terça-feira, 28 de abril de 2015

Acontecem coisas

Se tem um detalhe nas novelas que me deixa meio doida das ideias é esse esquema de ponte aérea. Não que algum outro autor consiga ganhar da Glória Perez, a musa dos voos internacionais a preço de banana, mas é uma regra meio que geral que viajar em novela é algo muito simples. Pra começo de conversa, decide-se viajar de avião de um dia para o outro. Você pode ser empresário de sucesso, biólogo ou professora de escola pública: a passagem relâmpago “Rio de Janeiro-Fernando de Noronha” estará sempre cabendo no seu orçamento de emergência. “Quer viajar, pergunte-me como!” dizem os autores. TÔ INDO PERGUNTAR, digo eu.

O fato é que eu viajo sim. Porque a maior parte dos meus amigos e da minha família não mora na mesma cidade que eu. Todo mundo acha que eu viajo bastante – só eu sei que mal consigo sair do lugar e que minhas pseudo viagens de fins de semana deixam meu cartão com registros de parcelas até um tanto depois que ela acabou. Quer coisa mais deprimente que aquela viagem maravilhosa ter acabado há mais de 2 meses e você ainda ser obrigado a lembrar dela na hora de pagar passagem? Então. Mas o post não é sobre isso. (Inclusive, o dia em que eu conseguir começar um post pelo tema dele de fato vocês podem estourar um champanhe).

O post é sobre esse último feriado, deliciosamente emendado, que calhou com uma promoção de passagens e me levou até São Paulo. Se você é uma pessoa razoavelmente sociável que morou 10 anos em uma cidade, sabe que a possibilidade de ter feito um punhado de amigos durante esse tempo é bem provável. Dessa forma, quando estou em São Paulo passo praticamente o tempo todo em trânsito – e não no trânsito, porque usamos metrô – ou em algum restaurante.

A dinâmica humana é muito engraçada: 90% dos encontros são em almoços, jantares, cafés, sobremesas. É um pão de queijinho com um amigo, um sorvetinho com outro, um cachorro quente com aquele outro ali. Só não voltei 3 quilos mais gorda (em 3 míseros dias) porque em São Paulo se anda tanto que dá pra comer e emagrecer ao mesmo tempo.

Olha, nem vou ficar relatando em detalhes esses 3 dias em São Paulo porque deu  pra vocês entenderem, por cima. Mas preciso relatar uma noite. Ou ainda, a tentativa de uma noite que passei ao lado de minha amiga/irmã/anfitriã Milena Martins, aquela que mora na lua. Saímos de casa às 23h (ou perto disso) com altos planos de dançar até o sol raiar. Eu sei que a ideia de dançar até o sol raiar plus um par de sapatos de salto jamais configuram uma boa ideia, mas eu sou teimosa. Sou teimosa e tenho 1,57 de altura.
- Amiga, tô pensando em ir de salto, a balada é perto do metrô?
- Analu, salto nunca é uma boa ideia.
- É perto do metrô ou não?
- É, pertinho.

Toda santa vez que eu vou pra alguma festa/balada eu juro pela minha próxima geração que na vez seguinte não usarei salto (rssssss). Da última vez que eu precisei de Milena para me guiar em uma cidade grande ela nos fez dar uma volta no Rio de Janeiro para chegar a um lugar que era relativamente perto de onde estávamos. O prognóstico geral da ideia não era nada boa.

Andamos até o ponto de ônibus. Deu tudo certo. Pegamos o ônibus. Deu tudo certo. Pegamos o metrô. Deu tudo certo. Descemos na estação de metrô que era perto da balada. Saímos pela estação e eu já fui esticando o pescoço procurando a dita cuja que, se vocês recordam (e eu recordava muito bem) era PERTINHO. Não encontrei de cara, mas pensei que tudo bem vai, ainda é pertinho se for na quadra seguinte. Estávamos no meio da quadra seguinte e meus pés já estavam querendo doer quando resolvi abrir minha boca pra perguntar se faltava muito. “Claro que não, amiga” ela disse. E eu, louca para levar uma resposta negativa seguida de risadas, insisti: “Falta mais de uma quadra dessas?” ao que ela me respondeu, rindo: “Nossa amiga, muitas dessa ainda”.

chocked

Meu mundo começou a cair ali e não terminou de cair nunca mais. Porque a gente andava. Andava. Andava. E a balada simplesmente não aparecia. No fim das contas, o pertinho de Milena queria dizer que a estação de metrô era mais ou menos o número 1500 e a balada, o 600. Eu estava de peep toe, gente. E enquanto eu andava, além da dor do salto vinha aquele roçar do sapato nos dedos e isso configura uma tragédia irrecuperável. Era perto da meia noite quando FINALMENTE chegamos na tal da festa e acontece que a fila dava volta no quarteirão. Ficaríamos pelo menos 1 hora paradas na fila – e meu pé não aguentava nem 5 minutos.

O que fizemos em relação a essa situação? Se você pensou que demos meia volta e fomos embora você está corretíssimo. Não tenho cara de quem luta a esse ponto por uma balada na sexta-feira a noite, guardo minhas lutas para guerras muito maiores #momentoautoajuda. O detalhe ainda não mencionado é que o metrô fecharia antes de conseguirmos chegar na estação de Mimi, que infelizmente ainda não é na lua, mas é bem perto. Solução? Pararmos no meio do caminho, lógico, na casa da amiga da minha mãe onde ela, por obra do divino, estava hospedada porque, vejam só, também achou promoção de passagem.

Sei que pegamos um táxi para voltarmos até a estação do metrô (aquela que devia ter sido pertinho), entramos no metrô, pedimos informação para uns garotos sobre a baldeação e eles erraram a linha, de forma que pegamos sentido contrário, e a essas alturas a gente não conseguia mais fazer nada além de rir (e eu chorava junto pelo estado do meu pé). Entre mortos e feridos e depois de atravessarmos o viaduto da Sumaré COMPLETAMENTE DESERTO (#aventureiras) à 1 da manhã, chegamos ao prédio da amiga de mamãe e dissemos para o porteiro, com a maior cara de acabadas com roupa de festa: Oi, vamos no apartamento X. “Ok, quem são vocês?” disse o porteiro. No fim das contas ele interfonava e ninguém atendia – mas ficou com tanta dó do nosso estado que nos deixou subir. E foi assim que chegamos na residência, recebemos comida, lavamos o pé e dormimos – com roupa de festa e tudo – em duas no colchão de solteiro que estava do lado da cama que minha mãe estava usando. Acordei perto das 10 sem saber nem onde estava, o que me fez pensar que talvez dormir fosse tudo o que eu precisava mesmo ter feito naquela madrugada, ao invés de festar.

Se vocês acham que a dignidade já tinha diminuído o suficiente, não queiram imaginar a cena de voltar ~para casa~ as 11h da manhã de domngo COM ROUPA DE SÁBADO A NOITE, resto de maquiagem – e havaianas, porque não colocarei um salto nesses pezinhos tão cedo. E tenho dito.

As coisas, elas acontecem.
Autor desconhecido

8 comentários:

  1. Amiga, salto nunca é uma boa idéia. Ainda mais se você tá a pé. A última vez que usei salto alto - mas salto mesmo - foi na minha formatura do colegial e: não sinto falta nenhuma. Essas histórias de não-balada são as melhores hahaha!
    Pelo menos a viagem rendeu uma boa história como sempre! Hahahaha

    beijo!

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  2. Graças a Deus, nunca terei de escolher entre o tênis e o salto alto.
    Você é louca de ficar transitando por São Paulo a 1h da manhã.
    Se bem que não é Rio, é São Paulo, né?
    Eu sou mais caseiro e nunca trocaria uma noite de sono bem dormida por uma balada.. haha!

    O bom foi que isso te rendeu este Post.

    Bjs =*

    O coração do menino

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  3. hsuahsaush Esse é problema de São Paulo, é tudo perto e tudo longe ao mesmo tempo! Se bem que agora temos a opção do ônibus da madruga... Mas ninguém sabe muito bem como funciona ainda (as linhas mudam o intinerário...) Bjo!!!!

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  4. Ai, Ana, nós e esses nossos pés.

    Eu sou um terror pra salto. Eu pareço uma pata andando e não frequento balada que salto é meio que regra. Sou do tipo que curte um tênis, uma sapatilha, uma botinha. Senti tua dor na ponta dos dedos, e tô me preparando psicologicamente pra subir num salto semana que vem -- eu não ando de salto faz mais de dois anos. #coragem

    E só de imaginar a fila quilométrica da balada já me deu um aperto no estômago. Sério.

    Beijos!

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  5. HAHAHAHAHAHAHAHAHA AI AMIGA.
    Que post bom.

    Vou reclamar apenas que minha participação foi excluída dessa história, porque foi DEVERAS INTRIGANTE acordar com umas 4 chamadas no meio da madrugada, esperar notícia de tragédia, e ouvir notícia de vocês fazendo a gentice e encontrando homens vestidos de coelho no meio da rua. E uma lógica que jamais entenderei: você ia passar O RESTO DA FESTA naquele salto, gente. O problema não era andar até lá ou ficar na fila, pra mim dançar de salto consegue ser 70 vezes pior que tudo isso. Ainda farei um estudo antropológico sobre como se sustentam as pessoas que saem pra dançar de salto alto, é algo que não me entra na cabeça.

    Enfim, as coisas, elas acontecem mesmo. Com a gente, acontecem mais ainda.
    Saudade de viver coisas acontecendo com vocês. Aff.
    te amo

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  6. Ainda farei um estudo antropológico sobre como se sustentam as pessoas que saem pra dançar de salto alto +1
    Amo esses posts que contam desventuras (não que elas sejam coisas boas) das suas respectivas autoras, haha
    E sua introdução não tinha relação mas casou direitinho ^^ Ótimo texto, e aposto daqui a pouco cê tá quebrando sua promessa.
    Bjs

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  7. Gente!
    Você não parece nunca ter menos que 1,60! Juro!
    Cara, ir pra balada de salto é uó! Tenho amado festas particulares, onde vamos de salto, lindas e pomposas, e eles nos dão um chinelinho lá pelas tantas! É o auge!

    Seria cômico - e é - se não fosse trágico! haha

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  8. Meu Deus do Céu! Essas aventuras na madrugada paulistana me deixam com tanto medo!! Só vocês mesmo viu! Bom, eu sempre vou de salto para baladas por otivos de 1,50 mas sempre vou de carro ou táxi. Caso contrário, apelemos para a tradicional bolsa grande onde levaremos nosso saltão e iremos de sapatilha! Muito simples de se resolver! Mas enfim, já perdi a conta de quantas vezes saí de casa pra balada que virou um lanche em qualquer lugar e depois voltei pra casa com cara de tacho! Melhor tipo de saída é aquela que dá certo, mesmo dando errado! :-)

    Love,

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