Eu e minhas 3 estrelas - 14/31

Um dos maiores medos da minha vida é ficar cega. Não gosto nem de registrar o assunto assim, em palavras, porque tenho medo até de pensar a respeito. Juro. Quando eu era criança, não conseguia dormir de jeito nenhum em locais totalmente escuros. Muitas crianças também não, mas é porque elas tinham medo do bicho papão. Eu tinha medo de estar ficando cega e não perceber, até que amanhecesse e eu descobrisse que não estava escuro de fato, era eu mesma que tinha parado de enxergar do nada. Dá para acreditar? Isso sem falar nos pesadelos.

Cegueira, talvez com o parágrafo anterior vocês já tenham entendido, para mim é um filme de terror. Foi por isso que eu nunca tive coragem de tocar em “Ensaio sobre a cegueira”, de Saramago. Nem livro, nem filme, nem quero ouvir nada a respeito. Sei que é metáfora, sei que deve ser bom mas não, por favor não insista. Se eu ler um negócio desses não é você que vai ficar 1 mês assustada pensando no assunto toda hora. Sou eu mesma.

Dito tudo isso, nem consigo explicar direito porque foi que tive tanta vontade de ler “Toda luz que não podemos ver”, sendo que a única informação que eu tinha sobre a história, a priori, era de que a protagonista era uma menina cega. Estava com muita vontade ler, mas fingia que nem era comigo. Vontade dá e passa e o medo que eu ia ficar depois da leitura ia durar mais tempo do que o necessário. Não valia o esforço.

Só que aí de repente eu vi  muita gente começar a falar desse livro. Muita gente postar foto dele no Instagram dizendo que tinha se apaixonado e coisa e tal. Se faltava algum estopim, este foi minha amiga Rafinha que surgiu na Máfia dizendo que podíamos todas comprar para bichar (lê-se: ler todas ao mesmo tempo) e foi assim que eu me rendi e comprei o livro.

Acabou que, assim como grande parte dessas tentativas de ler em conjunto quando você tem um grupo de mais de 10 pessoas envolvidas, não deu certo e eu acabei pegando o livro antes de todo mundo. Se vocês estão me esperando falar que foi uma péssima escolha e que estou apavorada desde então, desculpem. É só que mais uma vez eu fiquei parágrafos a fio falando sobre um mote que não é o verdadeiro tema do post, hehe #meujeitinho.

Na verdade eu só contei essa saga anterior à aquisição do livro pra dizer que era um livro que eu absolutamente não pegaria para ler, mas que acabei pegando porque, enfim, tinha muita gente mesmo comentando e dando 5 estrelas e eu senti que precisava quebrar essa barreira momentânea. Não tinha como ser algo tão hard como no livro de Saramago que é uma epidemia de cegos e coisa e tal. Era só uma menina, eu ia superar e tudo ia ficar bem. No fim das contas o fato da menina ser cega nem é o principal da história, e se tornou algo tão intrínseco que eu nem lembrava mais.  

O que eu vim falar de fato sobre o livro é só que, como já informou o spoiler que soltei no título, não achei o livro tudo aquilo que as pessoas acharam. Eu dei 3 estrelas.

Minhas amigas vivem dizendo que eu sou a menina das 3 estrelas. Elas me indicam livros que amam e já vem me ameaçando: “Se for avaliar com 3 estrelas nem leia porque ficarei magoada”. Quando a previsão se torna verdade, eu apenas respondo: “ajuda se eu disser que foram 3 estrelas com um sorrisinho?”. 

Porque tem diferença, sabe? É muito pra minha cabeça aceitar essa classificação entre 1 e 5 estrelas sem criar minhas próprias diferenciações internas. Portanto, 3 estrelas com sorrisinho são: “é um livro apenas bom, não ótimo, mas bom, e até que legal!”. Mas infelizmente eu acho que esse não foi o caso de Toda Luz. Acho que foram 3 estrelas sérias mesmo. O livro é bom, mas nem é legal, e foi isso. Só isso. 3 estrelas.

Ele é mais grosso do que deveria, o que faz com que a história se arraste. O livro é bom, mas lento. Lia, lia, lia e as coisas não aconteciam. Parece quando a gente cisma em assistir novela do Manoel Carlos todo dia mesmo sabendo que a história não vai andar, sabe?

Ele tem pontos positivos sim, mas, no geral,  acho que a trama principal se perde demais, é mal aproveitada e acaba ficando vaga; solta. A história dos dois protagonistas se cruza MUITO de leve. Utilizando uma expressão linda criada pela minha amiga Couth, é quase um suspiro. Suspira. Suspirou? Acabou. Confesso que achei até poético e bonito não tornar esse encontro o grande plot do livro mas mesmo assim achei que faltou um tiquinho mais de sutileza e força nesse encontro rápido. Não sei. 3 estrelas, gente. 3 estrelas sem sorrisinho. Eu e minhas 3 estrelas. De novo. Fazer o que.