terça-feira, 27 de março de 2012

Sobre uma tarde com vocês três.

Anna, flor, lembro da primeira vez que fui com você ao parquinho do restaurante. Você tinha uns 10/11 meses, eu mal terminei de almoçar e já fui toda orgulhosa levar minha boneca pra brincar no parquinho. Você sentou na piscina de bolinha, na casinha, na cama elástica, e como andou aos 9 meses, aos 11 já se sentia a própria maratonista, e corria no meio dos brinquedos e das crianças maiores, enquanto eu corria doida atrás de você, colocando a mão em todas as possíveis pontas, e tomando cuidado com as crianças tão grandes de 5 anos que poderiam te atropelar. Todo mundo falava que você era linda e me perguntava o seu nome, e eu respondia toda feliz. Meu assunto preferido sempre foi você.

Desde então, sempre que vamos a esse restaurante, eu já vou preparada pra almoçar rapidinho, levantar da mesa e ir brincar com você. Um pouco mais novinha, você já foi ficando mais esperta, claro. Mal sentava na mesa, já olhava pra mim e falava: “Parquinho, Lu”. Eu nunca resistia aos seus encantos. Comia 3 garfadas do meu almoço e corria levar você pro teu pequeno paraíso.

Domingo fomos lá de novo. Eu cheguei antes e fiquei esperando vocês na grade do restaurante, feito uma criança esperando o papai Noel. Aí vocês duas chegaram, lindas, loiras e encantadoras, como sempre. Tia Amélia veio antes com a Nina no colo, e eu rapidamente raptei. Ela estava uma coisa de polaca, com um vestidinho xadrez de branco com vermelho e uma faixinha na cabeça, e foi só dela que eu consegui tirar foto, porque ela ainda não tem capacidade de fugir da câmera:

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Pois logo chegou você, saltitando, com vestidinho rosa e lacinho rosa no cabelo. Eu estava amassando a Marina ainda, e você virou toda dengosa e sussurrou no ouvido da sua mãe: “Eu quero ir no colo da Lu”, já preparando o biquinho. Coitadinha da Marina, acho que nunca vou conseguir amassá-la o suficiente. Na hora já entreguei a pequena pra poder me fartar com você, que logo avisou: “Lu, sabe quem vai no parquinho com a gente hoje? O Gu!”. Gu, meu priminho Lord de quase 6 anos, uma das crianças mais educadinhas que já conheci, mas que eu vejo menos que as meninas. Ele é seu ídolo, né, flor? Você estava super empolgada com a futura presença do Gu no parquinho. Coisa linda.

Ainda estávamos na fila de espera do restaurante, garçons correndo pra lá e pra cá e aquele cheiro de comida que só Deus. Comentei: “Nossa Anninha, estou com fome!”. Você disse que também estava e fomos sentar no sofá com o resto da família. Não deu 10 segundos e você falou com sua mãe: “Mamãe, eu e a Lu estamos com fome, viu?”. Deus o livre passarmos fome, né, amor? Tem que contar pra todo mundo mesmo.

Te levei no parquinho enquanto ainda não tínhamos mesa, e logo depois, voltamos para almoçar. O Gu chegou, todo lindo e elegante, com óculos estilo ray-ban pendurado na camisa. Quase morro com esse menino, que eu não via desde o ano passado. Me abraçou forte e disse que estava com saudade. Quase roubei o bichinho pra mim. Almocei enquanto o Gustavo comia quietinho de garfo e faca, e fazíamos malabarismos pra você comer, do tipo de ter que colocar queijo ralado em cada colherada, pedir pra ver a bocona do leão, ou mesmo a sacada ótima do teu pai, que ensinou que o gnhocci tinha esse nome, porque na hora de comer a gente tinha que gritar: NHOC!

Pratos limpos e impaciências à parte, finalmente fomos para o parquinho. Eu, você e Gustavo, que a Nina ainda é pequena e estava no décimo sono. E então a mesma menina que aos 11 meses já saía correndo no parquinho, de repente subiu a escadinha de uma vez só e estava no alto da casinha de madeira, enquanto eu, morrendo de medo de você despencar de lá, ficava olhando por baixo e falando: “Vai pelo escorregador, Anna, vai!”. E não só você desceu rapidinho como depois já queria subir de pé, mas isso ainda é demais pro meu coração. Daqui a 2 anos eu deixo.

Mas você estava lá, tão desenvolta e linda, vestida de cor-de-rosa, que eu parei pra pensar que, meu Deus, você cresceu debaixo do meu nariz! Não muitos minutos depois, o Gu achou uma amiguinha da escola, que puxava ele pra tudo quanto era lado, te deixando bem magoada de ciúmes, e aí, você sentou no meu colo, fez o maior bico de sofrimento, e disse que queria brincar com o Gu. Tadinha. Tão novinha e já aprendendo o quanto essas coisas machucam. Confesso que fiquei com vontade de roubar o Gu só pra você e dar um sumiço na coleguinha espevitada. Pronto, falei.

Mágoas a parte, ainda voltei pra mesa pra tomar meu morango com chantilly. Logo depois a Nina acordou e eu aproveitei pra dar altos cheiros nela, até que você voltou, pediu meu colo de novo, mas a gente conseguiu te convencer de que a Nina também sente saudade da Lu.

E depois do almoço fomos todo mundo pra casa dos seus avós. E teve uma hora que eu deitei no divã com a Marina sentada em cima da minha barriga, o Gustavo de um lado, e você do outro, os dois adulando a pequenininha, e eu ali, no meio dos 3. Um daqueles momentos que a gente quer pausar pra viver por um bom tempo…

Gustavo, Anna Beatriz, Marina. Vocês são o meu maior presente.

domingo, 25 de março de 2012

O sertanejo que eu fui

Porque eu já deixei bem claro aqui o que acontece na minha vida em relação a "músicas de qualidade duvidosa", né. Só que ontem eu cheguei no meu auge. Foi uma experiência no mínimo inusitada. Mas bem divertida.

Assim, em julho de 2009 eu fui em um camarote VIP do Victor e Léo, no Espírito Santo, com meus primos, e tal. Ganhamos ingresso, aproveitamos juntos, cantamos e dançamos horrores, chegamos às 6h da manhã em casa e foi uma farra. Mas de Victor e Léo eu até que entendia, eles eram a febre do momento, e como eu descobri que ia ao show uns 10 dias antes, deu tempo de passar as tardes ouvindo e decorando as músicas pra poder gritar tudo no show. Foi supimpa. Um show, beleza.

Ontem eu fui no Country Festival. Sim. Eu. No Country Festival. Minha amiga tinha começado a me convencer em dezembro, e como eu já andava me rendendo ao tal do sertanejo, resolvi ir pra ver no que é que dava. No fim das contas trocamos a pista pelo VIP, e fomos. Eu, minha amiga, minha prima, minha irmã e minha mãe. Sei que eu comprei uma bota nova, roubei a camisa xadrez da minha irmã e sai de casa no maior estilo: Já saí do útero ouvindo esse tipo de música.

Chegamos lá e o chão era de terra com pedrinhas. Me senti no curral. Beleza. Enquanto entrávamos, já começou o show da Paula Fernandes e eu só me fazia de alegrinha, sem saber nenhuma música. Depois foram mais uns 40 minutos de trio-elétrico, e então entraram César Menotti e Fabiano, e eu nem sabia que esse 2 ainda existiam, sério. Só sabia a música do Leilão, e enquanto Rhaíssa, Helena e Bianca sabiam todas eu ficava fazendo cara de paisagem e tentando acompanhar os refrões. Beleza.

Depois dos 2, mais uns 40 minutos de trio-elétrico, e aí, Fernando e Sorocaba. Acho que sabia umas 3, e me fartei nas que sabia, fazendo pose de que sabia todas, com minha bota e a camisa xadrez roubada da Helena. Pulei que nem uma condenada. Quando acabou o show dos 2 eu já estava cansada, meus pés estavam irritadíssimos dentro daquela bota, já tinha chovido e meu cabelo estava de pé, eu abandonei o que me restava de dignidade e sentei no chão mesmo. Aquele, de terra com pedrinhas. Teve 1h de trio-elétrico mais ou menos, e depois entrou uma tal de Orchestra de Músicas eletrônicas, que começou com Someone Like You, da Adele, e eu berrei a música a plenos pulmões e garganta, porque em uma hora dessas ninguém lembra que a gente deve cantar é com o diafragma. Mentira, vai. Eu lembrei quando a minha voz começou a falhar, e deu certo mesmo! Enfim, foram uns 25 minutos de "Pausa Eletrônica" com essa Orchestra aí, e eu juro que cheguei a cochilar sentada no chão de terra com pedrinhas. Mas aí de repente entrou o Michel Teló cantando uma tal de "Eu te amo e Open Bar" que só fala isso. Sério. São uns 3 minutos de música onde ele fala: "Agora eu quero ouvir Eu te amo e Open Bar". Beleza. Depois da 2ª vez que ele tinha repetido eu aprendi e gritei bem supimpamente todo o resto da música. Depois disso fui gritando os refrões, e me fartei de gritar com o tal de "Ai se eu te pego", que ele cantou por 19829183 minutos, inclusive na versão inglês. Ah, cantei gente. Cantei, entrei na onda das mocinhas desesperadas e apaixonadas e gritei que ele era um lindo, e coisas do gênero. Tá na chuva é pra se molhar. Quando acabou o show do bonitinho, desistimos de ficar pro João Neto e Frederico e andamos horrores até chegar no carro, que.... estava trancando por outros 2 carros. Estacionamento clandestino de beira de show, ninguém deixa a chave, né. E o povo do outro carro tinha resolvido continuar pro João Neto e Frederico, óbvio. 

Mais óbvio ainda foi que eu arranquei a bota e dormi. Ouvi levemente quando minha mãe ligou o carro e saímos finalmente pra voltar pra casa. Cheguei praticamente mancando, rouca, com o cabelo de pé e o delineador lá na bochecha já. Meu quarto estava uma zona, mas eu nem liguei. Escovei os dentes, me enfiei no pijama, postei no facebook que tinha chegado, porque né. Me encolhi debaixo do edredom e apaguei a luminária. Eram exatamente 6h da manhã. E foi assim minha aventura em um show cheio de cantores sertanejos. Confesso: Foi divertido. Vocês ainda me amam?


Bia, eu, Rhai, Helena e mamãe. Só no sapatinho.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Pela poesia de seus bairros, Curitiba.

E daí que depois de 2 anos e 2 meses morando aqui, eu até já posso dizer que sou um pouquinho curitibana também. Porque as coisas deixam marcas na gente, né. E tudo bem que eu passo 90% do ano reclamando da temperatura, porque eu odeio frio, e na minha concepção ideal a humanidade viveria de verão. Como não é assim, eu me conformo esperneio. Deixando de fora o clima, Curitiba lá tem seus encantos.

Já falei de como o céu em Curitiba é lindo quando faz sol? Pois é. Quando está sol, essa cidade ganha um céu de azul infinito. Daqueles que dá vontade de deitar no chão e olhar pra cima, pra sempre. Se afogar no meio das nuvens. Nunca abri mão de sentar na janela, quando na sala de aula. No meio daquela aula insuportável, eu viro pro lado e olho pro céu. E se for um dia de céu cinza, eu puxo a cortina, claro.

Já falei de suas flores? De como eu reclamo de passeios turísticos, mas sempre tenho vontade de correr como se não houvesse amanhã quando entro no Jardim Botânico? Seus desenhos de sebes, canteiros de dente-de-leão… Não dá vontade de ir embora.

Preciso falar da Ópera de Arame? Passando por cima da Majestade do Teatro Abril e do Guaíra, aquela estrutura tão diferente sempre me deixa de olhos brilhando. Acho que todo aprendiz de ator dessa cidade deve ter um sonhozinho antigo de pisar naquele palco.

O bosque do alemão começa com a história da Chapeuzinho vermelho e termina com uma citação de Goethe: “Pra quem ama, Bagdá é perto”. No meio, a casa da bruxa da Chapeuzinho, onde funciona uma biblioteca pequenina, com livrinhos infantis, e monitoras se vestem de bruxas para contar histórias paras a crianças. Foi onde eu fiz minha primeira reportagem de TV.

Não vou ficar rasgando mais seda. Porque eu adoro fazer bico e dizer aos meus amigos curitibanos que essa cidade é um saco. É. Mas todas no mundo são, se a gente se esforçar para só olhar o lado ruim. Hoje, eu ainda não me acostumei a olhar pra esse template cheio de florzinhas, saí vestida de rosa da cabeça aos pés, com sapatilha brilhando e tudo, ou seja, estou amor. Mas o que eu ia falar desde o título do post era só do nome dos bairros.

De como eu fico enfezada no ponto de ônibus, morrendo de frio, e com ódio de tudo, mas como eu fico feliz da vida quando passa o “Vista Alegre/Canal da Música”, não só porque finalmente é o meu ônibus, mas porque eu acho o nome dele poético. Agora, com 2 anos e 2 meses morando aqui, eu ainda não deixei de sentir um arrepio sutil e delicioso quando alguém me fala de Santa Felicidade. Santa Felicidade, gente. Existe nome de bairro mais poético no mundo? Tudo bem, São Paulo chegou bem perto com sua Liberdade, e eu acho que não existe avenida no mundo tão poética quando a Paulista, mas aqui em Curitiba, o povo, mesmo meio mal-humorado, descobriu que a felicidade é Santa, e resolveu nomear um bairro assim.

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Santa Felicidade.

E pela poesia de seus bairros, Curitiba, como és bela!

quarta-feira, 21 de março de 2012

Eu tenho tido a alegria como dom…

Tudo começou no domingo a noite, enquanto eu e a dona Taryne falávamos pela milésima vez sobre nossos desabafos, contrastando com nossas alegrias infinitas. Ela me mandou o link de uma música da Mallu Magalhães, chamada Velha e Louca, e, contrariando as expectativas, eu fui lá e vi o vídeo. Sim, porque eu não tenho muita paciência pra youtube, nem pra Mallu Magalhães. Nunca dei chance pra moça. Só que fui lá e abri o vídeo. Não precisei nem escutar duas vezes e já tinha ficado apaixonada. Aquela voz meio-doce-meio-presa cantarolando sobre ser feliz por si mesma acabou me deixando encantada. A primeira frase que reparei direito foi: “Pode falar, não me importa. O que eu tenho de torta eu tenho de feliz”, e eu achei incrível. Porque eu sempre fui de me importar demais com o que os outros dizem de mim, e quer saber? Realmente não importa!

Depois dessa frase, acabei ligando tudo no repeat e comecei a ouvir vezes a fio, estando assim até o presente momento. Canto pelos corredores, na cabeça das amigas, escrevo frases no caderno E no caderno das amigas, canto trechos no facebook, no facebook das amigas, no twitter, e as amigas ainda por cima dão RT. Resumindo? Podem achar o que for da música, mas a letra tocou fundo. E não foi só em mim e na Taryne.

Só que nós somos maluquinhas. E quando invocamos com alguma coisa, invocamos. Contrariando novamente todas as expectativas, ontem, em plena segunda-feira, enquanto eu postava sobre Margarida e ela contabulava os comentários sobre Clarissa, jogávamos um mundo de conversa fora, e ela resolveu abrir sua inocente boca para comentar que estava querendo trocar de template. Toda vez que ela troca o dela, eu peço um pra mim também. Viva o óleo de peroba! Da primeira vez, ela me ofereceu um template de presente. Da segunda, eu pedi timidamente. Essa vez foi a terceira, eu já declarei que ela  ia fazer um pra mim se fosse fazer um pra ela, e ainda comecei com uma série de exigências. Sou amor.

Ela, toda fofa, disse que eu nem precisava pedir, que já tinha virado tradição trocarmos nossos templates juntas. Acabamos indo além sem querer querendo. Isso porque uma das minhas “exigências” foi que ela colocasse a frase “em cada canto eu vejo o lado bom”, da música tão falada à cima, em algum cantinho do meu topo. Ela fez biquinho, se jogou no chão, agarrou na barra da minha saia e pediu para usar a mesma frase no dela. Tá, eu exagerei, ela só falou: “Ah, quero usar no meu também”. Não contente com a bichisse de trocarmos de template juntas no melhor estilo Best Friends Forever, e ainda por cima, com a mesma frase, eu sugeri que então ela colocasse a frase anterior àquela na música, que é: “Eu tenho tido a alegria como dom”. E assim, depois de uma madrugada quase que virada, onde eu tagarelava e dava palpites, e ela, compenetradíssima, fazia os topos. Acabou que ela fez o meu e nós duas apagamos de cansadas.

Hoje, no fim do dia, o dela ficou pronto. Me torturei num rio de patterns para decidir o melhor fundo, enquanto ela achou o dela em 5 segundos. Ela queria postar mais cedo, mas eu insisti que esperássemos a meia-noite para inaugurarmos os bichinhos, e então, voi lá! Ah, claro. Os títulos do post de apresentação estão com as frases trocadas nos títulos, pra fazer um charme.

terça-feira, 20 de março de 2012

Margarida

Era uma noite fria de 1945. Noite não. Madrugada. 3h02 da manhã, para ser mais clara. Foi surpreendente aquele chorinho vivo e agudo de neném cortando o silêncio gritante que havia no hospital naquela hora. Naquele momento, a senhora do segundo andar pegou a mão do marido na maca, e chorou. A mãe do terceiro andar agradeceu a Deus a benção de uma vida nova chegando, ao mesmo tempo em que chorava abraçada com o filho de apenas 5 anos, cuja perninha direita acabara de ser amputada. Era a perna preferida dele pra jogar futebol.

Aquele chorinho, simples, agudo, e cheio de vida, ecoou por todos os corredores e quartos daquele hospital. A menininha foi levada para a sala do lado para ser pesada e medida. Sozinha. Não havia mais nenhuma criança no berçário. Tempos difíceis.

Tão logo a enfermeira trouxe a bebê de volta, a mãe a agarrou com toda força e a colocou no peito, para ver se esquentava. Fazia muito, muito frio. Lá fora também, mas ali dentro havia muito resquício dele. Estava na hora de esquentar. A neném mamou como se sempre tivesse mamado. Ou como se sua última mamada tivesse sido há muito tempo. Sei lá. Sei que enquanto ela mamava, o resto do hospital tentava ouvir seus burburinhos de esperança, e seus pais se abraçavam e contemplavam aquele rostinho como se fosse único no mundo. E era. Eles choravam abraçados, sendo três, novamente. Choravam de saudade e de amor. Eram quatro, na verdade. Mallu, sua primogênita, tinha morrido há 3 meses. Com 2 anos de vida. Vítima de que? Da guerra. E agora ali estavam eles novamente, como num Dejávu, chorando abraçados com uma filha no colo, no mesmo hospital, mas agora, com alegria. Uma alegria que em partes era suspeita, afinal de contas, como eles tinham tido coragem de colocar mais uma criança no mundo em tempos difíceis como aquele? Só pra sofrer? Não. Não iam pensar nisso agora. O dia era de esperança, de alegria.

Deu 6h da manhã, e os 3 continuavam ali, abraçadinhos, como se fossem um só. E eram. O moço, finalmente resolveu fumar um cachimbo do lado de fora para comemorar a chegada da caçula, e dos novos tempos da família Hoff. Eles tinham uma anjinha, mas tinham também uma nova flor. Flor.

Sentado na cafeteria, sozinho, sentindo cheiro de desespero e esperança, ao mesmo tempo, ele rabiscou no guardanapo: “E quando só houverem pedras, atire a primeira flor”. Flor. Eles tinham acabado de atirar a primeira delas, naquele hospital. Depois de dias a fio de desespero, dor, e morte, sua menina tinha sido a primeira a nascer. Voltou pro quarto com o rabisco, e resolveram ali o nome da pequena. Nome de Flor. Margarida, que, embora a segunda, seria sempre a primeira flor. No mesmo dia, a notícia que saia em todos os jornais era o fim da guerra. Acabou. Deu-se por encerrada. Pareceu um milagre, mas não foi. Foi apenas Margarida.

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A primeira Flor.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Chaya, para os (não) íntimos.

A caçula da família nasceu na Ucrânia, mas se ressente comigo por eu afirmar isso em público. Diz que é brasileira, e não mais que isso. Se mudou pra cá perto dos 2 anos, mas jura que foi com 2 meses. Quanto menos tempo fora de seu país do coração, para ela, melhor.

Filha de Mania, que virou Marieta, e de Pinkhas, que virou Pedro. Irmã de Leah, que virou Elisa, e de Tania, que sempre foi Tania, pois o nome serviu para os dois países. Seu nome de ucraniana, Chaya. Chaya Lispector.

Desde que se lembra de ser chamada por alguém, já era Clarice, e sempre foi Clarice no Brasil. Clarice essa que certa vez, acordou desesperada de um pesadelo. Sonhou que escreviam várias coisas por aí e assinavam seu nome. “Meu nome é tudo que tenho, não podem fazer isso”. Demorou a se acalmar.

Acho que não vou conseguir explicar o aperto no peito que eu senti quando li esse parágrafo em sua biografia, Clarice, , escrita por Benjamin Moser. Sim. Meu coração se apertou. Clarice. Que um dia foi Chaya, que prefere não lembrar disso, e que sempre teve tanto, tanto apreço por seu nome, seu maior tesouro. Deve se revirar no túmulo ao tomar conhecimento de todas as baboseiras que são ditas por aí e assinadas em seu nome por tumblrs, blogs e twitters a fora.

Sim, porque Clarice e Caio são a moda do momento, e tudo nessa vida foi escrito pelos dois, ou, quando muito, por Tati Bernardi. Isso sem falar nas próprias críticas a isso, como o já conhecido: “O elefante caiu na lama. Clarice Lispector”, ou senão “Saia desse computador. Lispector, mãe”, e até eu mesma, ontem, ao ler minha amiga dizendo no face: “Cansaço é pouco, o que eu tenho ainda não tem nome” assinei embaixo: Lispector, Amanda.

Doeu na alma, gente, pensar que um medo tão grande da moça virou modinha por aí. O nome é realmente tudo o que temos de mais seguro nessa vida. Agora, se dói ter seu nome usado por aí ao léu, também é certo que dói se deparar com algo seu assinado por outra pessoa. Eu já vi isso acontecer com texto meu, e eu sou só eu. Uma aprendiz de blogueira que brinca de escrever. Fiquei foi contrariadíssima quando, procurando no google por um trecho de Pequena Abelha, de Chris Cleave, achei o parágrafo inteirinho em um tumblr. Sobre o Caio F. E, obviamente, assinado pelo Caio F.

Gente, querem criar tumblr para os ídolos? O mínimo que se pode fazer é tomar mais cuidado com o nome dele, e consequentemente, dos outros escritores que acabam envolvidos na bagunça, não?

Sobre a memória de Clarice, antes o meu amigo, que diz gostar da moça e assume não saber de nada, proclamando, somente, quando eu perguntei se ele sabia que ela tinha nascido na Ucrânia: “Sei não, Aninha. A única coisa que eu sei é que liberdade é pouco e que o que eu quero ainda não tem nome”. Gus, pode espalhar essa por aí. É mesmo de Clarice. De resto, pode continuar de biquinho calado!

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Usando o nome dos outros por aí? Vocês estão fazendo  isso errado!

terça-feira, 13 de março de 2012

Aquele da fumaça saindo pela minha janela

Era um dia simples e tranquilo. Hoje mesmo. Levantei pra ir pra aula, e aquele friozinho da manhã sempre rondando. No entanto, antes de chegar na sala de aula já estava arrancando a blusa de frio. Meio li, meio assisti a primeira aula, e depois do intervalo, fomos abrir a conta da comissão de formatura. Beleza. Como foi tudo rápido, saímos dali e encaramos um sorvetinho no McDonalds, tudo isso por volta das 10h da manhã.

Depois do sorvete e da fofoca, cheguei em casa, tirei um cochilo, almocei e fui pra auto-escola. De aula mesmo devemos ter tido 30 minutos. De resto, rimos, zoamos um com a cara do outro, fofocamos, re-sorteamos o amigo choco, passeamos no mercado e compramos bolo de chocolate. Acabou a aula, e estou eu. Linda, loira e tranquila, subindo a querida íngreme rua Brigadeiro, junto com minha colega de sala que mora na minha quadra. Até que meu celular começa a tremer dentro da bolsa. Atendi.

Era a minha mãe, tentando manter a calma, mas querendo gritar, perguntando se eu estava em casa. Obviamente não. A aula havia acabado há 2 minutos. Só se eu fosse o The Flash. Mas enfim. Eu não estava. Então, ela disse: “É que o porteiro ligou pra avisar que está saindo fogo do vitrô lá de casa, eu estou no dentista com sua irmã, vou largar ela aqui e ir correndo. Tchau”.

Beleza, abafando o fato de que ela provavelmente pensou que eu deveria ter chegado em casa a fim de fritar um ovo, e, contando com todos os meus dotes culinários, teria colocado fogo na cozinha. Minha colega apressou o passo no maior estilo: “Run, bitch! Run!”, mas eu fiquei com preguiça de fazer o mesmo. É óbvio que minha casa não estaria pegando fogo, céus. Não tem ninguém lá!

Quando cheguei no prédio, abri o portão e senti um cheiro minimamente sinistro. Me aproximei da porta de vidro e senti um cheiro ficando sinistro. Abri a porta de vidro, e, ok. O cheiro estava infinitamente sinistro. Só consegui pensar: “Se isso for na minha casa fudeu danou-se.” Finalmente resolvi correr com a chave na mão, mas encontrei a porta aberta, a minha mãe, o porteiro, o vizinho, e muita, muita fumaça. Mas muita. A varanda estava tomada por fumaça, e o ar na sala irrespirável. Mas não, gente. Onde há fumaça, não necessariamente há fogo. A fumaça saia insistentemente da minha churrasqueira, mas a minha humilde residência não tinha nada a ver com o fato. Investigações à parte, foi o imbecil palhaço do vizinho que RESOLVEU queimar papel como se não houvesse amanhã no apartamento dele, fazendo com que a fumaça subisse toda pela chaminé da churrasqueira, e viesse parar bem no meio da minha sala. Supimpa.

Está tudo cheirando queimado aqui em casa, a varanda ainda está meio branca, minha mãe ligou o ventilador na churrasqueira, e as toalhas no varal, coitadinhas, certeza que estão com cheiro de churrasquinho queimado.

Minha vontade? De descer um lance de escadas e queimar os neurônios do vizinho. Fato que o cheiro ia ser bem pior. Ou não né, não deve ter nada lá mesmo.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Do olho cor de rosa

Quando eu era pequena eu fazia ginástica olímpica. Eu amava desde sempre, acho. Sempre fui daquelas crianças que pulava e fazia piruetas em qualquer situação. Na primeira série, eu e minha melhor amiga resolvemos que íamos fazer ginástica olímpica. Abriu uma turma no colégio, e fomos, super empolgadas. Só que a professora era uma megera, e queria que a gente simplesmente chegasse lá espacando, na primeira semana de aula. E ela forçava nossas costas pra conseguirmos espacar. Nós tínhamos 7 anos.

Arianne desistiu, eu segurei mais uma ou duas semanas e abandonei o barco também. Aí mudei pra São Paulo e comecei a 2ª série. E.. abriu uma turma de ginástica olímpica, e lá fui eu. Saltitante. Era a primeira turma da escola, tínhamos colchões horríveis e um trampolim mega velho. Mas eu estava lá. Feliz da vida. Crescemos juntos. Foram comprados colchões próprios, uma cama elástica nova, e lá estávamos nós. Passamos da “cambalhota” pra reversão, a altura do salto foi aumentando, e de repente fazíamos mortais sem a ajuda do professor. Foram 4 anos mágicos. Mágicos. Onde eu venci meu medo de virar uma reversão pra trás sem as mãos do professor, e ele me rodopiou de orgulho. Foram 4 anos onde a gente aprendeu o que era disciplina. O que era força. O que era comprometimento e dedicação. 4 anos doloridos (muscularmente falando) e lindos, onde a gente “brincava de competir” em outros colégios, e até conversava sobre moda: Todo ano tínhamos que decidir o desenho do collant para a apresentação do final do ano. Era lindo. Quando os collants chegavam, ficávamos todas iguaizinhas, de lacinho branco no cabelo, e ai. Melhor parar por aqui dizendo que foram 4 anos maravilhosos que terminaram num rompante no dia que meu médico virou pra minha mãe e disse que se eu não saísse da ginástica olímpica eu ia ficar nanica.

Eu tenho 1,57. Minha mãe deve ter 3 centímetros a mais. E o meu primeiro pediatra, lá em Vitória ainda, vivia dizendo pra minha mãe: “Você quer que essa menina saia alta de onde? Você e seu marido são baixos!”. Baixinhos ou não, meus pais me arrancaram da ginástica que eu amava, e me obrigaram a fazer natação por uns 3 anos. Eu odiava. Com todas as minhas forças. Aí eu me rebelei e parei de fazer esportes. Eles reclamam, e eu rebato, dizendo que o único que eu gostava eles me obrigaram a atirar pela janela. Enquanto isso, eu viro madrugadas vendo Ginástica Olímpica quando tem Olimpíadas. Choro junto, pulo pela sala, e me desfaço ao ver que nem espacar eu consigo mais.

Onde eu quis chegar com essa introdução? Ah sim. Tem aula de Circo na minha escola de teatro. “Piruetas de solo”, ou algo do tipo. E eu morria de vontade, mas me auto-sabotava. Até que ontem, eu estava na escola, de calça jeans e sapatilha, esperando dar 20h30 pra assistir uma peça, e vi que umas amigas minhas estavam lá, em cima de um colchão, de ponta cabeça, e fiquei assistindo com os olhinhos brilhando pela janela, até que me chamaram pra entrar. E eu fiz a aula. De calça jeans mesmo. Meu Deus, que saudade. Não fizemos muita coisa no primeiro dia, mas eu fiquei tão feliz de fazer uma parada de mãos, que coloquei tanta força, mas tanta força, que esqueci de respirar e…

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… ouvi de relance a professora dizer que se eu fizesse muita força de ponta cabeça e esquecesse de respirar, eu ficaria com marquinhas de sangue ao redor do olho. Bingo.

Cheguei em casa com o olho cheio de pintinhas roxas/cor de rosa. Meu pai não achou até agora. Minha irmã disse que a primeira menina que olhasse pra mim iria perceber. Pisei na faculdade e xinguei mentalmente o fato de meus amigos não estarem na área externa, afinal, seria um ótimo motivo para eu usar óculos escuros, mas não. Eles estavam lá dentro. Cheguei como quem não queria nada. Sentei, e em menos de 10 segundos, minha amiga: “Guria, que isso em volta do seu olho?”. Eu ri, expliquei, e agora tem gente que acha que eu estou fazendo boxe. Ou pior. Que eu apanho do marido. E eu nem marido não tenho!

quarta-feira, 7 de março de 2012

Sempre quis dirigir.

Aqui em casa, meus pais sempre dirigiram. Eu sempre curti um carro, e pode ser que digam que é porque não sou eu que dirijo, mas eu amo pegar estrada. De verdade. Como nasci em Vitória e me mudei pequena pra São Paulo, me acostumei cedo com longos trechos dentro de um carro, afinal, são 14h de viagem. No início era tenso. Eu tinha meus 8 anos, a Helena 4, e a gente brigava em pelo menos 1/4 do trajeto. Ou brincávamos, ou brigávamos, ou dormíamos. O carro tinha aparelho de CD, e nos revezávamos com nossos pais. Era um da Eliana, um da Adriana Calcanhoto. Um da Sandy, um dos Bee Gees, e assim, chegávamos ao destino. Na ida, íamos saltitando, e na volta, chorando. Impreterivelmente. Muitas vezes ficava irritante a viagem eterna, mas não adiantava mesmo reclamar. E eu acostumei. Passei a amar.

Mudando pra Curitiba, o trecho ficou maior ainda, e eu comemorei. Adoro encostar na janela do carro com meu travesseiro e meu Ipod. Sim, porque né, não ter que revezar as músicas tornaram a viagem um pouco mais divertida. Porque dá pra colocar o Ipod no aparelho do carro e ir cantando todo mundo junto, na típica propaganda de Margarina, enquanto eu e Helena rimos no banco de trás, e mamãe fica dando biscoitos de polvilho na boca do papai e ele dirige. Mas quando a gente cansa de ser puro-amor familiar, é só enfiar o fone de ouvido, a cara no travesseiro, e pronto. Eu amo pegar estrada. Amo estar dentro de um carro.

Aos quase 20, finalmente eu tomei vergonha na cara e vou aprender a dirigir! Já pensou que loosho sair por aí, dirigindo e ouvindo música para desbravar a cidade? Eu, quase uma intrépida aventureira, com certeza terei no carro ou um aparelho de GPS ou mapinhas rabiscados pela minha mãe, porque a cegonha me trouxe sem o aplicativo da localização. Mas eu tento baixá-lo assim que aprender a dirigir, vá, me deixem ser feliz.

Enquanto isso não acontece, eu chego da faculdade, almoço, e às 14h, bem quando bate aquele soninho supimpa, eu estou numa carteira de auto-escola, com uma apostilinha colorida estilo primário, um livro de simulados estilo vestibular, uma professora meio irritante, que decidiu que plurais não existem e faz piadinhas chatas com a cara de todo mundo na sala, achando que isso vai fazer o tempo passar mais rápido, mas tudo bem. Finalmente, depois da burocracia eterna do Detran, eu já tirei a foto da carteira, que ficou o Ó do Ó, porque eu estava gripada e com olheiras, e o cabelo tem que ficar atrás da orelha. Já passei no exame clínico e no psicotécnico. Faltam agora o fim da aulas teóricas, a prova teórica, as 20 aulas práticas e o terrível teste prático, com a tal da baliza. E aí, senhoras e senhores, estarei eu no trânsito assim que papai me comprar um daqueles carrinhos de brinquedo. Eu. De óculos escuros roxos, Katy Perry, e mapinha! Estou ansiosíssima pra ver com isso vai ser.

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Lá vou eeeeeeeeeu!