quinta-feira, 5 de junho de 2014

Algumas estórias são maiores que outras

A poesia é indispensável. Se ao menos eu soubesse para que.

Quem disse isso foi Jean Cocteau, e eu não tenho culhões para não assinar em baixo. A arte é realmente indispensável. Mas... para que mesmo? Somente algo com tanta força de espírito é capaz de carregar a força de ser indispensável sem motivo algum para isso.

Bendito seja o dia, lá nos primórdios do universo, onde alguém inventou que nem só de verdades poderíamos viver. E não falo aqui de mentiras. Falo de estórias. De ficção. De arte. Porque a arte é, de longe, a melhor maneira de ignorar a vida. 

Existe muita ficção. Muitas estórias a serem contadas e ouvidas. Muitos livros empilhados nas livrarias e também na minha escrivaninha: minha pilha de não-lidos vive prestes a me engolir. Eu leio 50 livros por ano. 

Muita coisa passa em branco. Muita coisa volta para a estante sem que tenha sido vivida. Cada estória é uma estória, e a aposta na ficção é justamente essa: é abrir uma estória nova desafiando-a a te amarrar para sempre. E se ela conseguir, aí então o seu coração muda.

A verdade é que, na vida, o sofrimento é inevitável e só o que podemos é tentar escolher quem deve ter a honra de nos ferir. Aquele tipo de estória que, quando acaba, te deixa sem saber para onde ir, e sem coragem de entrar em qualquer outra. Harry Potter é assim. Friends é assim. Coisas que ninguém sabe é assim. Para mim. Cada um tem as estórias que te falam mais ao coração.

Quando, em julho de 2012, eu abri meu A Culpa é das Estrelas e li as primeiras frases eu já sabia no que ia dar. Já sabia que, em questão de dois dias, estaria deitada na cama, em posição fetal, sem condição moral e emocional alguma para levantar dali e viver. Muito menos abrir outra estória. Esse é o problema da dor (e das estórias!): ela precisa ser sentida.

Praticamente 2 anos. Praticamente dois anos que eu conheci Hazel Grace e Augustus Waters. Praticamente dois anos que eu nunca me esqueci que alguns infinitos são maiores que outros, que todos estamos condenados ao esquecimento, que o amor é um grito no vazio e que tem coisas não lidáveis com as quais a gente tem que lidar. 2 anos.

2 anos, e ontem, à meia noite, eu estava sentada numa sala de cinema com adolescentes que gritavam ao menor sinal de um desenho de nuvem que mostrasse que o filme ia começar. Julguei-as, em muitos momentos. Queria aquilo só para mim. Mas apesar de ter me controlado o máximo para não externalizar tanto, meu coração gritou em cada segundo daquele filme, que eu queria que tivesse 10 horas. Queria que A Culpa é das Estrelas fosse uma pessoa, para eu poder casar com ela em Vegas. Queria abraçar esses personagens e passar madrugadas chorando no meio dos dois. 

Meu coração está em cacos. Cheguei em casa mais de 2 horas da manhã e ignorei todos os meus não lidos: a única coisa que eu consigo fazer da vida no momento é A Culpa é das Estrelas e vocês me respeitem. Não existe outra estória, por agora. Só existe o sorriso torto do Gus e a sabedoria de Hazel e seus infinitos que me partem ao meio. Esse é o problema da dor. Ela precisa ser sentida.

E às vezes eu paro para pensar nisso e me pergunto porque eu faço isso com a minha vida. Poderia ser uma pessoa normal e não ler. Ou poderia até ler, e não me influenciar. Poderia estar vivendo uma quinta-feira normal com estado de espírito normal, ao invés de estar sendo obrigada a viver uma quinta-feira normal enquanto meu estado de espírito é inexistente e tudo o que eu tenho vontade de fazer é olhar em linha reta, sem ao menos mover os olhos. Passaria horas assim. Quieta. Deitada. Olhando para o teto e tentando colar os caquinhos do meu coração. Se me arrependo? Jamais. É uma honra ter meu coração partido por estórias que me marcam. Eu jamais seria completa sem elas. 

Não fossem Harry, Rony e Hermione não seria eu. Não fossem Rachel, Ross e Chandler não seria eu. Não fossem Lexie Grey e Mark Sloan não seria eu. Não fossem Margherita e Giulio não seria eu. E, especialmente, não fossem Hazel Grace Lancaster e Augustus Waters não seria eu. Obrigada.


MUITO obrigada.

14 comentários:

  1. AMIGA!!!!
    "Queria que A Culpa é das Estrelas fosse uma pessoa, para eu poder casar com ela em Vegas." < é exatamente esse o espírito. E eu te admiro muito por ter conseguido escrever alguma coisa neste momento. Digo, eu acho que irei também, mas, por enquanto, tá muito complicado, e você sabe, porque já estamos surtando há horas. É uma dor que não passa, mas ao mesmo tempo é uma alegria por poder estar aqui, vivendo isso, sentindo isso, sabe? Eu sou absolutamente apaixonada por essa história. Como eu te disse, parecia que eu tava indo encontrar amigos de longa data. E quanto amor eu senti <3

    Agradeço todos os dias por MILENA! HAHAHAH

    Amo muito vocês, amo muito Hazel e Augustus, amo muito John Green, e amei nossa ligação antes do filme *bichas*.

    Beijos <3

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  2. Estou completamente apaixonada por esse texto. Carregado de emoção, sentimentos e... Dor.

    Fui lendo o texto e lembrando de cada emoção que tive ao virar as páginas daquele que ficou dormindo comigo, na minha cabeceira, por semanas porque eu simplesmente não conseguia acreditar que tinha acabado. Eu não queria que tivesse acabado. Mas, como você lembrou, esse é o problema da dor: ela precisa ser sentida.

    ACEDE é uma ferida que nunca sara. A gente vive a vida, lê outros livros, conhece outros personagens, mas basta ver um anúncio, um quote ou qualquer referência ao livro, e é como se tocassem o dedo na ferida e tudo volta. Uma história aparentemente simples, personagens complexos e lindos. É por essas e outras que vale a pena viver e ler.

    macabea-contemporanea.blogspot.com

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  3. Vc sempre escreve textos que tocam... eu, que nem li A culpa é das estrelas (e vc deve estar morrendo de pena de mim neste momento, eu sei, já senti isso com pessoas que não leram livros que eu amo), me tocou. Se eu ler o livro que permananece na minha estante, será um pouco por este texto. Se eu for ver o filme também. E como vc disse, sem arrependimentos. Porque quando a estória toca a gente, da maneira certa, no fundo, não tem como se arrepender, mesmo quando a gente sofre por ela.

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  4. Quando em 2012 comecei a ler A culpa é das estrelas eu nem sabia exatamente do que se tratava, mas felizmente ou não histórias me tocam (estórias) e demorei quase 4 meses para terminar por que não conseguia lidar.

    Acho que compramos o livro quando Hazel e Gus eram apenas conhecidos, hoje eles são idolatrados!

    Tem orgulho de ter esse livro e o bottom e o marcador e a sensação de que é um livro que facilmente pegaria e leria de novo e de novo. Verdadeiro amor pelo John Green e seus personagens principais em meio a tantos livros.

    Louca para assistir ao filme, mas juro, sem muita paciência para histeria rs.

    Beijocas.

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  5. Tô com essa tela aperta faz um tempão e não sei o que escrever Ana! :/


    Gus e Hazel partiu meu coração em 2012 também e...
    não sei o que pensar do filme, tô sem coragem de assisti-lo. :/

    Hazel ensinou tanta coisa com a maneira que encarava a vida, a doença... o bom humor dela - e mesmo as fraquezas - que sei lá, me fez sentir um nada na vida.

    Você tem toda razão ao dizer que A Culpa é das estrelas deveria ser uma pessoa, porque caramba, como seria bom abraçá-la.

    Uma honra mesmo ter nosso coração partido por personagens queridos.

    E sacanagem colocar Mark e Lexie no texto. aiaiaiiaiiaiaiaaii meu coração. ♥

    Beijão. :*

    (e para de escrever textos incríveis assim, fico favoritando um atrás do outro.)

    (ou melhor, não pare, nunca).

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  6. Ana Luísa,
    O que sempre me encantou em vc é a intensidade com que absorve as estórias e, para aqueles que a conhecem mais intimamente, também as histórias de sua vida.
    Te amo e sou sua fã.

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  7. Amiga, não sei se você reparou, mas tem uma nota do autor no início desse livro na qual o John escreve que se trata de uma estória fictícia, e que a gente não ganha nada em ficar especulando o que ou se existe alguma verdade por trás de qualquer livro, porque isso ataca diretamente a ideia de que a ficção importa. Concordo com ele, e acho que ela importa justamente porque não existe descolada de uma realidade tangível, por mais maluca que seja a fantasia. É a mesma ideia que a gente aprende no jornalismo, que a mídia não tem inteligência própria, mas é um reflexo da sociedade da qual ela faz parte.

    Não sei se essa minha ideia fez muito sentido, mas uma coisa que lembro da minha primeira leitura de ACEDE foi pensar por que eu estava sentindo aquilo tudo. O título da minha resenha foi justamente "Por que a gente é assim?", e eu ainda não sei a resposta. Mas sei que isso faz parte de mim, faz parte da gente, e sei que sou muito mais feliz por me importar, por me deixar virar do avesso, por deixar doer, perder o sono, me transformar por conta de uma experiência que pode não ser nem real, mas que existe de um jeito estranho dentro de mim e de todo mundo que se importa.

    Ainda não vi o filme, mas quero e preciso muito sentir toda essa dor maluca aí.

    Obrigada por ser assim, desse jeitinho.
    Te amo!

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  8. Ai que bonito teu texto, Analu! Gosto mais da história quando leio os textos de vocês do que no próprio livro! Eu li semana passada pra ter vontade de ver o filme, mas foi uma burrada porque eu tô de repouso sem poder ir ao cinema e não acho um link nesse mundo da internets!!!! Hahahah

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  9. Ai Analu, estou com tanto medo de assistir a esse filme! Adorei o livro, é o meu favorito do John Green, mas estou morrendo de medo de assistir e detestar totalmente a versão do cinema. Muito embora eu só tenha lido comentários positivos, ainda estou com um pé atrás já que as últimas versões de livros que assisti me deixaram bem chateadas. E tenho tanto carinho por essa história - essa história que eu nem sabia muito bem sobre o que quera quando comprei o livro, lá em 2012 também - que quero muito amar o filme e sentir tudo isso aí que você sentiu.

    Um beijo!

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  10. Já conversamos tanto sobre esse livro e sobre meus sentimentos (e os de vocês) emr relação a ele, que eu não sei se tenho muito mais o que dizer. Só consigo ficar feliz pela adaptação não ter desapontado. Dói muito quanto isso acontece (A Menina que Roubava Livros manda lembranças).

    Já escrevi sobre a possibilidade salvadora da arte e concordo contigo, ela é indispensável. Nem gosto de pensar o que seria de mim sem ela. Provavelmente já teria desistido.

    Beijo, amo você!

    P.S: Essa história de 'a dor precisa ser sentida' eu já sabia bem antes do livro, por causa de Dra. Bailey naquele episódio com Abigail Breslin achando que é uma super-heroína <3

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  11. Esse post vai pro meu mural, porque você transmitiu tudo que to sentindo, até a parte de julgar as meninas por querer aquela história/aquilo tudo só pra mim. E to sem palavras, sério. "Meu coração está em cacos."

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  12. Eu achei a adaptação bem digna. Não chorei, nem no livro, nem no filme. Mas foi por pouco.

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  13. Olá... estou conhecendo seu blog agora e estou adorando... me identifiquei demais com você neste post, pois também fico envolvida com as histórias de alguns livros que leio, e ao finalizá-los entro em um estado de entorpecimento, passando vários momentos relembrando... mentalizando... imaginando a continuidade da vida dos personagens que tanto me marcaram... talvez isso seja coisa de louco, mas adoro a sensação que me traz, rs.
    Parabéns por conseguir traduzir em palavras tantas coisas que são difíceis para alguns expressar, e me incluo nesse grupo... e claro, ver que não estou sozinha neste barco.


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