quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Perdemos

Era exatamente nesse título que estava pensando quando, às 8h da manhã de segunda-feira, descobri que Gregório Duvivier tinha desenvolvido brilhantemente a faísca de ideia que eu tinha. Em seu texto, que vocês certamente vão conferir (tô de olho), ele enumera muitas coisas que perdemos durante o período das eleições, o que inclui muitos bilhões e alguns amigos. Amigo de verdade eu não perdi – porque são de verdade – mas não dá para não dizer que umas grosserias foram despejadas desnecessariamente por aí - da minha parte e da dos amigos. Culpem as estrelas os ânimos exaltados de todos.

Gregório enumerou, em suma, o que perdemos pelo meio do caminho. Meu pensamento era mais específico sobre o que perdemos ontem. O que perdemos com o resultado. Porque, gente, se tem algo inegável é o fato de que perdemos. Perderíamos de qualquer maneira.

Não dá pra dizer que se ganhou alguma coisa com a confusão estabelecida pós resultado. Não dá pra dizer que ganhamos alguma coisa com a quantidade de xingamentos absurdos na internet. Não dá pra dizer que ganhamos porque minha cabeça chega a doer só de pensar no que estão falando dos nordestinos, isso para não começar a dar mais exemplos. Tudo isso parece ter gostinho de vitória para alguém? Para mim não.

Gostaria imensamente de saber quem, de fato, anda ganhando alguma coisa com toda essa confusão e falta de respeito. Com gritaria e xingamentos, com atentados à democracia. Acha que eu estou exagerando? Para mim é sim atentado à democracia dizer por aí que “pior que bêbado dirigindo é idiota com título de eleitor na mão”. É idiota então só porque não tem a mesma opinião que você? Amigo, deixa eu te contar, o problema está em você, não nos outros.

Julia disse aqui que educação vem de berço e que boas maneiras se aprende é na educação infantil. Vocês deviam ler esse texto também, mas enquanto isso soltarei um spoiler: ela termina a postagem dizendo que “esse tal de gigante acordou e precisa, urgentemente, colocar um tênis no pé, uma mochila nas costas e ir para a escola”. Concordo totalmente. Já passou da hora de aprender a respeitar a opinião do coleguinha. Believe me or not, ela é tão válida quanto a sua.

Nunca antes na história dessa minha vida eu me envolvi tanto – e por tabela, me estressei horrores – com a tal da eleição. E só o que espero agora, de verdade, é que dê certo. Que as mudanças sejam cobradas. Que eu conclua, animada, que quem votou na Dilma estava certo, e errada estava eu que não votei nela, se é que existe o certo e o errado. Aliás, existe. E estamos todos errados se continuarmos nesse rumo. Não dá para cobrar um país decente se não está rolando decência nem na divergência de opinião. Complicado. Querem um Plot Twist? Eu acredito. Sempre acredito. Uma hora a coisa vai dar mais certo. 

5 comentários:

  1. Já havia lido esse texto do Duvivier (a propósito, que nome engraçado de falar) e eu só pude ir concordando com o que ele havia escrito na medida em que ia lendo. No domingo pós resultado eu até comecei a escrever algo do tipo para publicar no facebook e no blog, mas depois a faísca morreu e deixei por isso mesmo. Acho que por mais que a gente fale, as pessoas que realmente precisam ouvir não o farão, então me dei por vencida e não postei nada sobre o tema nem no blog e nem no FB. Só que, assim como você, prefiro ficar com a esperança de que as coisas podem melhorar independente de quem ganhou. O recado está dado, então imagino que dona Dilma vai ter que ouvir. O que me doeu não foi a vitória do candidato tal, mas o preconceito que começou a jorrar no FB, com pessoal pedido separação do norte/ nordeste e toda sorte de coisas estranhas. Enfim, se essa eleição serviu para alguma coisa foi para mostrar que nós brasileiros ainda estamos longe de ter uma maturidade política. Debater sem ofender, mostrar ideias sem brigar. Quem sabe em 2018. Um beijo!

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  2. Amiga, segunda eu acordei muito deprê porque vi coisas horríveis sendo ditas por aí. Acordei desgastada e cansada, carregada com tanto ódio por aí. Eu concordo que perdemos muita coisa com isso, mas não acho que se envolver politicamente seja perda de tempo. Aliás, acho que esses gritos histéricos e nervosos de ambos os lados que vimos por aí são sinal de uma profunda falta de costume de se agir politicamente. É como se ninguém ousasse passar por uma porta, e de repente todo mundo quisesse entrar a ponta pés, sabe? Mas aí meu tio escreveu um textinho no feici que me deixou mais otimista, por isso vou colar aqui pra você e ver se ajuda também:

    "Pessoal lamentando os amigos e parentes 'perdidos' no calor das batalhas ideológicas e eleitorais dos últimos tempos. Eu aqui do meu lado feliz pela força das amizades e afetos que sobreviveram a esse embate. A briga não foi, não é, por besteira. Não foi e não é por uns pilantras que não merecem todo esse desgaste. A briga se dá porque muitos de nós decidimos entrar na arena. Porque entendemos que a participação política é relevante e necessária. E isso é muito positivo, e muito melhor que a despolitização e o niilismo em que estávamos arriscados a mergulhar depois de todas as mobilizações iniciadas no ano passado. A política e os políticos não vão melhorar enquanto permaneceram encastelados. Quando a gente decide entrar na arena (e todo esse envolvimento e toda essa paixão e toda essa briga são um primeiro passo pra isso), a política e os políticos ficam menos distantes de nós. E as mudanças, mais próximas. Que pensemos diferente uns dos outros é saudável. Que entremos em discussão, ainda mais. Diálogo só com quem pensa igual a gente é estéril e narcisista. É do embate de ideias que surge alguma coisa nova. É claro que eu posso me recusar debater com quem coloca na mesa as cartas da misoginia, do racismo, do ódio aos pobres, da homofobia etc. Mas ainda sobram, no meu círculo de amigos, um monte de gente que pensa muito diferente de mim mas também abomina tudo isso. A essas pessoas queridas, o meu irrestrito e incondicional amor = )"

    beijos! <3

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  3. Tenho um grupo no whatsapp, filhote de um debate oferecido pela escola certa vez, onde costumo discutir com alguns amigos. Nessas últimas semanas, o único papo que existia lá era política, mesmo que todos compartilhássemos o sentimento Aécio Never. Vi esse texto do Duvivier logo depois de ler uma mensagem de uma amiga dizendo que "São Paulo é o filho mimado" e que, se eles querem tanto separar, que separe logo. Meu surto foi tão grande (porque o Gregório conseguiu dizer tudo e mais um pouquinho) que eu acabei digitando a coluna inteira na conversa, sempre surtando baixinho quando as verdades que a gente assumia, mas não totalmente, estavam ali, estampadas num site da Folha.

    Essa foi a primeira eleição que eu vivi podendo viver de fato, apertando o botão verde na urna e ouvindo a musiquinha. Quis fazer a coisa certa e acho que, no climão revolucionário, me envolvi demais. Falei muita merda, ouvi muita merda, e só deus sabe em quanta discussão no Facebook eu entrei, defendendo coisas que, mais tarde, também concordei serem falhas. Concluí que política é complicado demais e que meu pai estava certo quando disse que "essa é uma das três coisas que você não discute", porque, no fim das contas, a gente se mata e não muda de opinião. Mas também foi bom, porque, como o tio da Anna escreveu nesse textinho, pelo menos deu pra ver que existia um sentimento muito grande nas pessoas (num geral) de querer participar da política, de querer fazer parte de alguma mudança no país. Eu nunca fui de me expressar com assuntos polêmicos (política, futebol, etc.), e, por isso, acho que criei um bloqueio com esses papos que não devia existir. A Copa quebrou o meu com o futebol e agora eu me vejo cada vez mais encantada não só com o meu querido Flamengo, mas com o esporte em si; as eleições o fizeram com a política e eu acabei criando gosto pela discussão, pelo entender, por tentar ver onde é que a gente pode melhorar.

    Então, é, talvez a gente tenha perdido muita coisa durante esse tempo de eleição, mas eu também ganhei, e acho que tá valendo a pena. Adorei o texto (e desculpa o tamanho do comentário, hahaha). Beijo grande!

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  4. Boa parte das pessoas veem o debate politico menos como troca de ideias ,e mais como disputa de ego , procurando demonstrar que está certo , e 'vencer a discussão', de preferencia ressaltando que o outro se trata de imbecil por pensar diferente.
    E o cenario dos partidos politicos sendo tratados como torcida de futebol piora tudo . Por mais que o grosso das agressoes fiquem na militacia , os partidos nao ajudam fazendo campanhas baseadas quase que só em ataques pessoais . A famosa 'desconstrução ' do adversario , o eufemismo que é usado pra designar a destruição das candidaturas adversarias baseado em ataques virulentos .
    Péssima epoca pra quem gosta , pelo menos um pouco , de política pelas ideias hahaha. Mas talvez melhore , apesar de eu achar improvavel . Concordo com os outros coments aqui que isso se dá por ser um início de participação politica . Mas tenho minhas duvidas se o processo vai continuar , amadurecer , ou se vai ficar nesse estado intermediario . E se ficar nesse estado intermediario , novamente fico em duvida se esse ambiente de hostilidade e ofensas gratuitas é de fato melhor que o ambiente de despolilitização e alienação anterior . Não que precisemos encolher entre isso , já que sempre é possivel debater , sobre qualquer assunto , sem ter esse comportamento

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  5. Oi Analu - intimidade por minha conta - tenho quase 13 anos a maios que você e, sinceramente, eu desisti. Não espero mais o "futuro da nação", não espero mais que o governo se torne menos corrupto, nem que oposição/situação se preocupe com o cidadão, personagem principal do estado, nem que o Brasil melhore para nós, os que estão "aqui embaixo, as leis são diferentes". Para mim, a melhor música que ilustra o cenário atual - e isso já vem desde o seu lançamento - é "Zé Ninguém", do Biquini Cavadão. Gosto do que você escreve e gostaria de ter um pouquinho desse teu otimismo... mas... estou mais para melhor definição de pessimista que já li/ouvi: "um otimista muito bem informado...".

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