Nem lembro direito quando foi que eu comecei a ouvir falar de 1Q84, mas era 2014 e de repente o livro estava famoso. Eu achava interessantíssima a proposta do nome, e morria de medo na mesma proporção. Oi, meu nome é Ana Luísa Bussular, eu tenho 23 anos nas costas e morro de medo de achar que os livros são difíceis e me sentir burra.
No final de 2013 eu ganhei da minha amiga Mayra o “Aleph”, de Jorge Luís Borges, o filósofo, e não o do Paulo Coelho. Comecei a ler no dia 1º de janeiro de 2014. Li um blog de uma menina de 14 (repito, 14) anos que tinha FAVORITADO o livro. Larguei na metade porque não entendia nada. Era por esse motivo que eu passei praticamente um ano tremendo nas bases só de olhar para 1Q84 volume 1, que me encarava da minha escrivaninha. Giuliana Rebeca tinha me dado de formatura, em fevereiro. Peguei pra ler na última semana de dezembro.
Na verdade era meio de dezembro, eu estava fazendo minhas malas para viajar e escolhendo os livros que levaria. Foi por um triz que não deixei Murakami para trás. No último segundo resolvi colocar na mala porque me visualizei lendo 1Q84 no sofá da minha avó, com sol batendo no rosto e imaginei que seria quase uma experiência bucólica (?), não perguntem. Coloquei na mala.
Fui embora da casa da minha avó sem ter tocado no livro. Era 31 de dezembro e eu estava na sala da minha tia, minutos depois de ter terminado “Os segredos de Colin Bridgerton” e não conseguia decidir que livro escolheria para terminar 2014 e começar 2015. Peguei Murakami na mala, olhei para a capa por alguns minutos e decidi que seria ele. Não atoa, disse pra mim e pra vocês também que 2015 seria um ano interessante para se ter coragem. Era a hora de começar um livro que eu morria de medo de ler.
Medo que se provou infundado logo na primeira página. A literatura de Murakami não é difícil, o título me enganou. Não é difícil, mas é fabulosa. A contracapa diz que o gênero é “literatura contemporânea” e se tem uma coisa que eu penso sobre esse termo “contemporâneo” é que todo mundo se utiliza dele para definir tudo o que não tem definição. 1Q84 tem drama, romance, mistério e mistura realidade com fantasia de uma forma brilhante.
Vou dizer para vocês que tia Joanne Kathleen Rowling me acostumou muito mal. Harry Potter tem um universo fantástico tão bem construído e sem pontas soltas que eu entrei numas de que fantasia, para me agradar, tinha que ser completa por si só. Essa história de misturar um dedo de fantasia num mundo aparentemente normal me deixava transtornada: pirei com “Oceano no fim do caminho” do Gaiman, e Zafón também me deixou meio maluca em “Marina”. Mas Murakami fez isso tão bem e de uma forma tão coerente (ao menos na minha visão) que nem fiquei transtornada, vejam só. A fantasia se encaixou muito bem no contexto e me fez aceitar que, ok, coisas paranormais também podem acontecer no mundo real.
Confesso que pensei que poderia me decepcionar com o final. Amei o primeiro livro do começo ao quase fim, porque o final foi enrolado e chato. Com o segundo livro aconteceu quase a mesma coisa: finalzinho até que foi muito eletrizante, mas um pouco antes do final o livro ficou um saco. “Murakami é melhor com começos do que com finais”, bradei em alto som para quem quisesse ouvir. Meu medo era que isso se provasse verdadeiro quando eu fosse analisar a série como um todo (3 livros) e isso só ficou mais forte quando eu li a galera resenhando o terceiro livro no skoob e dizendo que ficavam um monte de pontas soltas e mal explicadas.
Felizmente não foi essa a minha conclusão. Gostei bastante da trilogia, achei que o final foi uma jogada de mestre e que as pontas que ele deixou soltas são pro leitor aprender que nem tudo na vida tem explicação. Se eu queria saber mais detalhes? Claro que queria, mas isso não é problema da obra, é problema meu que sou curiosa mesmo. Não vi nenhum problema na falta de explicação de certas coisas porque não eram informações cruciais – e eu percebi que não eram cruciais justamente porque ele não explicou, sabe assim? Depois que a gente aceita que na literatura, assim como na vida, nem tudo precisa de um porquê, fica mais fácil digerir o que não nos é entregado de bandeja.
Não sei se eu consegui convencer vocês ou não, mas olha, se alguém aqui algum dia pensou em dar uma chance a Murakami e seu livro com título bizarro, por favor, dê essa chance. Acho que o moço merece. Arrisco dizer que 1Q84 nem é o tipo de livro que deve ser amado – mas é, certamente, um livro bacana de se conhecer.
Analu, a certeza de que eu preciso ler 1Q84 só aumentou desde que vc postou a primeira foto no instagram ou marcou como lendo no skoob, não lembro. Gostei demais do único Murakami, que li, que nem tinha "um dedo de fantasia num mundo aparentemente normal" (Norwegian wood), mas tive ainda mais vontade de ler os outros livros dele, afinal, realismo fantástico, García Marquez, ISABEL ALLENDE.... E bem, ainda vou ler, mas vocês amigas que leem insistem em morar longe e eu estou realmente em greve de livraria, o que fazer?
ResponderExcluirSobre Borges, amo latinos, amo argentinos, mas descobri um Ficciones (assim, em espanhol, edição antiga, perfeito pra ser amado), mas ele não apenas perdeu a capa num dia em que dormi com ele (sempre durmo com meus autores e autoras) como não entendo e tenho muita dificuldade em acompanhar sobre o que ele está querendo dizer e abandonei depois de ler, no máximo, quatro contos. Mas a verdade é que não sou muito fã de contos. Tenho abandonados há séculos na minha pilha de leituras um Cortázar (que nem é difícil e ele sim eu amo) e um Rubem Fonseca (que, no final das contas, é muito repetitivo).
E lembro da última foto que vc colocou de 1Q84 no instagram, o capítulo fazia alguma referência a ervilhas???? Quase certeza de que isso é mencionado no primeiro capítulo do primeiro livro (que baixei no celular e perdi de forma inexplicável) e isso só me deu mais vontade de ler a série.
Eu já estava bastante inclinada assim a dar uma chance pro senhor Murakami porque você é uma pessoa terrível e não parava de fazer propaganda desse livro com título estranho etc (já disse que cê vai me levar à falência qualquer hora dessas, né? mas vou dizer de novo: cê vai me levar à falência). Procurei pra comprar o primeiro mês passado, mas só encontrei o segundo, então meio que deixei pra depois, mas agora, lendo esse texto, só posso dizer que: QUERO. E quero em caps mesmo. Porque eu acho demais que as pessoas têm que aprender a não ficar esperando por respostas mastigadas demais, tudo prontinho, pega e leva pra casa. Eu ainda fico intrigada por não saber exatamente por que cargas d'água Voldemort pode voar, mas acho que prefiro assim do que saber que, olha, tem uma magia muito do mau aqui, assim assim e assado, que vai te fazer voar. Em uma das minhas aulas de roteiro eu aprendi que a gente não pode ficar subestimando o espectador, que não pode se preocupar demais em justificar os próprios argumentos e deixar que eles tirem suas próprias conclusões. E sinceramente, acho que isso funciona muito bem na literatura também. Então só posso dizer que nem conheço esse senhor, mas já considero pacas, e quero ler pra ontem. MAS PLMDDS, VAMOS COM CALMA SENÃO MINHA CONTA BANCÁRIA NÃO DÁ CONTA.
ResponderExcluirTe amo <3
Affe mulher! Te amo! O projeto gráfico incrível da Alfaguara, mais o fato de ser literatura japonesa, mais o fato de eu amar qualquer coisa que venha do Japão foram coisas que me deixaram coçando pra ler 1Q84, mas AI TÃO CARO O LIVRO! Consegui achar no estante por 30 dilmas e comprei, mas demorei pra pegar no bichinho... Talvez porque se eu tivesse lido ele em qualquer outra época eu teria odiado, tava numa ressaca literária terrível e quando comecei a ler o primeiro livro eu demorei um tiquinho pra engatar a leitura, mas MEU DEUS QUE LIVRO INCRÍVEL, agora to me coçando pra ler os outros dois, mas o desemprego não tá contribuindo pra eu comprar livros que custem mais que 30 reais, ou 15 no submarino haha
ResponderExcluirAgora tu me deixou com mais vontade e aaaaaaaaaaaaaaaaah <3
vê se não some hein? hahah
beijos! <3
Bananinca ��
ResponderExcluirCê sabe que eu tenho a trilogia e ainda não li, né? Acho que já te disse que tenho "medinho", mas meu medinho é diferente do seu. É que eu ando numa fase muito ruim de leitura e tenho medo de acabar encrencando com esse livro (que eu tenho tudo pra gostar muito) por causa do momento ruim. Já li Sputnik do Murakami e gostei bastante, e acho que tudo que você fala no texto se aplica a ele também, então acho que o caso é só de esperar eu sentir que o momento é propício. Mas já morro de vontade de ler e fofocar contigo!
Te amo <3
Tem um tempinho que coloquei esse livro no meu kindle, mas não sinto que chegou a hora de ler. Na verdade, não fiz uma pesquisa muito grande sobre ele. Minha grande influência foi Giuliana Rebeca falando dos Murakamis da vida que ela leu num vídeo do youtube. Hoje você me fez lembrar do estranhamento que tive ao ver a capa e, olha, acho que vai rolar pegar 1Q84 em breve por causa do seu post.
ResponderExcluirQue bom que você gostou, amiga! Amo dicas ahahahha E, ó, isso é muita verdade: as vezes as coisas não tem um porquê, elas simplesmente acontecem.
Beijos <3
Estou com os três livros no Kobo há tempos, mas ainda não me decidi a começar. Tenho uma cisma esquisita de que certos livros tem que ser lidos no papel e não no ereader, e estou postergando a leitura de 1Q84 (nem sei do que se trata, mas acho esse título genial) pois tenha na minha imaginação que esse livro é desse tipo. Tipo de livro pra ter em mãos, abraçar, cheiras, folhear e admirar. E esse pensamento todo é completamente gratuito, visto que ainda não li nada do autor. É só uma sensação. Estranho, né? Mas é assim comigo, haha. De qualquer forma, seu post só me deixou mais curiosa ainda pra ler essa trilogia - e mais certa de que preciso dos livros de papel pra ficar satisfeita. (:
ResponderExcluirUm beijo!
Amiga, veja bem.
ResponderExcluirVocê me conhece e sabe como eu sou com PRESSÕES LITERÁRIAS e o Murakami vem me pressionando desde que comprei o terceiro livro pra dar de presente pra Rebeca no seu primeiro amigo secreto mafioso. Eu senti que um dia a gente ia se encontrar em algum lugar, que eu devia isso pra ele, sabe? E se tem uma coisa que eu tenho curtido pacas nos últimos tempos é essa pira fantástica meio louca onde mágica acontece em um universo não mágico e ninguém sabe direito o que está acontecendo, uma coisa que veio graças ao Neil Gaiman. De início, em O Oceano, vi isso como defeito. Mas como assim do nada? Como assim não existe O Oceano No Fim do Caminho - Uma História pra contextualizar séculos e séculos de história desse universo pra gente? Depois eu entendi que essa era a ideia, e tudo ficou bem. Deuses Americanos tem essa mesma vibe e foi maravilhoso mergulhar nela sem fazer muitas perguntas, simplesmente aceitando que era assim, e esses deuses vão começar a falar, e tem uma galera morta, e carrosséis que te teletransportam... Enfim. Agora tô vivendo a mesma coisa de novo com Raven Boys que nossa. Nossa. Que livro. Que personagens. Que corvos adoráveis.
Vou te deixar com essas pulgas atrás da orelha, porque a do Murakami já tá me mordendo tem tempo.
(pausa: VOCÊ TÁ LENDO AMERICANAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH AKHAKHFKAJFHKAJHFKJAHFKJHASKJFHA)
te amo
Foi pra lista imediata dos que quero ler urgente (porque já tava na lista faz tempo, mas tava lá pro finzinho, todo na humildade)!!!! Você sabe que adoro fantasia.
ResponderExcluirLi dois dele no ano passado: What I talk about when I talk about running, uma memória do autor sobre seu hábito de correr e como a escrita a corrida sempre andaram lado a lado na sua vida. Sensacional pra quem quer ser escritor um dia! Recomendo. O outro foi o Colorless Tsukuro Tazaki, muita viagem, muita melancolia, mas muito bom. Gostei muito do estilo dele e pretendo ler mais. Esse aí tá na lista. Curti muito tua resenha.
ResponderExcluirTou para ler esse livro há um tempão, mas ainda não o fiz justamente por esse receio com relação ao título. Eu li a sinopse e confesso nem conseguir saber exatamente do que se trata, mas fiquei com vontade de lê-lo (agora que sei que não era a única a me sentir assim haha). Você escreve muito bem!
ResponderExcluirBeijos,
Nalu
www.coisasafins.com
Oie, meio tarde pra comentar nesse post, mas aqui estou eu ~~
ResponderExcluirComprei 1Q84 esses dias numa promoção que achei nessa nossa muitas vezes boa internet. Desde que conheci o livro, também na internet, fiquei muito curiosa com a sua história só que também morria de medo de ser loko demais pra minha cabecinha. Eu meio que sou acostumada a não receber tudo de bandeja de um livro por tudo que já li do Neil Gaiman (que às vezes quero que me dê mais informações e fico irritada quando não acontece, mas mesmo assim vou lá e abro outro livro dele). Aí 1Q84 chegou e eu não o peguei pra ler, deixando-o junto com o restante da pilha de não lidos, mas sua experiência aqui contada me deu coragem e acho que assim que eu terminar Coisas Frágeis 2 vou pra 1Q84.
Abraço!