quarta-feira, 1 de junho de 2011

E só.

fico

Ele abriu os olhos e desarmou o despertador. Esse era aquele dia do calendário em que ele dormira sabendo que não precisaria de barulho nenhum para acordar às 6h da manhã. Um daqueles dias onde ele havia deitado com a certeza de que mal conseguiria dormir. Abriu os olhos. Era 27 de agosto. Mais um dia frio. Mas não era um dia frio comum. Era um dia frio gelado. 4 anos. Há 4 longos anos ela se fora. Uma doença intrometida que tinha se enfiado entre os dois e levado a vida de sua amada em pouco mais de 3 meses.

Fazia 4 anos. Mas a dor ardia como ardia no momento em que o médico colocou a aliança dela em sua mão e disse que tinha feito tudo o que podia. Ardia como se ela tivesse partido ontem. Como se ela tivesse partido a meses. Como se nunca tivesse existido. Ardia porque ela tinha existido. E tinha existido por muito pouco tempo.

Ele levantou, se vestiu, e começou a andar. Já sabia para onde ia, mas não tinha pressa. Queria, mais uma vez, analisar o caminho que analisava todos os anos. O caminho de sua casa até a beira do lago, onde fora seu primeiro beijo. Porque ele considerava que o seu primeiro beijo havia sido o dela. Os anteriores eram somente.. saliva.

Andou e sorriu melancolicamente olhando o jardim com suas flores preferidas. Ela não mais estaria ali para que ele colocasse uma delas em seu cabelo e ela desse aquele sorriso tímido que só ela sabia dar. Lembrou das tantas vezes que tinham vivido essa mesma cena.. Agora o máximo que ele podia fazer ela pegar a flor e levar consigo, imaginando seu sorriso tímido.

4 anos. 4 anos que ela se fora. Perto disso, os 5 que passaram juntos parecia tão, mas tão pouco.. insuficiente, ele tinha certeza. Se conheceram quando tinham 19. Trocaram juras de amor eterno, sonharam juntos com os nomes dos filhos. E então, aos 27, a vida estava bem diferente do que ele tinha imaginado.

Tentava sorrir, mas parecia doer o rosto.. Como ser capaz de sorrir depois que a dona de seus melhores sorrisos não estava mais ali para provocá-los? Chegou ao banco onde tudo tinha acontecido.. sentou.. e ficou observando o lago. E então desenhou de novo cada detalhe de cada cena que tinha sonhado em viver ali. Ela do lado, filhos correndo, flores no cabelo.

Quem sabe um dia isso se realizaria. Os picnics, os filhos correndo.. Jamais as flores, que eram só dela. Jamais os mesmos sorrisos, jamais o mesmo amor. Esse, ele sabia: seria só dela.

Sabia que poderia ter outras. Merecia tentar ser feliz. Já tinha até ficado com algumas, mas sabia muito bem que elas seriam pra sempre “as outras”. Elas poderiam ser legais, talvez até apaixonantes. Mas tinham um defeito gravíssimo. Não eram ela. Jamais seriam. Seu coração sabia, muito bem, que depois dela as outras seriam as outras. E só.

24 comentários:

  1. aaah q lindooooo!
    quero q um homem me ame assim! ao ponto de nunca mais me esquecer o dia q eu for embora...hahahahah

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  2. Ai guria, que triste :( Chorei. sério.
    Sou muito sensível com essa coisa de morte, porque tenho muito medo, ainda mais quando meu medo é deixar as pessoas que eu amo e que me amam aqui...
    Lindo, lindo. :')
    Beijo Ana.

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  3. texto incrivelmente lindo :O

    e, assim como a Gab, eu sou tb muito sensível quando se fala de morte; logo, esse texto me tocou muito.

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  4. Adoro quando azamigas blogueiras se enveredam pro lado dos contos (e contos com origens musicais são um amor!) porque elas mostram uma faceta mais comercial, quase como se a gente tivesse lendo algo publicado num jornal, num livro ou outdoor gigante no meio da rua (não que posts estilo diário sejam ruins), apontasse e gritasse "OLHA, EU CONHEÇO ESSA PESSOA!", mesmo que teoricamente a gente não se conheça, sabe? haha
    Eu amo a música que, supostamente, originou o conto e confesso que só fui notar as semelhanças bem, mas bem no finalzinho. Ficou muito fofo e eu só não vou dizer que chorei porque eu fui uma criança reprimida e dificilmente choro, mas me deixou com aquela carinha boba de apaixonada com um sorriso de uma ponta a outra da orelha haha. De vez em quando deixa esse seu lado contista(?) se rebelar e posta essas belezuras por aqui, AnaLinda! ;*


    PS: Recebi seu e-mail do teatro (do monológo, na verdade), mas ainda tô procurando uma forma de resumir a resposta que vou te mandar. Um dia chega. :)

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  5. concordo com a amiga daqui de cima que "adora quando azamigas blogueiras se enveredam pro lado dos contos", crônicas e afins...

    ainda mais quando eles tem essa qualidade toda. beijos, Ana!

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  6. Um dia vamos ter um amor assim... Seu namorado vai ser lindo e ele vai tornar-se seu marido, daí eu vou ter o meu amor, que eu já sei quem é, ele só não sabe ainda (hahahahha). Mas eles não vão acabar aos 27 e sim até o final das nossas vidas *-* hihihihi
    Você é uma linda (:

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  7. Você escreve muito, Analu! Ainda assim, que triste, fiquei meio emotiva e carente, me perguntando quando é que algo do tipo vai acontecer comigo... =(

    Beijo

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  8. Eu acho lindo esse amor que fica pra sempre. E acho que todo o mundo merecia ter um em sua vida. Ou então um daqueles amores de The notebook. Já leu?

    Beijos.

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  9. É bom ver um espaço autoral tão bom.

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  10. Num sei por quê, mas não gosto de histórias que a mulher morre no final, por isso, nem sou tão fã de romances rsrrsr.

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  11. okay, ler esse conto, escutar a músoca "My Immortal" e estar de TPM não combinam.. Nem preciso falar que chorei..
    Simplesmente lindo, como tudo o que você escreve!
    XOXO

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  12. Pura covardia esse conto, hein! Coração ficou apertadinho!

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  13. Tão Caio Fernando de Abreu esse texto. Lindo e apaixonante! Adorei =)

    Beijos linda!

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  14. Sou suspeita pra falar porque amo contos e amo tudo o que você escreve. É tudo muito verdadeiro. Essa sensação de que os outros serão sempre os outros e nunca serão ele é terrível. Mas eu fico esperando um outro que mude o sujeito do substantivo ele. Quem sabe ele não apareça por aí, pra mim. Amei :*

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  15. SIMPLESMENTE SEM PALAVRAS!!! TEXTO FANTÁSTICO, SENSACIONAL!!! cada vez mais textos mais fodas, cada vez que eu entro aqui tem um mais fantastico que outro...=D onde isso vai parar??? ESPERO QUE NUNCA PARE!!! =D seus textos são uma delícia para ler...eu entro aqui começo a ler e esqueço que eu tenho mais coisas pra fazer, simplesmente porque meuuu não dá pra parar...ahahahaha já pensou em escrever um livro enquanto não te chamam pra trabalhar na globo?? e olha que isso não vai demorar...ahaha =D eu compraria facill...=D bjaooo e parabens

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  16. Parece que sempre vai ter alguém pra ser "aquela pessoa", pra ser a marca dentro da gente, o arranhão, a seqüela. E depois, já diz a música, os outros são os outros, e só. Beijão pra ti sua linda.

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  17. Todo mundo tem que ter alguém que dure pra sempre nas nossas vidas, aquela pessoa mais especial que qualquer outra. Isso é fato, se não nossa vida seria uma coisa tão ~ normal ~. Enfim, adorei o post.

    Abraço.

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  18. "Nana Luísa",
    Que lindo!
    Fico cada vez mais orgulhosa de vc.
    Vc merece todos os elogios acima.
    Bjs

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  19. ai, analu, não me deixa triste num domingo à noite! não curto pensar na morte =(

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  20. Há quatro anos também sofri um amor louco. mas como passa essa fase...
    Está lendo Vargas Llosa? Diga-me, esse livro é bom?

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  21. Eu chorei lendo esse texto. Me fez perceber o quão carente e necessitada de alguém que me ame estou no momento. Poderia ter passado o dia sem essa. Você escreve muito bem, aliás.
    Beijos!

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  22. Aninha... às vezes eu fico sem saber o que dizer das suas palavras! Tão verdadeiras, lindas, lindas. Fiquei com o coração apertado e ao mesmo tempo, morrendo de orgulho de você por esse texto incrível.
    :*

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