quarta-feira, 29 de junho de 2011

Suspiros

Começo esse post assim. Suspirando. É um suspiro tão ambíguo. Tem aquele lado dele que mostra alívio. Alívio de ter cumprido um dever. Um dever delicioso, que acho que posso dizer que sim, foi muito bem cumprido por nós todos. O outro lado do suspiro, claro, é o de saudade. Uma saudade boa. Que eu sei que vai bater aqui na minha porta por um bom tempo.

Tentando seguir uma cronologia, na quarta-feira ganhamos as galharufas. Na quinta feira chegamos animados para um ensaio geral: Finalmente pisaríamos no palco. Carregamos tijolos, vestimos figurino, prendemos a lona da foto pela primeira vez. A Airen chegou correndo, às 20h30min da noite. Ela tinha marcado conosco às 19h, mas foi banca de uma outra turma, e a banca deles simplesmente não acabava nunca. Quando ela finalmente foi liberada, chegou correndo no teatro e gritando: Voltei pra vocês, amores!

Do jeito que ela entrou, terminou de olhar o cenário e disse: Ensaiem. E ensaiamos. Terminamos de ensaiar, todos pimpões, e então a Si, outra professora, que estava nos assistindo, disse simplesmente que estava faltando verdade. Disse que tinhamos um texto maravilhoso em mãos e não estávamos emocionando ninguém, porque não estávamos vendo aquilo que estávamos fazendo. Sentiu o balde de água fria no meio da cara? Nós sentimos.

Eu e a Bruna, que somos as rainhas do drama, entramos no camarim a ponto de cortar os pulsos, mas aí, é claro, Airen existe. Ela nos disse um monte de coisas, frisando o fato de que aquele era um ensaio técnico, e que não tínhamos nos aquecido psicologicamente. Ela falou, nos abraçou, beijou minha galharufa e disse: “Durma bem, minha flor. Até amanhã.”

Você dormiu? Eu não. Fiquei até as 3h da manhã procurando a porcaria da verdade. No outro dia, tínhamos marcado de nos encontrar no Cena Hum às 18h. Deu 16h e eu estava andando de um lado pro outro dentro de casa. Desisti. Me enfiei de cabeça no chuveiro, taquei figurino dentro da bolsa e me mandei pra escola. Cheguei lá dizendo que não tinha aguentado ficar em casa, quando vi que metade da minha turma tinha pensado o mesmo. A Airen tinha acabado de entrar na sala, e nos deu uma verdadeira aula de 1h sobre como o ensaio tinha sido técnico. Disse que já tínhamos achado a verdade há muito tempo, que ela tinha acompanhado tudo nos ensaios, e que não era hora de se desesperar. Depois das lindas palavras, começamos a nos arrumar, arrumamos cenário, nos abraçamos, pulamos no palco, sentimos as vibrações boas. No nosso cenário, tinham véus brancos esticados. Ainda não sabíamos a ideia da Airen em relação a eles. Depois de nos aquecermos e fazermos tudo o mais a que tínhamos direito, ela andou no palco até o véu central e disse: “Podem ocupar os lugares de vocês no palco, amados. Mas antes, inaugurem o cenário de vocês.” E então ela fez um rasgo no véu.

Essa foi a senha para nós 13 corrermos loucamente em direção aos véus e começarmos a rasgá-los loucamente. Quando nos sentíamos prontos, íamos sentando. Ela gritou um MERDA bem alto, entrou na cabine de direção, e mandou que abrissem as portas. Aí a magia aconteceu.

Não existiam mais a Ana, a Eloíse, a Bruna e o Murilo. Existiam os nossos personagens, somente. O que aconteceu naquele palco na sexta não dá pra ser mensurado. A Airen disse que assistir aquilo foi indescritível. Ela não tinha coragem de apagar a luz ao fim da peça, pois queria ficar vendo para sempre. Quando ela desceu da cabine chorando e dizendo que estava completamente apaixonada por nós, acho que finalmente entendemos que sim, a verdade estava o tempo todo ali, dentro de nós.

Vamos Falar de Amor sem dizer Eu Te Amo (68)

Diretora orgulhosa jogando beijinhos  da cabine para os seus “filhotes”.

Depois, descobrimos que tinha simplesmente 120 pessoas naquele teatro para nos assistir. Nossa peça termina com o elenco virado de costas. Ouvimos o rompante de palmas e viramos pra frente. Ver aquele teatro lotado com tanta gente nos aplaudindo de pé foi maravilhoso. Mas não tão maravilhoso quanto ouvir os soluços do público enquanto nos apresentávamos. Alô, era um senhor drama! Tenso, denso e extremamente bem organizado. Coisas de Airen. Ver que estávamos fazendo direito foi inebriante. Chorou até quem prometeu que não ia chorar.

O sábado fez jus à lenda de que segundo dia é ruim. Foi ruim. Saímos chateados, mas a Airen disse que nós exageramos e cortamos os pulsos com muita facilidade. No domingo foi bom, mas nunca, nunca é como na estreia. Além disso, domingo foi a banca, que foi uma delícia. Quase 2h. Resolveram fazer em ordem alfabética, eu quase enfartei, mas aí a Sônia, professora da qual eu estava morrendo de medo, me emocionou. Disse que quando eu levantei e comecei a dar o texto ela percebeu o quanto eu me apaixonei pelo que estava fazendo, o quanto me envolvi, estudei, e resolvi que ia fazer direito. “Falhas existem, menina. Mas é lindo ver uma atriz tão jovem mergulhar tanto assim. Parabéns”. Segura as lágrimas, Ana Luísa. Com a Airen dizendo: “E como ela se envolveu!”, com aquele sorrisinho e a piscadinha cúmplice de sempre então, impossível. Passou. A peça inteira foi muito elogiada, desde cenário, iluminação, texto, até a perspicácia da diretora em dar para cada um exatamente o papel que cada um deveria fazer.

Nessa terça, último dia. Não só lotamos o teatro como nunca parava de entrar gente. Quando pensávamos que tinha acabado, aparecia alguém trazendo cadeiras a mais. Isso se deve a um nome no cartaz da peça: Airen Wormhoudt. Porque gente, Airen é um mito. A Ju definiu muito bem! Mas sendo a nossa digníssima professora um mito ou não, tinha muita gente naquele teatro. Gente que, mais uma vez, saiu chorando, fazendo questão de vir nos abraçar no palco, e falar o quanto tinha se emocionado. Foi o último dia. O muro saiu completamente torto. Mas foi o dia em que nos abraçamos, guardamos nossos tijolos, entregamos presentes, cartinhas, e saímos todos juntos, e mais um pedaço do público, pra um barzinho delicioso comemorar. Comemorar a nossa arte, comemorar o nosso brilho, comemorar o nosso amor, a nossa paixão. Ah sim, a paixão. Isso foi comentando pelo público em todos os dias, e foi muito frisado na banca, pelo diretor da escola: “É impressionante ver um elenco de 13 pessoas tão apaixonadas pelo que estavam fazendo. Os olhos de vocês brilhavam no palco, vocês realmente estavam entregues àquilo. Isso é muito bonito.” Sim. Pode ter faltado qualquer coisa no nosso trabalho. Mas paixão, ah não. Essa esteve presente em cada segundo. E ainda está. A paixão é o que fica. Muito além das fotos e lembranças incríveis. Que semestre maravilhoso.

Vamos Falar de Amor sem dizer Eu Te Amo (133)

- Seu coração é um tijolo!

- Mas ele bate por você.

Ah, e claro. Intensidade é intensidade! Com uma união incrível, uma diretora fantástica, um texto maravilhoso e um público lotado, é claro que essa foto tinha que aparecer no post. É óbvio que foi sem querer (e não, não fui eu que derrubei), mas…

DSC05083

Brindar é para fracos. Nós comemoramos arremessando a garrafa de whisky cênico no chão.

PS1: Fotos 1 e 2 tiradas pela nossa fotógrafa e amiga linda, Éri Buhrer.

PS2: Não, ainda não acabou. Falta o post de homenagem pra Airen e a carta para a Clara. Porque né, ela foi muito mais que um personagem durante esses 4 meses.

12 comentários:

  1. Que bom que foi maravilhoso assim, Aninha. Me emocionei só de ler você falando. Imagina se eu estivesse lá, provavelmente ia me afogar em lágrimas (porque eu nem sou chorona).
    Beijos

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  2. Ai que lindo! *-*
    Você não faz ideia de como eu fiquei arrasada por não ter ido ontem! Mas eu tava gripada e meu pai me proibiu de sair no frio :( Droga. Queria tanto ver aquela paixão linda de novo! Vocês me transmitiram coisas muito boas nos dias em que presenciei! A Clara fez com que eu te amasse ainda mais, Analu, porque aprendi que os personagens não são feitos para os atores, os atores é que são feitos para os personagens. Se a Clara ficou tão bem em você, é porque ela era parte de você. Acredito piamente nisso!
    E ah! Eu não chorei! Em nenhum dos dias! Consegui conter-me e manter minha reflexão somente no meu cérebro haha
    Foi muito lindo! Espero que mesmo sem a Airen vocês continuem sendo tão fantásticos assim!
    E a Sônia estava certa, você realmente se envolveu muito com o texto e o fez perfeitamente! Linda.
    Beijos!

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  3. Ai Lu! Chorei! Lindo lindo lindo lindo seu post, tão cheio de sentimento, paixão e >veerdade<, queria muito ter ido ver essa peça, mas fiquei sabendo por fontes seguríssimas (cofcofRafaellaeCauêcofcofcof) que foi mesmo uma lindíssima apresentação! *---*

    Acho lindo o que tu faz, até me deu vontade de fazer teatro! Haha (:
    Beijo grande linda!

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  4. É, gatinha! Agora é arregaçar as manguinhas e se jogar de cabeça nas novas propostas, conhecer novos teóricos, novas direções e sempre se orgulhar por ser uma artista que carrega uma galharufa - que exige dignidade, respeito e ética!

    E não. Eu não sou um mito. Sou de carne e osso, cheia de qualidades e montes de defeitos - o que me torna,definitivamente, muito mais legal! (Hihihi).

    Beijinhos, filhotinha.

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  5. Pois é... Mais uma vez, depois de tanto esforço, acaba uma montagem... Mas não fiquemos tristes! (afinal, até onde eu sei, o motivo do público [e da diretora] chorarem é pelo fato da peça ser emocionante de bonita, de romântica, enfim, dessas coisas que eu não entendo muito bem, mas não de tristeza) Outra montagem virá, outros desafios, atores, roteiros e muitas outras coisas virão! E como você mesma disse Aninha, não nos esqueceremos do que já fizemos, pois servem de base para irmos cada vez mais em frente e cada vez mais longe (Deus do céu, do jeito que eu falo, parece até que sou do elenco! Não gente, estou longe pra caramba da Aninha e não participei da peça. Mas como eu queria ter visto... Cooooomo queria ter visto...)
    Seguir em frente! Renovar! Evoluir! Mudar! Mas sem nunca deixar de lembrar do que foi ou do que é bom, pois isso nos seguirá para sempre. Em nossos corpos, em nossas memórias e em nossas almas. Muitos beijos Aninha, e viva o teatro!



    PS para a "Tia Airen": Olá Tia Airen. Em nossas conversas de msn, a Aninha sempre te "endeusece", então acredito quando ela diz que você é um mito. Pelo que ela fala, você é uma Jedi do teatro! Ah, e antes que eu me esqueça, por favor, ignore todas as possíveis besteiras e/ou idiotices dos meus comentários. Eu escrevo direto, sem reler, então se sair algo muito "imbecílico", perdão. Pergunte pra Aninha, eu sou bobo e palhaço assim na vida real, a diferença é que aqui minhas palavras estão impressas.

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  6. Anaa, que liindo esse post! Sabe quando você sente a paixão em cada letra? Em cada palavra? Cada vez que venho aqui e leio seus posts mais eu tenho vontade de voltar a fazer teatro! Sabe, no ensaio técnico pode ter faltado verdade, mas aqui nesse post, quase transbordou! Beijão, linda :*

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  7. Ai Ana, que lindo!!!! Linda sua paixão, linda as suas artes (de atuar e de escrever)! Pude sentir a paixão nas suas palavras e através delas me transportar um pouquinho pro teatro e ter certeza de que foi lindo, muito lindo!
    Parabéns Ana e parabéns pra essa diretora incrível que deve ser a Airen - (Eu comento pouco, mas sempre leio, rs)
    Um beijo!

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  8. AnaLu,
    Sei que já havia comentado comigo, por telefone, o sucesso da peça. Mas, ler o seu post me deixou com muita vontade de comentar da minha alegria em sabê-la tão feliz com suas escolhas.
    Quando leio seus textos e os comentários de seus leitores amigos, fico maravilhada com a pessoa maravilhosa que se transformou. Que se entusiasma tanto com as suas propostas de futuras profissões, que emociona as pessoas que estão ao seu redor.
    Parabéns mais uma vez. E lamento profundamente não poder me fazer presente nesse momento de sua vida. Mas até o final do curso prometo que irei a uma apresentação. Ou quem sabe a algumas apresentações. Quero estar na platéia e sentir a emoção que vc passa com seu trabalho de atriz. E entre aqules que te aplaudem.
    As vezes algumas lembranças de seus primeiros anos de vida me vêm no pensamento. Me emociono com tudo o quanto vivemos. Vejo os seus desenhos feitos para mim; os cartões com declarações de amor incondicional; os bilhetinhos passados por debaixo da porta do quarto enquanto me arrumava. Sinto saudade da criança que eu segurava pela mão. Mas um orgulho imensurável da pessoa que vc é hoje.
    Beijos com muita saudade.

    P.S. Ia me esquecendo de agradecer à professora Arien o carinho que ela teve com vc no seu primeiro dia na turma, quando precisou trocar o horário do teatro. Conhecendo vc como penso que a conheço, a sua ansiedade e angústia foram neutralizadas por aquele abraço de boas vindas.
    A ela o meu muito obrigada!

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  9. Aninha querida, estou tão feliz por você. E por todos que se apaixonaram por essa peça e fizeram dela tão especial. Invejo o público de vocês! Adoraria estar lá pra te ver toda emocionada falando as palavras de Caio, com Jane Austen e margaridinhas comestíveis nas mãos. E também adoraria conhecer a Tia Airen, aquela que segundo suas palavras é muito mais que uma diretora, mas alguém que teve um carinho sincero e enorme pelos "filhotinhos" dela. Hahaha! O mais legal é que nós conversamos antes da estreia e ouvi todo o seu entusiasmo, sua paixão! Que como você me disse, é o mais importante, muito mais do que técnica ou qualquer outra coisa. Ah, enfim. Fico feliz de verdade por ter dado certo, por ter dado orgulho. Eu torci MUITO pra isso e sinto sua alegria daqui :)
    Um beijo, amiga linda! Conte comigo sempre =*

    P.S: Nem ficou tão grande assim ;)

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  10. Ai, que lindo! *-*
    Não sirvo pra teatro porque eu me desespero com muita facilidade. Se alguém falasse que não estava no mínimo ótimo um dia antes da estreia era bem fácil eu criar uma úlcera de angústia e nervoso, credo. Deus sabe o que faz me mantendo aqui bem longe dos teatros da vida, porque eu também só falto morrer de ansiedade, mesmo não tendo nada a ver com o assunto. Só de ver os atores com aquela coragem toda lá em cima é bem provável que eu já fique toda gelada (acontece isso em qualquer apresentação de seminário). Já viu isso? haha. E esse negócio de ordem alfabética não é coisa de gente boa, não. Nessas horas eu fico me perguntando porque minha mãe não me batizou de Zuleica, Zulmira ou coisa do tipo, aff. Se bem que, pensando melhor, pra gente ansiosa é legal mesmo ser a primeira porque o nervosa acaba e você fica lá toda alegrinha vendo a apresentação dos outros, laiálaiá.
    Olhe, só sei que me envolvi de mais com essa peça e tô aqui sofrendo absurdos porque os posts sobre o teatro vão acabar, snif. Quando que começa tudo de novo? Comece contando desde o dia da matrícula, por favor! E não precisa economizar nas palavras não, a gente gosta é de detalhes (esse negócio de detalhe é a ca-ra da fofoca, gente hahaha)

    ;*

    PS: Vi seu perfil novo agora. Qual era o sonho de antes, 'NaLuísa? ;)

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  11. Aiii aninhaa....como eu queria estar ae e ter assistido, deve ter sido tão fantástico como são seus textos, e mesmo não estando aí, com as suas palavras pareceu que eu estava ali sentando no teatro emocionado com o show que vocês deram.

    Não se esqueça....isso tem que rodar o Brasil inteiro hein!!! Estamos esperando "Vamos Falar de Amor sem dizer eu te amo" EM SÃO PAULO!!! =D

    E poxa vida hein, textos maravilhosos e agora nesse mundo do teatro indo indo tão bemm...quanto talento hein!! =D

    muito sucesso para você sempree!!

    beijaooo

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  12. acredito que tudo eh muito intenso e na simplicidade de um olhar um sorriso e um gesto eu vejo a maior sinceridade que pode haveer.. gostei de ter sido quem tirou fotos que me fazem ter orgulho de pessoas como vc, Juliana Lang e Airen Wormhoudt entre outras queridissimas.. obrigada por me deixarem fazer parte de algo especial pra mim e pra vcs.

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