Eu podia começar essa carta te
dizendo que você nem nasceu (acho que tá um pouquinho longe ainda, filha) e já
é a coisa mais importante da minha vida, mas acho que isso seria romantizar demais
para o momento e colocar nas suas costas um peso que você não é obrigada a
carregar. Talvez, inclusive, seja a hora de eu confessar que agora, nesse
momento, agosto de 2015, você não é a coisa mais importante da minha vida não –
e eu nem vou pedir desculpas.
Deixa eu te explicar: eu sonho
com você desde que eu descobri o que era sonhar. Você não é meu sonho de olhos
fechados, é de olhos abertos mesmo. Sempre sonhei acordada com você. Desde os
meus 3 anos, quando eu levantava a blusa e colocava minha boneca de
cabeça-de-plástico-e-corpo-de-pano para mamar, eu sonhava com você. Quando era
adolescente e achava a adolescência um saco, tudo o que eu queria era acelerar
a minha vida para chegar logo no momento em que eu finalmente te pegaria nos
braços. Perdia horas e horas matutando incomodadíssima de verdade com a não-passagem do
tempo, queria você já-agora, tinha toda a certeza do mundo de que eu só seria
realmente feliz quando tivesse você e que enquanto eu não tivesse tudo devia
passar na velocidade 3 do The Sims. Eu queria, naquela época, ter o controle remoto de
Click nas minhas mãos. Que bom que eu não tinha.
Naquela época, Clara, no alto dos
meus 13 anos que eu não tinha vontade nenhuma de aproveitar, eu teria passado o
tempo sem nem pensar duas vezes caso tivesse tido a chance. Mas eu não tive a
chance, é claro, e que bom. Hoje, 10 anos depois, eu já aprendi que o tempo
passa sozinho se a gente se distrair – e que a gente se distrai bem mais do que
devia, e que por isso ele passa mais rápido ainda.
Hoje eu tenho 23 anos. Eu não sei
quando você vem (mas você vem) e eu ainda sonho acordada com você praticamente
todo dia, mas como eu disse lá em cima, você não é a coisa mais importante da
minha vida – e que bom. Imagina se eu estivesse, até agora, emburrada como a
menina de 13, achando que a vida não tem graça porque você não existe, que
grande merda seria?
Filha, eu sempre quis ser mãe. Eu
sempre brinco que a maternidade é meu maior sonho de carreira e que você vai
ser o meu melhor projeto de vida. E aí eu dou muita risada da minha cara se
paro para colocar as coisas em perspectiva. Fico pensando na minha mãe, sua
avó. Fico pensando nela aos 10, aos 15, aos 20 anos, brincando com as irmãs e
os sobrinhos, sonhando com o momento que pegaria a própria filha no colo.
Imagino ela sonhando comigo com a mesma ânsia com a qual eu sonho com você e dou
muita risada porque, sério, é bizarro se colocar nessa posição de ser o sonho
de alguém.
Fico me imaginando feito esse sonho que minha
mãe sonhava. Aí eu faço uma varredura rápida da minha vida e lembro que eu não
gosto de brócolis, sou de humanas e morro de medo de agulha. Captou? Não, né,
foi super abstrato mesmo. Vou explicar. Joguei 3 características aleatórias
minhas só para mostrar que, olha só que curioso, eu não sou o sonho da minha
mãe. Eu sou um outro ser humano que tem uma porção de particularidades e faz
uma outra porção de coisas. Sou um outro ser humano, que vive com as próprias
barreiras, questões e monstros para enfrentar. Um outro ser humano, que vive
com os próprios sonhos para realizar. Não é engraçado isso?
Eu sempre digo que eu sonho com
você, mas às vezes é bom lembrar que o máximo que eu posso fazer é sonhar com
qualquer vaga ideia que eu possa ter de você – e que você vai ser completamente
diferente de tudo o que eu vier a imaginar e que a mágica é justamente essa. E é exatamente por
isso que você não pode ser a coisa mais importante da minha vida, ao menos não agora. Não é justo
comigo e muito menos com você.
Eu imagino nosso primeiro encontro
de várias maneiras, e não tenho dúvidas de que o dia que botar meus olhinhos em
você pela “primeira vez” eu vou dizer “que saudades, filha” ao invés de “olá”,
porque sempre tive pra mim que nossa relação vem de outras vidas. Quero muito
te pegar no colo e te encher de beijos e ver as nossas vidas acontecendo lado a
lado, aproveitando cada minuto da chance desse tempo-espaço que teremos para
compartilhar.
Aqui dos 23, onde estou agora, a
vista está uma loucura. Eu não faço a
menor ideia do que estou fazendo com a minha vida, mas me divirto um bocado
tentando aprender como as coisas funcionam e acho que foi muito interessante
essa epifania que bateu, de que o máximo que eu posso fazer por enquanto é
esperar ansiosa pelo dia em que vou começar a te (re)conhecer, de fato. O dia
em que eu pegar você nos meus braços e ter a certeza de que estou realizando o
maior sonho que já tive na vida até então, e que a partir dali começa uma fase
totalmente nova. Sim, porque por mais melancólico que isso pareça, quando a
gente realiza um sonho a gente acaba por perdê-lo. Quando a gente realiza, já
não é mais sonho, e que bom. Porque quando ele não for mais sonho, vai ser
somente você. E aí, filha, aí talvez você se torne, de fato, a coisa mais
importante da minha vida – mas prometo que mesmo aí, quando isso acontecer, eu
vou tentar lembrar o tempo todo que você é um ser humano com uma vida toda sua
antes de ser somente parte da minha, e que você pode ser (e fazer) o que você
quiser, desde que você seja do bem (e isso vai acontecer se eu cumprir a minha
tarefa direitinho).
Enquanto você é o meu sonho, você é só o meu sonho. Quando você for VOCÊ, aí sim vai ser realidade, Aí sim vai ser a coisa mais importante da minha vida. Aí sim vai ser muito mais difícil, mas vai ser muito melhor e vai ter muito mais graça. Se ainda tão antes de te ver eu já te amo, quando eu te encontrar vai ser paixão. Do jeito que você for, do jeito que você quiser ser, saiba que terá, para sempre, uma parte da minha alma e o meu coração por inteiro. Eu juro.
Enquanto você é o meu sonho, você é só o meu sonho. Quando você for VOCÊ, aí sim vai ser realidade, Aí sim vai ser a coisa mais importante da minha vida. Aí sim vai ser muito mais difícil, mas vai ser muito melhor e vai ter muito mais graça. Se ainda tão antes de te ver eu já te amo, quando eu te encontrar vai ser paixão. Do jeito que você for, do jeito que você quiser ser, saiba que terá, para sempre, uma parte da minha alma e o meu coração por inteiro. Eu juro.
PS: Se você for um menininho, desculpa desde já. Como eu disse, tudo o que tenho até agora são as mais vagas ideias e é com elas que eu trabalho. Apenas troque o gênero de algumas palavras da carta, conforme necessário, imagine o seu nome ali no título provavelmente Benjamin, e saiba que o amor, a saudade, o sonho e a epifania são os mesmos.
Ai amiga!
ResponderExcluirAcabei de ver Boas Vindas na tv e vim te ler, já estava morrendo de chorar com os nenens do programa e agora com esse texto maravilhoso pra Clara!
É tão real esse sonho né?
A gente tem que se segurar pra não colocar tanta responsabilidade nas costas deles mas gente, é sem explicação.
Eu não vejo a hora e por mais que esteja maos perto, que longe, ainda é tempo demais pra não passar com ela (e).
Amiga? Quando tiver Helena vou levar pra te visitar, pode? ♡
Tenho certeza que Clara será do bem, porque em pé de manga não dá maracujá, é o que dizem! (Ou dá? Mas só se for maracujá docinho) (olha as expectativas em cima delas de novo)
Um beijo enorme em vocês duas.
E eu amei demais esse texto!
♥
Vou dizer a mesma coisa que Mimi comentou sobre meu texto da Taylor Swift: tenho a sensação de que esse texto são várias conversas nossas no Skype e no chão de alguma sala, quando de repente ficamos sociólogas. Porque é isso mesmo, sabe? É muito estranho ser o sonho de alguém. É um peso ser o sonho de alguém, e ninguém é obrigado a passar por isso. Nem os filhos, e nem as mães - que, apesar de tudo, sofrem também. Eu comecei a entender muito melhor os meus pais quando comecei a me colocar no lugar deles, e por mais que eu brigue muito com a minha mãe justamente porque conta de às vezes ela se esquecer de que eu sou uma pessoa antes de ser a filha dela, é difícil não cair nessas armadilhas quando o negócio é com a gente, né? Porque a gente sonha, idealiza, faz planos pros nossos babys, mas não podemos esquecer que antes de eles serem os a-gentinhos (ai, nossos a gentinhos!) eles serão quem eles quiserem ser. Graças a Deus.
ResponderExcluirSabia que você ia arrasar nesse texto, e já sonho com a Clara (ou com o Benjamin) tanto quanto você #bichasmaisquebichas inclusive literalmente, porque eu sonhei com seu parto (socorro eu sou doente) e a gente se olhou e pensou: é real.
(o que as pessoas vão pensar disso?)
enfim, te amo muito muito muito <3
Eu fico muito emocionada com cartas para futuros filhos, porque elas são sempre muito lindas, delicadas e cheias de amor. Eu tenho sentimentos super conflituosos em relação a filho. Acordo um dia querendo mais do que tudo no mundo e pela hora do almoço eu já nem penso na ideia, pois a acho muito absurda. Apesar dessa inconstância, eu sonho com meu bebezíneo, já tenho nomes - mas só pra menino, porque acho que vou ter um menino primeiro (?) - já tenho altas projeções pra vida dele. Acho que nesse momento é normal e ok sonhar com a vida dos nossos filhos e projetar mil coisas. A gente só tem que manter em mente que eles serão seres humanos como nós e seguirão as próprias vidas.
ResponderExcluirTe amo muito, amiga, e vou amar muito a Clara, ou o Benjamin e todos os outros (?) que vierem. <3
Carta linda, cheia de verdades que também acredito muito.
ResponderExcluirÉ uma delícia quando esse sonho acaba e se torna real. Aliás, esse é um sentimento que tenho aqui: acabou o sonho, agora é vida nova daqui por diante. E o frio na barriga só aumenta, rs.
Eu trabalho muito isso na minha cabeça, de que a Agnes é uma pessoa inteira, plena, cheia de vontades e defeitos como todas as outras pessoas. Dá trabalho "des-romantizar" e não deixar que ela se afogue em projeções e desejos meus? Nem me fale!! Mas é vida real e é bom demais. Recomendo muito.
Clara (e/ou Benjamin, rs) tem muita sorte de te ter como mãe, ô se tem!
Beijo nosso!
Eu imaginei mil coisas pra esse texto mas nenhuma chegou perto do que você escreveu. Amiga, essa carta é maravilhosa. Tão bonita e, meu Deus, tão especial. É normal que a gente sonhe com nossos filhos e imagine toda uma vida pra eles, e acho que em certa medida é uma coisa muito saudável. Mas é importante lembrar também que eles são pessoas e é tão fácil se esquecer disso, não é? Vejo isso o tempo inteiro e obviamente penso nisso (quando penso, porque sinceramente não é uma coisa que passe pela minha cabeça o tempo inteiro), então sei lá, foi lindo te ver falando sobre isso. No fundo, só quero que Clara (ou Benjamin) (ou os dois) seja uma pessoa especial e de bem, que eu obviamente vou amar demais. Ai socorro, alguém me segura quando a gentinhos começarem a chegar.
ResponderExcluirte amo, meu amô <3
Ai que coisa fofa, Ana. Eu acho muito bonito quem sonha em ser mãe porque é algo muito distante dos meus sonhos. É algo que não me imagino sendo e acho que nasci sem o instinto materno necessário.
ResponderExcluirDaqui anos quando a Clara ou o Benjamin nascerem, eles vão ter uma prova real e online do quanto foram queridos. E que por mais sonho que eles haviam sido, eles vão ter uma mãe maravilhosa de que vai deixar eles serem o que quiserem. Uma pessoa real.
Beijão!
Que coisa linda Nalu! Acho tão poético esse seu desejo de ser mãe e todas as suas reflexões ao redor dessa coisa... Ter filhos me assusta, não só gerar uma outra vida como também cuidar para que ela aprenda e tenha sucesso e seja feliz, GENTE que responsa! Eu já jurei de pé junto que jamais teria filhos, hoje não renego a maternidade mas sei que não estou pronta pra ela e nem sei quando estarei, mas ao mesmo tempo que é assustador, deve mudar a gente completamente de um jeito maravilhoso né? De qualquer modo, já sabemos que o amor de mãe é eterno e incondicional e não tem presente melhor pra dar pros filhos!
ResponderExcluirbeijo! <3
Ai, amiga, que lindo. Por favor não me diga que essa era a carta que você não sabia se ia postar.
ResponderExcluirAmei muito o fato de você respeitar Clara (ou Benjamin) como pessoa desde já, e tenho certeza que você vai ser uma mãe muito maravilhosa. Deve ser difícil se lembrar o tempo todo que "aquilo" que saiu da gente pense diferente e tenha sonhos muito diferentes dos nossos, mas no fim das contas o nosso trabalho é só amar e formar seres humanos decentes, né? (E os nossos eu tenho certeza que vão ser muito mais que decentes, vão ser incríveis.)
Não vejo a hora de ver Clara e Flor brincando por aí. Mas não precisa ter pressa, que a gente chega lá mais cedo do que parece.
Te amo!
Amiga, que texto maravilhoso. Se esse BEDA surgiu para alguma coisa, foi pra gente ler isso daqui, mesmo que obrigado, hahah. Eu acho lindo o seu relacionamento com sua filha que ainda nem nasceu, mas achei a parte mais maravilhosa você ter compreendido como a vida é toda uma outra coisa. Clarinha vai ser humana, vai errar um bocado, pode te dar muitas raivas e se sentir muito culpada por ter sido o seu sonho: mas vai continuar sendo. A gente não pode esquecer disso!
ResponderExcluirQuero muito que chegue o momento em que minha filha possa ficar de olho na sua. Se ela for parecida comigo, vai entrar em pânico só com a ideia, mas vai ficar mesmo assim, hahaah.
Te amo tanto! Tanto!
Que texto mais lido lindo lindo.
ResponderExcluirClara ou Benjamin vai ter uma mãe maravilhosa se ela já lembra que ela/ele é outro ser humano e isso é mais do que ser o sonho de alguém e é totalmente diferente também.
Eu não quero ter filhos, mas o que você escreveu me deixou com um sorriso no rosto. É só que eu acho que todo o processo de ter um filho e ser mãe não é pra mim, apesar de haver outras questões externas envolvidas nesse meu não querer (que não é eu ter problemas com minha mãe, ela é maravilhosa).
Enfim, desejo muita sorte e felicidade na realização do seu sonho <3
Beijo!