domingo, 3 de abril de 2011

Seus heróis morreram de overdose

zzzca

Às vezes eu penso que eu nasci bem depois do que deveria. Um dos meus grandes sonhos impossíveis é ir em um show do Cazuza. Mas né. Cheguei depois da hora. Então curto os shows que ele faz pra mim aqui mesmo, no meu quarto. Entro debaixo do edredom e ligo a playlist do Cazuza no meu IPod. E viajo. Reflito. Passeio.

Hoje eu assisti, pela segunda vez, a peça Segredos de Liquidificador. Prata da casa, eu diria, já que é uma das peças da minha escola de teatro que está no Festival de Teatro de Curitiba. Assisti de novo na primeira fila, e fiquei ali, viajando. Frases marcantes, flashbacks, situações embaraçosas e música, muita música.

Eu sempre penso que está difícil de aparecer alguém que saiba fazer letras como sabia Cazuza. Ninguém conseguiria ensinar tão bem como são interessantes as tais mentiras sinceras. Nem diria tão sinceramente que não vale a pena desperdiçar mel, flor em flor, entre os inimigos de um ex.

Ele podia ser um pirado, um rebelde, depravado, qualquer coisa. A verdade é que ele apenas precisava de uma ideologia pra viver, porque seus heróis já tinha morrido de overdose, e os seus inimigos estavam no poder, o chamavam de ladrão, de bicha e maconheiro, enquanto transformavam o país inteiro num puteiro.

Cazuza pode ter sido tudo isso de que o chamava.. Mas é porque ele vivia. Intensamente. Não tinha medo de ser exagerado, de se jogar aos pés de alguém, de levar um buquê de mil rosas roubadas para quem amava, ou mesmo, de inventar um amor.

Aliás, essa foi outra das coisas que ele ensinou: “Invente um amor pra se distrair, e quando acabar, finja que nem existiu.” Ah, Cazuza, podia ser a vida assim tão fácil de ser encarada.

A peça terminou com a seguinte frase, no telão: “Prendia o choro e aguava o bom do amor”. Pra mim, foi bem assim que ele morreu. Prendendo o choro, aguando por mais tempo, por mais vida.

Não poderei ir num show dele, mas guardo comigo suas frases e teorias. Ele viveu pouco. Mas viveu. Intensamente. E por isso sua imagem não vai morrer. Espero que onde você esteja, tenha encontrado tudo pelo que aguava, beija-flor.

14 comentários:

  1. Lindo! Sabe, acho ótimo ter alguém que te inspira, um ídolo, alguém que através de música, escritos, mexe contigo, te faz evoluir. Não penso que ele era drogado, bixa, que fosse, penso que ele era humano, e como cantor, impecável. Melhor do que muitos que estão sóbrios por aí. Um beijo, tu é muito querida guria.

    ResponderExcluir
  2. Ai, até arrepiei, Ana!
    Cazuzinha tá no meu coração, numa sala VIP. ♥

    ResponderExcluir
  3. Amo Cazuza, Ana! Amo sua poesia e porque não dizer toda sua irreverência, mas sem as drogas, sem o sexo exacerbado...
    No colegial li o livro "Só as mães são felizes" e foi aí que me apaixonei, é claro que o livro todo era narrado pelo olhar materno, um olhar carinhoso e apaixonado que só uma mãe pode ter, mas não me restou dúvidas de que apesar de tresloucadamente exagerado, Cazuza carregou durante a vida toda a sensibilidade que transcreveu em suas músicas, não apenas como às vezes se vê por aí, palavras jogadas da boca pra fora. Ele escreveu o que acreditava, o que vivia e sentia... E pra mim tbm é, um dos maiores poetas da música brasileira.
    Amei tbm o filme, vc deve ter visto, né?
    Ele vai mesmo viver pra sempre :)


    Beijooo!

    ResponderExcluir
  4. Chorei lendo o seu texto.
    Amo vc.
    Bjs

    ResponderExcluir
  5. Ah, Analu, que lindinho. Sabe, eu nunca fui de procurar muito sobre Cazuza, só tenho três músicas dele no meu iTunes. Mas, sempre tive muito curiosidade, principalmente porque conheço pessoas incríveis que amam Cazuza. Esse seu post foi mais um incentivo. Vou agora mesmo jogar "Cazuza" no LastFM pra descobrir outras músicas ;)

    Um beijo!

    ResponderExcluir
  6. Que post fofo, Analu.
    Taí mais uma coisa que temos em comum: também acho que nasci depois do que deveria... Como gostaria de poder assistir a um show do Elvis!

    Mas a vida é assim, né...
    Beijo!

    ResponderExcluir
  7. Tenho essa mesma frustração com Freddie Mercury! Morreu antes que eu pudesse curtí-lo! Amo as músicas do Cazuza e acho uma pena ter morrido cedo. Belo post! Beijos

    ResponderExcluir
  8. Um dos meus sonhos impossíveis era esse também. Com tanta coisa ruim hoje em dia, a única coisa que a gente quer é se jogar nas coisas do passado (que pareciam ser bem mais intensas e certas do que hoje). Quando eu fui aí, "Segredos de Liquidificador" foi uma das minhas maiores vontades. É uma pena que eu não tenha ficado tempo suficiente pra tal ):

    Pra sempre vivo no nosso coração rebelde, exagerado e cheio de vontade de viver.
    Beijos!

    ResponderExcluir
  9. Aaah que amor esse teu carinho por um ídolo. Eu gosto bastante das músicas, mas na verdade nunca parei para analisar e viajar nas letras. :/
    A maioria das coisas que sei do Cazuza vieram da minha mãe que é uma grande fã.
    Beijo Ana!

    ResponderExcluir
  10. Nossa, maravilhoso teu texto! Não ecuto muito Cazuza, mas um dos meus ídolos também não está mais por aqui, queria muito ver Renato Russo cantando, mas também não será possivel.
    Está faltando atualmente cantores como eles, de atitude, que apesar de inconstantes faziam com que as pessoas tivessem que refletir, que gritavam através das suas músicas.

    ResponderExcluir
  11. Você já sabe o quanto eu o amo, né? Nem tenho palavras para o seu texto. E hoje, dia 4, seria o aniversário dele. Sempre fico triste nessas datas, sabe? Mas toda vez que folheio meus livros sobre ele ou escuto as músicas incríveis sinto que, de alguma forma, estamos conectados.Um beijo, minha flor! Obrigada por esse texto lindo :*

    ResponderExcluir
  12. Anaa!
    Ah, que linda homenagem, viu? Eu sempre fui mais fã de Legião e tenho esse mesmo amor pelo Renato que também tem uma história bem parecida, esses nossos heróis...
    Beijos

    ResponderExcluir
  13. Eu tenho a mesma impressão que você quando diz que nasceu bem depois do que deveria. Eu acho que não só Cazuza, mas toda uma geração só fez sucesso, mas fez-se ouvir porque o pessoal vivia muito mais intensamente do que hoje. Pessoal lutava, corria atrás, falava o que tinha que ser e dava a cara a tapas independente do que as outras pessoas achavam. Hoje a gente vive, sem censura mas cheios das leis, dos pré-conceitos. Nós somos a geração da bonanza. Não no sentido tranquilo, mas no de sermos iguais. Vivermos cordialmente. Engolirmos sapos para nos darmos bem. Não nasci pra isso, viu. Eu não sou daqui não.

    Beijo

    ResponderExcluir
  14. Lú eu sempre tive essa impressão de ter nascido no tempo errado. Quando vejo a galera se matando pra comprar um kit Restart tenho a certeza absoluta. Cazuza sempre foi um dos grandes pra mim, e olha, tenho aqui comigo que não nasce outro que saiba escrever como ele. Cada frase repleta de uma poesia tão pura!
    Sinto falta de não poder ter vivido aquilo tudo. E acabo assistindo e ouvindo os shows particulares dele, no silêncio do quarto com meu ipod. Que nem você.
    Afinal, acho que não somos tao estranhas assim.

    Beijinho*

    ResponderExcluir