Outro dia a Milena fez um post que me fez pensar para comentar. Eu sei que vocês vão clicar no link e conferir com seus próprios olhos o conteúdo do texto (tô de olho em vocês), mas para dar uma adiantada, ela fala sobre os meios do caminho que assolam nossas vidas, sejam os metafóricos e os literais. No caso dela, ela não gosta nada desses meios de caminho. Já eu, fiquei nadando em dúvidas enquanto tentava comentar.
No comentário eu comecei falando que uma vez, pensando a respeito da tão almejada invenção do teletransporte, fiquei elencando mentalmente as coisas que perderíamos com a utópica chegada desse advento. Para além dos sempre tão marcantes reencontros, confesso que pensei um tanto nas transições. Nesses meios de caminho literais. Pensei no quanto eu sempre gostei de pegar estrada e de ficar horas olhando pela janela, ouvindo música e vendo as árvores passarem correndo. Gosto de viagens de trem. De ônibus. De avião. Gosto de aeroportos. Gosto de estar em movimento.
Esse blog tem quase 6 anos e vira e mexe eu começo a escrever um texto que eu não faço a menor ideia de como vai se desenvolver. Mas o fato é que uma parte dele veio desse comentário que tentei fazer no blog da Mimi. Outra parte dele veio de quando eu estava decolando hoje de manhã. Eu já tive muito medo de avião. Hoje não tenho mais nenhum. Se tem uma coisa pela qual eu gosto de passar nessa vida são as decolagens. Medo é um negócio engraçado, né. Eu, por exemplo, tenho pavor de agulhas. Uma vez lembro que eu era criança ainda e uma coleguinha disse uma vez que amava tomar vacina (!). Nunca admiti isso e até hoje, quando esse momento surgia na minha cabeça eu ria pensando que ela só podia estar fazendo graça. Só que agora, enquanto eu digitava que amo decolar, lembrei que a minha irmã tem absoluto pavor disso e que, no mínimo, acha que eu faço graça. Quem sabe a menina realmente gostava de injeções. Eu gosto de decolagens.
Gosto de sair do chão. Acho que é um momento onde a gente é tão absolutamente não dono de nós mesmos que nos tornamos, automaticamente, totalmente donos de nós. Quando um avião decola, quando tira as rodas do chão, não podemos mais fazer nada para mudar aquilo. Não podemos abrir as janelas. Nem levantar da cadeira. Nem gritar que tem um problema com a falange esquerda. Nada que você faça pode mudar o fato de que você está no ar e que você não tem como mudar isso. E acho que é quando a gente sente que não tem como mudar nada que sentimos uma resignação boa. Uma sensação de que, curiosamente, estamos exatamente onde deveríamos estar. Filosofia barata. Acabei de terminar de escrevê-la e acho que pouco vai fazer sentindo para quem ler. Mas para mim faz. Acho que me sinto infinita quando começo a decolar, e nessa decolagem ainda lembrei do nervosismo alegre de Gus Waters, tentando superar o pavor ao voar De avião pela primeira vez porque, absolutamente não tem como não pensar: caraca, estamos voando e isso é um passo enorme para a humanidade.
Ainda sobre meios de caminho, estou lendo um livro chamado “Claros sinais de loucura”. para saber do que se trata basta procurar no skoob. E eu estava lendo, lendo, e matutando sobre o que eu estava achando dele, sobre quantas possíveis estrelas eu daria, e coisas do tipo. Aí pensei que ainda não acabei, mas que falta pouco, e que não sei onde vai dar e que, aliás, tampouco sei SE vai dar em alguma coisa. Em um primeiro momento pensei que era um ponto negativo. Uma história começar aleatoriamente e terminar também aleatoriamente. Poucos minutos depois pensei que, ué, por que isso seria um ponto negativo? Muitos livros tem começos e fins mas, quem sabe, alguns realmente não precisem disso. Talvez o mundo precise de mais histórias de meios para nos familiarizarmos com esse fato. O de estar sempre no meio do caminho. Afinal de contas, caraca, passamos a vida toda no meio do caminho. Não é? O fim é o fim e acontece uma vez só. De resto, absolutamente todos os começos e finais pelos quais passamos são metafóricos e são SEMPRE meios. Sempre.
"(...) passamos a vida toda no meio do caminho" - nunca tinha parado para pensar nisso e assim, do nada, essa frase fez totalmente sentido pra mim. Você tem razão mesmo nesse pensamento, sabe, pq ficamos pensando tanto no futuro, no que vai ser e em como será, sem de fato nunca chegar lá exatamente. Estamos sempre no meio do caminho mesmo, vivendo esse presente torto da forma como é possível.
ResponderExcluirE concordo com você em outro ponto: simplesmente adoro me manter em movimento! A parte das viagens de que mais gosto é essa, o de me mover: quando viajamos para visitar meus avós, adoro colar a testa no vidro da janela e ver a paisagem da estrada mudar e se transformar na medida em que avançamos. E é aí que está a graça da coisa.
Um beijo!
Analu, eu tenho muito pavor de avião justamente pelos motivos que você disse HAHAHA Eu odeio não poder fazer nada e ter que aceitar o que o destino me reserva porque vai que ele decide que é o fim pra mim? E se eu não quiser ir agora? (sei que não temos mais controle disso, mas e daí). Do momento que avião está correndo até o momento que ele está pousando eu fico com as unhas cravadas no apoio. E quando vi a cena do Gus no avião eu fiquei rindo porque me identifiquei muito ali apesar de já ter viajado várias vezes.
ResponderExcluirNa verdade eu acho que devemos saber aproveitar o meio do caminho da melhor forma possível porque não gosto que as coisas tenham um ciclo muito curto. O que conta numa amizade é o meio do caminho, não é? O que conta na sua formação é o jeito que você aproveitou o meio do caminho na faculdade. Acho que sem o meio do caminho não temos um referencial para saber se a coisa foi boa ou ruim.
Não sei, tô confusa. Vou dar outra lida no texto da Mimi pra ver se mudo de ideia ou algo do tipo.
E gostar de agulhas? omg, sua coleguinha era louca HAHAHAH
beijos :]
Amiga, gostei demais desse post! No blog de Mimi, comentei que precisava chegar ao fim com mais frequência, pois me demoro no meio do caminho e isso acaba me frustrando.
ResponderExcluirO seu texto fez com que eu repensasse isso. Esse ponto de que a vida é o "meio do caminho" é a mais pura verdade! O que por si só, já atesta o quanto o in between é positivo.
Também amo viajar, amo road trip, amo aeroportos, amo a ansiedade que vem sempre que vou encontrar vocês! O encontro é maravilhoso, mas poxa, valorizar a jornada é essencial!
Acho preciso aprender a não me martirizar tanto por ficar sentada no meio da ponte. Preciso entender que, às vezes, é bem onde eu deveria estar. E não tem nada de errado em ter dúvidas. As indecisões me doem e já me traíram bastante, mas também me livraram de boas roubadas.
Ah, isso dá pano pra manga. Já vi que vou ficar pensando por um tempo.
Beijos!
Love,
Tary
Saudades teletransporte. :/
ResponderExcluirSempre achei uma puta perda de tempo o deslocamento, o ir e vir para os lugares, os caminhos dessavidabandida. Porém, pensando bem, são nesses meios de caminho que resolvo todos os problemas da vida, que leio os livros, que penso em nada e que vejo também as árvores correndo. É o momento em que eu paro - mesmo em movimento. É preciso que as coisas aconteçam, que as coisas terminem, que as coisas caminhem, que, que, que... Essa p¨&*#@ desse texto me deixou sem saber o que dizer. CARVALHO, Ana!
Bananildes, quero me enrolar nesse post e dormir de conchinha com ele.
ResponderExcluirEu venho pensando muito nisso ultimamente. Aliás, acho que venho meio que pensando sobre isso desde que li ACEDE pela primeira vez, e fui ruminando tudo gradativamente ao longo dos meses, aí reli o livro, vi o filme, e acho que dois anos depois (!) a epifania está chegando. E é tão isso, sabe? Eu formei a metáfora do tobogã na minha cabeça, que esse meio é aquele momento que a gente dá o impulso e não tem mais como voltar, mas a ideia da decolagem casa perfeitamente - com o plus de eu também amar viagens, aeroportos e aviões. É tudo um grande meio, até que acaba. É uma ideia assustadora e ao mesmo tempo reconfortante, você disse perfeitamente.
Sei lá, eu amei muito esse texto.
E eu amo muito você.
Beijos <3
Nunca viajei de avião, mas espero que isso mude em breve. Tenho uma baita curiosidade em saborear a sensação de estar no ar, saber se realmente meu temor com turbulência é bem verdade ou só puro engano. E depois que li o que escreveu, de fato, estar dentro de um avião e depois da decolagem não poder mais sair é algo que resume essa parte da vida que é: "estar onde se deve estar".
ResponderExcluirMeio do caminho é onde estamos a todo momento, fins são mais difíceis se analisarmos, é um ponto final que nós, seres humanos, raramente atraímos. Não gosto de finais, e lendo seu texto (maravilhoso, diga-se de passagem), descobri que gosto de estar no meio, porque mesmo quando chegamos a um objetivo tão aclamado, ainda estamos sujeitos a atrair mais. Talvez essa história de fim aconteça apena suma vez, dependendo do ponto de vista da palavra e sentido.
E, ah! Nada como estar na estrada observando a ilusão de que a paisagem está correndo, não é!? Adoro.
Beijo!
Só vejo comentários grandes por aqui. Mas acho que escrever um comentário grande não vai demonstrar o quanto gosto do que você escreve. Cara, você se parece comigo em tantas coisas que eu fico impressionado com isso. Amo seu blog, de verdade.
ResponderExcluirAnalu meu amô: aposto que essa sua coleguinha era eu. Obviamente não era eu, mas de alguma forma, quem sabe, eu estivesse no âmago dessa criança nesse momento. Eu adorava tomar vacina quando era pequena, mas detestava tirar sangue. Mas a gente releva, porque claramente eu não sabia o que fazia nem dizia. Hoje eu não gosto de nenhum dos dois (sanidade é uma bênção).
ResponderExcluirMas o que eu queria dizer é que eu amo seus posts, você sabe disso. Quando você me pediu pra vir ler dizendo que eu precisava falar se ele era muito filosófico, eu já soube que amaria. E eu só não vim naquele momento porque teria sido um daqueles erros primários dos quais tanto falamos. Eu teria chorado por horas porque associaria seu post à qualquer coisa bizarra que estivesse acontecendo comigo naquele dia (e definitivamente tinha algo de bizarro acontecendo).
O que eu quero dizer mesmo, e agora é sério, é que eu também sou fã dos meios. Apesar de querer sempre que o fim (o objetivo final, no caso) chegue logo. Apesar de morrer de ansiedade pro avião pousar, eu aprecio as nuvens. Encosto a cabeça na janela do avião e fico escrevendo mentalmente cartas pra pessoas que não existem. Eu suspiro quando percebo o frio na barriga por estar ali, no meio de algo, do nada, indo pra algum lugar. E eu também gosto de saber que ali, no meio do caminho, não tem como voltar. Pode até ser que tenha como retroceder, mas nunca tentei. É tipo pular num abismo sem paraquedas. Porque quando escolhemos algumas coisas, não tem volta, mesmo.
Eu te entendo tanto que vou me juntar à Annoca e dormir de conchinha com esse post pra sempre.
Te amo muito <3
Eu comentei lá no blog da Mi e digo aqui também: não sei lidar com esses meios termos, com meio do caminho. Sei lá, queria a vida um pouco mais exata, as certezas um pouco mais na palma da mão.
ResponderExcluirE gosto de decolagens. Bem como, gosto de injeções, embora venha ficando mais medrosa com o passar dos anos. :)
Beijo todo meu,
MF.
Ana! Tô apaixonada pelo teu blog, menina! Te vi me seguindo no Instagram e vim conferir teu blog. :)
ResponderExcluirOlha, eu fico tensa em aviões, confesso. Às vezes mais, às vezes menos. Mas também me encanto e fico de boca aberta. Como é que conseguem fazer uma máquina daquelas voar? Incrível, né não?
Ai meu Deus, mas que post incrível! Que visão linda da vida amiga... ainda não conferi o post da Mimi (saindo daqui vou para lá), mas o seu post me fez justamente parar para pensar antes de comentar. Pois eu vivo buscando a resolução das coisas, o ápice. Mas há tanta alegria no meio do percurso... é ele mesmo que nos move e é nele que vivemos toda a nossa vida de tantas diversas formas que... eu só consigo pensar: como você é gênia amiga!
ResponderExcluirVou falar desse post pra Deus e o mundo. E talvez imprimir o ultimo parágrafo pra ler toda vez que a paciência der lugar à urgência.
Amooo
Eu bem queria começar um texto sem saber qual o tema dele e o que estou escrevendo e saindo um texto incrível como este, Analu.
ResponderExcluirEu amo tomar vacina! haha Sério, desde novinha, eu que lembrava a minha mãe.
Faz todo sentido mesmo que o meio do caminho, do percurso é o que nos move, é la que vivemos.
Oi, Ana!
ResponderExcluirAdoro seus posts, sempre me fazem pensar! Rsrs. Confesso que pra mim não faz muito sentido você gostar justamente da decolagem, quando a maioria diz que é a parte mais apavorante de voar, junto com a aterrissagem. Eu tenho pavor de avião, e confesso a quem quiser. Já enfrentei uma viagem de 26h de ônibus pra não pegar um avião. Estou me formando em Fisioterapia e a gente tem um ditado por lá que cabe perfeitamente bem nesse meu medo: "Sei coisas demais pra ser otimista e coisas de menos pra deixar de ser pessimista". Só penso em tudo que poderia dar errado, me vem na cabeça cada filme, cada documentário e cada livro que li sobre o assunto - e que não foram poucos. Mas depois, fiquei pensando. Se leio e assisto tantas coisas sobre o tema, devo ter uma vontade secreta, escondida de mim mesma, de voar. Quem teme algo tanto assim não se interessaria tanto pelo assunto, concorda? Ai fiquei confusa agora! Rsrs.
Outro tema que você tocou sempre me fascina. Os finais dos livros. Porque se você pensar bem, o livro nunca tem um final final, certo? Tipo, quem sabe o que aconteceu depois que o Harry Potter embarcou os filhos no trem? Pode ter ido pra casa e continuado a vida longa e próspera até morrer de velhice, pode ter tido um acidente, pode ter sido morto por um comensal, pode ter se tornado um jogador de quadribol... Tantas coisas! O que tem final mesmo é aquela história específica. Acho que no final todos temos que aceitar que aquele é só o fim de um capítulo, um grande, às vezes enorme, mas só um capítulo, acima de tudo.
Beijos,
Mari Pacheco
Livros & Nerds
Engraçado como isso me faz pensar, amiga.
ResponderExcluirEu também amo voar. Amo mesmo, sinto tudo de uma forma Augustiniana. Mas a questão é que voar pra mim nunca é o meio do caminho metáforico, justamente porque quando você tá num avião ou num carro ou num trem, você não pode voltar atrás. Ali as decisões já foram tomadas e nada mais depende de você. Meu maior problema com os meios do caminho é que eu nunca paro neles pra valer e se estiver parada é porque já não tenho pra onde voar, sabe?
Você chegou à conclusão do moço do filme que me inspirou a escrever o post: a vida é um imenso meio do caminho. E isso é bom. Assim como histórias que são só recortes sem meio e sem fim, isso é bom.
Mas existem meios do caminho em que você não consegue sair do chão e são esses que eu detesto. Aqueles em que eu estou em movimento...ah, esses são basicamente a melhor coisa do mundo.
Te amo.
Beijo <3
Você sabe que, quando eu não sei bem o que comentar, é porque eu tô sem o que dizer. Absolutamente sem o que dizer. Precisei digerir esse post por alguns minutos antes que ser capaz de dizer que acho que concordo. Nunca tive medo de decolagens, pra ser honesta, sempre gostei muito mais de andar de avião do que de carro, por exemplo. Claro, eu amava as viagens com os meus pais ouvindo Legião, mas desde que conheci o avião, não quero outra vida.
ResponderExcluirO negócio de simplesmente aceitar, porém, me fez lembrar da vez que fui na Sheikra. Sabe, aquela montanha-russa lá de Orlando com queda em 90º? Pois é. Antes dela cair, quando a gente tá lá em cima, ela para por uns dez segundos — os dez segundos que parecerão os mais longos de nossas vidas — antes de cair completamente. E, amiga, eu juro pra você: nesses dez segundos, eu xinguei até a terceira geração do Obama, em português, exigindo muito praquilo parar e eu poder descer antes de cair. Eu xinguei tudo. Todos os deuses possíveis do Olimpo. E aí, caí. E enquanto caía, parecia que eu ia morrer. Mas eu não morri. Entende a beleza da coisa? Tem momentos na vida que a gente xinga e pensa que não vai sobreviver, mas a gente sobrevive. E talvez, cinco anos depois, pode ser — provavelmente será, aliás — que a gente nem se lembre, a não ser quando alguma amiga nossa escreva um texto que nos faça lembrar.
Esse texto me fez perceber que eu amo estar viva e que, enquanto tô no meio do caminho, eu quero cair quantas vezes puder. E sobreviver quantas vezes puder.
Te amo muito!
Obrigada por esse texto.
Ai, Nalu, arrasou com esse texto. Arrasou.
ResponderExcluirEu também sou uma pessoa de finais, como a Mimi. Tenho pressa, tenho agonia, queria pular as viagens e chegar logo nos destinos. E isso demonstra muito a forma como eu levo a vida. A sua é tão mais saudável. Aproveitar tudo, começo, meio e fim. Sem stress, sem agonia, sem ansiedade. Preciso ser mais assim.
Obrigada pela sua reflexão, amorita!
Beijinhos!