Querida Ana de 33, - 13/31

Quando eu escrevi, ano passado, para a Ana de 12, eu pedi que ela se acalmasse e parasse de apostar todas as fichas no futuro. Que aproveitasse mais a vida que tinha sem a gana de crescer. Aposto que ela não entendeu direito... mas como cobrar isso dela se talvez eu mesma não saiba dar o exemplo como se deve?

A questão é, e me desculpo desde já ao tocar nesse assunto e te colocar tanta pressão, mas eu espero demais de você. Muito provavelmente eu espero mais de você do que já esperei qualquer outra coisa de qualquer outra pessoa na minha vida inteira.

Se eu podia tirar alguma conclusão sobre a temporada das cartas para o passado escritas em março de 2014, essa conclusão é a de que a galera que, aos 20, escrevia para si mesmo aos 10, estava perdida. Num geral, a gente implorava pra galerinha de 10 ter menos pressa porque aqui não estava tudo bem. Em contra-partida, a galera de 30 dizia pra galera de 20 acalmar o desespero porque tinha ficado tudo bem sim. Acho que foi aí que a coisa complicou para nós.

Gosto bastante dos 20. Pra falar a verdade, não queria sair deles tão cedo. Tendo nascido na geração que nascemos, Ana, os 20 são mais ou menos confortáveis. Eles permitem que não saibamos direito o que estamos fazendo com a nossa vida, porque quase ninguém sabe. Eles viraram quase uma extensão da adolescência: ainda podemos estar cheios de dúvida e a regra geral é de que não, a vida não está feita. Os 20 ainda nos dão a liberdade do desconforto com o próprio papel no mundo. Os 30, não. E é disso que tenho medo. E é isso que espero de você.

Quero muito que você, a Ana de 30, esteja lendo essa carta e sorrindo com o canto do rosto, condescendente. Quero você seja uma dessas pessoas que um dia vai escrever uma carta pra mim me contando que SIM, tudo ficou muito bem mesmo, conforme as outras pessoas diziam. As dúvidas diminuíram, a vida foi se ajeitando, a carreira deu certo, os filhos vieram, as amigas ficaram, a carteira de motorista foi tirada, as tatuagens foram feitas, o amor é lindo e a Itália tão linda quanto.

Eu sei que não é você que tem que responder sozinha em relação a isso. Eu sei que depende muito mais de mim do que de você. Se você chegou aí, é porque eu dei conta no meio do caminho. Mas podemos fingir um pouquinho que não está tudo nas minhas costas? Obrigada.

O que eu tenho pra te dizer aqui, dos 23, por enquanto, é que a vida nunca esteve pior, mas tampouco já esteve melhor. Quem me deu de presente essa epifania foi Taylor Swift, a alguns meses atrás. Inclusive, você continua escutando Taylor Swift, né? Espero que já tenha conseguido ir a algum show e que ela tenha lançado álbuns novos tão incríveis quanto os que eu amo. Mas então. A vida nunca esteve pior e nem melhor. Acho que os 20 são aquela fase crucial onde nós, de fato, somos lançados ao mundo de responder por nós mesmos. Isso é terrível e maravilhoso ao mesmo tempo.

Se eu tiver que resumir a nossa vida até aqui, para te dar uma contextualização do que eu penso sobre a gente, é que fomos muito bem de saída. Fomos uma criança meio tontinha, mas que dava bastante certo na vida. Demos uma boa desestabilizada no meio do caminho. Nunca foram os livros que definiram a vida e aqueles 10 em matemática realmente não funcionaram para te tornar uma estrela hoje. Nosso eu criança era sempre a melhor da turma porque sabíamos lidar muito bem com as apostilas. Eu, aqui onde estou, não sou mais a melhor no que costumo me propor a fazer. Descobri que nem tudo é fórmula; nem tudo é decorar a função de cada um dos hormônios. Vida real é na raça mesmo e não treinaram a gente direito pra isso. Eu tô cambaleando horrores aqui. Mas você conseguiu aprender, né? Entre os 23 e os 33, diz pra mim que nos tiramos desse vórtice?

Desculpa. Na carta que eu fiz para a Ana de 12 eu falei das previsões, eu disse o que estava bom e o que não estava, joguei uns spoilers, pedi para ela ser forte e vir com fé. Para você não consegui falar de muita coisa que não fosse uma boa dose de perguntas e muita esperança e expectativa, mas acho que é isso. Ah, sim, tem algo que eu falei para ela e também vou falar para você e é essencial para nós 3: estamos juntas e vamos que vamos. Só nós podemos fazer isso dar certo.