo fazer esse post, acho. Eu andei juntando coisa com coisa. O estopim foi o teatro, assumo. Muitas vezes ele o é, mas é porque ele é grande parte da minha vida, vocês sabem.

Eu acho que comecei a pensar isso ainda de forma inconsciente, o dia que meu professor me disse que eu cantaria um solo na peça e eu olhei pra ele e falei que estava desesperada. Ele falou que sabia disso, mas que se eu não confiasse em mim, era para eu confiar nele, que ele confiaria em mim, e tudo daria certo, e então eu saí um pouco mais calma dali, para logo depois tentar colocar a cabeça no lugar e concluir que eu não posso ficar esperando, sempre, que as pessoas confiem em mim. Eu tenho que confiar em mim em primeiro lugar, para assim, dar base para que os outros confiem.

Teve início aí, e depois eu comecei a repensar muitas coisas, e perceber que isso já estava implícito em mim em algumas questões anteriores, eu só não tinha conseguido perceber. Na verdade, eu notei que quando ‘a água bate na bunda’, a gente realmente tem que aprender a nadar. Semestre passado, também no teatro, eu tive muito medo de não conseguir fazer a Clara direito, de falhar, de não encontrar, enfim. Mas eu tinha entrado depois na sala, e guardei muita timidez em relação a muitas coisas, então, meio que fui segurando meu medo sozinha, sem contar pra ninguém. A Airen sabia o tempo todo, sem que eu precisasse contar, porque ela sempre sabe. Mas eu nem pensei que ela soubesse, e segui o fluxo das coisas: Com medo. E analisando isso, e analisando o que a Clara se tornou, eu percebi que ela nasceu, e se ela nasceu, foi porque em algum ponto dessa estrada eu confiei que ela iria nascer.

Juntei lé-com-cré e vi que, se eu não fui desabafar horrores sobre o não-nascimento da Clara com alguém que viraria e falaria que confiava em mim, obviamente eu acabei confiando em mim por mim mesma. E foi bacana perceber que, então, no fim das contas, eu sei confiar em mim. O caminho pra isso é que às vezes parece difícil.

Mas conseguir definir isso, e ter como um ponto claro pra mim, já foi bastante interessante. Porque agora eu sei mais ou menos como pensar, sei que tenho que lembrar disso, e prestar atenção na maneira como eu guio as coisas pra mim mesma. Sabe aquela música que diz que “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”? Pois é. A dor e a delícia. Mas a gente acaba se acostumando em achar a grama do vizinho mais verde, nos acostumar com nossa dor e com a delícia dos outros, ao invés de perceber que muitas vezes, nós mesmos causamos (ou pelo menos aumentamos monstruosamente) nossas próprias dores. E eu posso falar bem disso, porque sou dramática pra caramba.

Sei que agora eu aprendi a lidar melhor com as milhões de caraminholas que aparecem sem avisar na minha cabeça. Eu ainda grito socorro. Ainda soco travesseiros quando fico nervosa. Ainda me encolho e choro quando julgo necessário. Mas agora eu lembro que eu não devo ser o meu próprio inferno, e que para ter a cabeça no lugar, eu preciso me dar paz.

Isso não é auto-ajuda. Não é auto-estima. Não é revista de adolescente falando pra você aprender a se amar. Não é MESMO. É só aprender a lidar consigo mesma. Tentar entender onde ficam seus limites, onde fica o medo, até onde ele é necessário, e como colocar sua cabeça a seu favor.

Longe de mim dizer que Sartre estava errado quando disse que o inferno são os outros. Ele está certo sim. É que ele já tinha a mente bem evoluída para se livrar do seu inferno interior e só encontrá-lo do lado de fora. O inferno deveria sim ser os outros, o mínimo que podemos fazer por nós mesmos é sermos nosso céu. E isso é bem interessante, porque somos obrigados a conviver com nós mesmos o dia todo.

9 comentários:

  1. Onde fica o botão de curtir seus textos, Ana?

    Sairia clicando sem parar ;)

    Um beijo!

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  2. Ana Luísa,(minha Lili)

    Estou sem palavras, mas entendo perfeitamente os bastidores desse momento de sua vida.
    Bjs

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  3. Amei o post, Aninha. Caiu tão bem pra mim... Vc está certíssima. Mas q é difícil é, hein.
    Beijo!

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  4. Ai Ana, sei bem como é difícil ficar com mil caraminholas na cabeça simplesmente nos atormentando - e você descreveu muito bem a situação. A verdade é essa mesmo, que a gente tem que aprender a lidar consigo mesmo. Estou lendo o 2º livro da Liz Gilbert, Committed, Comprometida, (enfim, você entendeu)e eu acho que ela tem o dom de falar sobre isso. Sobre como antes de tentar entender o outro, a gente precisa entrar dentro da gente mesma. Só assim a gente pode dar a partida sem ter medo de bater o carro na próxima esquina rs...

    Beijos

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  5. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

    simplesmente estou sem palavras...lindo...beijao

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  6. Eu adoro todos os textos que você posta, Aninha, mas acho que esse foi o meu favorito. Além de muito bem escrito, acho que me ajudou a lidar um pouco com os meus próprios complexos. Porque, né, sou uma chata perfeccionista. Obrigada!

    Beijos~

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  7. UAU.


    vou ali pensar no que escrever e depois volto, 1bj

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  8. Antes de mais nada: CLAPCLAPCLAPCLAPCLAP! (no ritmo)
    Uma das coisas mais importantes e mais esquecidas por nós, meros mortais, é a autocrítica. Pelo que você falou, é uma constante em você. É claro que é preciso balancear pra isso não virar uma autossabotagem, mas apontar o dedo pros próprios defeitos é importante demais, Analu! Parabéns por fazer disso mais um aprendizado.
    E só um adendo: você é dramática? Então bate aqui e vamos passear do país do drama, porque segundo fontes seguras, esse é meu maior defeito. Beijo, Nalu linda que vai comover todo mundo dia 26! <3

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  9. Taí um texto que eu jamais esperei ler no seu blog. Sério. Mas foi uma reflexão muito da bem feita e é bom saber que conseguiu se resolver com suas caramiolas! Gosto de vê-la feliz e contente, cantando alegremente e fazendo a Lucy Noceucomdiamentes brilhar! Beijos minha linda!

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