Minha relação com astrologia pode ser basicamente resumida naquela frase clichê que todo mundo usa para falar de tudo o que é ~espiritualista e metafísico~: não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.
Há quem diga que não dê a mínima para signos – e é realmente complicado acreditar em previsões, por exemplo - mas eu nunca conheci alguém que fosse tão ariano com ascendente em capricórnio e lua em virgem quanto eu e poucas vezes achei definições que me explicassem tanto. Eu faço aniversário dia 14 de abril, de modo que, segundo as bruxas-que-não-existem-mas-existem, sábado entrei no meu Inferno Astral. Talvez o mais complicado de todos pelos quais já passei.
Eu vou fazer 23 anos. Qual a mágica desse número? Nenhuma, a não ser o fato de que 23 era a idade chave da minha vida desde que eu tinha, sei lá, uns 6 e respondia àquelas brincadeirinhas que definiam “a sua vida inteira” com base na idade em que você acreditava que iria casar.
23. 23 era sempre o número que estava no centro dos meus joguinhos. E é impressionante o quanto a gente carrega do que a gente sonhava quando era criança, por mais imaturo que possa parecer.
“Ninguém tem a vida resolvida aos 20 e poucos”, disse David Nicholls em Um Dia e confirmou a minha terapeuta sexta-feira passada quando eu desabei um monte de enrosco sem filtro nenhum na cabeça dela. “Ninguém tem a vida resolvida aos 20 e poucos”, repito eu, como um mantra, fingindo que consigo acreditar que tudo bem, então, já que é assim.
23. 23 foi a idade que ficou marcada no meu subconsciente consciente. Essa idade representava o momento onde tudo estaria dando certo. Era o símbolo da adultice. 20 é quase 18. Com 21 ou 22 dá pra estar engatinhando, vai. Mas com 23 tudo tinha que estar brilhando; tinindo.
“Não existe adulto no mundo, nenhunzinho sequer”, disse Neil Gaiman. “Ter 20 ou 20 e poucos é ter 12 anos fingindo que tem algo a mais”, disse a Irena Freitas. Os escritores, blogueiros e terapeutas estão aí para bater nessa tecla e tentar enfiar na minha cabeça que não, as coisas não deviam estar dando tão certo assim nessa altura do campeonato – e talvez nunca estejam, porque vida totalmente segura e /dando certo/ pode ser uma reles ilusão.
Mesmo com toda essa consciência racional, esse meu 24° inferno astral que já apareceu aqui há pouco mais do que 2 dias veio com uma angústia do tamanho de um bonde chamado desejo. Desejo de que tudo estivesse caminhando conforme eu imaginava lá, aos 6. Que eu seria madura, bem resolvida, trabalharia no emprego dos sonhos, andaria maquiada e com as unhas sempre feitas, teria um marido e um filho bem próximo de chegar. Parece piada e poderia ser, mas não é. E dói.
Não pela falta de esperança de que um dias as coisas se ajeitem e tudo isso se torne possível. Citando a mim mesma, vou dizer de novo que tenho braços, pernas, coração, cérebro e muita vontade de fazer a vida dar certo. Dá tempo. Ainda dá tempo. Claro que dá tempo. 23 são só o começo. Mas é que a cada sonho nosso que morre a gente morre um pouco também.
De qualquer forma, não tenho dúvidas de que esses 23 não deixarão de ser um marco. Depois deles completados, deixarão de ser uma previsão de futuro estável e serão, vejam só, apenas o que deveriam ser: 23 anos. 23 anos que não me prometiam nada, mesmo eu tendo feito tanta questão de fingir que prometiam.
Dia 14 de abril de 2015 eu soprarei minhas velas e comemorarei o fim de um inferno astral de 23 anos inteirinhos. Quem sabe a vida a partir deles, sem tanta pressão datada, não possa realmente decolar de uma outra forma? Até lá a gente segue, né? Vivendo, rindo, engolindo uma angústia ali e outra aqui, renovando a esperança e, porque não, chorando um pouco. Ok, chorando talvez um muito. Tem nada não. Como diz Alice Ruiz, a cada mil lágrimas sai um milagre.
Sofro aos 16, uma crise de 23, será possível? hahaha
ResponderExcluirAquela velha história, me formei na escola e achei que estaria tudo como planejado: a essa altura, estaria estudando em um Federal fazendo o curso dos sonhos. Só deu metade certo, fui aprovada em duas federais, mas não estou fazendo o curso dos sonhos, e nem morando na maravilhosa Florianópolis.
Exemplo tosco a parte, o que eu quero dizer, é que programar a vida é tão incerto quando a astrologia que você citou: existem previsões, mas só dão certo, com uma tocada de sorte e coincidência.
Tenho certeza, que jovem como és aos 23, ainda tem muita coisa pra acontecer, muita coisa pra descobrir, e muito o que dizer por aí, com seus textos que tanto gosto. Beijos, e boa sorte, moça, você não está velha demais para a vida.
Desfocando Ideias
Não adianta de nada eu te dizer que a vida nunca é da forma como a gente planeja, né? Porque você sabe disso, eu sei também, e todas as pessoas que enfrentam a crise dos vinte sabem, ainda que no fundo. Mas o fato da gente saber não faz doer menos, não deixa as coisas mais fáceis e, no fundo, lá na infância, a gente sabia também, mas nem por isso deixou de sonhar. E a gente continua sonhando. Que bom, né? Digo, é uma merda perceber que as coisas não são como a gente imaginava ou então que "passamos da época" de fazer/viver certas coisas sem nunca ter feito/vivido essas coisas (foi esse o mote do meu inferno astral), mas no fundo tem algo dentro de mim que diz que a minha vida nunca seguiu uma narrativa previsível, as coisas nunca foram tão normais assim, e não sei se trocaria o jeito torto pela tradição. É claro que queria ter certas coisas resolvidas, mas você sabe, a gente sabe, que a gente acredita e confia, e no fundo tem algo em mim que me OBRIGA a acreditar que minha história, a nossa história, é diferente e que ela é boa também. Enquanto isso a gente vai vivendo, e chorando, e rindo, e presenciando pequenos milagres.
ResponderExcluirEi, pelo menos a gente se encontrou. Amiga, se a gente fosse normal a gente nunca teria se encontrado, já imaginou?
te amo <3
Analu, amiga, como eu te entendo. Verdade que o meu limite imaginário, que também carrego comigo desde as fraldas, é um pouco mais largo: eu sempre tive absoluta certeza que tudo estaria certo até os 25 anos. Aos 25 eu vou estar casada, morando em uma casa que eu pague, firme, forte e confiante em um emprego, sem sofrer pra acordar cedo e passar maquiagem antes de trabalhar, jantando em restaurantes gourmet... É querer demais? Eu faço 23 quase junto contigo, também estou no inferno astral e não consigo deixar de pensar que só tenho mais 2 anos e estou tão, TÃO longe... Eu nem imagino o seu desespero, então. E eu queria dizer que sou otimista e que o meu tempo nem sempre é o tempo certo, mas, amiga, tem muita gente com vinte e poucos anos que já está com a vida resolvida sim ou pelo menos muito mais perto disso do que eu estou. Eu não consigo deixar de pensar que estou atrás. O quê que a gente faz com essa sensação, hein? Então, se você conseguir passar pelos 23 achando que são apenas 23, por favor, me ensina, que eu preciso aprender a ter calma, a ter fé e a ter, pelo amor de Deus, paciência.
ResponderExcluirE, qualquer coisa, to aqui por você, visse? Te amo <3
Ah, passei pela crise com 20 anos, aí aos 25 (ano passado) novamente, mas agora decidi deixar a vida me levar e parar com expectativas em geral, só buscando sonhos e sabendo que a vida, de vez em quando, nos passa a perna. ^^
ResponderExcluirMas que existe inferno astral, com certeza existe! Heheh
Beijo, Min - http://www.yasminbueno.com/
Meu bem, também sofro desse problema de idealização. Formo imagens do futuro na cabeça e às vezes é difícil desapegar dela. Eu já tive épocas de pensar que aos vinte e poucos teria a vida resolvida. Acho até a gente fazer 15, os vintepoucos parecem uma idade madura e avançada. Agora que cheguei aqui, ainda me acho um baby.
ResponderExcluirNo fim das contas, sabe qual é minha conclusão, amiga? Sim, é horrível quando a gente vê nossos grandes planos se desmantelarem na frente, planos de uma vida inteira. Mas eu acho que é a melhor coisa que pode acontecer. Algumas -- pouquíssimas -- pessoas até têm tudo resolvido aos vinte e poucos, mas não quero isso pra mim. A vida não é o destino, amiga, é o caminho. Você vai ter o que você quer algum dia, não tem por que abreviar tudo o que você tem pra viver até lá.
Minha última crise, inclusive, foi essa: achei que já estava perigosamente perto de estar presa na vida que vou ter pelo resto dos meus dias, e não quero isso agora. Se eu vou viver até os 80, dá tempo de experimentar muito antes disso.
Tomara que seu inferno astral passe rapidinho. Te amo muito <3
Essa coisa de idealizar uma certa idade é triste, né, Analu? Mas acho que é inerente do ser humano mesmo ficar projetando sua vida sempre. Olha, eu nunca idealizei que estaria bem antes dos 28 anos, mas isso me faz pirar com um monte de coisas também. Morro de medo da vida sair dos trilhos até lá porque é bastante tempo até chegar nisso, mas ainda assim tenho plena ciência de que mil coisas podem acontecer no meio do caminho e, ai, que medo.
ResponderExcluirQuem escreve bem sabe que a vida não se organiza nos 20 e poucos, mas acho que cada um tem seu tempo. Todo dia é dia da gente batalhar um pouco pelo que a gente quer e, eventualmente, encaminhar a vida para algo. Poucas pessoas sabem o que tão fazendo com suas vidas com 20 e poucos...É um tanto de gente que se forma e fica meio perdido sem saber pra que lado ir. A diferença é que tem gente que corre atrás, amiga. E o que aprendi nesses últimos tempos é: se joga nas oportunidades. O importante é não estagnar.
<3 Espero que cê tenha conseguido entender, hahaa.
Beijos!
Amiga, que dor ler esse post =( Especialmente hoje, depois do dia tão esquisito que eu tive ontem. Sabe outra coisa bem difícil dos 20 e poucos? Tomar decisões. Por um lado é bom ser independente e cortar o cordão umbilical, mas é foda ter que fazer escolhas e lidar com consequências quando você nem se sente uma pessoa inteira ainda. Mas acho que isso faz parte de ser adulto.
ResponderExcluirAssim como faz parte do processo de vésperas de aniversário essa história de avaliar a vida. E isso sempre é assustador. Claro que a realidade nunca vai se equiparar às nossas expectativas. Porque é rápido criar mil coisas na nossa cabeça para o futuro, mas é demorado chegar até o sonho. Uma vez a Rafinha deu um RT que dizia: 'nothing will ruin your twenties more than thinking you should have your life together already". E eu sinto que é verdade, sabe? Porque às vezes eu acho que me preocupei muito mais do que vivi nos últimos 3 anos. É óbvio que dói não estar onde você pensou que estaria, mas nós somos diferentes e talvez nossos caminhos precisem de todas essas pedras para nos tornarmos quem precisamos ser.
Amo você <3 Vamos confiar!
P.S: Melhor coisa para passar pelo inferno astral: sorvete de morango.
Ixeee... mas 23 ainda tá a flor da idade!!
ResponderExcluirNão se preocupa não em estar com a vida toda certinha! Aos 28 eu já casei, descasei, troquei profissão, já quero casar de novo kkkk Relaxa Analu, não enche teu rosto bonito com rugas de preocupação nem se fruste porque tu ainda não tem a vida estável, apartamento, carro, marido, filhos... as coisas vão dar certo sem que você nem perceba.
Ai mô Deus...num guento vocês, do alto dos seus 20 e poucos, sofrendo! Vamos lá: você está prestes a fazer 23 aninhos, tem saúde, é linda, é atriz, tem um trabalho que gosta, tem uma família pra te apoiar, já se formou na faculdade, escreveu um livro, fez uma tatuagem, tem afilhados, e eu bem conheço umas boas amigas suas e ó: elas amam você!
ResponderExcluirMinha querida é importante que a gente sempre busque o melhor nas nossas vidas, porque se a gente desistir é porque a vaca foi pro brejo de vez, mas como já falei pra Palo e pra Xará, não se cobre demais pelas coisas que ainda não se realizaram. A vida nunca vai ser como a gente gostaria, e logico que tem dias que a gente se sente o cocô do cavalo do bandido e temos todo direito de chorar, achar que tá tudo errado, mas não deixe essa vibe errada te atingir sempre tá. De vez em quando pode, mas sempre não.
E amor amiga, esse infelizmente nunca vai depender de nós para aparecer. Vai vir quando Deus quiser e bom, espero que venha logo pra você (e pra mim tb né!).
Te amo! Beijos
Lilica, 36, 0 sonhos da adolescência realizados, mas ainda buscando a felicidade a todo custo!
High five aqui, ariana como eu! :) Meu niver é sábado agora, dia 4, 36! E se eu te contar que com 36 eu ainda não tenho tudo resolvido? Que ainda não sei o que quero ser quando crescer? Que desisti de escolher algo pra ser quando crescer, porque a gente nunca acha que cresceu? E sabe, Ana, a graça é essa? Porque o dia que tudo se resolver, que a gente souber tudo, e realizar tudo, acabou a graça. Então, mesmo que os planos não tenham se concretizado ainda, continue sonhando, buscando, lutando. E não esqueça de olhar pra trás e sempre agradecer por tudo que já aconteceu. Olha lá, com certeza tem muita coisa boa que já te aconteceu, coisas que você quis e conseguiu. Foca nisso. E respira fundo, e bola pra frente! :) Beijo!
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