Eu falei que não ia mais tentar me controlar e não vou. Principalmente não depois de sábado. Porque algo sobre sábado está entalado na minha garganta (rouca) desde que saí na rua com a bandeira enrolada no pescoço e porque minhas dores musculares não me deixam negar que aquele jogo me atropelou como um caminhão.
No meu post passado, onde eu relatei que nos outros 3 anos e 11 meses onde não existe Copa eu não consigo entender direito a paixão das pessoas pelo futebol, minha amiga brilhantemente comentou que a magia é toda essa, porque para a paixão não existe explicação nenhuma. Achei um comentário bonito e sincero, mas nada que mudasse a minha vida. Pelo menos não até sábado, quando olhei aqueles goleiros, em câmera lenta, se dirigindo para o gol como quem se dirige para a forca.
Eu assisti ao jogo em uma lanchonete bem bacana aqui de Curitiba. Eu e minhas amigas chegamos tarde: devia faltar uma meia hora para o jogo só. Obviamente não conseguimos mesa, o que, acho eu, foi até melhor: assistimos no balcão do bar da fila de espera, NA FRENTE da televisão. Perdi a conta de quantas vezes ajoelhei na banqueta e soquei aquele balcão. Mas nada se comparou ao momento dos pênaltis.
Juro que, até agora não sei como, pelo menos ali na área do bar só estávamos eu e minhas amigas (Mimi, Giu e Palo) em pé. Não sei que tipo de torcedor tem sangue frio o suficiente para assistir sentado a uma disputa de pênaltis, mas só sei que eu estava enrolada na bandeira, de mãos dadas com minhas amigas, como se a minha vida dependesse daquela bola entrar naquele gol. E foi ali, naquela caminhada lenta dos goleiros até o gol que eu entendi tudo o que a Anna quis dizer naquele comentário anterior.
Tive uma epifania rápida e não pude deixar de rir de mim mesma. Pensei: "Engraçado pensar que daqui a 10 minutos estaremos classificados ou eliminados. Simples assim. Ou estaremos muito felizes ou muito tristes. E...? Gente, é um campeonato, que engraçado pensar em como isso mexe com a gente. É só uma bola. São só 11 homens jogando. Não vai mudar absolutamente nada prático na minha vida aquela bola entrar no gol e mesmo assim, meu Deus, não consigo deixar de rezar para que ela entre ali, balance aquela rede e me dê uma classificação." E era isso. Não existe lógica nenhuma, e acho que eu entendi que, quanto menos lógica tiver, melhor fica. Porque emoção não tem que ter lógica. Um grito de gol não tem que ter nenhum sentido.
Eu estava posicionada de frente para a cozinha do bar. Por uma janela, ao lado de nossa televisão, podíamos ver tudo o que rolava na cozinha. E foi nesse momento que eu olhei para lá e percebi que a cozinheira comemorava o pênalti antes de mim. Claro! A televisão deles era com sinal analógico, tudo acontecia segundos antes! E foi assim que, enquanto na nossa televisão o Sanchez se posicionava para bater, que ela cornetou quase chorando e eu comecei a pular junto. Antes dele chutar. Antes daquela bola bater na trave. E foi só ali que eu descobri que eu tava com o corpo inteiro duro há mais ou menos 20 minutos.
Hoje já é segunda feira. Eu tenho pouquíssima voz. Meu ombro e minha barriga doem como se eu tivesse passado o fim de semana fazendo abdominais. Esse jogo me atropelou como um caminhão desgovernadíssimo. E desde que aquela bola chilena não entrou que eu não consigo deixar de sorrir. Não tem a menor lógica. E essa é a exatamente a magia. Vamos para as quartas, Brasil! Joga para mim!